Sinopse: Lilith é criada por Deus para ser a mulher de Adão, mas não aceita a posição de inferioridade em relação ao homem.
Se pegarmos para lermos a bíblia passo a passo nos damos conta que o papel da mulher se torna uma espécie de catalizador para desmembrar os planos de Deus. Uma mulher, por exemplo, cortou o cabelo de Sansão, assim como uma pediu a Herodes a cabeça de João Batista e fazendo da mulher algo vilanesco e que não se pode cair em suas tentações sombrias. "Lilith" (2022), por sua vez, vem para jogar mais fogo nesta fogueira e nos revelando uma nova faceta sobre a origem da vida a partir dos conhecimentos da bíblia.
Dirigido por Bruno Safadi, o filme conta a história mitológica da primeira mulher na Terra, que veio antes de Eva. Ela é criada por Deus para ser a mulher de Adão. Entretanto, Lilith não aceita posição de inferioridade em relação ao homem, rebela-se e vai para o deserto. Lilith reaparece como um duplo de Eva, come o fruto proibido, se vinga de Adão, de Deus, e torna-se a primeira mulher a se levantar contra o sistema patriarcal dominante.
Em tempos atuais em que uma Extrema Direita usa a religião como cortina de fumaça para ocultar as suas reais ambições, o filme vem em um momento em que as mulheres do Brasil e do mundo enfrentam retrocessos a cada dia e fazendo que uma luta vencida se torne um fio de esperança. De forma experimental, o longa nos convida sem nenhum compromisso de imaginarmos como seria o outro lado da história sobre Adão e Eva e da qual, mesmo eu sendo católico, sempre achei uma forma de simplificar a origem da vida vinda por parte da igreja. Com um único cenário, além de alguns recursos visuais, o filme se sustenta mais graças ao seu elenco e do qual nos transmite uma atuação mais teatral do que qualquer outra coisa cinematograficamente falando.
Claro que atriz portuguesa Isabél Zuaa dá o seu verdadeiro show de atuação como Lilith. Desde o filme "Joaquim" (2017) ela tem nos surpreendido com uma presença forte, contante e da qual nos transmite uma peculiaridade enigmática em quase todos os seus personagens. Aqui não é diferente, o que acaba sendo positivo para ela, já que é preciso ser algo mais além para se criar uma personagem que desafie as ordens de Deus e que ao mesmo tempo sintetize aquele ar de revolta perante uma realidade patriarcado que é sempre tão pregada desde o início dos tempos. Por conta disso, não é um filme para todos, principalmente para os fanáticos que enxergam tudo somente no preto e no branco, mas é um longa que será mais bem degustado por aqueles que não são facilmente persuadidos por falsos pastores que anseiam pelo poder político.
"Lilith" é um pequeno filme que se for descoberto aos poucos irá incomodar muita gente, principalmente por aqueles que usam a bíblia como ferramenta principal para chegar no poder e persuadir a maioria do povo.
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