Sinopse: Sibyl é uma psicoterapeuta que luta para se manter sóbria. Quando ela decide interromper os atendimentos com pacientes para dedicar-se à escrita, sua nova paciente, uma atriz problemática, revela-se uma tentadora fonte de inspiração.
Os filmes que apresentam uma trama, cujo o cenário se passa durante uma produção de um filme, acaba se tornando o pano de fundo para a história principal e rendendo ao longo da história longas em que mostra o clima de tensão entre os bastidores. Em alguns casos, por exemplo, tudo gira em torno da aproximação dos realizadores um com o outro, o que acaba rendendo diversos atritos e até mesmo a destruição do que eles acreditavam e pregavam. "Sibyl" (2019) é um filme que vai muito além disso, onde se explora ao estremo o lado psicológico dos personagens que se encontram a beira de uma explosão iminente.
Dirigido por Justine Triet, o filme conta a história de Sibyl (Virginie Efira), uma psicoterapeuta que luta para se manter sóbria após superar o vício em álcool. Quando decide interromper os atendimentos de pacientes para se dedicar à escrita, recebe a visita inesperada de Margot (Adèle Exarchopoulos), uma atriz em crise durante uma filmagem. Apesar da recusa inicial, Sibyl aceita atendê-la, e logo percebe que a vida conturbada da artista representa o material perfeito para seu novo romance.
Justine Triet procura criar um mosaico de informações com relação a figura de Sibyl, cujo o passado nós conhecemos somente pela superfície, mas que, aos poucos, é revelado através de flashbacks ao longo do tempo. Não é preciso ser gênio para perceber que ela tem sérios problemas não resolvidos com relação ao seu passado, principalmente quando a questão envolve relacionamentos entre pais e filhos e cujo os assuntos não ficaram resolvidos. Se por um lado não fica muito claro as desavenças que ela tinha com relação a sua mãe, do outro, fica explicito o conflito que ela tem com relação ao verdadeiro pai de sua filha e cujo o olhar da mesma sintetiza uma situação da qual é tudo moldado por questões não resolvidas do passado.
Tecnicamente Justine Triet surpreende na direção com a questão dos seus personagens quase nunca encararem a si mesmo, mas sim deixando que os problemas vão se intensificando e fazendo com que tudo saia dos trilhos. Não deixa de ser interessante, por exemplo, ao vermos os protagonistas em frente de um espelho, mas nunca encarando o seu reflexo, como se encarar os seus próprios problemas não seja a solução, mas sim sempre buscando a solução através do próximo.
É isso que acaba ocorrendo na relação de Sibyl e Margot, sendo que uma precisa da outra, mesmo quando a última acha que é a única problemática da história. Ambas as atrizes estão ótimas em seus respectivas papeis, mas é realmente Virginie Efira que toma a frente de todo o filme, cuja a sua personagem lida com demônios interiores e cuja a sua força não é o suficiente para que ela evite certos desastres iminentes. O terceiro ato, por exemplo, é o ápice do filme, onde ela se deixa envolver com o caso de Margot e participando até mesmo do filme em que ela está envolvida.
E para os cinéfilos de plantão, não deixa de ser curioso que Justine Triet presta algumas homenagens ao cinema clássico, que vai desde ao francês "Desprezo" (1963) do mestre Jean-Luc Godard, como o italiano "A Aventura" (1960) de Michelangelo Antonioni. No caso desse último filme citado, a homenagem é mais do que explicita, já que ambos os filmes se passam em uma ilha vulcânica, mas diferente do clássico de Antonioni, a protagonista não desaparece e Sibyl é sugada pelos conflitos internos e pelo lado hipócrita do que rola no mundo dos bastidores de uma produção de um longa-metragem. Ao final, contatamos que os problemas dos demais personagens em volta não eram nada se comparados aos dela própria.
"Sibyl" é sobre casos e assuntos familiares não resolvidos e cuja a situação pode desencadear em uma situação irreversível.
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