Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte.
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Sinopse: Rio, Negro é um documentário que apresenta a possível origem do Rio de Janeiro, assentado na presença e contribuição da população negra de origem africana na formação da cidade e a cultura local. Com entrevistas e material histórico disponível, o longa busca compreender como a população negra forjou trajetórias individuais e laços comunitários em uma cidade-diáspora marcada pelas disputas em torno do projeto “civilizatório” das elites brancas. O documentário debate o ideário racista, a transferência da capital para Brasília e suas consequências político-institucionais para o Rio de Janeiro, antes a capital do país desde 1973 até 1960, quando foi transferida.
EM CARTAZ:
NOITES ALIENÍGENAS
Brasil/drama/2022/91min.
Direção: Sérgio Carvalho
Classificação Indicativa: 16 anos
Sinopse: "Noites Alienígenas" expõe uma Amazônia urbana, onde a ancestralidade dos povos tradicionais resiste à contemporaneidade que insiste em negar a floresta. Com elementos narrativos fantasiosos, o longa apresenta a história de três personagens da periferia de Rio Branco, impactados pelo conflito entre facções criminosas e pela violência urbana, que, nos últimos dez anos, quase triplicou o assassinato de crianças e jovens no Estado do Acre.
Em sua estreia mundial no Festival de Gramado, NOITES ALIENÍGENAS, de Sérgio de Carvalho, fez história. O filme se tornou o primeiro longa do Acre a ser premiado no evento, levando os Kikitos de Melhor Filme, Ator (Gabriel Knoxx), Atriz Coadjuvante (Joana Gatis), Ator Coadjuvante (Chico Diaz), Menção Honrosa ao ator Adanilo Reis, e o prêmio do Júri da Crítica.
MEMÓRIA SUFOCADA
Brasil/ Documentário/2021/76min.
Classificação Indicativa:
Direção: Gabriel Di Giacomo
Sinopse: Coronel Ustra é o único militar condenado como torturador durante a ditadura. O ex-presidente Jair Bolsonaro o exalta como um herói. Mas qual é a verdade? Através de buscas pela internet, o passado do Brasil vai sendo reconstruído e esbarra no presente.
HORÁRIOS DE 06 A 12 DE ABRIL (não há sessões nas segundas-feiras):
15h: RIO, NEGRO
17h: MEMÓRIA SUFOCADA
19h: NOITES ALIENÍGENAS
Os ingressos podem ser adquiridos por R$ 12,00 na bilheteria do cinema . Idosos, estudantes, bancários sindicalizados, jornalistas sindicalizados, portadores de ID Jovem, trabalhadores associados em sindicatos filiados a CUT-RS e pessoas com deficiência pagam R$ 6,00.Aceitamos Banricompras, Visa, MasterCard e Elo.
CINEBANCÁRIOS :Rua General Câmara, 424 – Centro – Porto Alegre -Fone: 30309405/Email: cinebancarios@sindbancarios.org.br
Sinopse: "Noites Alienígenas" expõe uma Amazônia urbana, onde a ancestralidade dos povos tradicionais resiste à contemporaneidade que insiste em negar a floresta. Com elementos narrativos fantasiosos, o longa apresenta a história de três personagens da periferia de Rio Branco, impactados pelo conflito entre facções criminosas e pela violência urbana, que, nos últimos dez anos, quase triplicou o assassinato de crianças e jovens no Estado do Acre.
Em sua estreia mundial no Festival de Gramado, NOITES ALIENÍGENAS, de Sérgio de Carvalho, fez história. O filme se tornou o primeiro longa do Acre a ser premiado no evento, levando os Kikitos de Melhor Filme, Ator (Gabriel Knoxx), Atriz Coadjuvante (Joana Gatis), Ator Coadjuvante (Chico Diaz), Menção Honrosa ao ator Adanilo Reis, e o prêmio do Júri da Crítica.
Sobre o Filme:
Se formos observar de perto o Brasil possui um cinema que se difere de outros países, já que cada região do nosso território possui uma realidade que se separa das outras. O cinema do Sul, por exemplo, nos soa diferente se formos compará-lo ao Nordeste, como se fosse países diferentes e que cuja raízes são individuais e com muita história para se contar. Por conta disso, é notório que chega ser bem difícil dizer se o país teve várias fazes diferentes do seu cinema ou se cada região possuiu uma linguagem própria ao longo das décadas.
Porém, é raro ao testemunharmos o nascimento de um primeiro filme de um determinado território, mas é isso que acontece com "Noites Alienígenas". Primeiro longa metragem produzido no Acre, o que faz elevar ainda mais a nossa curiosidade sobre se esse será o primeiro de muitos daquela região. Contudo, o longa não se limita somente sobre isso, ou pelo fato de ter sido o grande vencedor de Gramado no ano passado, mas ao falar sobre elementos circunstanciais que permeiam aquela região já algum tempo.
Não há, por exemplo, um protagonista, mas sim diversos rostos que são jogados na tela e sendo que cada um possui o seu peso dramático. Um deles se chama Riva (Gabriel Knoxx), um grande artista plástico, mas que se vê amarrado e puxado para o mundo do tráfico que está assolando cada vez mais aquela região. Já Alê (Chico Diaz) é uma figura curiosa, criada em tempos que usava drogas para expandir a sua mente e acreditar que essa realidade se encontra alinhada por outra desconhecida e da qual nos observa. Protagonizando a abertura do filme, Chico Diaz coloca o filme no seu bolso e fazendo com que desejamos que ele surja cada vez mais na trama.
Porém, a trama se concentra mais em Riva que, ao lado de outros jovens personagens, testemunhamos uma geração perdida no mundo das drogas, além de não obterem muitas oportunidades durante a vida. O roteiro assinado por Camilo Cavalcanti, Rodolfo Minari e Sérgio de Carvalho não permite que nenhum personagem se torne secundário, já que cada um se torna alguém crucial para os atos e consequências dos demais. Por conta disso nos damos conta do real cenário daquele lugar, onde a miséria e a falta de esperança fazem com que os mesmos se enveredem para um caminho onde não há retorno.
Assim como o recente "A Mãe" (2022), testemunhamos a criminalidade se apresentando a jovens periféricos como o último recurso, mas fazendo disso um verdadeiro pesadelos para as mães que enxergam a possiblidade de não verem mais os seus filhos. Ao criar isso, Sérgio de Carvalho consegue obter a nossa atenção do começo ao final do longa, já que os personagens são realistas e próximos a nossa realidade muito mais do que a gente imagina. Porém, há também uma preocupação destacar o aspecto da região, principalmente quando envolve o universo indígena e cujos mistérios dessa cultura se tornam a única força para combater o caminho da perdição do mundo das drogas para determinados personagens da trama.
Com total naturalismo, o realizador roda o filme como se fosse uma espécie de documentário, já que a maioria dos personagens atuam com naturalidade e não passando para nós a sensação que estão diante de uma câmera. Isso me fez lembrar do genial "A Vizinhança do Tigre" (2014), onde a realidade dura das periferias fazia com que as chances de um jovem não obter o seu amanhã se tornasse cada vez maiores. A gente só volta a se lembrar que estamos diante de uma ficção graças a Chico Diaz, mas sendo algo proposital, já que o seu personagem possui um desejo de não se limitar aquela realidade.
Há também um contraste de gerações colocada em pauta durante a trama, onde vemos jovens cada vez mais perdidos em seus erros, mas os adultos já se encontram há muito tempo carregando as cicatrizes dos seus próprios erros, mas se tornando um laço para puxar aqueles que ainda podem ser salvos. Há, portanto, um atrito das velhas tradições perante o mal presente que se encontra naquela realidade e isso é muito bem representado por Gabriel Knoxx e Adanilo Reis, já que o primeiro vive entre a arte e o banditismo enquanto o outro carrega no corpo todas as tradições dos seus antepassados e se tornando uma segunda chance para alguns naquele cenário.
Curiosamente, a ausência da figura paterna se torna uma peça fundamental para que aqueles personagens se percam neste labirinto infernal de dúvidas e tristezas. Por conta disso, a possiblidade desses jovens em serem pais se torna uma situação no mínimo devastadora, já que não crescerão tendo uma noção do que é criar uma vida e deixando os pequenos na possiblidade de crescerem sozinhos sem um guia. Ao final, constatamos que os personagens não procuram uma saída concreta, mas sim algo que vai levá-los ´muito além do que se espera, mas tendo sérias consequências e culminando com um dos finais mais interessantes do nosso cinema recente.
"Noites Alienígenas" fala sobre um universo particular que se encontra Acre e cabe o restante do país em furar as suas bolhas individuais para que possam finalmente enxergar o que acontece por lá.
A segunda parte do ciclo dedicado aos 90 anos de King Kong, intitulada Antes do Código, será exibida entre 06 e 13 de abril na Cinemateca Capitólio. No novo panorama do Universo Kong, apresentamos 16 obras realizadas em Hollywood entre 1930 e 1933, antes da aplicação com maior rigor da censura do Código Hays nos Estados Unidos. O valor do ingresso é R$ 10,00.
A programação também apresenta uma edição especial do Projeto Raros, na sexta-feira, 07/04, às 19h30, com Madame Satã, obra de Cecil B. DeMille que inspirou o célebre transformista João Francisco dos Santos, figura icônica da vida noturna do Rio de Janeiro na primeira metade do século XX. Entrada franca.
As cópias restauradas dos clássicos de Jean Vigo ganham as últimas sessões na Cinemateca Capitólio. Zero de Conduta será exibido no domingo, 09/04, às 18h. O Atalante será exibido na quinta-feira, 13/04, às 19h30. A exibição é uma parceria com a Cinemateca da Embaixada da França e o Institut Français. O valor do ingresso é R$ 10,00.
A união do cinema com o teatro tende a gerar um filme sem personalidade ou uma obra que desafia o talento do elenco dentro dele. "Um Limite Entre Nós" (2016), por exemplo, é baseado em uma peça de teatro, mas sabendo se expandir em sua adaptação cinematográfica e gerando assim uma pequena joia como um todo. É então que chegamos "A Voz Suprema do Blues" (2020), que segue para um mesmo caminho, onde a direção segura e atuações poderosas faz com que a obra se torne maior e cujo o palco não seria o suficiente.
Dirigido por George C. Wolfe, "A Voz Suprema do Blues" acompanha Ma Rainey (Viola Davis) em Chicago, 1927, numa sessão de gravação de álbum mergulhada em tensão entre seu ambicioso trompista Levee (Chadwick Boseman) e a gerência branca que está determinada a controlar a incontrolável "Mother of the Blues". Porém, uma conversa no local revela verdades que irão abalar a vida de todos.
Confira a minha crítica já publicada clicando aquie participe do próximo Cine Debate de amanhã.
Temos o prazer de convidá-lo(a) a celebrar conosco o aniversário de 75 anos do Clube de Cinema de Porto Alegre. Será uma ocasião especial realizada no dia 13 de Abril, a partir das 19h na Casa de Cultura Mario Quintana. Haverá uma cerimônia com homenagens, e a exibição do filme "O Samurai" (Jean-Pierre Melville, 1967). Abaixo segue um release com mais informações sobre o evento, e gostaríamos que o compartilhasse com seus contatos e em suas redes sociais. Agradecemos antecipadamente por seu apoio, e esperamos poder contar com sua presença em nossa celebração!
75º Aniversário do Clube de Cinema de Porto Alegre
O Clube de Cinema de Porto Alegre completa 75 anos no dia 13 de abril de 2023, e para celebrar esta data tão especial, será realizado na Casa de Cultura Mario Quintana um coquetel às 19h, seguido de uma sessão de cinema na Sala Paulo Amorim, às 20h. O filme escolhido é "O Samurai", um clássico francês dirigido por Jean-Pierre Melville, lançado em 1967 e estrelado por Alain Delon.
O CCPA foi fundado pelo crítico Paulo Fontoura Gastal em 1948, reunido com jornalistas, cinéfilos e intelectuais de Porto Alegre para se dedicarem à expansão da cinefilia na cidade, no estado e no país, com a ideia de trazer pessoas para discutirem sobre filmes. Desde então se tornou um lugar de vivência e formação para os apaixonados pelo audiovisual em Porto Alegre. Em tempos de streaming, o Clube é espaço de resistência, através de uma curadoria que prioriza os lançamentos das salas parceiras, filmes experimentais, ciclos temáticos, e faz um resgate dos grandes clássicos. Também são tradicionais as sessões especiais que promovem o encontro com diretores e artistas que realizaram os filmes, além do café depois da exibição para debates e divagações. É acima de tudo um clube de afetos, como dizem os membros.
Atualmente, o Clube de Cinema oferece sessões semanais, todos os sábados às 10h15min., em uma das salas associadas: Cinemateca Paulo Amorim, CineBancários, Cine Farol Santander, Cinemateca Capitólio, Espaço de Cinema Bourbon Country e Sala Redenção (UFRGS). O CCPA também promove exibições especiais em algumas noites de terça-feira e domingos pela manhã. A anuidade para se tornar membro é no valor de R$180, mas são bem-vindos todos que quiserem conhecer o Clube de Cinema. Trata-se de uma organização sem fins lucrativos, composta por voluntários que se dedicam para manter viva a paixão pelo cinema em Porto Alegre.
A escolha do filme "O Samurai" para a celebração do aniversário do Clube de Cinema não poderia ser mais apropriada. O filme é um dos grandes clássicos do cinema francês, que narra a história de um assassino profissional solitário e metódico que se vê enredado em uma complexa teia de conspirações. Alain Delon, que interpreta o protagonista, entrega uma performance brilhante e icônica, tornando a exibição da obra também uma homenagem a esse grande ator.
O evento do dia 13 de Abril será uma ocasião especial para celebrar os 75 anos de história e legado do Clube de Cinema de Porto Alegre, que tem sido um importante ponto de encontro para cinéfilos de todas as idades e perfis. O coquetel antes do filme contará com homenagens a algumas personalidades que tornaram essa história possível e longeva. A exibição de "O Samurai" será uma oportunidade única para os amantes do cinema apreciarem uma obra-prima da sétima arte na recentemente renovada Sala Paulo Amorim. A entrada é franca.
Venha comemorar os 75 anos do Clube de Cinema de Porto Alegre em grande estilo, com esse evento especial!
Sobre o Filme: 'O Samurai'
A Nouvelle Vague foi um movimento cinematográfico que mudou o modo de se fazer cinema francês e que, posteriormente, serviu de inspiração para o resto do mundo. Com uma leva de jovens cineastas, os mesmos decidiram sair para ruas de Paris, sendo que abertura do clássico "Os Incompreendidos" (1959), François Truffaut, é o melhor representante desta iniciativa. Não é à toa que o movimento serviu de inspiração para o cinema mundial, principalmente para que o cinema norte americano parasse de vender um cinema fantasioso e desse início ao seu movimento intitulado "Nova Hollywood".
Porém, os próprios realizadores franceses buscaram inspiração através do cinema norte americano para a realização dos seus filmes. O subgênero "Noir" norte-americano foi um movimento que atraiu bastante os cineastas franceses devido a sua estética, ousadia e a sua peculiaridade moldada por personagens cínicos e nenhum pouco altruístas. "Acossado" (1960), de Jean-Luc Godard, não somente se tornou um dos pilares do movimento Nouvelle Vague, como também possui um estilo "noir" e que serviria de inspiração posteriormente para outros filmes durante a década de sessenta.
Talvez o melhor representante dessa leva tenha sido mesmo Jean-Pierre Melville, sendo um realizador apaixonado pelo cinema norte americano dos anos quarenta e cujo o "noir" é o que mais lhe atraia. "Bob, O Jogador" (1956) e "Técnica de Um Delator" (1962) serviram de laboratório para o que ele nos serviria posteriormente e cuja fórmula do "noir" usaria até o fim de sua carreira. "O Samurai" (1967) não é somente o melhor filme de sua carreira, como também um dos melhores representantes de "noir francês" elegante e que tanto atraiu as plateias daquela época.
O filme conta a história de Jeff Costello (Alain Delon), um assassino profissional metódico e perfeccionista. Seus atos são cuidadosamente planejados nos mínimos detalhes e ele nunca foi surpreendido em ação. Uma noite, porém, ele é flagrado por uma testemunha durante uma execução. A partir de então sua vida transforma-se num inferno.
No passado, o samurai foi guerreiros a serviço do Império japonês, mas que posteriormente começaram a serem também homens solitários que praticavam determinado trabalho ilícito de acordo com o valor que eles obtinham. O termo é usado para descrever aqui o protagonista como um todo, principalmente na abertura do filme, onde vemos o mesmo solitário em seu apartamento, do qual possui poucos moveis e tendo consigo um passarinho como companheiro. O pequeno ser preso dentro de uma gaiola é uma representação do próprio protagonista, onde se vê preso pelo caminho em que trilhou e do qual não acha escapatória.
Jean-Pierre Melville demonstra uma força perfeccionista nos primeiros dez minutos de projeção, onde ficamos acompanhando passo a passo o modo de agir do protagonista, desde a forma em que coloca o seu chapéu, como também da maneira como anda para não tentar chamar atenção. Pelo fato de os primeiros minutos não sabermos ao certo com relação ao que o protagonista faz, nós achamos que ele seria uma espécie de detetive particular bem ao estilo do personagem de Humphrey Bogart do clássico "Relíquia Macabra" (1941), já que a sua figura com o cigarro na boca muito se aproxima dessa ideia. Além disso, aqui nos é apresentado uma Paris quase sempre chuvosa, onde as luzes e sombras se entrelaçam e não faltando as clássicas sombras das persianas vinda das janelas.
Uma vez que descobrimos que o protagonista é um matador profissional, logo testemunhamos que algo dá errado em sua última missão e começa um jogo de gato perseguindo o rato no primeiro ato da trama. Ficamos sempre nos perguntando quando o protagonista será pego, porém, as figuras femininas centrais da trama talvez sejam o único meio dele obter uma redenção, ou então a sua perdição. Vale salientar que o cineasta não se esqueceu desse pequeno detalhe, ou seja, das famosas femme fatale, que se tornam uma grande ajuda, ou o derradeiro calcanhar de Aquiles para o protagonista.
Tendo atuado em filmes como "Rocco e Seus Irmãos" (1960) e "O Leopardo" (1963), Alain Delon obtém aqui uma de suas atuações mais lembradas, onde sua expressão fria e calculista marcaria uma geração inteira e serviria de influência até mesmo para os protagonistas durões do cinema de ação norte americano dos anos setenta. Neste último caso, sua imagem de um cavaleiro solitário dentro de um apartamento, cuja violência está a sua espera do outro lado da porta, serviria até mesmo de inspiração para a construção do protagonista Taxi Drive de Martin Scorsese ou de "O Matador" de john woo. Uma atuação digna de nota e difícil de imaginar outro em seu lugar nesta obra.
A meu ver, "O Samurai" não se limitou somente ao prestar uma homenagem ao subgênero "noir", como também serviu de laboratório sobre a melhor maneira de se fazer um filme policial na década seguinte. Infelizmente esse modelo duraria até o final dos anos setenta, sendo que seria explorado ao máximo no território norte americano, mas cujo mesmo foi trocado por mais ação e protagonistas musculosos. Uma época que não volta mais, mas que nunca custa revisitar.
"O Samurai" é uma verdadeira aula de perfeccionismo e elegância e que infelizmente não é algo que se faz mais hoje em dia.
Nota: Filme exibido para os associados no dia 26/03/23
O ano de 1957 foi o ano de Ingmar Bergman. Quando se pensa em cinema Sueco logo vem a nossa mente as suas obras e das quais são verdadeiras aulas de como se faz um bom cinema. Pode ter surgido outros cineastas daquele país com uma visão autoral definida, mas nenhuma supera a criatividade deste realizador.
Naquele ano ele lançaria um dos melhores filmes de todos os tempos, "Sétimo Selo", do qual testemunhamos um cavaleiro das Cruzadas (Max Von Sydow) tendo que encarar o fato que será levado muito em breve pela Morte (Bengt Ekerot). Porém, para evitar o seu fim, o cavaleiro desafia a própria Morte em um jogo de xadrez e fazendo deste jogo um dos grandes momentos da história do cinema. Vida, fé e morte eram assuntos sempre alinhado dentro dos trabalhos de Bergman, sendo que talvez seja algo que o afligia e fazendo com que as realizações dos seus roteiros fossem uma forma de exorcizar os seus demônios.
Mas a sua genialidade não se limitava em um único filme, ao ponto que no mesmo ano ele lançaria aquele que, talvez, seja a sua obra mais pessoal que foi "Morangos Silvestres". Tendo elaborado a trama na época em que estava no hospital, Berman somente realizaria esse projeto se caso conseguisse contratar o veterano ator Victor Sjöstrom para ser o protagonista, pois ele não imaginava outro intérprete a não ser ele. Embora relutante, Sjöstrom aceitou interpretar o papel e do qual o mesmo se tornaria o mais conhecido de toda a sua carreira.
O filme conta a história de Isak Borg (Victor Sjöström), um professor de medicina que revisita vários momentos marcantes de seu passado durante uma viagem de carro até sua antiga universidade, onde ele irá receber uma honraria. Acompanhado de sua nora Marianne (Ingrid Thulin) ele evoca memória de sua família e de sua ex-namorada. Durante a viagem ele conhece uma garota adolescente que em muito se assemelha a Sara (Bibi Andersson), seu antigo amor. A jovem pega carona com o professor e Marianne. Quanto mais Borg recorda as decepções e desilusões que viveu, mas ele se sente frio e cheio de culpa. Esses sentimentos se afloram quando ele encontra seu filho, igualmente frio e ressentido.
Pelo que me lembro eu somente havia assistido ao filme umas duas vezes na minha vida, sendo que a última vez que havia visto foi para fazer parte do curso "Cinema e Psicanálise" pelo Cine Um. Revendo agora pelo Clube de Cinema de Porto Alegre percebo que "Morangos Silvestres" é aquele filme que nós lembramos de uma forma, quando na verdade ele se transforma por completo quando o revisitamos e fazendo a gente obter a sensação de que estamos assistindo pela primeira vez. Porém, independente de quantas vezes eu vi, há uma cena que sempre me lembrarei que é com relação abertura.
Nela, Isak Borg está sonhando que está caminhando pela rua, onde ele testemunha olhos lhe observando, assim como um curioso relógio sem ponteiros e um homem sem rosto que logo em seguida se desmancha na calçada de forma misteriosa. Logo depois, chega uma carruagem que quase lhe atropela e cuja mesma acaba perdendo uma roda e fazendo com que um caixão saia dentro dela. O protagonista então testemunha o que há dentro do caixão, sendo que é ele próprio e logo em seguida acorda desse possível, ou não, pesadelo.
Essa cena, talvez, seja uma das que mais foram analisadas ao longo da história, sendo que ela nos lembra em alguns momentos as melhores pinturas de Salvador Dalí, ou das teorias de Freud que nos fazem pensar. No primeiro caso, por exemplo, Salvador Dalí já havia sido lembrado em títulos como "Um Cão Andaluz" (1929) ou "Quando Fala o Coração" (1945), mas aqui, embora possa não parecer para muitos, eu enxergo naquele cenário que Bergman criou toda a genialidade máxima que Dalí havia criado com relação as imagens que testemunhamos quando todos nós dormimos.
O filme pode também ser interpretado como um "road movie", já que vemos o protagonista testemunhando algo muito além do que uma mera viagem. Há aqui um cruzamento de gerações, sendo que o protagonista vem de uma época mais conservadora, enquanto a geração nova apresentada na trama se empenha em ter opinião própria. Se por um lado temos a nora Marianne que enfrenta um dilema interior e do qual ela se acha no direito de ter que decidir, do outro, temos a jovem Sara que surge do nada durante a viagem e que leva consigo dois futuros pretendentes, mas se preocupando mais com a sua liberdade. Sara, aliás, faz com que o protagonista se lembre de tempos mais inocentes, onde era apaixonado pela sua prima, mas tendo perdido ela ao longo da história.
Essa passagem é bastante curiosa, já que vemos o protagonista adentrar em seus próprios pensamentos, como se ele quisesse impedir que alguns acontecimentos jamais tivessem acontecido, mas que nada poderia ser feito. Curiosamente, essa passagem me lembrou do filme brasileiro "Amor Estranho Amor" (1982), de Walter Hugo Khouri, sendo que o mesmo sempre se declarou como grande fã do realizador sueco e se alguém dúvida basta assistir "Noite Vazia" (1964) para capitar certa semelhante com as obras de Bergman. Voltando ao filme, a trama começa a transitar ainda mais entre sonhos, pensamentos e fazendo a gente chegar à conclusão de que, talvez, o protagonista esteja buscando a redenção, mas da qual nunca havia chegado.
O filme fala sobre os sentimentos de culpa e dos quais nos assombra ao longo da vida. Bergman procura nos dizer que esse sentimento sempre estará com a gente e do qual não podemos voltar no tempo para repará-lo e fazendo com que esse meu pensamento se case com a figura do relógio sem ponteiros, já que não há como retrocedê-lo. Por conta disso, a morte se torna ainda mais nítida para o protagonista, mesmo quando a gente não testemunha ela em cena, mas sentimos em sua volta.
A redenção, talvez, se encontre no fato do protagonista em tentar fazer do seu filho (Gunnar Björnstrand) alguém melhor para a sua nora, mesmo quando dá indícios que isso possa parecer impossível. Porém, as personagens femininas interpretadas aqui por Bibi Andersson e Ingrid Thulin demonstram ter personalidades próprias, força interior em abundância e sabendo sobreviver perante o machismo que ainda era muito aflorado naqueles tempos longínquos. A figura da mulher com personalidade forte seria ainda mais explorada em seus filmes posteriores e dos quais a maioria seriam protagonizados pela sua musa Liv Ullmann.
Ao final, constatamos que o protagonista aceita que não há mais volta para tempos mais dourados, dos quais poderiam até terem sido diferentes, mas dos quais ele soube com o tempo aceitar os seus próprios erros e dos quais estava-lhe pesando ao longo do enredo. O sentimento de culpa seria algo que Bergman iria cada vez mais explorar nos seus filmes a seguir, como no caso, por exemplo, do enigmático "A Hora do Lobo" (1967), mas não de uma forma tão perfeita e complexa como essa. Portanto, Ingmar Bergman é um cineasta que sempre fará falta.
"Morangos Silvestres" é sobre sonhos, lembranças e culpa e tudo tendo sido alinhado pelas mãos artísticas Ingmar Berman.
Sinopse: Em 1985, um avião carregado de cocaína cai em algum lugar no meio do nada na floresta da Geórgia. Então, os mais de 200 quilos de drogas e potencialmente muito dinheiro foram perdidos para sempre? Os donos, um punhado de criminosos, não querem correr riscos e preferem jogar pelo seguro na hora. Na busca pela valiosa substância, porém, eles percebem que outro ser foi mais rápido do que eles. Um enorme urso preto encontrou o que procurava. E agora está completamente chapado.
O CIRCO VOLTOU
Sinopse: O Circo Voltou é um documentário que segue José Wilson Moura Leite, também conhecido como Zé Wilson, mestre circense, e sua Escola Circo Picadeiro. O longa lembra o movimento cultural que fez o circo renascer nos anos 1980 no país.
A ESPOSA DE TCHAIKOVSKY
Sinopse: Antonina Miliukova é uma jovem aristocrata bonita e brilhante. Ela poderia ter tudo o que quisesse, no entanto, sua única obsessão é se casar com Pyotr Tchaikovsky. A única razão pela qual o compositor finalmente aceitará essa união, é para acabar com os rumores sobre ele. Sem sentir amor e culpando-a por seus infortúnios e colapsos, as tentativas de Tchaïkovsky de se livrar de sua esposa são brutais.
DEMON SLAYER: TO THE SWORDSMITH VILLAGE
Sinopse: O fenômeno Demon Slayer retorna as telonas para apresentar o início do Arco da Vila dos Ferreiros com um corte especial. Reviva o confronto de Tanjiro com as Luas Demoníacas Daki e Gyutaro remasterizado em 4K especialmente para o cinema, além de ser um dos primeiros a presenciar o início do novo Arco que nos apresentará dois pilares: Mitsuri Kanroji e Muichiro Tokito, pilares de Amor e Névoa, respectivamente.
SOMBRAS DE UM CRIME
Sinopse: Em SOMBRAS DE UM CRIME, o detetive particular Philip Marlowe (Liam Neeson) é contratado para encontrar o ex-amante da ambiciosa Clare Cavendish (Diane Kruger), herdeira da estrela de Hollywood Dorothy Quincannon (Jessica Lange). A investigação do desaparecimento dá início a uma série de reviravoltas mortais envolvendo a elite da indústria cinematográfica no final da década de 1930.