Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte.
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De 29 de setembro a 17 de outubro, a Sala Redenção promove a mostra “Patrimônio”, com mais de 17 longas-metragens considerados filmes de patrimônio em seus respectivos países. A programação busca estabelecer uma conexão entre obras que atravessam barreiras geracionais e geográficas. A seleção, dividida em dois blocos, inclui clássicos do cinema que, além de apresentarem grandes cineastas, também são referências nos movimentos artísticos de seu tempo e inspiram novos realizadores em suas produções.
O dia de abertura homenageia a obra de Glauber Rocha, principal nome do chamado “cinema novo” do Brasil. Às 16h, é exibido “Deus e o Diabo na Terra do Sol” (1964), seguido de bate-papo com Fatimarlei Lunardelli, jornalista, escritora, professora e crítica de cinema brasileira; e, às 19h, “Terra em Transe” (1967), com conversa com Fatimarlei e com o filho de Glauber, Pedro Paulo Rocha. Além disso, a programação contempla filmes de Jean-Luc Godard, Costa-Gavras e René Clair, ícones do cinema francês. Destaque para a sessão que celebra o aniversário da Aliança Francesa, no próximo dia 9, com a exibição de “Paris Adormecida” (1924), de René Clair, e que recupera o formato de sessões do período do cinema silencioso, com trilha-sonora ao vivo realizada pela pianista Aline Araújo e comentários de Mirna Spritzer, bonimentista da sessão.
A mostra tem entrada franca e é aberta à comunidade em geral. A Sala Redenção está localizada no campus central da Universidade, com acesso mais próximo pela Rua Eng. Luiz Englert, 333.
Confira a programação completa no site oficial da sala clicandoaqui.
É curioso que um dos principais artífices do mais americano dos gêneros seja um italiano que nunca fez muita questão de aprender uma palavra em inglês. Apaixonado pelo faroeste desde jovem, Sergio Leone se consagrou com a sua trilogia dos dólares formada por "Um Punhado dos Dólares" (1964), "Por Uns Dólares a Mais" (1965) e "Três Homens e um Conflito" (1966), todos estrelados pelo então iniciante Clint Eastwood e realizados na Itália. Além disso, principalmente com relação aos dois títulos, a ação é ininterrupta e há espaço para diálogos.
Todos fizeram um enorme sucesso nos cinemas americanos, fazendo com que a Paramont a oferecer ao diretor um grande orçamento para rodar um filme, mas Leone não queria fazer outro faroeste. Sua intenção era dirigir adaptação de um livro que posteriormente anos mais tarde resultaria em "Era Uma Vez na América" (1984), mas aceitou diante da possiblidade de compor uma trilogia épica, composta com o filme do meio intitulado "Quando Explore a Vingança" (1971). Trabalharam no roteiro "Era Uma Vez no Oeste" dois importantes nomes do cinema italiano, sendo Bernardo Bertolucci e Dario Argento.
Terríveis pistoleiros, entre o assustador Frank, interpretado de forma magistral por Henry Fonda, são enviados para convencer um fazendeiro a ceder as suas terras para a construção de uma enorme ferrovia que cruzará o oeste. Acabam matando o homem e os filhos em um verdadeiro massacre que marcou os cinéfilos da época e provocando certa rejeição inicialmente com relação a Henry Fonda a ser um vilão, já que até então sempre interpretava o bom moço da trama. A viúva Jill, interpretada de forma magnética pela inesquecível Claudia Cardinale, recém-chegada do Leste e em busca de riquezas, decide ficar nas terras e se une a um pistoleiro misterioso, interpretado por Charles Bronson, para ajudá-la na vingança e com ajuda do cavaleiro solitário Chayenne, interpretado por Jason Robards.
Para aqueles que esperam encontrar um ritmo dinâmico visto na trilogia dos dólares vai talvez se espantar com esse filme. "Era uma Vez no Oeste" é uma espécie de representação do que poderia ser o encerramento do gênero do faroeste. Embalado com a inesquecível trilha sonora de Ennio Morricone que se casa com perfeição com a proposta principal do cineasta e cujo seu ápice se encontra nos derradeiros minutos finais do longa.
Acima de tudo, esse épico fala sobre o início do fim, sobre a morte do cavaleiro solitário, o lado poético das planícies com seu amanhecer e pôr do sol dando lugar ao progresso que se iniciou com a chegada das locomotivas e simbolizando o fim de uma era. Sergio Leone talvez não tivesse o interesse de realizar mais um faroeste, mas a sua mudança de ideia fez com que tivesse a chance de realizar o que talvez seja a sua maior obra prima. "Era uma Vez no Oeste" é o Adeus perfeito para esse popular gênero do cinema norte americano.
NOTA: Em memória de Claudia Cardinale (1938 - 2025)
Neste final de semana teremos uma programação dupla (oba) no Clube de Cinema de Porto Alegre!
No sábado, dia 27/09, às 10h15 da manhã, no auditório do Goethe-Institut, exibiremos Transtorno Explosivo, de Nora Fingscheidt. O longa acompanha Benni, uma menina de 9 anos cuja energia incontrolável desafia todos ao seu redor.
Já no domingo, dia 28/09, também às 10h15, será a vez de E Aí, Meu Irmão, Cadê Você?, dirigido pelos irmãos Coen. Ambientado no sul dos Estados Unidos durante a Grande Depressão, o filme acompanha três fugitivos da prisão em uma jornada cheia de humor, música e encontros insólitos, em uma livre adaptação da Odisseia de Homero. Com um grande elenco, o filme ganhou destaque por sua trilha sonora premiada e pelo visual inovador, que o tornou um marco do cinema dos anos 2000.
📽️ PROGRAMAÇÃO DO FINAL DE SEMANA NO CLUBE DE CINEMA
SÁBADO | 27/09
Transtorno Explosivo (Systemsprenger)
📍 Local: Auditório do Goethe-Institut Porto Alegre
Rua 24 de Outubro, 112 – Bairro Moinhos de Vento
(Alemanha, 2019, 125 min, 16 anos)
10h15
Direção: Nora Fingscheidt
Elenco: Helena Zengel, Albrecht Schuch, Gabriela Maria Schmeide
Sobre o Filme: A transição da infância para a pré-adolescência é uma faca de dois gumes, do qual o jovem é sujeito a cair em um precipício facilmente. Na maioria dos casos, as ações desses jovens nada mais são do que os atos e consequências vindo dos próprios pais que não estavam preparados a criar uma vida. "Transtorno Explosivo" (2019) fala sobre domar uma jovem com impulsos explosivos, mas cuja a solução não se encontra de um modo fácil.
Dirigido por Nora Fingscheidt, o filme conta a história de Benni (Helena Zengel), uma criança problema. Migrando de um lar adotivo para outro, ela assusta a todos os cuidadores com seus surtos de raiva e sua irreverência. A Sra. Bafané, do instituto de proteção a crianças, tenta usar novos métodos para conseguir integrar a garota permanentemente em uma nova casa de adoção. Mas a rebeldia de Benni não vai cessar enquanto ela não realizar o desejo de estar de volta com a própria mãe, que a entregou porque tinha medo da filha.
Confira a minha crítica completa já publicada clicando aqui.
DOMINGO | 28/09
E Aí, Meu Irmão, Cadê Você? (O Brother, Where Art Thou?)
📍 Local: Sala Eduardo Hirtz, Cinemateca Paulo Amorim
R. dos Andradas, 736 – Centro Histórico, Porto Alegre
10h15
(EUA, 2000, 107 min, 12 anos)
Direção: Joel e Ethan Coen
Elenco: George Clooney, John Turturro, Tim Blake Nelson
Sobre o Filme: O grande charme desse filme esta no fato que é uma visão pessoal dos autores cineastas com relação a saga da Odisseia, onde inúmeras passagens do livro são readaptadas conforme a visão que eles criaram para a trama. Momentos como o encontro com as sereias são impagáveis e acentuam o lado musical do filme, até então pouco explorados pelos irmãos. Como sempre, historia gira em torno dos protagonistas em situações imprevisíveis embaladas com o mais puro humor negro. Destaque pelo primeiro (e um dos melhores) trabalhos de George Clooney com os irmãos cineastas.
Sinopse: Uma Batalha Após A Outra acompanha Bob Ferguson (Leonardo DiCaprio) num jornada implacável para resgatar sua filha de um de seus inimigos que retorna após 16 anos sumido.
Ne Zha 2: o Renasner da Alma
Sinopse: Ne?Zha?2 - O Renascer da Alma acompanha os espíritos de Ne?Zha e Ao?Bing após a batalha final, quando seus corpos são destruídos. Reerguidos pela flor de lótus sete colorida, precisam unir forças para enfrentar dragões marinhos que ameaçam a Passagem de Chen Tang. Ao longo dessa jornada, descobrem sacrifício, amizade e seu verdadeiro destino como heróis da humanidade, com visuais grandiosos e cenas de ação emocionantes.
Missão Pet
Sinopse: Um trem em alta velocidade parte inesperadamente, levando apenas animais de estimação. Por trás dessa viagem emocionante, eles descobrem que está Hans, um texugo rancoroso em busca de vingança. Quando o acidente parece inevitável, Falcon, um guaxinim inteligente, e os amigos entram em ação para salvar todos a bordo em uma incrível missão.
Zoopocalipse - Uma Aventura Animal
Sinopse: Um meteoro libera um vírus que transforma animais de zoológico em zumbis. Uma onça-da-montanha e um lobo lideram uma equipe de sobreviventes para salvar o dia.
“Paraíso em Chamas” e “Bicho Monstro” estreiam no CineBancários em 25 de setembro. “O Último Azul”, de Gabriel Mascaro, completa a programação do cinema localizado na Casa dos Bancários
O filme sueco “Paraíso em Chamas”, vencedor do prêmio de melhor direção no Festival de Veneza, estreia dia 25 de setembro no CineBancários junto de “Bicho Monstro”, longa premiado no Festival de Gramado. Na programação da cinesemana também está o filme nacional “O Último Azul”, dirigido por Gabriel Mascaro.
Dirigido por Mika Gustafson, “Paraíso em Chamas” acompanha o cotidiano de três irmãs que vivem sozinhas em um bairro operário na Suécia, lidando com a ausência da mãe e tentando evitar a separação pelos serviços sociais. As protagonistas, Laura (16 anos), Mira (12) e Steffi (7), se mantêm unidas durante o verão, em meio a uma rotina marcada por liberdade, improviso e ausência de adultos. Quando o conselho tutelar convoca uma reunião para discutir o futuro delas, Laura tenta proteger as irmãs sem contar o que está acontecendo. Em segredo, ela busca uma mulher que aceite se passar por sua mãe para evitar que sejam colocadas em lares separados. À medida que a data do encontro se aproxima, as tensões emergem e a dinâmica entre as três começa a mudar.
O roteiro é assinado por Mika Gustafson em parceria com Alexander Öhrstrand e foi desenvolvido a partir de oficinas com as atrizes, todas estreantes. A encenação privilegia uma estética naturalista e acompanha de perto os corpos e gestos das personagens, em uma abordagem que dialoga com o cinema social escandinavo.
Dirigido pelo campo-bonense Germano de Oliveira, “Bicho Monstro” aposta no realismo fantástico para contar lenda da imigração alemã, o Thiltapes
Em um vilarejo rural de colonização alemã, a pequena Ana assiste a uma peça sobre a história do Thiltapes, um perigoso animal que vive na mata cuja forma real ninguém conhece. Duzentos anos antes, um botanista que escreve sobre a região ouve falar sobre esse mesmo animal. As histórias se intercalam, ambos em uma obcecada busca pelo Thiltapes imaginário, ao mesmo tempo em que encaram seus próprios demônios.
Esta é a premissa de "Bicho Monstro", longa do campo-bonense Germano de Oliveira, que estreia no CineBancários na sessão das 19h. A produção, rodada nas cidades gaúchas de Santa Maria do Herval e Morro Reuter, teve sua première na competitiva Novos Diretores da 48a Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, onde entrou na lista dos 16 filmes favoritos do público.
O filme venceu melhor direção de fotografia e direção de arte na mostra gaúcha do 53o Festival de Cinema de Gramado, para Bruno Polidoro e Gabriela Burck, respectivamente.
O diretor Germano de Oliveira buscou inspiração no realismo fantástico e em sua familiaridade com os vilarejos interioranos. Da junção desses elementos veio o Thiltapes, o pássaro fantasioso referenciado em áreas de imigração alemã: “desse contato vem a ideia de trabalhar esse registro de um animal muito local, uma lenda muito contada na região, e tentar explorar um pouco essas diferentes versões que essa lenda, esse mito pode assumir”.
“São muitas as formas possíveis do animal imaginário, assim como o tom com que a história pode se apresentar: desde uma brincadeira engraçada até um conto de terror”, explica o realizador. “O filme busca apresentar essa profusão de formas da mesma história e o contágio dessa narrativa através do tempo. A partir dela, tanto uma menina no presente, como um botanista no passado inventam seus próprios monstros a partir de seus conflitos pessoais”, resume.
PROGRAMAÇÃO DE 25 DE SETEMBRO A 01 DE OUTUBRO
ESTREIAS:
PARAÍSO EM CHAMAS
Suécia, Itália, Dinamarca, Finlândia/ Drama/ 2023/110 min
Direção: Mika Gustafson
Sinopse: Numa região operária da Suécia, as irmãs Laura, Mira e Steffi sobrevivem sozinhas, deixadas à própria sorte pela mãe ausente. Com o verão chegando e sem os pais por perto, elas levam uma vida anárquica, sem preocupações. Mas quando o conselho tutelar convoca uma reunião, Laura precisa encontrar alguém que se passe pela mãe, ou as meninas serão levadas para um orfanato e separadas. Ela mantém essa ameaça em segredo, mas à medida que o momento da reunião se aproxima, as três garotas se veem forçadas a encarar os conflitos entre a liberdade e a dura realidade do amadurecimento.
Vencedor do prêmio de melhor direção da seção Horizontes do Festival de Veneza.
Elenco: Bianca Delbravo, Dilvin Asaad, Safira Mossberg, Ida Engvoll, Mitja Siren, Marta Oldenburg, Andrea Edwards.
BICHO MONSTRO
Brasil/ Drama/2024/74min.
Direção: Germano de Oliveira
Sinopse: Em um vilarejo rural de colonização alemã, a pequena Ana assiste a uma peça sobre a história do Thiltapes. É um perigoso animal que vive na mata, mas ninguém conhece sua forma real. Duzentos anos antes, um botanista que escreve sobre a região ouve falar sobre esse mesmo bicho. As histórias desses personagens se intercalam, ambos em uma obcecada busca pelo Thiltapes imaginário, ao mesmo tempo em que encaram os próprios demônios: o debilitado botanista ávido por uma descoberta que justifique a viagem e Ana intrigada com o pai, suspeito de ter cometido um crime brutal contra a vaca de um vizinho.
Elenco: Kamilly Wagner, Araci Esteves, Décio Worst, Daniel Tonin Lorenzon, Pascal Berten, Geraldo Souza, Alex Pantera.
EM CARTAZ:
O ÚLTIMO AZUL
Brasil/ Drama/ 2024
Direção: Gabriel Mascaro
Sinopse: Tereza tem 77 anos, reside em uma cidade industrializada na Amazônia e recebe um chamado oficial do governo para residir numa colônia habitacional compulsória onde idosos devem "desfrutar" de seus últimos anos, permitindo que a juventude produza sem se preocupar com os mais velhos. Antes do exílio forçado, Tereza embarca numa jornada pelos rios e afluentes para realizar um último desejo que pode mudar seu rumo para sempre.
Os ingressos podem ser adquiridos a R$ 14 na bilheteria do CineBancários. Idosos (as), estudantes, bancários (as), jornalistas sindicalizados (as), portadores de ID Jovem e pessoas com deficiência pagam R$ 7. São aceitos cartões nas bandeiras Banricompras, Visa, MasterCard e Elo. Na quinta-feira, a meia-entrada (R$ 7) é para todos e todas.
CineBancários
Rua General Câmara, 424 – Centro – Porto Alegre
Mais informações pelo telefone (51) 3030.9405 ou pelo e-mail cinebancarios@sindbancarios.org.br
Sinopse: Malu é uma atriz desempregada que vive das memórias de seu passado glorioso e divide uma casa em uma favela do Rio de Janeiro com sua mãe conservadora. Ela também tem um relacionamento conturbado com sua filha.
Se a Democracia brasileira de hoje é frágil, sendo que a qualquer momento pode ser atacada por um golpe de estado, é porque infelizmente esta geração Z não se preocupa em olhar para trás e estudar o seu próprio passado. No filme "Rasga Coração" (2018), por exemplo, o diretor Jorge Furtado cria um paralelo entre o passado dos tempos de chumbo como presente e revelando uma geração perdida e não sabendo ao certo pelo que lutar. "Malu" (2023) fala sobre o atrito de três gerações ligadas pelo sangue, mas cujo olhar perante o mundo faz com que elas se separem quase sempre.
Dirigido por Pedro Freire, o filme é inspirado na vida pessoal da sua mãe, a atriz Malu Rocha, que aqui é vivida por Yara de Novaes. Vemos Malu como uma atriz desempregada, que vive em uma casa caindo em ruínas ao lado de sua mãe conservadora interpretada por Juliana Carneiro da Cunha. Não demora muito para que surja Joana, interpretada pela atriz Carol Duarte e que aqui faz a filha de Malu, que procura tentar ajudar a sua mãe de todas as formas, mas que logo perceberá o inferno astral que irá adentrar por conta dessa escolha.
Pedro Freire procura, acima de tudo, filmar o seu maior trunfo que é justamente o trio central em cena e sendo que cada uma das atrizes surpreende de tal maneira que ficamos até mesmo temendo as suas próximas ações após determinado embate verbal. Malu é uma entidade da natureza, que viveu através da arte do teatro, mas que viu os seus sonhos serem destruídos a partir dos tempos de censura e retrocessos na época da ditadura. O seu temperamento explosivo não é somente por ter nascido com uma personalidade forte, como também uma sequela das perseguições que uma geração inteira passou em tempos em que a cultura era a principal arma contra a tirania.
Yara de Novaes nos brinda com uma das suas melhores atuações de sua carreira, onde a sua personagem não tem papas na língua para dizer o que pensa e principalmente contra aqueles que não compreendem a sua real natureza. Neste caso, por exemplo, temos uma avó conservadora que atravessou a linha diversas vezes para domar a própria filha, mas nos dando a entender que a própria não tem culpa por possuir uma mente tão retrógrada, já que ela foi moldada em tempos em que ser mulher era o mesmo que ser propriedade de uma realidade patriarcada. Quando ela tenta se entrosar com a filha em uma determinada cena, por exemplo, é então que ela baixa a guarda e revelando um ser frágil e vítima de um passado de erros que não se pode repetir no futuro.
Porém, nós esperamos esse posicionamento dessa senhora, mas talvez tanto Malu como as pessoas que assistem a trama deseja que a filha da protagonista procure entender esse lado da história. Joana é pertencente à geração dos anos noventa, sendo que somente viu resquícios do que era uma ditadura e pouco se preocupando com a possibilidade do retorno dela. Porém, a mãe ecoa a sua história de forma incansável, pois dá a entender que o passado sombrio ainda ecoa em seu próprio presente, mas a filha não entende ou procura não entender o seu lado.
Ambas as atrizes em cena dão um verdadeiro show de interpretação sendo, que as desavenças entre mãe e filha geram bastante tensão e revelando segredos até então guardados, pois a verdade machuca em todos os sentidos. Ao final, constatamos que Malu nada pode fazer, a não ser prosseguir com o que tem, mas tendo consciência de um mal à espreita que a filha procura ignorar. Portanto, a cena final onde ela pergunta para filha aonde elas estão indo, não simboliza somente uma mente febril, como também uma sociedade brasileira que não soube e ainda não sabe conduzir um país para uma democracia estabilizada e sem se preocupar com a sombra do passado da tirania.
"Malu" é um poderoso conto não somente de uma mulher movida pelo seu passado, como também uma síntese de um país ainda desgovernado desde os tempos de chumbo.
A cinemasemana que encerra o mês de setembro traz o relançamento de PARIS, TEXAS, o filme icônico da trajetória do cineasta alemão Wim Wenders lançado há 40 anos. Outra novidade é o longa gaúcho BICHO MONSTRO, do diretor Germano de Oliveira, inspirado em uma animal lendário que marca região de colonização alemã no Rio Grande do Sul. Também temos a estreia do longa PARAÍSO EM CHAMAS, da diretora sueca Mika Gustafson, com um olhar sobre a infância periférica do seu país. Por fim, o GHIBLI FESTIVAL entra em sua segunda semana de sucesso absoluto de público, com sessões lotadas e várias exibições extras de acordo com a demanda.
Seguem em cartaz, em horários alternados, as coproduções SONHAR COM LEÕES, entre Brasil e Portugal, e DORMIR COM OLHOS ABERTOS, que une Brasil, Taiwan e Alemanha. O público ainda pode conferir dois outros títulos elogiados pela crítica e com boa repercussão entre os frequentadores: 3 OBÁS DE XANGÔ, que destaca as trajetórias dos baianos Jorge Amado, Dorival Caymmi e Carybé, e O ÚLTIMO AZUL, do diretor pernambucano Gabriel Mascaro, que já ultrapassou a marca de 100 mil espectadores.
Confira a programação completa da cinemateca no site oficial clicandoaqui.