Bem antes dos efeitos especiais dominarem as telonas, mundo afora, existia Ray Harryhausen, pioneiros do gênero, talvez um dos mais importantes artesões que o cinema já teve. Mas se você não conhece a figura, fique tranquilo porque, com certeza, em algum momento da vida já esbarrou em algumas de suas bestiais criaturas, criadas a partir de iluminada imaginação. Pode ser tanto Pégaso ou a assustadora Medusa, mitos gregos revisitados pelo artista em "Fúria de titãs" (1981), um de seus trabalhos mais conhecidos, ou esqueletos surgidos do fogo, feras pré-históricas medonhas, trogloditas, animais mecânicos e babuínos quase humanos, personagens do clássico, "Simbad e o olho do tigre" (1977), um dos filmes que marcaram minha infância e de milhares de pessoas nas gloriosas sessões da tarde.
Protagonizado por Patrick Wayne, filho de John Wayne, a fita embarca nas aventuras do mítico marujo de Bagdá pelos sete mares, em busca de terra desconhecida no fim do mundo onde está localiza o Santuário das Curas. É para lá que ele deve levar o príncipe de Charnak, Kassim (Damien Thomas), amigo a quem deve a vida para salvá-lo da maldição da bruxa Zenobia (Margaret Whiting), que o transformou num babuíno.
"Já consultamos os mais conceituados médicos, sábios, sacerdotes e astrólogos, daqui a Alexandria, e nenhum diagnóstico”, desespera o vizir local, tio da vítima. “Por ele eu arriscaria minha vida, por você eu daria”, diz o marujo das mil e umas noites, a Farah (Jane Seymour), princesa a quem jura salvar o irmão para pedi-la em casamento.
A solução para o insólito caso são os conhecimentos e façanhas lendárias do sábio grego, Melanthius (Patrick Troughton), o eremita de Kasgar, refugiado em remota ilha do Egeu, lugar onde homem nenhum colocou os pés. “A mente é uma coisa notável. O pensamento é transferível. Ele viaja pelo espaço, até pelas mentes”, ensina o filósofo. É ele quem irá conduzir Simbad, o marujo, e sua tripulação, rumo ao sagrado templo, encontrando pelo caminho, numa trilha de sombras e segredos envolvendo ciências ocultas como magia negra, alquimia e, claro, fantasia sem fim, as mais incríveis aventuras e feras. “Dizem que é o presente do vento a Apolo”, poetiza o sábio, ao depara com os fenômenos escandinavos da Aurora Boreal.
Lançado em 1977, o filme, massacrado pela estreia retumbante de "Guerra nas estrelas", foi visto com olhos criteriosos pela crítica que classificou as animações, stop motion, de Harryhausen, de toscas, embora inseridas numa trama envolvente. Pior para eles que não entenderam que essa aventura contagiante era um dos poucos exemplares do gênero em que a imaginação ainda era sincera e pura, sem as verborragias e os vazios dos efeitos especiais de hoje. Familiarizado tanto com os sortilégios dos sete mares, quanto com as regalias e intrigas da realeza, Simbad, sempre um homem viril com sua espada árabe nas mãos, é protagonista dos momentos mais marcantes da fita, entre eles o épico duelo com o tigre de dente de sabre do título, na cena final.
Mas é o velho sábio Melanthius o símbolo máximo dessa aventura, o elo perdido entre o homem primitivo, de espírito aventureiro e fragilizado pelo medo do desconhecido, mas também curioso das grandes descobertas da vida. “Arquimedes vai se matar de inveja”, faz troça ao aceitar embarcar nessa grande jornada, evocando outro ícone do conhecimento.
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