Sinopse: Há três anos, o Camboja, agora conhecido como Kampuchea Democrático, está sob o jugo de Pol Pot.
O comunismo se tornou uma palavra de xingamento contra aqueles que desejam um país mais socialista do que continuar encravado no sistema capitalista. Porém, infelizmente, não faltam exemplos de que este sonho se torne um verdadeiro pesadelo a partir do momento em que os seus líderes revolucionários não se tornem tão diferentes como outros Ditadores do passado e que surgirão no decorrer dos últimos anos. "Encontro Com o Ditador" (2024) nos mostra até que ponto em que a ideia social se torne em um genocídio para os olhos do mundo.
Dirigido por Rithy Panh, e baseado no livro de Elizabeth Becker, a trama se passa em 1978 no Camboja, sendo que nesta época estava sob o domínio do ditador Pol Pot e do seu Khmer Rouge há três anos. Três franceses aceitaram o convite do regime na esperança de conseguir uma entrevista exclusiva com Pol Pot – um repórter que conhece o país, um fotojornalista e um intelectual que se sente próximo da ideologia revolucionária. Porém, na medida em que a trama avança, logo os três vão descobrindo os horrores por detrás das cortinas.
A premissa me fez lembrar do longa "A Entrevista" (2014), onde dois jornalistas chegam a Coréia do Norte para entrevistar o Ditador Kim Jong-un. Porém, se lá havia o humor ácido do cinema norte americano, aqui o realizador Rithy Panh procura criar uma trama em que transite pelo realismo para o seu lado autoral na realização do seu projeto e conseguindo assim um filme que adquire momentos do mais puro suspense. Já no primeiro minuto de projeção temos uma ligeira sensação do que poderá acontecer aos protagonistas, já que a sua trilha musical já nos deixa em posição de expectativa.
Logo se nota que os soldados do Ditador fazem de tudo para passar aos jornalistas uma realidade em que os habitantes são unidos pelo desejo da construção de uma realidade mais social e excluindo o sistema ocidental e até mesmo a sua própria moeda. Rithy Panh cria, portanto, um cenário que vai se revelando na medida em que os protagonistas vão querer descobrir mais sobre a verdade, mas ao mesmo tempo irão se dar conta que podem estar em um beco sem saída. Qualquer semelhança com o filme "Midsommar" (2019) de Ari Aster não é mera coincidência.
Porém, o ponto alto do filme são as passagens que o realizador conduz a trama através de bonecos que representam os personagens além de grandes maquetes que reconstituem o cenário em que eles adentram. São momentos como esse em que tornam o filme ainda mais criativo, principalmente pelo fato que os bonecos em cena seriam uma espécie de visão que os Ditadores têm ao controlar a sociedade como meros fantoches, mas dos quais os mesmos têm vida própria e que não ficarão presos nas cordas. Claro que haverá alguns que não compreenderam a proposta de forma imediata, mas na medida em que se acostumam com a ideia logo irão querer que surjam mais cenas como essas.
Acima de tudo, o filme pode sim servir facilmente de exemplo para aqueles que abominam a ideia do Comunismo. Porém, o filme é uma interessante análise sobre até que ponto se separa o sonho do socialismo para o mais puro barbarismo e culminando em movimento extremista e do qual precisa ser detido. Por conta disso, a cena final do jornalista francês Alain (Grégoire Colin), que sonha com um mundo mais socialista, logo se dá conta o quanto é frágil é esse sonho na medida em que ele é desconstruído para logo se tornar um verdadeiro inferno.
Com cenas reais sobre esse tempo nebuloso do Camboja que se encontra espalhado em determinados pontos da trama, "Encontro Com o Ditador" é um filme que nos faz refletir sobre como certas ideologias podem ser manipuladas e se transformando em uma realidade distorcida do que poderia ter sido um dia.
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