Sinopse: Ariel é uma sereia princesa de dezesseis anos de idade insatisfeita com a vida no fundo do mar e curiosa sobre o mundo na terra. Ela se apaixona por um príncipe humano e faz um acordo com a bruxa do mar para transformar-se em humana.
Os anos 70 e 80 foram terríveis para o estúdio Disney, pois os seus longas metragens de animação não obtinham o retorno desejado para eles se sustentarem. Entre 1967 e 1977, os únicos dois grandes sucessos da produtora nessa área foram "Mogli – O Menino Lobo" (1967) e "Bernardo e Bianca" (1977), porém, sofreram com um grande fracasso representado pelo "Caldeirão Mágico" (1985). A grande virada de mesa aconteceria somente em 1989, quando foi lançado "A Pequena Sereia", filme que inauguraria o que chamamos hoje de "a era de ouro Disney".
O filme se tornou um megassucesso, fazendo com que gerasse outros, como no caso do maravilhoso "A Bela e a Fera" (1991), sendo que esse ´título seria o primeiro longa animado da história a conquistar uma indicação ao Oscar de Melhor Filme. Posteriormente viria outras obras primas como "O Rei Leão" (1994) e fazendo com que essa época se tornasse tão importante para o estúdio quanto foi quando havia sido lançado "Branca de Neve e os Sete Anões" (1937). Portanto, se hoje a Disney é uma das marcas mais poderosas do cinema muito se deve "A Pequena Sereia".
Mas para chegar a esse tal feito não foi uma tarefa fácil, pois o estúdio precisava se reinventar através dos seus fracassos, mesmo quando eles possuíam alguns atrativos a serem analisados. Tanto o já citado O "Caldeirão Mágico" como também "As Peripécias do Ratinho Detetive" (1986) foram belos exemplos de tempos pré-computação gráfica alinhada com o desenho tradicional, mas que nos passava a sensação de que algo a mais estaria por vir em um futuro próximo. Portanto, esses filmes serviram de laboratório para a criação de "A Pequena Sereia", sendo esse conhecido anteriormente como um poema escrito pelo escritor Hans Christian Andersen, mas se tornando mundialmente conhecido pelas mãos do estúdio.
Ariel (voz de Jodi Benson) é uma princesa sereia fascinada pelo mundo dos humanos, mas seu pai, o Rei Tritão (Kenneth Mars), proíbe que os seres do fundo do mar tenham contato com os da terra. A jovem se sente prisioneira, mas depois que salva o príncipe humano Eric (Christopher Daniel Barnes) de um naufrágio, ela apaixonando-se por ele, é seduzida pelas promessas da vilanesca Úrsula (Pat Carroll), caindo em uma armadilha montada pela bruxa para derrubar Tritão do trono.
A trama é bastante convidativa, simples, mas bem estruturada. Ariel é uma jovem sonhadora como todos nós, que deseja ir muito mais além do que estava predestinada e fazendo com que nos identifiquemos com ela de forma imediata. O outro lado da moeda se encontra através da imagem de Ursula, o que faz despertar um total desespero vindo do personagem Sebastian (Samuel E. Wright), o siri jamaicano conselheiro do rei e babá a contragosto da menina. Suas aventuras no mar e na terra representam, com uma grande beleza, a busca de aventuras e o amadurecimento de uma jovem, pontilhado de inesquecíveis números musicais de Alan Menken e Howard Ashman.
Só com Ariel já é uma protagonista que nos encanta, não somente pela sua beleza, mas também pela sua personalidade genuína e da qual a sua inocência perante o universo dos humanos nos conquista. Porém, os personagens coadjuvantes obtêm um peso maior, ao ponto de roubarem o espetáculo da trama em alguns momentos, em especial no caso de Sebastian. A sua voz ficou a cargo de Samuel E. Wright e fazendo com que músicas como "Under the Sea e Kiss the Girl" começassem a ecoar nas mentes das pessoas por muito tempo.
Visualmente, o filme possui um dos traços mais inesquecíveis do estúdio, cuja cidade submarina do rei Tritão é um verdadeiro colírio para os nossos olhos na primeira vez que a testemunhamos. É preciso também destacar o visual surpreendente de Úrsula, que combina com estilo cantora de blues com um polvo e suas duas moreias, Flotsam e Jetsam, cada uma com um olho tipo farol, que nos faz lembrar dos crocodilos de Bernardo e Bianca. São traços que fazem com que os personagens ganhem personalidades distintas uma da outra e fazendo com que o filme se torne ainda mais rico de todas as formas.
Mesmo sendo um desenho feito tradicionalmente para época, o filme recebeu investimentos absurdos para algo que não era feito naqueles tempos. Com traços simples, o desenho se alinhava com os últimos avanços daqueles tempos, fazendo com que os cenários se tornassem absurdamente realistas e fazendo com que ganhassem profundidade na medida em que os nossos olhos vão em direção a elas. Curiosamente, o filme foi realizado com a presença de atores, onde os mesmos davam vida aos seus respectivos personagens e posteriormente sendo substituídos pelos desenhos, sendo algo parecido com que é visto atualmente com a “captura de performance”, mas sem os recursos de computadores.
Tudo isso foi a última e grande aposta do estúdio naquela época para gerar um grande lucro ou gerando um grande prejuízo que poderia fazer com que fechasse suas portas para sempre. Isso não ocorreu, pois o filme obteve ótimas críticas, se tornando um estouro de bilheteria e revitalizando a casa do Mickey Mouse de tal maneira que as consequências positivas são sentidas até hoje em dia. O filme abriu as portas para que o estúdio se arriscasse ainda mais, principalmente com relação a computação gráfica e que seria logo posto em prática em "A Bela e a Fera" na famosa cena do baile.
Por fim, "A Pequena Sereia" é uma obra prima, que representa para o estúdio Disney o fim de uma era e o começo de uma outra e da qual o brilho permanece até mesmo hoje em dia.
NOTA: O filme foi exibido na "Sessão Vagalume" na Cinemateca Capitólio em sessões lotadas nos dias 04 e 05 de Março.
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