Sinopse: O jovem Bob Dylan chega a Nova York com seu violão e talento revolucionário.
James Mangold não tem exatamente uma visão autoral que a gente identifique em seus filmes, mas é preciso reconhecer que ele é versátil em todos os gêneros. Tanto capaz de fazer boas comédias como "Kate & Leopold" (2002), como também filmes de grande porte como "Logan" (2017). Em "Um Completo Desconhecido" (2024) o realizador tem a tarefa ingrata de retratar os primeiros anos de sucesso de Bob Dylan, mas conseguindo obter com certo êxito para dizer o mínimo.
A trama se situa em Nova York do início dos anos 60, onde Dylan, um jovem músico de Minnesota, tem apenas 19 anos e caminha rumo ao sucesso. Passando de cantor folk, para as salas de concerto e ao topo das paradas, culminando em sua performance inovadora de rock and roll elétrico no Festival Folclórico de Newport em 1965, definindo um dos momentos mais transformadores da música do século XX. Em meio a isso vemos o mesmo lidar com a fama e relacionamentos amorosos complexos.
Ainda acho que um dos filmes mais criativos sobre Bob Dylan seja "Não Estou Lá" (2007), onde ele era interpretado por ao menos seis atores diferentes, já que o artista teve as mais diversas fases de sua carreira e muito diferentes uma da outra. No caso aqui, James Mangold opta em retratar os primeiros anos do cantor, mas não dando muitas explicações sobre as suas verdadeiras raízes, já que o mesmo nunca deixou muito claro sobre isso, nem para a imprensa e tão pouco para os seus fãs. Isso cria uma aura de mistério em torno de sua figura e fazendo com que cada música composta por ele diante das pessoas faça com que se torne um grande momento visto na tela.
Sendo apontado como um dos melhores jovens intérpretes do cinema recente norte americano, timothée chalamet tem a difícil missão de interpretar essa lenda, mas conseguindo isso com certa elegância e não nos passando dificuldade na construção dessa conhecida e enigmática faceta artística. O seu Bob Dylan nos transmite uma pessoa controlada até certo ponto, mas não escondendo certa inocência perante a reação das pessoas perante o seu talento, por vezes, enigmático. Um desempenho digno de nota e que realmente valeu uma indicação ao Oscar.
Com relação ao elenco secundário destaque para Edward Norton, que fazia um bom tempo que não o via em uma boa atuação e aqui ele dá vida ao cantor Pete Seeger e que na trama ele serviu como uma espécie de trampolim para a carreira de Dylan. Porém, é a atriz Monica Barbaro que se sobressai ao dar vida a cantora Joan Baez, sendo que ela possuía uma relação complexa com o cantor e é através do desempenho da atriz que conseguimos sentir essa complexidade em cenas dignas de nota. Já Elle Fanning, ao dar vida ao primeiro grande amor do artista, consegue nos transmitir a dor em seu olhar ao se dar conta que ele não pertence a ela, mas sim ao mundo daquela época.
Com relação a isso, é curioso observar que o cantor surgiu em um momento em que a planta estava em plena guerra fria, minorias ganhando vozes nas ruas e da qual não poderiam mais ser caladas. Através de sua música, pertencente ao gênero folk, rock e pela poesia lírica, o cantor deu voz a milhares de pessoas de como elas se sentiam em um mundo sofrendo metamorfose o tempo todo e do qual não tínhamos ideia de como seria o amanhã. Portanto, músicas como "The Times They Are A-Changin" e "Like a Rolling Stone" se tornaram hinos para uma geração inteira e que hoje soa mais atual do que nunca.
Com uma ótima reconstituição de época, James Mangold capricha ao colocar os principais eventos políticos da época em cena, mas nunca deixando exatamente como grande destaque, mas sim servindo mais como válvula de escape para que Dylan criasse as suas canções perante o calor do momento. Por conta disso desejamos em nosso íntimo, principalmente para quem é fã, para que o filme não termine tão cedo, pois nunca é demais ouvir os seus grandes feitos. Portanto, uma vez que o filme se encerra, a primeira coisa que eu fiz foi ouvir uma boa música composta por esse grande artista.
"Um Completo Desconhecido" é uma declaração de amor para um dos maiores artistas que surgiram no século vinte e cuja sua obra serviu de influência para muitos até hoje.
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