Sinopse: A história gira em torno de uma viúva que decide reconstruir sua vida e, para isso, resolve abrir uma livraria, apesar da oposição da população do vilarejo onde vive, na Inglaterra, em 1950.
Num primeiro momento o filme "A Livraria" me fez lembrar o nosso filme brasileiro "Aquarius", já que foca duas mulheres fortes e determinadas, mas que são violentamente agredidas pela ambição vinda do próprio progresso. No caso do filme de Isabel Coixet (Ninguém Deseja a Noite), a questão não é somente sobre um lar que começa a ser ameaçado, como também o conhecimento vindo do poder dos livros, mas que sempre existem gananciosos que pouco se importam com esse grande benefício. "A Livraria" é um pequeno conto que transita entre a falta de estima e esperança revigorada.
Acompanhamos a história de Frocence Green (Emily Mortimer, de Paris, Te amo) que, durante anos vivendo de luto pela perda do seu marido, decide ir a uma pacata cidade do litoral da Inglaterra e onde decide abrir uma livraria. Contudo, sua iniciativa é vista com maus olhos pela conservadora comunidade local, que passa a se opor tanto a ela quanto ao seu negócio, obrigando-a lutar por seu estabelecimento.
O filme começa cheio de otimismo, onde a fotografia com cores quentes sintetiza a aura positiva da protagonista, já que ela não vê a hora de abrir a sua livraria. Com a chegada da personagem no cenário dos eventos, conhecemos outros que terão papel significativo na vida da personagem, como a jovem ajudante Christine (Honor Kneafsey, de "Já Sinto Saudade") e o viúvo(?) excêntrico Edmund (Billy Nighy, da franquia "Harry Potter") que é um especialista em obras literárias. Porém, a figura da magnata Violet (Patricia Clarkson, de "A Ilha do Medo") se torna a vilania em pessoa da trama, já que ela quer cobiçar a livraria da protagonista e transformá-la numa exposição de artes do seu gosto.
O grande atrativo do filme, principalmente em seu primeiro ato, está no fato de focar grandes clássicos da literatura e dos quais eles servem como catalisadores para o início de diversas situações dentro da trama. De "Fahrenheit 451" á "Lolita", o filme é recheado de referências do mundo literário e fazendo com que a gente torça para que o local onde eles se encontram nada de ruim ocorra. Transmitindo uma paixão nítida pelos seus livros, Frocence é a aura positiva em pessoa, mas isso se deve graças ao talento de Emily Mortimer, que consegue fazer com que a sua personagem transita entre momentos de humor e com situações que exigem maior dramaticidade.
Curiosamente, o filme vai gradualmente mudando o seu tom. De um início cheio de esperança vai dando lugar a um clima sem muitas expectativas para a protagonista e fazendo com que os antagonistas dela se tornem figuras venenosas e presas em suas vidas alienadas e corruptas. Contudo, mesmo num cenário de derrocada, a cineasta Isabel Coixet foi hábil ao inserir uma semente de esperança em meio aos escombros de uma realidade em que pessoas não aceitam refletir mas sim somente ganhar.
"A Livraria" pode não mudar a vida de ninguém mas reforça o desejo de preservar a nossa principal arma que é conhecimento que se encontra em nossas prateleiras.
NOTA: O filme será o tema da próxima live do Cine Debate. Mais informações clique aqui.
Onde Assistir: Netflix.
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