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Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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quarta-feira, 9 de setembro de 2020

Cine Dica: Durante a Quarentena Assista: ‘O Relatório’

Sinopse: O idealista Daniel J. Jones (Adam Driver), encarregado pela senadora Dianne Feinstein (Annette Bening) de liderar uma investigação sobre o Programa de Detenção e Interrogatório da CIA, criado após os atentados de 11 de setembro. 

"A Hora Mais Escura" (2013), da diretora Kathryn Bigelow, nasceu como um projeto ao retratar o esforço da CIA, liderado por uma agente, interpretada pela atriz Jessica Chastain, de capturar Osama Bin Laden. Durante as filmagens Osama acabou realmente sendo capturado e fazendo com que os realizadores colocassem esse momento dentro do projeto. O filme foi lançado com esse final, mas a pergunta que fica no ar até hoje é, até que ponto tudo aquilo foi realmente real?
Após o 11 de Setembro o cinema norte americano mudou, ao menos para o cinema de ação e do qual não havia mais lugar para um personagem que representava o exército de um homem só. Surgiu ao longo do tempo filmes que questionam até mesmo os esforços do governo dos EUA em capturar os terroristas, sobre a questão da invasão do Iraque ter sido absurda e até que ponto os fins justificam os meios. "O Relatório" é um filme que desvenda uma parte vergonhosa da história política daquele país, mas que pode até mesmo ter sido apenas a ponta de um iceberg.
Dirigido por Scott Z. Burns, o filme retrata eventos após o de 11 de setembro de 2001, onde a CIA passou a adotar o uso da tortura como meio de obter informações de pessoas consideradas ameaças ao país, sob a justificativa de evitar a todo custo que um ataque do tipo acontecesse mais uma vez. Trabalhando para a senadora Dianne Feinstein (Annette Bening), o agente Daniel J. Jones (Adam Driver) inicia, em 2007, uma investigação interna acerca de denúncias sobre a destruição de fitas de interrogatório por parte da CIA, divulgadas através de reportagem publicada pelo jornal New York Times. Com muita dificuldade em conseguir os documentos necessários, Daniel dedica-se ao relatório por quase uma década.
Com uma edição dinâmica, Scott Z. Burns jamais deixa o ritmo da trama decair, pois faz com que o seu protagonista seja sempre direcionado para novas informações que o faça revelar novas histórias para nós. Ao mesmo tempo, a trama vem e volta no tempo, mas ao invés de confundir, isso faz com que tenhamos melhores informações para que a gente obtenha um mosaico de situações sobre o que realmente acontecia nos porões da CIA. O resultado nos cria um verdadeiro déjà vu, já que as polêmicas sobre as possíveis torturas que os agentes provocaram contra possíveis terroristas escandalizaram o mundo ao ser noticiado pela imprensa na época.
Claro que o filme não foge de comparações com relação a outros filmes com a mesma temática, como no caso recente "Snowden" (2016), ou até mesmo de clássicos como "Todos Os Homens do Presidente"(1976). Assim como "O Relatório" ambos os filmes falam sobre a corrupção dentro do coração de Washington, porém, Scott Z. Burns obtém a diferença através do bom desempenho dos seus atores, em especial ao protagonista Adam Drive e a coadjuvante Annette Bening. Se por um lado Drive novamente nos brinda com uma ótima interpretação sua, do outro, Annette Bening nos faz desejar que a vemos novamente em novos projetos futuros.
"O Relatório" é um ótimo filme investigativo e sintetizando o fato que os fins não justificam os meios através de atos tão bárbaros. 

Onde Assistir: Amazon Prime Video

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quinta-feira, 1 de agosto de 2019

Cine Especial: Clube de Cinema de Porto Alegre: 'O Homem que Matou Dom Quixote' - Delírios e Ilusões

Sinopse: Sinopse: Um velho sapateiro espanhol que acredita ser Dom Quixote confunde Toby, um arrogante diretor de comerciais, com seu escudeiro Sancho. 

Assim como outros cineastas autorais, Terry Gilliam é um estranho no ninho dessa Hollywood atual, da qual essa última está cada vez mais se tornando submissa a franquias infinitas e com o único intuito de atrair as massas. Em meio a esse redemoinho ele pode até parecer um louco, mas é preciso de loucos como ele para o cinema continuar sendo considerado como arte. Aliás, só mesmo sendo louco como ele para concluir "O Homem que Matou Dom Quixote" (2018), um filme cuja a produção se tornou um inferno, mas devemos agradecer ao tinhoso por ter acontecido isso.
O filme conta a história do jovem cineasta Toby (Adam Driver), que viaja à Espanha para filmar uma versão barata de Dom Quixote. Para o ator principal, ele escala um sapateiro da região (Jonathan Pryce), que nunca trabalhou no cinema na vida. Doze anos se passam, e Toby, agora um experiente diretor de comerciais de televisão, tem a oportunidade de fazer uma superprodução também baseada no livro de Cervantes. Ele retorna à Espanha, começa as gravações, mas logo enfrenta uma total crise criativa. Em meio a essa situação, Toby descobre que o sapateiro enlouqueceu, pois acredita realmente que é Dom Quixote e acha que Toby seja o seu Sancho Pança.
Difícil imaginar como seria a versão inicial de Terry Gilliam com relação ao clássico literário, já que o cineasta levou trinta anos para finalmente lançar a sua obra. Em meio aos acidentes de set, tempestades, desistência do elenco e estouro de orçamento, parecia que o filme estaria sendo condenado ao limbo. Felizmente Gilliam não desistiu do seu sonho, pois além de concluir a sua obra, é mais do que claro que o filme se tornou uma síntese de toda essa jornada.
Para começar, o filme não é basicamente sobre Dom Quixote si, mas sim sobre o verdadeiro circo que é para a realização de um projeto e como os engravatados dos estúdios podem ser implacáveis quando o assunto é dinheiro. Toby seria uma espécie de álter ego de Terry Gilliam, do qual se vê mastigado pelas engrenagens dos produtores enquanto o seu talento como cineasta é afogado pela falta de inspiração e não conclusão do seu sonho. Qualquer semelhança com o clássico "Oito e Meio" (1963) de Federico Fellini não é mera coincidência.
Uma vez que Toby parte por uma encruzilhada, da qual fará com ele tenha o encontro com o seu antigo astro, o filme como um todo irá se dividir entre a realidade e fantasia, pois estamos falando sobre Dom Quixote e o gênero fantástico não poderia ficar de fora. É aí que o cineasta usa e abusa de sua edição de arte impecável, fotografia de cores vibrantes e um figurino que remete aos seus bons tempos de produção do clássico "Monty Python Em Busca do Cálice Sagrado" (1975).
Para o fã mais rígidos do livro, talvez o filme não venha a cumprir com as suas expectativas como um todo, mas isso seria um verdadeiro passo em falso em acreditar nesse pensamento. Para começar, só mesmo a excentricidade vinda do cineasta para conseguir captar a essência da sua fonte de inspiração e fazer com que o seu lado autoral se cassasse com o lado excêntrico e filosófico vindo do livro de Miguel de Cervantes. O resultado é peculiar, imprevisível, e por isso mesmo imperdível.
O filme serve também como escada para prestarmos cada vez mais atenção no ator Adam Drive. Revelado ao mundo na nova trilogia de "Star Wars", Drive tem se destacado também em filmes mais autorais, como no caso do "Infiltrado na Klan" (2018) e aqui o seu personagem vai crescendo na medida em que adentra ao universo de Dom Quixote e fazendo com que ele enfrente a sua própria insanidade. O ato final não só respeita a sua fonte como um todo, como também encerra de uma forma mais do que satisfatória uma jornada árdua que levou trinta anos para ser concluída.
"O Homem que Matou Dom Quixote" é o "Apocalypse Now" de Terry Gilliam, mas que, felizmente, conseguiu também sobreviver para nos brindar com mais uma de suas excentricidades. 

Nota: O filme será exibido para associados do Clube de Cinema de Porto Alegre agora nesse próximo sábado, as 10:15 na Sala Eduardo Hirtz (Casa de Cultura Mário Quintana).  


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