Sinopse: Um conflito entre César, um artista genial que busca saltar para um futuro utópico e idealista, e seu opositor, o prefeito Franklyn Cícero, que permanece comprometido com um status quo regressivo, perpetuando a ganância.
Francis Ford Coppola é um diretor que respira cinema, ao ponto de não ter medo de correr certos riscos colocando a sua carreira em risco. Através de sua insistência obteve grandes êxitos como o seu filme de guerra "Aocalypse Now" (1979), mas obteve prejuízos com um dos seus filmes mais pessoais que foi "O Fundo do Coração" (1982). "Megalópolis" (2024) é um projeto antigo do cineasta que finalmente é lançado devido a sua insistência e sem medo de novamente enterrar a sua carreira.
Na trama, conhecemos o arquiteto que quer reconstruir a cidade de Nova Roma como uma utopia. Cesar Catilina (Adam Driver) é esse inventor megalomaníaco e egocêntrico que imagina uma metrópole autossustentável que cresce organicamente com seus habitantes. Para dar prosseguimento a seus planos, porém, César precisa navegar pelos interesses de figuras ricas, ambiciosas e corruptas.
Com um orçamento de R$ 120 milhões de dólares, mas tirados do próprio bolso do cineasta, o filme é uma representação de uma ideia que os EUA sempre buscam alcançar que é sobre um mundo perfeito, a sua busca pela sua utopia e principalmente aquela idealizada por Ronald Reagan durante os anos oitenta. No decorrer do tempo, porém, se viu que esse mundo de sonhos requer muito dinheiro, sacrifício dos mais pobres e a destruição de outros países para obter recursos naturais que hoje se encontram cada vez mais escassos. Talvez essa seja a proposta principal de Coppola, ao nos dizer que é preciso de algo radical para que a utopia possa existir e a sua insistência pela realização desse filme seja então uma síntese de que somos todos capazes de realizarmos os nossos objetivos, nem que para isso termos que correr certos riscos ao cair em buraco sem fundo.
É interessante observar o quanto é explorado aqui a questão do tempo, quando nunca é o suficiente para obter os nossos desejos e fazendo com que o sistema se alimente cada vez mais dessa aceleração e fazendo não podermos mais usufruir de uma chance de construir algo novo. César não seria um Ditador em questão dessa nova Roma, mas sim alguém caminhando pelo sonho da grandeza e compartilhar para uma nação caindo cada vez mais em sua ruína. Adam Driver novamente se entrega a um projeto quase impossível de ser lançado, sendo que essa experiência não foi muito diferente da que ele teve em "O Homem que Matou Dom Quixote" (2018) de Terry Gilliam.
Com super elenco, incluindo um Dustin Hoffman saindo de sua aposentadoria, o filme possui um visual que remete aos clássicos da ficção como "Metropolis" (1927), mas obtendo esse feito graças aos efeitos visuais de CGI que aqui são usados em prol de uma história megalomaníaca assim o seu próprio protagonista. Curiosamente, o cruzamento da Roma Antiga com a Nova York dos dias de hoje talvez remeta ao fato que o império antigo caiu através de suas ambições e loucura vinda de poucos homens e fazendo com a cidade, ou não nação, se torne o próximo capítulo dessa futura barbárie. Tudo é muito pretensioso, colorido, com personagens excêntricos, mas que falam um pouco do próprio cineasta que ansiava pelo nascimento desse grande projeto.
O filme, talvez, venha ser vítima do seu próprio tempo, já que o cinema norte americano vive tempos em que a máquina não dorme, lançando novas franquias uma atrás da outra para obter somente o seu lucro enquanto realizadores como Coppola ficam em segundo plano. Talvez o filme venha a ser lembrado como uma última cartada de um cinema autoral sendo engolido por um sistema hollywoodiano viciado e que não enxerga mais os seus grandes talentos, mas sim peças para serem facilmente descartadas caso não façam o lucro necessário. Assim como a própria humanidade retratada no filme, o cinema continua com o seu futuro indefinido.
"Megalópolis" é a representação do ego inflado de Francis Ford Coppola, que não dá a mínima para as novas tendências hollywoodianas e tão pouco se importando se está no lado errado da estrada.
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