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Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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domingo, 24 de novembro de 2019

Cine Dica: Em Cartaz: 'Azougue Nazaré' - Estado laico acima de tudo

Sinopse: Em uma cidade do interior, em meio aos canaviais, um grupo de pessoas vive suas vidas, suas tensões, seus desafios, seus sonhos e também pratica rituais fantásticos à espera da chegada dos dias de festa.

Tanto "Aquarius" (2016), como "Boi Neon" (2015), "Bacurau" e "Divino Amor", são filmes que mostram toda a força e potencial do cinema nordestino. Em comuns, ambos são produzidos pelo produtor Tiago Melo e que foram distribuidos, tanto no restante do Brasil como ao redor do mundo. Em seu primeiro trabalho na direção, "Azougue Nazaré" fala de um estado laico, mas que corre sério perigo.
O filme conta a história de diversos acontecimentos misteriosos que assombram os moradores de Nazaré da Mata, município de Pernambuco.  O Carnaval, a maior festa brasileira, conhecida internacionalmente, mobiliza as populações de diversas cidades Brasil afora. E nesta cidade do interior, em meio aos canaviais, um grupo de pessoas vive suas vidas, suas tensões, seus desafios, seus sonhos e também rituais fantásticos à espera da chegada dos dias de festa.
transitando entre documentário e ficção,  Tiago Melo dirige tanto atores como também pessoas reais que convivem daquela vasta cultura no seu dia a dia. Isso faz com que adentremos com facilidade naquele universo do  Maracatu e cuja as suas raizes africanas florecem até hoje em nosso território nacional. Porém, devido expanção do evangelismo, há uma crescente tensão no ar, onde o atrito entre as duas religiões começa a se intencificar.  Tiago Melo transita entre essas realidades, onde das quais vemos pessoas comuns em conflito e que procuram algum significado no cenário que estão convivendo.
Ao mesmo tempo, é curioso que há elementos do gênero fantástico, do qual fica em segundo plano, mas que chama atenção ao se misturar com realismo proposto pelos realizadores. A transição entre o real e ficção acaba se tornando tão verossimil que acabamos não nos dando conta desses detalhes que, por sua vez, ficam pelo caminho no decorrer do tempo. Se por um lado isso possa parece um furo em um primeiro momento, por outro lado, isso também pode ser perdoado, já que o mundo real pode se tornar as vezes muito mais assustador do que qualquer entidade sobrenatural.
Ao testemunharmos, por exemplo, a richa entre os que praticam  Maracatu e o  evangelismo, contatamos que isso é pequeno cenário que representa o Brasil atual como um todo. Se por um lado nos dizem que o Brasil é um estado laico, do outro, o filme nos diz que esta verdade se encontra somente na superficie e que a verdade está mais embaixo do que nós imaginamos. Ao vermos um grupo de evangélicos armados, prontos para assassinar um pai de santo, constatamos que as religões, por vezes, se tornam mera desculpa para as pessoas liberarem o que há dentro delas.
Nesse cenário, há dois lados da mesma moeda, que em comum lutam pelo que acreditam naquele cenário de incertezas. Se por um lado temos um pastor (Mestre Barachinha) que acredita cegamente na palavra da biblia, por outro lado, temos Catita (Valmir do Côco), que balança em ficar na sua velha tradição ou abraçar a ideia da evangelização. Vale destacar atuação de ambos os atores, principalmente de Valmir do Côco que se transforma em cena toda vez que o seu personagem abraça o seu verdadeiro papel em sua terra.
Por fim, é um filme em que retrata toda a riquesa da cultura nordestina, mas que da qual sofre pela interferencia de novas ideias surgindo atualmente em um Brasil indefinido. Em tempos em que religão e política se misturam, cada vez se vê um perigo real do estado laico ser censurado e predominar uma única religão por interesses escusos. Cabe a união do povo manter as suas opniões próprias, suas crenças e suas raizes que os fazem ser o que são como pessoa.
"Azougue Nazaré" é sobre o Brasil e o seu estado laico e do qual merece sempre ser preservado. 


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quarta-feira, 3 de julho de 2019

Cine Dica: Em Cartaz: 'Divino Amor' - O Futuro está Entre Nós

Sinopse: Em um futuro próximo, Joana trabalha como escrivã em um cartório e, profundamente religiosa e devota à ideia da fidelidade conjugal, sempre tenta demover os casais que volta e meia surgem pedindo o divórcio. Porém, a situação muda quando ela própria enfrenta uma crise em seu casamento. 

Os filmes de ficção, digo aqueles que propõem que a gente faça uma reflexão, nos apresentam quase sempre tramas que são na realidade uma metáfora com relação ao nosso próprio presente. Em tempos nebulosos atuais do Brasil, onde a igreja evangélica tenta ditar as regras no Supremo, isso acaba servindo para se fazer com que a gente pense sobre o nosso futuro inconclusivo. "Divino Amor" é corajoso ao recriar um futuro não muito distante do nosso Brasil, mas que fala muito sobre esses tempos conservadores de hoje e que, por vezes, soam muito hipócritas.
Dirigido por  Gabriel Mascaro, do filme "Boi Neon" (2015), o filme conta a história de Joana (Dira Paes), que trabalha como escrivã em um cartório, do qual é profundamente religiosa, devota à ideia da fidelidade conjugal e que sempre tenta demover os casais que volta e meia surgem pedindo o divórcio. Por esse posicionamento firme consigo mesma, ela sempre fica na espera de algum reconhecimento, pelos esforços feitos e no desejo de um dia ser mãe. Contudo, a situação muda quando ela própria enfrenta uma crise e que fará ela se testar perante sua fé.
Embora se passe no futuro, mais precisamente no ano de 2027, "Divino Amor" não se distancia visualmente do nosso mundo atual, principalmente ao possuir uma fotografia e edição de arte que remete esses tempos de nostalgia com relação aos anos 80. Ao mesmo tempo, se assemelha ao universo da ficção vista em “1984”, do escritor inglês George Orwell, e ou “Metrópolis”, do cineasta alemão Fritz Lang e cujas as obras eram uma metáfora sobre a época em que elas haviam sido criadas. "Divino Amor" é sobre o Brasil atual, cada vez mais embriagado por lições hipócritas de algumas religiões, mas que por de trás da cortina há planos maiores para se contestar.
Não que Gabriel Mascaro esteja jogando pedras contra aos evangélicos, pois ao meu ver, o que é mostrado ali não é muito diferente do que se é mostrado nos infindáveis cultos que se espalham nas tvs abertas hoje em dia. Mas, curiosamente, há uma informação que o Brasil daquele futuro ainda é laico, mas uma única religião domina os meios burocráticos e que, por vezes, tornam as pessoas muito mais fáceis de se tornarem um novo rebanho. Esse rebanho, aliás, se torna o combustível para os que dizem que servem a Deus, quando na verdade há uma grande hipocrisia por detrás de cada palavra.
A protagonista Joana é uma grande devota, incapaz de recuar no que acredita, mesmo quando os seus sonhos quase nunca são alcançados. Na medida em que a trama avança, percebemos uma figura forte por fora, mas prestes a desmoronar por dentro, mesmo continuando no que acredita como um todo. Dira Paes obtém uma ótima atuação em cena, já que Joana é uma pessoa que guarda para si uma força que ela própria não compreende, mas que acredita cegamente em uma força maior para ser seguida fielmente.
No momento em que ela realiza o seu sonho tão desejado, é aí que a hipocrisia e a burocracia, da qual ela tanto convive no seu dia a dia, é direcionado contra ela, mesmo tendo sido devota até o seu final. Embora o ato final já tenhamos uma ideia do que irá acontecer, é interessante ressaltar a coragem dos realizadores em nos trazer uma proposta como essa e que nos faça pensar, independente de qual religião você tiver. “Divino Amor” é uma pequena obra contestadora e que experimenta contestar sobre o caminho em que o Brasil pode chegar. 


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