Sinopse: Apaixonada pelo misterioso Sir Thomas
Sharpe (Tom Hiddleston), a escritora Edith Cushing (Mia Wasikowska) muda-se
para sua sombria mansão no alto de uma colina. Habitada também por sua fria
cunhada Lucille Sharpe (Jessica Chastain), a casa tem uma história macabra e a
forte presença de seres de outro mundo não demora a abalar a sanidade de Edith.
Assim como inúmeros cineastas
(como Tim Burton), Guillermo Del Toro foi um jovem sonhador que, nas horas
vagas, ficava assistindo aos filmes de horror de antigamente na frente da TV.
Fã dos estúdios como Hammer, Amicus (ambos ingleses e especializados em obras de
horror de décadas atrás) e de obras baseadas nos contos de Edgar Alan Poe
(estreladas por Vincet Price), Del Toro se tornou o cineasta que ele é a partir
desses filmes e, ao criar as suas próprias obras, veio a se tornar um dos grandes cineastas
autorais dos últimos anos. Assistir ao seu último filme A Colina Escarlate, se
percebe que não é meramente um filme de casa mal assombrada, como também uma
bela homenagem do melhor do horror gótico de antigamente.
O filme se divide em três atos
distintos: apresentação dos personagens; apresentação do cenário principal e o
derradeiro conflito final. Através dessa forma que o cineasta apresenta a sua
trama, não esperem por sustos a todo o momento, sendo que, eles acontecem, mas são raros e não se tornando o verdadeiro foco da trama. O filme se concentra mais na construção dos seus
personagens e nas suas motivações, principalmente no seu primeiro ato.
É aí que talvez essa geração nova
de cinéfilos, pouco familiarizada com o cinema de horror de antigamente,
estranhe num primeiro momento tamanha preocupação que o cineasta tem na
apresentação de cada um dos seus personagens, pois ela é longa e pode soar um
tanto que cansativa. Porém, isso é valido com a proposta que o cineasta quer passar,
de se criar não meramente um filme de fantasmas, mas assim um terror psicológico,
do qual se deve preocupar mais com as intenções de determinados personagens do que
os fantasmas em si.
Esses últimos, aliás, aparecem
somente em alguns momentos e somente para guiar a personagem Edith Cushing (Mia
Wasikowska) em situações das quais ela ainda não consegue compreender. Pelo
fato de pouco serem vistos em cena, os fantasmas quando surgem é um dos lados técnicos
que mais me decepcionou na obra. Não que eles não sejam assustadores, mas eles
são muito melhor aproveitados quando estão somente nas sombras, sendo algo semelhante
em que eu havia apontado no filme Mama (produzido também por Del Toro).
Fantasmas a parte, talvez o
lado visual, técnico e artístico do cineasta, tenha se concentrado do começo ao
fim somente na enorme casa onde se passa a trama principal, sendo que, ela em
si, é como um personagem vivo e cheio de detalhes. Sua aparição no segundo ato
da trama é um verdadeiro espetáculo de edição de arte, fotografia e cores, das
quais se cria um verdadeiro mosaico, onde não se sabe quando começa e quando termina.
Atenção para parte da frente da casa, onde a neve se mistura com a terra
vermelha, dando a entender que o terreno sangra a todo momento e o que fez me
lembrar muito o cenário apresentado em Guerra dos Mundos de Steven Spielberg.
Mesmo que a casa em si seja
a verdadeira estrela da obra, o elenco também não decepciona, mesmo quando em
determinados momentos os seus desempenhos poderiam ter sido melhores. É no caso
de Mia Wasikowska que, embora já tenha estrelado inúmeros títulos (desde Alice
no País das Maravilhas), ainda não foi dessa vez que ela me convenceu, já que sua
atuação ainda persiste no modo “não ajuda, porém não atrapalha”. Já Tom
Hiddleston (o eterno Loki da Marvel) nos convence com o seu Sir Thomas Sharpe, cujo
seu ar de ambiguidade nos faz a gente se perguntar quais são as suas reais intenções
a todo o momento com a sua amada Edith (Wasikowska).
Porém, Jessica Chastain (vista
recentemente em Perdido em Marte) que, ao interpretar Lucille, irmã de Thomas é
o que dá um verdadeiro show de interpretação toda vez que surge em cena, mas
falar muito do seu desempenho seria entregar algumas das grandes revelações da
obra e, portanto cabe vocês testemunharem mais um grande desempenho dessa jovem
atriz. Adianto que o final nos brinda com momentos sufocantes, revelações chocantes
e um final que, embora previsível em alguns momentos, cumpre com o seu verdadeiro
objetivo de não deixar nenhuma ponta solta com relação à verdadeira natureza
daquele lugar. Com uma reconstituição de época perfeita e um figurino
deslumbrante, A Colina Escarlate é uma verdadeira aula de como se fazia horror gótico
de antigamente, mas que infelizmente nem todos irão compreender a proposta que Guillermo Del Toro quis nos passar, mas que felizmente prevejo status de Cult a
caminho para esse belo filme.
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