Sinopse: Um talentoso graduado estadunidense em Oxford, usando suas habilidades únicas, audácia e propensão à violência, cria um império da maconha usando as propriedades dos aristocratas ingleses empobrecidos.
Guy Ritchie surgiu no final dos anos noventa sendo comparado a Quentin Tarantino graças ao sucesso de crítica "Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes" (1998). Se por um lado a comparação pode ser interpretada como um elogio, do outro, Ritchie tem uma visão própria na realização de seus filmes autorais, mesmo quando ainda há críticos sem sal por aí batendo nesta mesma tecla anos a fio. Mas, embora tenha lançado em seguida o maravilhoso "Snatch - Porcos e Diamantes" (2000), o cineasta cometeu o erro de se casar com a rainha do pop Madonna e lançando o desastroso "Destino Insólito" (2002) protagonizado por ela.
Quando parecia que a sua carreira estava indo para o fundo do poço, principalmente após o desastroso "Revólver" (2005) eis que o divórcio com a cantora lhe serviu bem a saúde, ao ponto de ele voltar aos eixos com o ótimo "RocknRolla - A Grande Roubada" (2008). Com o prestígio resgatado, Ritchie foi convidado para dirigir super produções que, embora não seja a sua praia de se envolver com blockbusters, é preciso reconhecer que os dois filmes de "Sherlock Holmes" (2009 - 2011) são divertidos e do qual o segundo contém todos os vícios com a câmera que o cineasta adora injetar em suas obras. Mas embora "O Agente da U.N.C.L.E." (2015) seja um filme charmoso de sua autoria, novamente, o cineasta cometeu o ato falho em não obter liberdade criativa no problemático "Rei Arthur - A Lenda da Espada" (2017).
Tendo dividas a pagar, é óbvio que Guy Ritchie se vendeu por necessidade aos estúdios Disney para dirigir a versão Live action do clássico "Aladdin" (2019), mas que, convenhamos, é o mais divertido filme dessa leva de versões que ninguém pediu para lançar. Chego até aqui fazendo um resumo dos altos e baixos da carreira desse diretor, do qual possui uma visão autoral, mas que as vezes é preciso vender a alma a Hollywood para uma vez ou outra voltar a fazer filmes de sua autoria. Felizmente, o último pacto com o Diabo deu ao diretor liberdade novamente para dirigir um filme da sua maneira e o resultado é o ótimo "Magnatas do Crime" (2020).
O filme acompanha um traficante graduado em Oxford (Matthew McConaughey) que usa suas habilidades para criar um império de maconha. Porém, quando ele tenta vendê-lo para um colega americano bilionário (Jeremy Strong), uma série de eventos passa a se desenrolar, envolvendo assassinato, chantagens, oligarcas russos, gangsters da Tríade e jornalistas corruptos. Tudo isso narrado pelo jornalista charlatão Fletcher (Hugh Grant).
Guy Ritchie nos pega de jeito em seus primeiros minutos de projeção, já que acontece um momento imprevisível e do qual somente iremos ver os desdobramentos disso mais adiante. Até lá, a trama vem e volta no tempo, como se a intenção do diretor seja para que prestemos atenção no emaranhado de subtramas, mas das quais são todas envolvidas em uma única linha de teia. Com isso, temos todo o direito do mundo de prestigiarmos uma trilha sonora que empolga, uma edição de cenas frenéticas e cuja a câmera do cineasta viola as leis da física.
Como se isso tudo já não bastasse, o cineasta tem a proeza, novamente, de comandar um elenco ilustre e que cada um consegue dar o melhor de si em suas criativas cenas dirigidas pelo cineasta. Mas se temos Matthew McConaughey como protagonista e rei da maconha dentro da trama, por outro lado, Hugh Grant rouba a cena no que, talvez, seja a melhor atuação de sua carreira. Narrando toda a trama do começo ao fim dela, Hugh Grant de nada lembra aquele garoto que se consagrou em comédias românticas inglesas dos anos noventa e criando assim um personagem sarcástico e do qual jamais será esquecido.
Como um todo, o filme nos faz relembrar os principais e melhores títulos do cineasta citados acima, mas tendo luz própria de sua maneira e que merece ser degustada. O diretor pode ter vendido a sua alma algumas vezes para a fábrica dos sonhos, mas nunca abandonou a sua visão autoral como um todo. "Magnatas do Crime" é uma prova que Guy Ritchie não se vendeu por completo ao jeito fácil de fazer filmes em Hollywood e nos brindando com um filme que é uma injeção na veia para aqueles que procuram oxigênio de criatividade na medida certa.
Onde Assistir: TELE CINE PLAY