"Nosferatu" (1922) do mestre Friedrich Wilhelm Murnau é apontado como um dos melhores filmes de horror de todos os tempos. Talvez muito disso se deva pelo fato de o realizador ter tido uma obsessão pelo realismo, ao ponto de muitos acreditarem que o vampiro em cena era realmente real. Essa lenda urbana aumentou ainda mais pelo fato da vida do ator Max Schreck ter sido tão pouco explorada pelos exploradores do cinema e fazendo com que a teoria aumentasse ainda mais.
No decorrer dos anos "Nosferatu" foi revisitado diversas vezes, ao ponto de ganhar uma merecida refilmagem em 1979 pelo mestre Werner Herzog. Porém, sempre existe aquele desejo de explorar aquela velha teoria de que Schrerk fosse realmente um vampiro. Eis que então foi lançado "A Sombra do Vampiro" (2000), filme que dá uma luz sobre essa possibilidade sobre o que era ficção e realidade durante as filmagens do clássico. O filme foi dirigido por E. Elias Merhige, conhecido na época pelo cultuado "Begotten" (1990). Porém, o filme nasceu através do desejo de Nicolas Cage em trazer essa proposta às telas, sendo que ele bancou o projeto e se tornando então o produtor como um todo.
Apreciador do expressionismo alemão, a abertura do filme é uma clara referência a essa época e que através do cinema ganhou a sua força. O filme em si traz algumas reconstituições sobre o que pode ter acontecido durante as filmagens e ao mesmo tempo utilizando cenas extraídas do clássico. O filme acaba se tornando um colírio para os olhos daqueles que apreciam a reconstituição dos primeiros anos do cinema, principalmente quando a câmera era mais simples, sendo tudo algo mais experimental e sintetizando tempos em que os primeiros realizadores autorais tinham certa obsessão de criar algo genuíno.
Há quem diga que Murnau era algo do tipo, ao ponto que esse desejo pela realização de sua obra é potencializado ainda mais pela atuação de John Malkovich não se preocupando na possibilidade de soar caricato em alguns momentos. Porém, o filme pertence mesmo ao ator Willem Dafoe, na época já conhecido pelos seus incríveis desempenhos como "Mississípi em Chamas" (1988) e "A Última Tentação de Cristo" (1988). Aqui, o seu Nosferatu é um ser monstruoso, porém, trágico e ao ponto de que seu passado se torna um mistério, pois o próprio há muito tempo havia esquecido. Sua obsessão pela atriz Greta Schroeder se torna o seu principal motivo para fingir que é um ator e que está atuando no projeto do "Murnau.
É curioso a reação dos demais personagens perante ao personagem, sendo que eles acreditam que seja um ator que está interpretando um vampiro, mas a sua presença é tão incômoda que faz os mesmos duvidarem disso. Dafoe constrói para si um vampiro cheio de trejeitos peculiares, que se distancia do que o verdadeiro Max Schreck havia criando e se distanciando ainda mais se formos compará-lo ao assombroso desempenho de Klaus Kinski na versão de 1979. Não é a toa, portanto, que o ator havia sido indicado há vários prêmios na época, incluindo uma indicação ao Oscar de melhor ator coadjuvante.
Embora tenha tido uma estreia discreta na época do seu lançamento, o filme foi o suficiente para despertar a atenção da nova geração de cinéfilos para conhecer o clássico de 1922. Na época eu já era fã do clássico expressionista e fiz questão de assisti-lo no cinema e tendo, portanto, uma sessão inesquecível. Embora curto, o filme é uma experiência um pouco incomum, sendo que o final levanta mais dúvidas do que respostas sobre o que poderia ter acontecido realmente durante as filmagens e fazendo com que o filme fosse revistado no decorrer dos anos.
"A Sombra do Vampiro" é uma curiosa transição entre a ficção e a realidade sobre a realização de um clássico e que certas lendas urbanas podem sim ter algum fundamento.
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