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Sapucaia do Sul/Porto Alegre, RS, Brazil
Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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terça-feira, 4 de agosto de 2020

Cine Dica: Durante a Quarentena Assista: ‘AMOR SANGUE DOR’

Sinopse: Uma misteriosa fotógrafa caminha pela noite paulistana à procura de mais uma vítima para seus clicks. Sensações e sentimentos se fundem em um encontro inusitado.

Dirigido por Magnum Borini e tendo o seu primeiro corte exibido agora pelo Youtube, "Amor Sangue Dor" é um filme experimental que se envereda para o gênero fantástico, mas que fala um pouco sobre os nossos tempos atuais indefinidos em que vivemos.  O primeiro ato vai mais para o lado filosófico, sobre as grandes metrópoles de hoje com as suas inúmeras pessoas aglomeradas e das quais convivem entre o consumo e desejos, por vezes, reprimidos por conta de pessoas dispostas a querer exterminá-los. Destaque pela bela fotografia em preto e branco e que fisga a nossa atenção desde o início.
Do segundo ato em diante conhecemos a protagonista, uma vampira (Aline Szpakowski), cuja a sua profissão é a fotografia e nos dando a entender que em sua primeira cena ela havia a pouco bebido sangue de determinada vítima. Porém, ela conhece uma garota (Rute Nascimento), da qual podemos imaginar que se tornará a sua próxima vítima, mas algo acontece de diferente e faz com que tenhamos diversas interpretações com relação ao que vem a seguir. O filme termina novamente com uma fotografia em preto e branco e testemunhamos a protagonista em estado solitário e seguindo sem rumo.
No meu entendimento, "Amor Sangue Dor" fala sobre os tempos conservadores e retrógrados atuais, dos quais muitas pessoas desejam satisfazer os seus desejos mais primitivos, mas tendo receio devido ao que os outros irão pensar a respeito. Ao vermos uma vampira se contendo ao não sugar o sangue que tanto anseia seria uma representação sobre os nossos medos ao vivermos em uma sociedade cada vez mais hipócrita e violenta na medida em que o tempo passa. Curto, mas "Amor Sangue Dor" é eficaz em sua proposta em nos fazer pensar sobre nós mesmos em tempos cada vez mais indefinidos. 

Onde assistir: Pelo Youtube clicando aqui. 


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segunda-feira, 3 de agosto de 2020

Cine especial: “O que o filme Bacurau, pode nos ensinar hoje?”


Chegamos ao ano de 2020 e junto com ele, uma grande crise sanitária, sem indícios de término. Identificamos nesta pandemia chamada de Corona vírus, ou mais conhecida como Covid-19, que assola o mundo inteiro, algumas características inseridas no cinema.
Bacurau, é um filme de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles. Lançado em 2019, este filme apresenta diversos significados simbólicos e bastante representativos do Brasil. Uma das diversas características marcantes da película é que, em sua totalidade, ele aborda temas que parecem ser uma distopia tais como, políticos corruptos, drogas, prostituição, diferenças entre raças e a visão sobre o outro. Os pontos apontados são de um filme com uma realidade baseada em fatos porém, em Bacurau, podemos perceber um Brasil, com estéticas de fome, sonhos e uma pedagogia que paira a violência (Bentes, 2019).
De acordo com Bentes (2019), o filme Bacurau se aproxima dos filmes de Glauber Rocha como “Deus e o Diabo na terra do Sol” de 1964 ou de “O Dragão da maldade contra o santo Guerreiro, de 1969”, devido a sua “invenção de um imaginário rural brasileiro catártico, que realiza uma política vinda do povo” (Bentes, 2019).

Esta política vinda do povo é que pode ser aprendida nos dias atuais, como uma pedagogia voltada a um novo aprendizado de nossas relações sociais e capitalistas que temos com nosso mundo. Um exemplo prático é o que fazer diante de um capitalismo que se impõe em nossa sociedade, como a única forma de subsistência possível? O filme traz esta noção de que, se tudo quebrar, estamos prontos para nos adaptar, será? Reconhecer que a trágica violência nos leva a lutar por nossa sobrevivência, já é um ponto a pensar.
Fatores que podemos apresentar como uma escola da vida conforme, aborda Freire (1967), não é o medo da liberdade mas sim, a transferência de conhecimento e a criação de possibilidades para sua construção e produção deste conhecimento. Este conhecimento fica muito explicito nas relações sociais dentro da cidade de Bacurau.
Um político corrupto e inescrupuloso que leva a cidade a ter sua própria organização coletiva, um espécie de autogestão conforme, cita Motta (1981) e que esta autogestão seria um lugar fundamental de autonomia coletiva, Ou seja, seria o lugar da iniciativa social, onde o grupo se administra livre e de forma espontânea pelos seus interesses comuns (Motta, 1981). O poder coletivo de decisões da cidade, impõe um líder que não necessariamente, dita as regras mas, que informa aos indivíduos da cidade, uma forma de comportamento e adequação, diferenciadas das que estamos condicionados a sofrer.
As divisões dentro da cidade são claras e cada um sabe seu lugar. As vantagens sustentáveis que esta organização possui é aquilo em que coletivamente ela usa com prontidão e adquire seus conhecimentos (Davenport e Prusak, 1998). A comunidade de Bacurau utiliza seu espaço de forma a garantir sua sustentabilidade, sem prejudicar seu ambiente.
Além disso a autogestão da cidade, implica em algumas tendências irregulares tais como, um poder paralelo que auxilia e ajuda a comunidade nos momentos de crise. As nuances de Bacurau são evidentes demais para serem deixadas de lado e nos remete a uma categoria afirmativa de dados do que temos nos dias atuais. Na gestão de Bacurau, observamos uma tendência de desnaturalizar o capitalismo vigente, quebrar regras e identificar-se como um ser social e não fora de um mapa, que também não temos ideia de quem o desenhou.
Traços coloniais existentes em Bacurau, são muito representativos e percebemos a intervenção dos “colonizadores” em dar significado a sua origem e raça, como se isso, fosse de fato, algo relevante, visto que raça foi uma criação colonial para garantir a retroalimentação de um trabalho escravo direcionado aos negros, índios e judeus, justificando assim, os “outros” como subalternizados e seres de extrema ignorância (Mignolo, 2003).
Por citar capitalismo, não se assuste se ver a única nota em dinheiro do filme, ser dada pelos turistas que chegam a cidade. Como a cidade funciona sem o ritmo tradicional do pague e leve, não fazemos a mínima ideia de como se sustenta mas temos uma noção, de que a cidade possui outras regras, apesar de não se incomodar com o dinheiro vindo de outras práticas não tradicionais.
Quando chegamos ao cinema, sentamos na poltrona e o filme começa pensamos: “nossa que gente primitiva”, isso é uma forma de reproduzir as histórias únicas que conhecemos nossa vida inteira, a história apenas de quem venceu e o perigo de uma história única, de acordo com
Adichie (2019) é que ela, é contada apenas pelos vencedores, que da mesma forma que usurparam, estupraram, escravizaram, roubaram e determinaram características nos “outros”, beneficiando-se de um “status” de ser racional, erudito, culto e com características que devem ser mais representadas dentro da sociedade só o são tão belos e desenvolvidos, devido a carnificina empregada em sua gestão e controle.
Em Bacurau não é diferente, os “outros” são os despreparados, assim pensamos e o filme, leva você a sentir um arrepio pois, seu final é surpreendente. Ainda não conferiu este filme? Então veja, disposto a tomar um susto e de sair sem entender se o filme é de fato numa cidade fictícia. Preste bastante atenção na televisão da cidade e na forma de organização e comunicação repassada. Uma comunicação tão eficiente, que derruba até a política vigente.
O mercado da morte aparece em Bacurau e nos envia para a nossa realidade de mortes pelo Covid-19 em todo o Brasil, e no mundo, podemos assim dizer. Baseado apenas em fatos, Bacurau, nos reserva surpresas e nos permite uma sensação de dever cumprido. Um sensação de acordo com Spivak (1985) de um subalterno poder falar, de um subalterno se organizar, sobreviver sem ajuda política, de existir sendo considerado excluído.
Espero que as reflexões deste texto consigam fazer com que o filme Bacurau, exista não apenas como o “outro” mas como forma de poder e reflexão crítica sobre as condições sociais existentes em nosso mundo, vale ressaltar que a trajetória está mudando, só não percebe quem aceita de bom grado, uma história única e não reconhece que antes, já existia uma cultura existente com suas regras, padrões, cultura e sobrevivência.
Pois bem, se vier, venha em paz.

Referências:
CHIMAMANDA, N, A. O perigo de uma história única. Editora: Companhia das letras. 2019.
DAVENPORT, T, H.; PRUSAK, L. Conhecimento Empresarial; como as organizações gerenciam o seu capital intelectual. Rio de Janeiro: Campus, 1998. 237p
IVANA, B. Bacurau e síntese do Brasil brutal. Disponível em: https://revistacult.uol.com.br/home/bacurau-kleber-mendonca-filho/. Visualizado em 30/07/2020.
MIGNOLO, W. Histórias Globais/projetos Locais. Colonialidade, saberes subalternos e pensamento liminar. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2003.
MOTTA, F, C, P. Burocracia e autogestão (a proposta de Proudhon). São Paulo, Brasiliense, 1981.
PAULO, F. Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro, Editora Paz e Terra LTDA, v. 199, 1967.
SPIVAK, G, C. Pode o subalterno falar? Belo Horizonte: Editora: UFMG, 133p., 2010 [1985].

Postado por: Ana Lúcia Schmidt Castelo
Centro/RJ, Brasil.
Mestranda em Administração, graduada em Pedagogia, Arquivologia e concluindo a graduação em Letras. Apaixonada por cinema com preferência por filmes de terror e colaboradora do Blog: “Cinema cem anos de luz, Arte e reflexão” do amigo Marcelo Castro Moraes.

sexta-feira, 31 de julho de 2020

Cine Especial: 'Constantine' - 15 Anos Depois


"Uma Viagem Alucinante. Este Legado de Blade Runner é um Deleite para os Olhos e Para a Mente". 

Richard Collis - TIME 

Talvez essa seja uma comparação um tanto que exagerada para aquela época, mas acho que eu sei onde o crítico queria chegar. Embora não tenha sido fiel a sua fonte nas HQ, "Constantine" foi observado de perto por críticos de cinema e colecionando fãs na medida em que o tempo foi passando. Quinze anos se passaram e o filme ganhou de forma merecida o seu status de cult e motivos para isso é o que não faltam.
É bom lembrar que o filme foi lançado em 2005, época em que os estúdios estavam atirando para todos os lados para conseguir algum lucro com as adaptações de HQ. Após o estouro de "X-Men" (2000) e "Homem Aranha" (2002), era questão de tempo para que inúmeros personagens fossem levados para o cinema, mas Constantine era uma espécie de um tiro no escuro. Conhecido mais pelos leitores de HQ, o personagem na época não tinha esse apelo popular que tem hoje, mas que na minha opinião colaborou para que o filme fosse melhor trabalhado.
O problema com relação a ser fiel a sua fonte original é gerar um sério risco de o filme perder a chance de obter a sua personalidade própria. Pegamos, por exemplo, adaptação do livro "O Código Da Vinci"(2006) para o cinema, da qual foi fiel a sua fonte, porém, ficou preso nesta questão e se tornando um filme sem sal. Não é o caso que acontece com "Constantine" e acho que muito disso se deve a Francis Lawrence.

Conhecido na época pela direção de vídeo clipes, Lawrence optou em adaptar somente o essencial das HQ e moldando a história para se encaixar melhor na linguagem cinematográfica. O resultado é um filme cheio de personalidade, onde o cineasta cria uma visão pessoal sobre aquele universo de anjos e demônios e cujo o seu visual é a sua principal fonte de sucesso. Embora a trama se passe na ensolarada Los Angeles, o filme é sombrio, elegante, como se estivéssemos assistindo a um filme noir de antigamente, mas moldado com ingredientes sobre a questão da fé e o papel do bem e o mal na vida dos homens e das mulheres.
Nos minutos em que nos é apresentado o protagonista, Lawrence cria um belo jogo de câmera, ao fazer enquadramentos em que sempre nos mostra os personagens indo em nossa direção, como se houvesse uma intenção vinda deles em quebrar a quarta parede. Porém, isso é uma forma de se casar com a proposta principal da história, onde os personagens sempre desejam avançar em querer chegar algum lugar, desde os demônios querendo entrar em nosso mundo, como também o próprio Constantine em querer fugir do inferno ao seu encalço. É bom lembrar que, embora a trama seja superficialmente inspirado no clássico "Hábitos Perigosos" de Garth Ennis, a inserção da questão do câncer que aflige o personagem é explorada aqui de uma forma mais simples e verossímil para os olhos do cinéfilo.
Além disso, Lawrence surpreende nas continuidades de cada cena, cuja a simetria acaba se casando uma com a outra. Pegamos, por exemplo, a cena em que Ângela (Rachel Weisz) acorda de um terrível pesadelo. Em sua cama se encontra o seu gato que começa a tossir pelos. Imediatamente a cena é cortada para Constantine correndo em direção a sua pia e cuspir catarro cheio de sangue.
Essas simetrias estão espalhadas em quase todo o filme, como se elas se direcionassem para um único objetivo e levando os seus protagonistas consigo. Por conta disso, temos um filme do qual foi realizado na preocupação de se fazer cinema e não somente uma adaptação fiel a sua fonte verdadeira. Já a história em si, ela não é muito diferente com relação a tantos filmes de rituais ou possessões antes daquela época, mas é graças a direção autoral e segura do cineasta é o que fez toda a diferença. Embora com alguns efeitos visuais e cenas de ação, eles são inseridos para melhor compreendimento da trama e a ótima cena em que o protagonista desce ao inferno, uma espécie de Los Angeles em pleno apocalipse, sintetiza muito bem isso.
Outra questão é o seu elenco, composto por inúmeros talentos e do qual cada um colaborou para obter o melhor desempenho possível. Criticado ao ser escolhido para interpretar o personagem, Keanu Reeves fez o que pode em cena, ao ponto de ficar até mesmo pálido de tanto fumar diversas vezes durante as filmagens. Não é preciso ser adivinho sobre o que levou a Warner a escolher ele, já que na época o ator a recém havia estrelado a franquia milionária "Matrix" e a intenção, obviamente, era continuar obter lucro que o ator atraia naqueles tempos. Independente disso, eu particularmente gosto do ator interpretando o personagem, mesmo quando ele se distancia das verdadeiras raízes de sua fonte.
Por sua vez, Rachel Weisz rouba a cena em momentos importantes da trama, ao interpretar as irmãs gêmeas Ângela e Isabel. Weisz entrega um papel de peso ao dar vida a Ângela, ao se apresentar como uma personagem cética com relação as questões do céu e o inferno, mas aprendendo que elas são reais da pior maneira possível. Não deixa de ser assombrosa a sua atuação quando ela testemunha o corpo da sua irmã falecida e cuja a cena impressiona, tanto pelo seu desempenho, como também graças a direção de Lawrence que deixa o momento ainda mais dramático.
Curiosamente, a ala coadjuvante é outro fator determinante para o sucesso do filme. Tilda Swinton surpreende ao interpretar o anjo Gabriel e cujo o seu sarcasmo nos brinda com humor sombrio contagioso. E se por um lado há um jovem em cena chamado Shia Labeouf interpretando o personagem Chas que poderia ser facilmente ser descartado, do outro, Djimon Houson cria para o seu personagem Midnite um ar de ambiguidade com relação aos seus sentimentos em optar em ser neutro. Agora, a grande surpresa fica por conta da atuação de Peter Stormare como Lúcifer, um personagem que já foi levado aos cinemas de diversas maneiras, mas aqui ele interpreta do seu jeito e cuja a sua apresentação na história pegou muitas pessoas na época desprevenidos.

Logicamente, o final deixa algumas pontas soltas para uma continuação, mas da qual jamais aconteceu. Porém, o filme funciona muito bem independente disso, fazendo com que críticos e fãs o visitassem diversas vezes e ganhando assim um melhor reconhecimento. Mas com os boatos de que Keanu Reeves deseja muito retornar ao personagem, que hoje tem um apelo popular muito maior do que aquela época, quem sabe essa sequência não venha em breve ganhar a luz do dia.
"Constantine" é um filme sobrevivente em meio a tantas franquias de adaptações de HQ para o cinema, ao passar pelo teste do tempo e se tornar um cult de forma merecida mesmo com os seus detratores em volta. 

Onde Assistir: Em DVD, Blu-Ray e Netflix.  

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quinta-feira, 30 de julho de 2020

Cine Dica: Durante a Quarentena Assista: 'O Babadook'

Sinopse: Amelia, viúva e ainda atormentada pela violenta morte do marido, tenta lidar com o medo de monstros que aterroriza seu único filho.

Clássicos do cinema de horror como "O Bebê de Rosemary" (1968) e "O Exorcista (1973) sobrevivem ao teste do tempo graças ao fato deles possuírem diversas camadas de interpretação com relação as suas tramas. O filme de  William Friedkin, por exemplo, pode simplesmente ser tachado como um filme de possessão demoníaca, como também uma história em que se explora os poderes ocultos da mente humana. "O Babadook" (2014) segue com perfeição essa minha teoria e podendo ser lembrado facilmente nos próximos anos como um dos melhores filmes de horror do nosso tempo.
Dirigido pela cineasta Jennifer Kent, o filme conta a história de Amelia (Essie Davis), que no passado ela havia perdido o seu marido em um acidente de carro quando ambos estavam indo no hospital para ela dar à luz.  Mesmo tendo o seu filho Samuel (Noah Wiseman) ela ainda não superou a trágica perda e o garoto começa a sonhar diariamente que um monstro que se encontra em um livro está assombrando ambos. Mas até onde isso é sonho e realidade?
Por ser de origem Australiana se percebe que é uma produção que se difere das americanas, tanto pelo seu visual, como também pelo seu ritmo e que dá espaço para uma construção melhor na apresentação dos seus personagens principais. Isso logicamente afasta aquele cinéfilo que está acostumado com o gênero de horror convencional norte americano, do qual possui diversos sustos a cada momento, mas quase não nos dá tempo para nos simpatizarmos com os personagens principais ou exigir um roteiro mais complexo. Em ambos os casos eles se encontram e "O Babadook", de uma forma bem dirigida e cujo o roteiro pode ser interpretado de diversas formas.
Se formos simplifica-lo, ele pode ser interpretado como mais um filme sobre uma casa mal assombrada, mas a trama não se limita essa ideia tantas vezes usada. Ao invés disso, testemunhamos uma protagonista transitando entre a lucides e a dor que ainda não cicatrizou pela perda do seu marido. Além disso, ela precisa enfrentar o dia a dia de ter um filho super ativo e fazendo com que o seu lado lúcido transite para a beirada do precipício.
Essie Davis, estrela de filmes como "Casamento às Avessas" (2010), nos brinda aqui com a melhor atuação da sua carreira. Se no princípio sentimos pena de sua personagem por sofrer de um trauma do passado, além de não conseguir conter o seu filho super ativo, por outro lado, logo começamos a temer pela vida desse último a partir do momento em que ele começa a ser assombrado por uma possível entidade fantasmagórica e pela própria mãe que começa a dar sinais de descontrole sem precedentes.
Podemos supor que ela esteja também sendo afetada pelas manifestações que ocorrem na casa, mas o problema, talvez, se encontre muito mais embaixo do que a gente imagina. Ao nunca colocar para fora a sua dor devido ao passado trágico, a protagonista começa despeja-lo em momentos de grande conflito e fazendo ela se tornar um perigo para si e para o seu próprio filho. Não me surpreenderia, por exemplo, se atuação da atriz serviu de inspiração para o trabalho de Toni Collette em "Hereditário" (2018) e para quem viu o filme de Ari Aster sabe muito bem o que eu estou dizendo.
Já a figura de Babadook em si é um deleite para os amantes do gênero fantástico, pois ele parece um cruzamento de  Sr. Hyde do clássico "O Médico e o Monstro" e Nosferatu. Neste último caso, tanto a figura do ser, como também da própria casa, parecem extraídos dos melhores momentos do expressionismo alemão, do qual os filmes em si daquela época exploravam os significados dos sonhos e da imaginação de um povo alemão esmagado após a 1ª Guerra Mundial. Seria, portanto, a figura de Babadook uma manifestação dos sentimentos reprimidos da protagonista devido ao seu passado trágico pela perda do seu marido?
Aliás, a figura do marido é bastante usada no decorrer da trama e fazendo com que esse meu pensamento se fortifique cada vez mais quando revisitei o filme pela segunda vez. Mas em termos técnicos o filme também nos conquista, principalmente por ele não ser sufocado pela pirotecnia dos efeitos visuais hoje em dia, mas sim sendo ele moldado de uma maneira mais simples de como se fazia cinema de horror de antigamente e tendo um efeito mais verossímil possível. Além disso, o filme presta uma bela homenagem aos grandes clássicos do gênero fantástico, que vai desde curtas de Méliès, como também "O Fantasma da Ópera" (1925), "O Parque Macabro" (1962), "As Três Máscaras do Terror" (1963).
Com um final que nos deixa mais perguntas do que resposta, mas sendo algo proposital para pensarmos na obra por um longo tempo, "O Babadook" é um ótimo filme de horror ao obter a proeza e nos assustar e questionar sobre qual é a verdadeira origem sombria que se manifesta ao longo de sua trama.   


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quarta-feira, 29 de julho de 2020

Cine Dica: Durante a Quarentena Assista: 'A Assistente'

Sinopse: Jane (Julia Garner) é uma aspirante a produtora de cinema que recentemente conseguiu seu emprego dos sonhos como assistente júnior de um poderoso magnata do entretenimento.  

O recente filme "O Escândalo" (2019) retrata os inúmeros casos de assédio que o produtor da Fox News havia cometido contra as suas funcionárias ao longo das décadas. O filme veio justamente na esteira em que vários diretores e produtores Hollywood foram colocados na parede ao serem denunciados por terem cometidos crimes graves contra atrizes durante muito tempo. "A Assistente" (2019) é somente a ponta do iceberg sobre esses acontecimentos, mas que sintetiza o lado cru por detrás das cortinas desse universo do entretenimento.
Dirigido pela diretora Kitty Green, o filme aborda a vida de Jane, interpretada pela ótima jovem atriz Julia Garner da série "Orzak", uma aspirante a produtora de cinema que recentemente conseguiu seu emprego dos sonhos como assistente júnior de um poderoso magnata do entretenimento. O dia dela é muito parecido com o de qualquer outra assistente. Mas, à medida que Jane segue sua rotina diária, ela começa a perceber todos os abusos que envolvem seu ambiente de trabalho e sua posição profissional.
Antes de falar sobre o filme em si é preciso relembrarmos sobre Harvey Weinstein. Para os desavisados, Weinstein era um bem sucedido produtor de cinema, fundador da produtora Miramax, que entre os títulos do estúdio se encontra  “Pulp Fiction: Tempo de Violência” (1994), “O Paciente Inglês” (1996), “Cold Mountain” (2003) e dentre outros. Porém, em 2017, Weinstein foi acusado de abuso sexual por mais de 80 mulheres, muitas delas suas funcionárias. Tais acusações deram início ao movimento #MeToo, criado nas redes sociais onde mulheres de todo o mundo vieram a público denunciar a conduta imprópria de diversos homens poderosos. O ápice dessa situação aconteceu quando o movimento também foi apelidado de “O Efeito Weinstein”. Nem preciso mencionar que a carreira do produtor de cinema foi para o fundo do ralo e de forma merecida.
Weinstein não aparece em "A Assistente" e ninguém menciona seu nome durante a projeção, mas isso se torna mero detalhe. O que torna poderoso o filme da diretora Kitty Green é graças a sua sutileza que ela cria na construção de sua narrativa. Praticamente o filme é protagonizado pela personagem Jane e da qual ela se torna o nosso olhar com relação àquela realidade.
Com um enquadramento em que foca os principais afazeres de Jane, acompanhamos o seu dia a dia no escritório, desde os afazeres mais simples como também os mais complexos. Porém, na medida que o filme avança, a protagonista começa a sentir a pressão em sua volta, principalmente quando determinadas ligações testam os seus nervos e sua autoestima. Julia Garner nos brinda aqui com a sua melhor atuação da carreira, cujo o seu olhar transita entre a segurança para momentos de perplexidade mesmo ela não demonstrando em situações que exige sangue frio infelizmente.
Curiosamente, o filme oscila tanto em momentos dramáticos, como também de puro suspense psicológico. Em tempos em que monstros clássicos perderam o seu lugar para monstros mais realistas, ou seja, o próprio lado sombrio do ser humano, o filme se casa muito bem com a realidade nebulosa em que nós vivemos. Como já citado acima, nós nunca testemunhamos o produtor assediador da trama, mas sua presença é sentida a todo momento, seja através das consequências dos seus atos, como também do olhar da protagonista que nos diz tudo.
Aliás, o grande acerto do filme é não do uso de cenas politicamente incorretas ou algo do gênero para que a trama se torne chocante, pois basta uma boa direção como essa para que se faça toda a diferença. Talvez o ápice do filme é quando a protagonista pede ajuda com relação ao que está acontecendo em seu ambiente de trabalho, mas para somente perceber o quanto ela se encontra encurralada em um sistema cheio de regras e criado por homens machistas que acreditam que podem fazer o que bem entender. A sutileza do filme é algo sublime e que o torna obra indispensável para ser vista e discutida daqui para frente.
"A Assistente" é um filme sobre o antes e depois dos escândalos recentes de Hollywood, mas que serve também como reflexão para que as mulheres não se calem perante os horrores vindo dos próprios homens. 


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terça-feira, 28 de julho de 2020

Cine Especial: 'Beijos Proibidos' - Corra Antoine, Corra


A Nouvelle vague foi a virada de mesa que mudou o cinema francês para sempre e influenciou diversos cineastas do mundo a fora. Diferente do convencional da época, os cineastas desse movimento decidiram sair dos estúdios, gravarem as suas histórias nas ruas das cidades e revelando uma França quase nunca vista na grande tela. Neste núcleo, dois dos meus cineastas favoritos daquele país se destacaram, que foram Jean-Luc Godard e François Truffaut.
No princípio deste movimento, se por um lado Truffaut fez uma espécie de reconstituição de sua juventude em sua obra prima "Os Incompreendidos" (1959), por outro lado, Godard fez "Acossado" (1960), um filme policial fora do convencional e cuja a sua forma de filmar influenciou o cinema mundial como um todo. Falando neste último caso, qualquer semelhança desse filme com o nosso clássico "O Bandido da Luz Vermelha" (1968) não é mera coincidência.  Amigos desde os tempos da revista  Cahiers Du Cinéma, tanto Truffaut como Godard criaram um cinema que falasse um pouco sobre o que acontecia naqueles tempos e que, embora falassem de temas parecidos, ambos criaram uma forma distinta de contar as suas próprias histórias.
Enquanto Godard criava o seu cinema autoral com doses cavalares com teor político como, por exemplo, "A Chinesa" (1968), por outro lado, Truffaut queria também seguir pelo mesmo caminho, mas de uma forma amenizada, porém, não menos política. com o seu alter ego Antoine de "Os Incompreendidos", o cineasta falaria um pouco da juventude francesa do final dos anos sessenta, da qual participaria dos movimentos de “Maio de 68” e sintetizando os ventos da mudança que estavam acontecendo. "Beijos Proibidos" (1968) fala um pouco dessa juventude, justamente em um momento em que tudo estava em movimento constante.

Movimento esse muito bem representado por Antoine, novamente interpretado pelo ator Jean-Pierre Léaud, e aqui vemos o mesmo abandonando o exército já no início da trama. Esse prólogo, aliás, é proposital para nos fazer lembrar que esse é o mesmo protagonista visto em "Os Incompreendidos", sendo ainda um jovem que vai contra o sistema e buscando uma forma de sempre correr de um mundo cheio de regras.  Porém, mesmo sendo uma representação de François Truffaut, vemos aqui um Antoine indo para o caminho não cinematográfico, mas sim nas trilhas em que os jovens franceses daqueles tempos abraçavam.
Vemos, portanto, um Antoine em meio aos conflitos internos com relação aos relacionamentos amorosos daqueles tempos, sendo que a sua paixão é Christine (Claude Jade), mas não escondendo os seus desejos por outras mulheres. Logo após deixar o exército, por exemplo, ele visita garotas de programas, mas de uma forma rápida, como se quisesse satisfazer as suas necessidades o quanto antes. Uma forma de nos dizer sobre aquela juventude dos anos sessenta, onde o conservadorismo não poderia mais conter os hormônios em ebulição naqueles tempos.
O conservadorismo, aliás, é muito bem representado aqui, onde mostra determinadas figuras mantendo o status de cidadão perfeito, mas não reparando o mundo mudando. Pegamos o caso do dono da loja de sapatos, que desconfia que as pessoas em sua volta não gostam dele e contrata Antoine como detetive para investigar isso. O dono dessa loja seria, talvez, a representação do capitalismo sofrendo os ataques de um mundo mais socialista que os jovens estavam querendo naqueles tempos e não se dando conta disso.
Curiosamente, determinados personagens seriam representações dessas determinadas mudanças e que não se restringem somente aos personagens em volta do dono da loja de sapatos. Temos o caso simbólico do homem querendo saber o paradeiro do seu amigo mágico e nos dando a entender que ambos tiveram um caso no passado. Se na primeira apresentação do personagem isso fica nas entrelinhas, a segunda apresentação a situação fica ainda mais explícita, principalmente quando o personagem age com extrema violência.
Portanto, em um único filme, François Truffaut fala sobre as mudanças de costumes da sociedade francesa, ou nos dando a entender que esses costumes sempre estiveram lá, só que nunca haviam se destacado no cinema francês até ali. A infidelidade, por exemplo, é algo que Antoine acaba se envolvendo com relação a esposa do dono da loja de sapatos. Mas, curiosamente, ainda há no personagem uma fagulha desse conservadorismo francês que tenta domá-lo, porém, logo é pulverizado.

Em um epílogo simbólico, onde Antoine finalmente decide abraçar a sua paixão por Christine, vemos o conservadorismo francês sendo representado na forma de um detetive e declarando o seu amor por Christine. Após isso, o casal o ignora o tratando como louco, nos dando a entender que aquela forma de amor vinda daquele personagem já não tinha mais espaço para essa geração paz e amor que se encontra sempre em movimento. Christine, logicamente, sofreria as consequências por abraçar a sua paixão por Antoine posteriormente, mas o que não seria muito diferente de inúmeros jovens casais que se dão conta que os contos de fadas somente se encontram nos livros de histórias fictícias.
"Beijos Proibidos" é uma espécie de representação dos ventos da mudança que aconteceriam em “Maio de 68”, onde uma juventude se encontrava em movimento constante e disposta em abraçar em  total plenitude. 

NOTA: Nova live de Tânia Cardoso sobre "Beijos Proibidos" nesta terça-feira. Confira abaixo: 


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segunda-feira, 27 de julho de 2020

LUTO: Olivia de Havilland (1916 - 2020)


Dame Olivia Mary de Havilland nasceu em Tóquio em 1 de Julho de 1916, filha da também atriz Lillian Fontaine e irmã de Joan de Havilland, conhecida pelo nome artístico de Joan Fontaine, que a exemplo de Olivia, tornou-se uma das mais admiradas estrelas do cinema, ambas permanecendo até a presente data como as únicas irmãs a terem sido premiadas com o Oscar de melhor atriz.
De Havilland ficou conhecida pela parceria com o astro Errol Flynn, co-estrelando com ele oito filmes, sendo o mais notório 'As aventuras de Robin Hood' (The Adventures of Robin Hood, 1938), tido como um dos maiores clássicos dentre os filmes de aventura. Mas foi sua performance indicada ao Oscar como Melanie Hamilton Wilkes no épico ...'E o vento levou' (Gone with the Wind,1939) que a colocou nos anais da história do cinema, fazendo com que a atriz ficasse marcada como o símbolo da doçura nos filmes americanos ao atribuir-lhe uma imagem da qual ela própria tentou se desvincular na esperança de obter papéis mais desafiadores e assim provar que a sua capacidade artística lhe permitia ir além - fato este confirmado na década de 1940 em seus desempenhos subsequentes, que, por sua vez, acabaram rendendo-lhe dois Oscars de melhor atriz, pelos filmes 'Só resta uma lágrima' ("To Each His Own", 1946) e 'Tarde demais' ("The Heiress", 1949), além de ter sido indicada ao prêmio também por A porta de ouro ("Hold Back the Dawn", 1941) e A cova da serpente ("The Snake Pit", 1948, tido pela atriz como o filme favorito de sua carreira).
Dentre as honrarias a ela concedidas também incluem-se a estrela na Calçada da Fama de Hollywood, que recebeu em 1960 graças a sua contribuição à indústria cinematográfica, a Medalha Nacional das Artes, concedida pelo presidente americano George W. Bush em 2008, a Ordem Nacional da Legião de Honra, com a qual foi condecorada pelo presidente francês Nicolas Sarkozy em 2010, e a Excelentíssima Ordem do Império Britânico, sendo condecorada com o título de Dama do Império Britânico em 2017 por serviços prestados às artes, tornando-se, então, aos quase 101 anos, a mais velha mulher a receber esta condecoração.
Olivia também tornou-se defensora dos direitos de atores e atrizes, tendo sido criada, por sua iniciativa, uma lei que leva o seu nome, validada com o objetivo de assegurar aos mesmos importantes direitos que estes devem ter como garantia. Em 1999 ela foi nomeada uma das 500 grandes lendas do cinema pelo American Film Institute.
Morreu enquanto dormia  aos 104 anos, em Paris.


Fontes: Wikipédia, Cinema Clássico.

Também se foi John Saxon (1936 - 2020)


Filho de imigrantes italianos nos Estados Unidos, Saxon nasceu em 5 de agosto de 1936 em Nova York. Teve uma carreira que durou 60 anos e atuou em filmes de grande sucesso como 'A Hora do Pesadelo' (1984) e Operação Dragão (1973), clássico de Bruce Lee, que trouxe filmes de artes marciais para o mainstream. Antes, Saxon era conhecido por ser ídolo teen, estrelando filmes ao lado de Esther Williams, Mamie Van Doren e Sandra Dee.
Em 1967, ele foi indicado ao Globo de Ouro por sua interpretação em ‘Sangue em Sonora’, ao lado de Marlon Brando. Mais recentemente, atuava na série ‘Dinastia’.

Fontes (com modificações): Claúdia e Isto é.