Nesta sexta-feira, dia 14, às 20h, o Projeto Raros exibe na Sala P.F. Gastal da Usina do Gasômetro (3º andar) o cultuado filme
japonês Pastoral: Morrer no Campo, surrealismo autobiográfico do
cineasta Shuji Terayama. A exibição faz parte da mostra Respeitável
Público! com uma seleção de filmes sobre o universo circense. A entrada é
franca.
Situado numa atmosfera onírica do Japão rural, a narrativa inicia com um
garoto adolescente que tenta fugir da sufocante proteção de sua mãe e depois se
transporta para o desejo de um cineasta que busca enfrentar seu passado. Existe
também um esforço para conciliar o indivíduo com o coletivo, o Japão antigo e o
novo, através de um desfile de imagens emblemáticas que imprimem
uma poesia carnavalesca nas memórias de Terayama.
Pastoral: Morrer no Campo foi concebido com grande influência do
universo do circo. Enquanto o protagonista descobre seus dramas, nas cercanias
da cidade uma trupe de circo itinerante se prepara para uma apresentação. As
cenas circenses ganham a companhia de cores fortes e efeitos visuais que as
destacam na narrativa. Para Terayama, esses personagens, com suasliberdade
sexual, confiando uma total ruptura em relação à tradição ancestral japonesa,
representam a chegada da modernidade no país.
Um dos realizadores mais iconoclastas do Japão, conhecido como “o
alquimista das palavras”, Shuji Terayama construiu uma filmografia ímpar
a partir dos anos 1960, quando o cinema independente japonês ganhou força
através da distribuição da Art Theatre Guild, produtora dedicada ao cinema
transgressor, responsável pelo lançamento de obras mais radicais dos
expoentes da Nouvelle Vague Japonesa, como Nagisa Oshima e Shohei Imamura,
e novidades underground como Toshio Matsumoto. Para além do cinema,
Terayama também trabalhou com o teatro, escreveu romances, dedicou-se a poesia
e admirou as corridas de cavalo até sua morte precoce, em 1983, aos 47 anos. “A
minha profissão – dizia o cineasta – é ser Shuji Terayama”.
Com a palavra, Terayama:
Em Pastoral: Morrer no Campo, quis decompor a minha memória para me
libertar da minha infância. Não penso que consegui, pois o cinema também impõe
regras. Talvez ainda não conseguisse traduzir a minha infância, mas consegui
filmá-la diferentemente. Queria passar do interior para o exterior - para
depois reentrar no interior. O poema é, na maioria das vezes, um monólogo. Mas
o cinema arrisca-se a sê-lo igualmente. Claro que existe onirismo no filme.
Surrealismo, não sei. Mas está marcado por Lautréamont e "Les Chants de
Maldoror". Da mesma forma, fui influenciado por Marcel Duchamp e pelo
compositor John Cage... O nosso olho não vê senão a superfície. Quiçá, com uma
faca sou tentado a abrir o olho para ver o outro mundo que não se pode ver.
Pastoral:
Morrer no Campo
(Den-en ni
shisu)
Dirigido por
Shuji Terayama
(Japão, 1974,
104 minutos).
Com: Kantarô Suga, Hiroyuki Takano, Sen
Hara e Yoshio Harada
Exibição em DVD com legendas em português.
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