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Sócio e Diretor de Comunicação e Informática do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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sexta-feira, 31 de julho de 2020

Cine Especial: 'Constantine' - 15 Anos Depois


"Uma Viagem Alucinante. Este Legado de Blade Runner é um Deleite para os Olhos e Para a Mente". 

Richard Collis - TIME 

Talvez essa seja uma comparação um tanto que exagerada para aquela época, mas acho que eu sei onde o crítico queria chegar. Embora não tenha sido fiel a sua fonte nas HQ, "Constantine" foi observado de perto por críticos de cinema e colecionando fãs na medida em que o tempo foi passando. Quinze anos se passaram e o filme ganhou de forma merecida o seu status de cult e motivos para isso é o que não faltam.
É bom lembrar que o filme foi lançado em 2005, época em que os estúdios estavam atirando para todos os lados para conseguir algum lucro com as adaptações de HQ. Após o estouro de "X-Men" (2000) e "Homem Aranha" (2002), era questão de tempo para que inúmeros personagens fossem levados para o cinema, mas Constantine era uma espécie de um tiro no escuro. Conhecido mais pelos leitores de HQ, o personagem na época não tinha esse apelo popular que tem hoje, mas que na minha opinião colaborou para que o filme fosse melhor trabalhado.
O problema com relação a ser fiel a sua fonte original é gerar um sério risco de o filme perder a chance de obter a sua personalidade própria. Pegamos, por exemplo, adaptação do livro "O Código Da Vinci"(2006) para o cinema, da qual foi fiel a sua fonte, porém, ficou preso nesta questão e se tornando um filme sem sal. Não é o caso que acontece com "Constantine" e acho que muito disso se deve a Francis Lawrence.

Conhecido na época pela direção de vídeo clipes, Lawrence optou em adaptar somente o essencial das HQ e moldando a história para se encaixar melhor na linguagem cinematográfica. O resultado é um filme cheio de personalidade, onde o cineasta cria uma visão pessoal sobre aquele universo de anjos e demônios e cujo o seu visual é a sua principal fonte de sucesso. Embora a trama se passe na ensolarada Los Angeles, o filme é sombrio, elegante, como se estivéssemos assistindo a um filme noir de antigamente, mas moldado com ingredientes sobre a questão da fé e o papel do bem e o mal na vida dos homens e das mulheres.
Nos minutos em que nos é apresentado o protagonista, Lawrence cria um belo jogo de câmera, ao fazer enquadramentos em que sempre nos mostra os personagens indo em nossa direção, como se houvesse uma intenção vinda deles em quebrar a quarta parede. Porém, isso é uma forma de se casar com a proposta principal da história, onde os personagens sempre desejam avançar em querer chegar algum lugar, desde os demônios querendo entrar em nosso mundo, como também o próprio Constantine em querer fugir do inferno ao seu encalço. É bom lembrar que, embora a trama seja superficialmente inspirado no clássico "Hábitos Perigosos" de Garth Ennis, a inserção da questão do câncer que aflige o personagem é explorada aqui de uma forma mais simples e verossímil para os olhos do cinéfilo.
Além disso, Lawrence surpreende nas continuidades de cada cena, cuja a simetria acaba se casando uma com a outra. Pegamos, por exemplo, a cena em que Ângela (Rachel Weisz) acorda de um terrível pesadelo. Em sua cama se encontra o seu gato que começa a tossir pelos. Imediatamente a cena é cortada para Constantine correndo em direção a sua pia e cuspir catarro cheio de sangue.
Essas simetrias estão espalhadas em quase todo o filme, como se elas se direcionassem para um único objetivo e levando os seus protagonistas consigo. Por conta disso, temos um filme do qual foi realizado na preocupação de se fazer cinema e não somente uma adaptação fiel a sua fonte verdadeira. Já a história em si, ela não é muito diferente com relação a tantos filmes de rituais ou possessões antes daquela época, mas é graças a direção autoral e segura do cineasta é o que fez toda a diferença. Embora com alguns efeitos visuais e cenas de ação, eles são inseridos para melhor compreendimento da trama e a ótima cena em que o protagonista desce ao inferno, uma espécie de Los Angeles em pleno apocalipse, sintetiza muito bem isso.
Outra questão é o seu elenco, composto por inúmeros talentos e do qual cada um colaborou para obter o melhor desempenho possível. Criticado ao ser escolhido para interpretar o personagem, Keanu Reeves fez o que pode em cena, ao ponto de ficar até mesmo pálido de tanto fumar diversas vezes durante as filmagens. Não é preciso ser adivinho sobre o que levou a Warner a escolher ele, já que na época o ator a recém havia estrelado a franquia milionária "Matrix" e a intenção, obviamente, era continuar obter lucro que o ator atraia naqueles tempos. Independente disso, eu particularmente gosto do ator interpretando o personagem, mesmo quando ele se distancia das verdadeiras raízes de sua fonte.
Por sua vez, Rachel Weisz rouba a cena em momentos importantes da trama, ao interpretar as irmãs gêmeas Ângela e Isabel. Weisz entrega um papel de peso ao dar vida a Ângela, ao se apresentar como uma personagem cética com relação as questões do céu e o inferno, mas aprendendo que elas são reais da pior maneira possível. Não deixa de ser assombrosa a sua atuação quando ela testemunha o corpo da sua irmã falecida e cuja a cena impressiona, tanto pelo seu desempenho, como também graças a direção de Lawrence que deixa o momento ainda mais dramático.
Curiosamente, a ala coadjuvante é outro fator determinante para o sucesso do filme. Tilda Swinton surpreende ao interpretar o anjo Gabriel e cujo o seu sarcasmo nos brinda com humor sombrio contagioso. E se por um lado há um jovem em cena chamado Shia Labeouf interpretando o personagem Chas que poderia ser facilmente ser descartado, do outro, Djimon Houson cria para o seu personagem Midnite um ar de ambiguidade com relação aos seus sentimentos em optar em ser neutro. Agora, a grande surpresa fica por conta da atuação de Peter Stormare como Lúcifer, um personagem que já foi levado aos cinemas de diversas maneiras, mas aqui ele interpreta do seu jeito e cuja a sua apresentação na história pegou muitas pessoas na época desprevenidos.

Logicamente, o final deixa algumas pontas soltas para uma continuação, mas da qual jamais aconteceu. Porém, o filme funciona muito bem independente disso, fazendo com que críticos e fãs o visitassem diversas vezes e ganhando assim um melhor reconhecimento. Mas com os boatos de que Keanu Reeves deseja muito retornar ao personagem, que hoje tem um apelo popular muito maior do que aquela época, quem sabe essa sequência não venha em breve ganhar a luz do dia.
"Constantine" é um filme sobrevivente em meio a tantas franquias de adaptações de HQ para o cinema, ao passar pelo teste do tempo e se tornar um cult de forma merecida mesmo com os seus detratores em volta. 

Onde Assistir: Em DVD, Blu-Ray e Netflix.  

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