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Sapucaia do Sul/Porto Alegre, RS, Brazil
Sócio e Diretor de Comunicação e Informática do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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quarta-feira, 28 de julho de 2021

Cine Dica: Em Cartaz: 'Ana. Sem Título'

Sinopse: Misto de documentário e ficção, o filme acompanha Stela, uma jovem atriz brasileira, que decide fazer um trabalho sobre as cartas trocadas entre artistas plásticas latino-americanas nos anos 1970 e 1980. 



Em tempos em que a extrema direita pelo mundo, principalmente na América Latina, tenta governar usando diversos fake news para até mesmo acobertar passados tenebrosos da opressão, por outro lado, o cinema foi peça fundamental para que a verdade sobre os fatos jamais seja esquecida. O documentário "Santiago, Itália" (2018), por exemplo, mostra o horror do golpe no Chile, onde os militares mataram o até então Presidente Salvador Allende, além de diversas pessoas terem sido presas, torturadas e mortas em um estádio de futebol. "Ana, Sem Título" (2021), por sua vez, procura não somente revisitar esses cenários, como também diversos pontos da América latina que sofreram com golpes militares e procurando reaver pistas de pessoas que viveram e morreram naqueles tempos.

Dirigido por Lucia Murat, do filme "Praça em Paris" (2016), o documentário é livremente inspirado na peça “Há mais futuro que passado”, onde conta a história de Stela (Stella Rabello), uma jovem atriz brasileira, que decide fazer um trabalho sobre as cartas trocadas entre artistas plásticas latino-americanas nos anos 70 e 80. Viaja para Cuba, México, Argentina e Chile à procura de seus trabalhos e de depoimentos sobre a realidade que elas viveram durante as ditaduras que a maior parte desses países enfrentaram na época.  Em meio à investigação, Stela descobre a existência de Ana, uma jovem brasileira que fez parte desse mundo, mas desapareceu. Em 1968, Ana foi do sul do Brasil, de uma pequena cidade do interior, para a efervescente Buenos Aires, que vivia um momento de mudança nas artes plásticas e no comportamento. Obcecada pela personagem, Stela resolve encontrá-la e descobrir o que aconteceu com ela.

Assim como diversas obras brasileiras recentes como, por exemplo, "Branco Sai, Preto Fica" (2014), a obra de Lucia Murat transita entre a ficção e a realidade, sendo que chegamos ao ponto que acreditamos realmente que Ana existe, pois todos os lugares e fatos que a protagonista testemunha realmente aconteceram, seja como uma possível artista chamada Ana, ou com qualquer outra pessoa que pensava diferente com relação a realidade em que vivia em sua volta. A procura por Ana é uma bela desculpa para Stela se aventurar nos principais cenários que serviram de palco em tempos, tanto revolucionários, como também aqueles que sofreram fortes golpes militares entre os anos sessenta e setenta. Se por um lado vemos uma Cuba sobrevivendo entre a cultura, socialismo, além de servir de exemplo positivo com relação ao seu regime Comunista, do outro, vemos países como Argentina, México e Chile que hoje vivem através da democracia, mas que não escondem cicatrizes que ainda carregam de tempos ditatoriais e que procuram não se esquecer. 

Em cada lugar que Stela passa ela vai conhecendo pessoas, das quais sofreram perseguições ferrenhas dos governos daqueles tempos, que lutaram para manter e viver com as suas ideias culturais e sociais intactas. Além disso, o documentário faz questão de se aventurar em museus que servem de memorial para as pessoas que morreram ou ainda se encontram desaparecidas até hoje. Cada foto vista na tela é uma história a ser contada, das quais a maioria se assemelha uma com a outra.

No ato final, talvez o mais emblemático, testemunhamos o cenário do estádio de futebol onde serviu de prisão e tortura para milhares de pessoas após o golpe no Chile e cuja as marcas daquele período ainda se encontram nas paredes até hoje. Dentre essas diversas pessoas uma poderia ser Ana, mas cuja a mesma poderia ter sido calada unicamente por ser negra, politizada, socialista e que não se enquadrava na realidade daqueles que davam ordens ou matava. O ponto final da vida de Ana, enfim, se encontra em uma cidade comum do RS, mas se tornando uma representação de diversas vidas que queriam ser lembradas, mas cuja as adversidades políticas frearam as suas vidas precocemente.

"Ana, Sem Título" não é sobre uma personagem, mas sobre diversas vozes reais que não serão caladas, mesmo quando houver opressores que acham que terminaram o trabalho contra elas. 



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