Nos dias 05 e 06 de
dezembro eu estarei participando do curso Francis Ford Coppola: O Apocalipse do
Chefão, criado pelo Cine Um e ministrado pelo crítico de cinema Robledo Milani. Enquanto atividade não chega
por aqui eu irei destacar os principais filmes de cada década desse grande
Padrinho da 7ª arte.
(ANOS 80)
O Selvagem da
Motocicleta (1983)
Sinopse: Rusty James
(Matt Dillon) é o líder de uma gangue, bastante infeliz na vida: sua mãe o
deixou, seu irmão é ausente e seu pai é um alcóolatra. Só que tudo tende a
piorar quando ele se envolve em uma perigosa briga...
A obra é um dos mais
bem sucedido filme experimental de Francis Ford Coppola. Filmado quase
inteiramente em preto-e-branco, uma ousadia para a época (porque o personagem
do Garoto da Motocicleta é daltônico, vivido por Mickey Rourke), só os
peixes-de-briga aparecem coloridos na película, uma inovação estilística que
fez escola.
Ainda no elenco, Matt
Dillon, Diane Lane, Nicolas Cage e o também cult actor, Dennis Hopper. Assim como o filme, a
trilha sonora incidental de Stewart Copeland, da memorável banda britânica The
Police, é também repleta de experimentalismos, o que a torna sem dúvida uma das
mais originais trilhas da história do cinema.
O Fundo do Coração
(1982)
Sinopse: Com o
casamento em crise, Hank e Frannie decidem se separar, enquanto estão em Las
Vegas, durante o feriado de 04 de julho. Eles passam então a buscar outras
paixões, mas descobrem que estas são tão fantasiosas quanto o falso brilho da
cidade que os cerca. E agora, eles precisam decidir se devem apostar nos sonhos
ilusórios ou se entregar novamente ao verdadeiro amor.
O Fundo do Coração se
firma como um musical único na história, atingindo seu ápice no balé que toma
conta das ruas, envolto pelo encontro de Frannie e Hank com seus parceiros
ideais: o latin-lover galante de Raul Julia, e uma jovem Nastassja Kinski,
sintetizando os sonhos da libido masculina. Tudo isso em meio a piano de
Casablanca, navio de Amarcord e Kinski cantando eternizada nos neons de Las
Vegas.
Em suas contradições,
O Fundo do Coração destaca que, tanto nos filmes como na vida, não podemos
abrir mão dos sonhos, mesmos que estes não se materializem, seja numa lua de
mel em Bora Bora, seja no projeto de um cinema autoral desvinculado dos lucros
e dos estúdios.
Vidas sem Rumo (1983)
Sinopse: Em um
subúrbio da pequena cidade de Tulsa, Oklahoma, Ponyboy Curtis é o caçula de uma
turma, formada ainda por Darrel Curtis e Sodapop Curtis. Os três órfãos tentam
sobreviver onde tudo se restringe a "mexicanos pobres" e
"ricaços". A trinca descende de mexicanos, amarga empregos em postos
de gasolina e sofre com a perseguição da polícia. Também fazem parte da gangue
Dallas Winston e Johnny Cade, ainda um projeto de marginal. Eles tentam vencer
e amadurecer enfrentando os ricos, mas nem tudo acontece como eles planejam. Os
acontecimentos são vistos pela ótica Ponyboy, que gosta de poesia e "...E
o Vento Levou".
A partir da
rivalidade entre duas gangues, no começo dos anos 1960, Coppola apresenta uma
tragédia que, de início, nada mais é do que uma ligeira luta entre classes.
Após um assassinato acidental, os amigos (órfãos, com ou sem pais) buscam
abrigo, em uma sequência que Bill Krohn encontra paralelo naquela de O
Mensageiro do Diabo, onde a inocência e o perigo dos meninos confundem-se com a
beleza efêmera da natureza.
Sem comparar o
impacto que elas produzem (a do filme de Laughton está entre os grandes
momentos do cinema), tal aproximação parece justa por destacar o caráter pouco
naturalista de Vidas sem Rumo (pois foi assim que o receberam, frente aos
delírios de O Fundo do Coração): intensificando a metáfora fundamental do
filme/livro (“a juventude é o pôr-do-sol: dourado e fugaz”), o barroco e a
estilização operística imperam na iluminação artificial, nas telas divididas,
nas fumaças exageradas, nas suntuosas composições horizontais e na frequente
utilização do Split Diopters (que permite a focalização tanto do objeto em
close quanto do fundo, recurso bastante utilizado também por Brian De Palma).
Peggy Sue – Seu
Passado a Espera (1986)
Uma mulher de 43 anos
à beira do divórcio desmaia e volta no tempo e vê, entre outras coisas, seu
namorado com quem vai se casar e se separar 25 anos depois. Surge então uma
questão: se ela vai se separar, deve se casar ou não? Nesta volta no tempo ela
tem a oportunidade de transformar o curso da sua vida.
Dentre todas das
tantas vezes em que Coppola utilizou-se do espelho em seus filmes, nenhuma se
compara àquela do início de Peggy Sue. É através dele que vemos mãe e filha
fechadas em um quarto, preparando-se para o baile de reencontro daqueles que,
juntos, se formaram no colegial, há 25 anos, na primavera de 1960.
Nesta exemplar
abertura, materializa-se a ideia do recuo reflexivo à juventude da personagem,
sua volta ao amadurecimento, às suas possibilidades. É uma cena expressiva,
paradoxal a uma posterior, quando Peggy, adolescente, entrará no cômodo de sua
antiga casa, com sua mãe esperando no andar de baixo, e por onde a câmera
passeará livre, por entre seus objetos há muito esquecidos.
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