Nota: Filme exibido para os associados no dia 01/06/25.
Sinopse: Em uma balsa que os leva de volta a Oslo, Marianne, uma médica, encontra Tor, enfermeiro no hospital onde ela trabalha. Ele conta a ela que frequentemente passa suas noites a bordo, em busca de aventuras sem compromisso.
Dag Johan Haugerud já pode ser apontado como uma das melhores revelações do ano em termos de um cinema autoral que tem muito a dizer. Em "Sex" (2025), por exemplo, o realizador explora o quanto é difícil para as pessoas falarem abertamente com relação ao sexo, principalmente quando eles se veem envolvidos no relacionamento tradicional e do qual a sociedade mais conservadora cobra por isso. Em “Love” (2025), por sua vez, vemos o outro lado dessa moeda, onde personagens resolvidos com relação aos relacionamentos atuais começam a explorar qual é o significado de realmente amar.
Na trama, conhecemos Marianne, uma médica pragmática, e Tor, um enfermeiro compassivo, ambos com aversão a relacionamentos convencionais. Após um encontro casual em uma balsa, onde Tor costuma buscar encontros com homens, os dois iniciam uma conversa que desafia suas visões sobre o amor e a intimidade. Intrigada pelas experiências e visões de Tor sobre conexões espontâneas, Marianne começa a questionar as normas sociais e se abre para novas possibilidades de relacionamento, mesmo que inicialmente se torne um tanto difícil.
O filme é uma espécie de segunda parte da trilogia comandada por Dag Johan Haugerud iniciada por “Sex” e da qual fala sobre os relacionamentos contemporâneos e como eles são extremamente complexos. Se no filme anterior se explorava o quanto era difícil discutir sobre sexo com alguém muito próximo, aqui vemos personagens bem resolvidos com essa questão e tocando a vida de forma normal. Porém, na medida em que a trama avança, se percebe que a dupla central deixa uma brecha aberta com relação aos sentimentos e fazendo com que personagens ao seu redor adentrem mesmo de forma indireta.
Marianne, por exemplo, enxerga o casamento como um sistema fracasso e cujo sexo é algo para se colocar em prática de forma corriqueira para dizer o mínimo. Porém, nota se em seu olhar, sempre uma curiosidade com relação a vida convencional sobre um relacionamento estável, mas não se desprendendo facilmente do que realmente sempre sentiu até esse ponto. Andrea Bræin Hovig cria para si uma personagem complexa, da qual não anseia provocar uma dor sentimental com relação ao seu próximo, mas correndo o sério risco de não ser compreendida pelo que sempre pregou sobre relacionamentos.
Tor, por sua vez, beira a maior complexidade do que a sua própria amiga e colega de serviço, já que ele sempre busca por novos parceiros para satisfazer os seus desejos. Porém, uma vez que conhece o Bjørn, nota-se que Tor baixa aguarda uma vez que a sensibilidade que ele usa para cuidar dos pacientes no hospital acaba usando para se aproximar de Bjørn, principalmente quando esse último demonstra ter problemas de saúde. Tayo Cittadella Jacobsen cria para o seu personagem Tor uma figura que nos diz como a realidade funciona, mas não escondendo em seu olhar certa inocência.
Em meio a tudo isso, Dag Johan Haugerud novamente acrescenta o mesmo o que ele havia realizado no filme anterior, ao fazer um enquadramento em seus respectivos personagens para que entrássemos cada vez mais em seus diálogos. Esses, por sua vez, se tornam o coração pulsante como um todo, mesmo não sendo tão criativos com aqueles que haviam sido apreciados no filme anterior. O sexo, por sua vez, tem um maior destaque em algumas passagens na trama, mas novamente o realizador opta por algo mais sugestivo do que meramente explicito.
Ao final, o filme é sobre pessoas que construíram as suas vidas de acordo com a música que tocava em tempos em que cada vez mais a sociedade se encontra no piloto automático e se entregando ao amor carnal de modo fácil. Porém, uma vez que se dá uma chance para consigo mesmo, talvez nunca seja por demais abraçar ao que antigamente era mais pregado pelo lado tradicional, mesmo não abandonando o seu verdadeiro eu interior. As pessoas não mudam, mas não significa experimentar algo que sempre foi descrente sobre o assunto.
"Love" é o capítulo do meio da trilogia pessoal de Dag Johan Haugerud e que novamente surpreende pelos seus personagens e diálogos incomuns.
Faça parte:
Facebook: www.facebook.com/ccpa1948