Podem fazer mil filmes da franquia "Velozes e Furiosos", mas em termos de filmes de ação com carros em alta velocidade nenhum supera a quadrilogia "Mad Max" comandada por George Miller e que foi iniciada em 1979. Não que ela seja perfeita, mas quando um diretor autoral como ele colocou essa premissa apocalíptica em mãos ele fez o dever de casa como ninguém, ao realizar as melhores cenas de ação de todos os tempos. Portanto, podemos até perdoar que "Mad Max - Além da Cúpula do Trovão" (1985) seja o mais fraco dos quatro capítulos, pois ele ainda é melhor se formos comparar a qualquer filmeco protagonizado por Vin Diesel.
Após a destruição da civilização surge Bartertown, uma cidade no deserto com regras primitivas e mortais que tem uma governante (Tina Turner) que deseja consolidar seu poder a qualquer preço. Até que lá chega Max (Mel Gibson), que é forçado a participar de uma luta e, por ter se recusado a matar seu oponente, acaba sendo banido no deserto. Até que um grupo de jovens selvagens o salvam e passam a considerá-lo um messias que os levará até uma nova terra.
Se você assistir ao filme com atenção perceberá que ele osila com o seu teor, já que a trama começa pesada com relação aquele mundo apocalíptico, mas logo se tornando um filme esperançoso e que remete até mesmo as produções juvenis daquela época. Os anos oitenta havia uma iniciativa forte com relação a isso, onde sempre havia uma mensagem de esperança dentro dos filmes, mesmo quando ela soava hipócrita algumas vezes. Nem os filmes de "Mad Max" escaparam disso, mas algo colaborou para que isso acontecesse.
George Miller acabou perdendo o interesse durante a produção depois que seu parceiro e produtor Byron Kennedy foi morto num acidente de helicóptero. Por conta disso, o diretor George Ogilvie, que não chega aos pés da genialidade de Miller, dividiu a direção com ele e fazendo então que o filme obtesse um ritmo irregular em algumas passagens. Mesmo assim não é um capítulo de se jogar fora.
Assim como anterior, o filme mantém uma visão quase sem amanhã com relação aquele mundo, onde os fracos não sobrevivem por muito tempo enquanto os fortes lidam com a morte todos os dias para continuarem existindo. Max é uma espécie de "Estranho Sem Nome" neste mundo devastado, que está só interessado em seguir em frente, porém, sendo forçado a ter que encarar a cidade de Bartertown. Aliás, é preciso tirar o chapéu com relação ao visual daquela cidade, da qual sobrevive através da energia extraída do esterco de porco e sendo comandada pela mão de ferro de Tia, interpretada pela cantora Tina Turner.
Em seu primeiro grande papel no cinema, Turner interpreta o que talvez seja uma das primeiras grandes anti-heroínas do filmes de ação, já que a personalidade de sua personagem é fortíssima, não muito diferente de sua real pessoa e se casando com perfeição com aquela realidade opressora. Turner estava vivendo o auge de sua carreira como cantora, ao ser apontada como a Rainha do Rock e sua presença colabora para esse jogo de gato e rato da trama. Além disso, a sua música "We Don't Need Another Hero" não somente se tornou tema deste capítulo como também de toda a franquia, ao ponto que sempre quando anunciavam um filme de Mad Max sempre era tocada a sua música e entrando assim para a história.
Ação é o que o filme não falta, principalmente quando ela é focada no principal duelo em que ocorre na tão falada Cúpula do Trovão. É interessante que neste duelo Max e o seu oponente estão amarrados em elástico e duelando de um lado para o outro no ringue enquanto pegam diversas armas para matarem um ao outro. Uma cena que posteriormente seria usado diversas vezes em filmes de ação e aventura em que os protagonistas voam no ar, mas que graças ao CGI as cordas são apagadas digitalmente.
A partir dai o filme ganha um outro tom, mais esperançoso, com direito a ter crianças que mais parecem que foram extraídas dos contos de Peter Pan. Max acaba se tornando uma espécie de Predestinado para resgatar aquelas crianças e leva-las para uma espécie de terra prometida. Uma passagem forçada diga-se de passagem e que não se casa muito bem com a temática da quadrilogia.
O filme somente engrena novamente quando ocorre as tão famosas perseguições de carros, com as suas batidas mortais e cujo os personagens voam no ar devido ao impacto. Aqui sentimos a mão de Miller a todo momento, pois ele faz como ninguém essas cenas de ação no deserto, com planos-sequências mirabolantes e uma edição frenética dignas de uma balé visual. Não é tão bom quanto ao que foi visto no filme anterior, mas merece todo o crédito.
Recentemente a nossa Tina Turner veio a falecer depois de um longo combate contra uma doença. A sua partida me fez revisitar esse filme e posso dizer que envelheceu um pouco mal, pois é uma obra presa a sua época, pois mesmo sendo um longa de ficção ele não esconde a moda dos anos oitenta, onde os jovens gostavam de ser punks e cujo os cabelos extravagantes destacavam eles de longe. Tina Turner, portanto, se casa perfeitamente com aquele universo, ao ser uma bela representação de uma época cheia de promessas, tudo muito exagerado e que hoje sentimos certa nostalgia quando lembramos de tudo isso.
"Mad Max - Além da Cúpula do Trovão" não é o melhor filme de George Miller, mas muito melhor do que qualquer filme de ação CGI que se faz hoje em dia e sendo um belo representante da fase áurea da cantora Tina Turner.
Onde Assistir: Amazom Prime Vídeo.
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