Sinopse: No século
XVII, Federico (Pier Giorgio Bellocchio) viaja até um monastério a fim de lutar
pela alma de seu irmão, que se suicidara e, portanto, é impedido de ser
enterrado em sangue sagrado. A única maneira de reverter isso é fazer com que a
irmã Benedetta (Lidiya Liberman), amante do irmão do protagonista, confesse sua
culpa, seu pecado. Dito isso, ela passa por inúmeras provações a fim de testar
seu espírito, gerando angústia em todos os presentes ao testemunharem seu
constante silêncio e seu olhar de escárnio que é quase uma visão do presente
sobre o passado.
A fé cega e
intolerante da Igreja é colocada em cheque no italiano Sangue do meu Sangue,
fazendo com que, nós que assistimos, questione sobre o passado cheio de violência
e faça com que criemos um paralelo com a realidade atual, que vai desde questões
de preconceito e aceitação do diferente. Dito isso, é um filme que nos deixa
inquieto e que fará com que, por um bom tempo, faça com que a gente reflita com
relação ao que assistimos após a sessão. Motivos para isso é o que não faltam e
é nisso que o torna tão sedutor.
O protagonista
Federico é visivelmente um homem cheio de conflitos internos, suas motivações são
inconclusivas e suas ações beiram de uma forma precipitada. Talvez isso se deva
ao fato do personagem se sentir deslocado perante um mundo até então inédito para
ele e o que faz então ser alguém facilmente persuadido, seja pela igreja ou
pela enigmática personagem feminina da trama. Logicamente torcemos por ele
tomar uma iniciativa contra aqueles que desejam dobrar a mulher da trama ao
meio, mas ele próprio se dobra perante no que acredita cegamente.
Dirigido por Marco
Bellocchio (A Bela que Dorme), o cineasta procura deixar claro o quão é frágil toda
aquela situação, onde questões como religião, alma e honra, moldam aquele
universo e faz com que questionemos aquilo á todo momento. Se for para
simplificar, Federico é a representação do silêncio de inúmeras pessoas ao
longo dos séculos, que viam as atrocidades que a igreja cometia, mas nada se
fazia. Uma representação como um todo com relação à Caça ás Bruxas, sendo que
nenhum momento o roteiro faz com que a personagem se torne culpada daquela situação
e fazendo com que nos remoemos com as cenas de tortura da qual ela sofre.
Perante a isso, a fé
e o pecado são colocados em pratos limpos, provando a inquietude que as pessoas
têm pelo desejo da salvação, quando na realidade se enterram cada vez mais no
que acreditam. Não bastasse isso, a história então passa a atuar em dois tempos
distintos, mostrando como um julgamento errôneo pode alterar todo o rumo de uma história, gerando ainda mais miséria, uma sociedade corrupta, amaldiçoada e
parada em seu próprio tempo. Essa mudança de uma hora pra outra dentro da
trama, causa então um estranhamento para aqueles que assistem e essa sensação
vai até o seu clímax que, aliás, potencializa ao máximo o trabalho do fotografo
Daniele Ciprì, já que o uso de luz e sombras se torna a alma do filme.
Vale destacar o fato
que os minutos finais vêm com a versão de Nothing Else Matters feito por Scala
& The Kolacny Brothers, uma releitura verdadeiramente íntima da música do
Metallica. Sangue do meu Sangue permanecerá com toda força na mente daquele que
for assistir, pois sua mensagem com relação ao passado ecoa como metáfora com
relação à impotência do homem perante as suas próprias regras criadas.
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