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Sapucaia do Sul/Porto Alegre, RS, Brazil
Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Cine Curiosidade: HITCHCOCK EM DESTAQUE

Atividade criada pelo CENA UM e ministrada pelo especialista no assunto Carlos Primati é destaque
 no Jornal do Comércio de hoje. 
clique na imagem para poder ler melhor.

Leia tudo sobre o que eu já escrevi sobre Alfred Hitchcock clicando aqui.  

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quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Cine Especial: Cinema 2013: Parte 9: Além da Escuridão - Star Trek


Sinopse: Não divulgada
  
J.J. Abrams é aquele tipo de pessoa que consegue tirar leite de pedra, pois se alguém tinha duvidas sobre isso, todas elas se dissiparam quando ele nos apresentou o novo Star Trek em 2009. A tarefa não era das mais fáceis, pois o cineasta sabia do vespeiro que estava se metendo, principalmente pelo perigo que corria em ser linchado pelos fãs tão devotos pela serie, que até aquele momento, não imaginavam seus personagens preferidos serem interpretados por outros atores. Mas gênio como ninguém, Abrams não só acertou na escolha de todo o elenco, como também criou um belo laço que juntou essa nova versão com a antiga (com a participação mais do que importante de Leonard Nimoy).
O resultado final foi um filme, que não só respeitava os antigos fãs, como também era um convite de boas vindas para um publico que nunca assistiu nada sobre Star Trek. Com o sucesso de publico e critica, era questão de tempo para Abrams novamente embarcar no Enterprise para mais uma nova aventura, mas a pergunta que fica no ar até agora é: o que é a historia? Ninguém sabe!
Esperto como ninguém, Abrams está lançando poucas pistas sobre o que realmente vai rolar na trama, tão pouco a gente tem uma vaga idéia sobre quem é esse novo vilão, que é interpretado pelo ator Benedict Cumberbatch. Muitos fãs torcem para que ele seja a versão jovem de  Khan, já que para eles, o personagem é até hoje  o melhor vilão de toda a historia de Star Trek. Muitas perguntas como essa e outras ficaram no ar até a estréia e até lá ficamos na expectativa, mas ao mesmo tempo ficamos nos perguntando: como J.J. Abrams irá se virar com Star Strek e Star Wars ao mesmo tempo? Gênios são para essas coisas!
O filme estréia dia 14 de Junho. 

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Cine Dica: Em DVD e Blu-Ray: FRANKENWEENIE


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terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Cine Dica: De Outros Carnavais em cartaz no Curta nas Telas


CURTA BASEADO EM CONTO DE LUÍS FERNANDO VERISSIMO ESTREIA NA 39ª EDIÇÃO DO CURTA NAS TELAS
  
O projeto  CURTA NAS TELAS apresenta, de 1º a 14 de fevereiro de 2013, a produção DE OUTROS CARNAVAIS, de Paulo Miranda. As exibições ocorrem na Sala 03 do Cineflix Total (Av. Cristóvão Colombo, 545), nas sessões das 18h e 21h20, acompanhando o longa Django Livre (Django Unchained), de Quentin Tarantino.

Adaptação do Conto de Verão Nº 2: Bandeira Branca, de Luís Fernando Veríssimo, o curta De Outros Carnavais narra os encontros e desencontros de Janice e Píndaro, ao longo de vários carnavais, entre a infância e a adolescência. A vida os distancia, mas eles ainda mantêm suas fantasias. A história de uma paixão incompleta, melancólica como uma marchinha de carnaval. O curta de Paulo Miranda ganhou o prêmio de Melhor Direção de Arte da 8ª edição do Festival Curta Canoa (Ceará, 2012), além de ter sido selecionado no Festival Internacional de Filmes de Miami e San Diego Latino Film Festival, que ocorrerão em março próximo nos EUA. A narração é da atriz Cynthia Falabella.
  
DE OUTROS CARNAVAIS, de Paulo Miranda (São Paulo, ficção, 14 minutos, 35mm, 2012). Não apropriado para menores de 12 anos.

Ficha Técnica – Roteiro e Direção: Paulo Miranda / Produção Executiva: Marita Miranda / Direção de Fotografia: Junior Malta / Montagem: Douglas Aguillar / Empresa Produtora: SW-VG 94 Produtora / Elenco: Marina Merlino, Felipe Ventura, Melissa Vettore, Renato Baragão / Narração: Cynthia Falabella.
 
Sobre o Curta nas Telas

O projeto Curta nas Telas é fruto de convênio entre a Prefeitura Municipal de Porto Alegre, o Sindicato das Empresas Exibidoras do Rio Grande do Sul e a Associação Profissional dos Técnicos Cinematográficos do Rio Grande do Sul e Brasileira de Documentaristas (APTC – ABD/RS). Seu objetivo é divulgar a produção nacional de curtas-metragens, por meio da exibição dos filmes selecionados no circuito de cinemas de Porto Alegre. Em 38 edições foram exibidos 269 curtas de todo o Brasil.

Os próximos selecionados na 39ª edição do Curta nas Telas a entrar em cartaz serão:

MÁSCARA NEGRA, de Rene Brasil – 15 a 28 de fevereiro de 2013, no GNC Moinhos.
A CIDADE, de Liliana Sulzbach – 1º a 14 de março de 2013, no Espaço Itaú de Cinema.



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Cine Dica: Em DVD e Blu-Ray: ATIVIDADE PARANORMAL 4


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segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Cine Dica: Em Cartaz: OS MISERÁVEIS



Sinopse: Adaptação de musical da Broadway, que por sua vez foi inspirado em clássica obra do escritor Victor Hugo. A história se passa em plena Revolução Francesa do século XIX. Jean Valjean (Hugh Jackman) rouba um pão para alimentar a irmã mais nova e acaba sendo preso por isso. Solto tempos depois, ele tentará recomeçar sua vida e se redimir. Ao mesmo tempo em que tenta fugir da perseguição do inspetor Javert (Russell Crowe).

De vez em outra, o gênero musical volta com tanta força, que parece que haverá uma nova leva de filmes musicais no cinema, o que não acontece na verdade. O que talvez tranque a retomada por completo seja o preconceito de certa parte do publico, que não vê sentido algum dos personagens cantando em determinada parte do filme. Ora, isso é cinema, cinema é magia e, portanto pode-se facilmente se quebrar essa realidade “pé no chão” que tanto o publico de hoje gosta, para embarcar numa historia mágica, no qual os personagens, mesmo no momento mais angustiante de suas vidas, comecem a cantar.
Os Miseráveis  é mais do que um musical, é um verdadeiro super espetáculo do começo ao fim, em que já no inicio temos uma vaga idéia do estará por vir. Baseado mais na peça musical da Broadway, do que do livro clássico de Victor Hugo, acompanhamos a cruzada de Jean Valjean (Hugh Jackman) na sua busca de paz e redenção, depois de ficar vários anos preso injustamente, mas em seu encalço estará o implacável inspetor Javert (Russel Crowe), que não medira esforços para capturá-lo. Nestes primeiros minutos de projeção, temos o maior acerto e o maior erro na escolha do elenco: Hugh Jackman se entrega de corpo e alma para incorporar o protagonista Jean Valiean, onde ele consegue transmitir a cada momento todo o desejo em buscar uma paz interior e ao mesmo tempo sempre seguir uma linha reta para o caminho da luz. Já não é a mesma coisa com relação a Russell Crowe, que não consegue passar a persistência, teimosia e tão pouco a justiça cega que carrega o inspetor Javert. Para piorar, Crowe mostra que não nasceu para cantar, pois chegamos até mesmo a nos contorcer quando ouvimos o ator soltando a voz.
Mas se por um lado temos esse passo em falso, por outro testemunhamos mais escolhas certeiras e Anne Hathaway é uma delas. Embora a sua Fantine apareça pouco em cena, é mais do que suficiente para Hathaway colocar o filme no seu bolso, já que sua interpretação é assombrosa, onde ela passa o verdadeiro peso do mundo em que a sua personagem sente nas costas. A cena em que ela canta e desaba em lagrimas (numa das melhores canções do filme) é digna de levar vários prêmios e o diretor Tom Hooper (O Discurso do Rei), foi habilidoso em criar esse incrível momento numa seqüência sem cortes, onde vemos a atriz nos brindar com um dos melhores momentos de sua carreira. Mas por mais que desejamos que ela continuasse em cena, a trama precisa seguir novos rumos e é ai que o filme se torna um tanto que irregular, principalmente quando entra em cena o casal de trambiqueiros vividos por Helena Bonham Carter e Sacha Baron Cohen, que são tutores da filha de Fantine. Embora eles cumpram com louvor os momentos cômicos da trama, tem-se a impressão de que eles saíram de outro filme e embarcaram aqui como penetras. Principalmente Bonham Carter, na qual a sua personagem lembra por demais a sua outra encarnação em Sweeney Todd - O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet.
Após isso tudo, o filme embarca em sua segunda parte, no qual a Revolução Francesa do século XIX se torna a alma dominante. Se por um lado esse fato histórico pouco nos interessa, por outro, o publico já está mais do que fisgado pelos protagonistas e pela sua riquíssima reconstituição de época, onde edição arte, fotografia e trilha falam por si. Surpreendentemente, embora o filme chegue perto da casa de três horas de projeção, uma vez que o publico é conquistado, não sente nenhum pouco de cansaço, principalmente com a montagem rápida, no qual sempre da à sensação de que algo está acontecendo a todo o momento (embora as cenas inclinadas tenham me incomodado um pouco até o final). Em meio a todas essas inúmeras sub-tramas, todos os personagens (sejam eles grandes ou pequenos), irão se colidir no ato final da historia e selará o destino de cada um deles. Embora o romance açucarado dos personagens Cosette (Amanda Seyfried) e Marius (Eddie Redmayne) seja um tanto que forçado demais, ele é essencial para colocar um ponto final na busca de redenção do personagem  Jean Valjean.
Embora a trama se encaminhe para algo previsível, somos todos compensados por minutos finais grandiosos, no qual  Hugh Jackman brilha como ninguém e o filme se encerra da maneira como começou, de uma forma espetacularmente grandiosa e que nos faz até mesmo nos esquecer de alguns momentos que ficaram aquém do esperado. Com o resultado mais do que positivo, não me admiraria que alguns dos envolvidos puder futuramente embarcar em mais um filme musical que é baseado num grande clássico. O Corcunda de Notre Dame seria sem sombra de duvida uma ótima pedida. 


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Cine Curiosidade: ENTREVISTA/MÁRIO ALVES COUTINHO » Literatura em celuloide-João Paulo‏

Livro reúne entrevistas com principais especialistas franceses na obra do cineasta Jean-Luc Godard 



João Paulo
Estado de Minas: 02/02/2013 

O crítico, ensaísta e tradutor Mário Alves Coutinho sempre teve uma relação intensa com o cinema de Jean-Luc Godard. Das sessões de filmes e debates no Centro de Estudos Cinematográficos (CEC) à pesquisa detida da obra do cineasta, que resultou em doutorado defendido na França e no livro Escrever com a câmera: a literatura cinematográfica de Jean-Luc Godard, a trajetória de Godard ocupou muitos anos da atenção do crítico. O livro que Coutinho está lançando pela Editora Crisálidas é mais uma etapa nesse percurso sem fim. Godard, cinema, literatura reúne entrevistas com nomes de ponta da crítica e da pesquisa acadêmica sobre a obra do cineasta franco-suíço. O tema que constitui o núcleo dos debates é a relação de Godard com a literatura. Não se trata de uma pesquisa do uso da ficção e das narrativas literárias nos filmes do cineasta, mas da forma como, por meio de elementos cinematográficos, linguísticos e retóricos, Godard faz literatura e, mais especificamente, poesia com a câmera. 

Mário Alves Coutinho colheu consensos e polêmicas em diálogos com especialistas, quase todos autores de livros canônicos sobre Godard. A partir de um roteiro prévio ele se abre a outras questões, de acordo com o perfil do entrevistado. O resultado é um livro que se acompanha como a uma boa conversa, que vai ganhando consistência à medida que o leitor vai se assenhorando dos temas e da linguagem dos críticos. 


Além de Godard, cinema e literatura, as conversas de Coutinho com seus interlocutores atravessam outros temas, como a crítica de filmes e o jornalismo cultural, emergindo daí um retrato sociológico sobre as publicações francesas do período da Nouvelle Vague e dos Cahiers du Cinéma. Não faltam observações finas sobre intelectuais como Lévi-Strauss e Jean Cocteau, que ampliam o espectro do tema central do livro. Os entrevistados foram Jacques Aumont, Phillipe Dubois, Alain Bergala, Michel Marie, Jean Douchet, Jean-Louis Leutrat, Jean-Michel Frodon, Marie-Thérèse Journot, Francis Ramirez, Jean Collet e Marie-Claire Ropars-Wuilleurmier. Confira a seguir trechos da entrevista de Mário Alves Coutinho ao Pensar.


O livro é resultado de suas pesquisas sobre a presença da literatura na obra de Godard. Como chegou aos nomes escolhidos para os diálogos?

O critério para escolher os entrevistados foi simples: competência no tema que eu queria abordar, que era exatamente a presença ou não da literatura na obra cinematográfica de Jean-Luc Godard. Ele é autor de vários livros: roteiros dos seus filmes, críticas de cinema, entrevistas, os textos de Histórias do cinema, que editou em quatro volumes pela Galimard; mas eu queria examinar a literatura nos seus filmes, e não nos seus livros. Quase todos os entrevistados escreveram livros sobre Godard – desde Jean Collet, que publicou o primeiro da extensa bibliografia godardiana, passando por Jacques Aumont e Philippe Dubois, até Alain Bergala, que escreveu sobre e editou obras do próprio Jean-Luc – ou então, ensaios importantes sobre sua obra e seus filmes. Francis Ramirez, por outro lado, era especialista em literatura e Jean Cocteau: ora, é conhecida a influência especial de Jean Cocteau em Godard. Já Jean-Michel Frodon, por exemplo, entrevistei-o devido à posição que ocupava: diretor de redação da revista Cahiers du Cinéma, lugar onde Godard escreveu, e onde conheceu André Bazin (ninguém passava pela órbita de Bazin impunemente). Além disso, quase todos eles eram professores na Paris 3, Sorbonne Nouvelle, universidade na qual fiz minhas pesquisas, e onde segui alguns cursos.


Quais as principais conclusões de seu trabalho sobre a relação entre a literatura e o cinema em Jean-Luc Godard?

Que Godard teve o desejo de fazer literatura primeiro, quando adolescente, mas que adotou o cinema, talvez por este ser, para sua família (altamente literária, com contatos diretos com Paul Valéry, André Gide e Rainer Maria Rilke), uma arte vulgar e interdita. Segundo ele, tentou escrever um romance, antes de dirigir qualquer filme, mas não passou da primeira frase. A literatura que ele quis publicar na Galimard, ele a imprimiu no celuloide. Além disso, com a minha tese de doutorado e meus livros Escrever com a câmera: a literatura cinematográfica de Jean-Luc Godard e agora Godard, cinema, literatura, cheguei a algumas outras conclusões, que venho confirmando, estendendo e escrevendo em trabalhos posteriores: realmente existe um cinema moderno que faz literatura e poesia através das imagens e das palavras, e cujo exemplo mais radical (mas não o único) é Jean-Luc Godard. Outros exemplos, até mesmo óbvios: grande parte da Nouvelle Vague, Michelangelo Antonioni, Ingmar Bergman, Jean-Marie Straub e Danielle Huillet, Abbas Kiarostami, Satyajit Ray... 


Esse tema tem ressonância no cinema brasileiro? Que cineastas você destacaria como participantes dessa tradição?
Apresentei um trabalho em outubro, no Memorial da América Latina, em São Paulo, exatamente sobre como se faz literatura no cinema brasileiro. Vou me ater a alguns poucos nomes. Glauber Rocha fez literatura no cinema, e da maior qualidade. Como? Não estou me referindo ao seu romance, Riverão Sussuarana, lançado em 1977, pela Record, enquanto ele ainda estava vivo. Nem ao seu livro Poemas eskolhydos, póstumo, editado pela Alhambra, em 1989. Estou me referindo a Deus e o diabo na terra do sol, esta suntuosa ópera poética. Desde a concepção até a efetiva realização do filme, Deus e o diabo transpira literatura, em todas as sequências, em todos os planos, em todas as cenas, em todos os detalhes. A começar pelos diálogos, que são uma verdadeira partitura verbal, com a fala cadenciada, ritmada quase no metrônomo, de todos seus personagens e com a música das palavras tudo comandando: podemos falar de uma dicção abertamente poética. Nelson Pereira dos Santos foi mais convencional, mas não menos genial: simplesmente adaptou, com a mesma qualidade, a obra-prima de Graciliano Ramos, Vidas secas. Luis Rosemberg tem uma obra que também é escrita com a câmera: Crônica de um industrial, e mais recentemente, O discurso das imagens, Desertos e As últimas imagens de Tebas são filmes soberbos, poesia escrita com palavras e imagens. Um outro que atua nesta área é Ricardo Miranda: seu Djalioh, baseado numa novela juvenil de ninguém menos do que Gustave Flaubert, é o que todas as adaptações deveriam ser e raramente são: tão inteligente, sutil e criativa como a própria obra literária. Ricardo Miranda está prometendo, aliás, um outro filme, baseado noutra novela juvenil de Flaubert.   

Por que, em sua avaliação, não temos hoje revistas e centros de estudos de destaque na crítica cinematográfica, como em outros momentos relativamente recentes da cultura brasileira?
Editar revistas e manter centros de estudos na crítica cinematográfica nunca foi uma tarefa fácil, mas um esforço de poucos e abnegados produtores culturais. Como por exemplo a Revista de Cinema e o CEC, Centro de Estudos Cinematográficos de Minas Gerais, que sempre tiveram períodos difíceis, quando as suas atividades tinham que ser paralisadas, por falta de dinheiro e condições mínimas. Pode-se dizer, por isso mesmo, que nenhuma dessas atividades teve uma história de vida sem problemas: sempre teve uma fase em que elas estavam fechadas. Não sei se isto é exatamente positivo, mas tudo agora passa pelo computador: filmes que nunca veríamos nas telas, ou então muito dificilmente, estão a um toque de dedo na internet. Igualmente, inúmeras revistas e jornais virtuais (do mundo inteiro, em várias línguas), com crítica e ensaios de cinema, podem ser acessados por qualquer um, a nenhum custo. Isso, por um lado, é muito positivo. Por outro lado, o debate presencial e o filme de celuloide na tela do cinema são uma experiência insubstituível. O ideal era contar com todas estas maneiras de ver, discutir, ensinar e aprender cinema. 

É possível, hoje, com as pressões da indústria e da mídia, fazer poesia no cinema? Que autores você destacaria como herdeiros de Godard, na Europa, nos EUA e no Brasil?
É plenamente possível. A indústria em geral e a indústria cinematográfica em particular sempre existiram, assim como as pressões para a estandardização de todos os produtos e produções. A indústria é necessariamente assim... O que não impediu que sempre existissem poetas e poesia no cinema, desde os seus começos. Basta lembrar os inventores do cinema, os irmãos Lumière, seguidos de perto por Georges Méliès... Neste ponto sou dogmático: basta haver desejo, competência e coragem, e teremos poesia, em qualquer circunstância, mesmo na mais desfavorável. Aliás, diria que os tempos sombrios são os que mais precisam de poesia, e talvez por isso mesmo, os que mais a produzem. Quanto aos cineastas que fazem (ou fizeram, recentemente) um cinema digno de Jean-Luc Godard, eu diria que são Jean-Marie Straub, Theodoros Angelopoulos, Béla Tarr, Jacques Rivette, Wim Wenders (Europa), Jim Jarmusch, Terence Malick, Woody Allen (Estados Unidos), Luís Rosemberg, Ricardo Miranda, Julio Bressane, Andrea Tonacci, Geraldo Veloso, Nelson Pereira dos Santos (Brasil). 


Você concorda que os novos cineastas parecem ter muita cultura visual, mas não o mesmo potencial em termos filosóficos e literários dos artistas de linha godardiana?

Quando me lembro do cinema de Tarantino e de Spielberg, tendo a concordar com você: um conhecimento muito grande do cinema e um brilhantismo visual inegável, mas ao mesmo tempo um pensamento muito raso, para dizer o mínimo. O cinema, as imagens e o visual somente não bastam, e isto está sendo dito por alguém que já foi crítico de cinema por muitos anos e que sempre amou um certo cinema americano (Nicholas Ray, Vidor, Samuel Fuller, Walsh, Preminger), que foi descrito predominantemente como um cinema de imagens, o que não era muito correto: Fuller, por exemplo, era escritor e jornalista, e levou esta capacidade para seus filmes... 


O mundo está precisando dos filmes de Godard?
O mundo sempre precisou dos filmes de Godard: altamente inventivo, formalmente, ele foi aquele cineasta que sempre falou da atualidade, fazendo sempre reportagens etnográficas altamente filosóficas e sofisticadas, não só analisando e mostrando os temas mais relevantes de cada momento que viveu e vive, mas muitas vezes antecipando-os. Os melhores exemplos são A chinesa e Week-End à francesa: realizados em 1967, eles antecipavam, com exatidão inacreditável, o que seria o Maio de 68 na França. Além do mais, por definição, ele é um poeta, e os poetas, como disse Ezra Pound, são as antenas da raça. Finalmente, eles são ao mesmo tempo inexplicáveis (por mais explicações que tenhamos sobre suas obras) e insubstituíveis: suas obras sempre pressupõem a liberdade, a participação e a interpretação do público. Talvez seja este, finalmente, o grande segredo de Jean-Luc Godard.


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