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Sapucaia do Sul/Porto Alegre, RS, Brazil
Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

Cine Dica: Em Cartaz: 'A Mulher Que Fugiu'

Sinopse: Enquanto o marido está em viagem de negócios, Gam-hee visita três mulheres nos arredores de Seul. Ela primeira visita dois amigos íntimos em suas casas; o terceiro, um conhecido mais velho, ela encontra por acaso em um cinema independente. 


Sang-Soo Hong é o queridinho de muitos cinéfilos e motivos para isso é o que não faltam. Em seus filmes se fala de tudo um pouco, desde falar sobre ele mesmo, como também cinema, relacionamentos ou simplesmente assuntos rotineiros que moldam o filme como um todo. "A Mulher Que Fugiu" é mais uma obra que presta, tanto homenagem ao modo de se fazer cinema, como também de sua pessoa.

O filme conta a história de Gamhee (Min-hee Kim), que encontra três amigas nos arredores de Seul. Elas mantêm uma conversa amigável, como sempre, mas existem diferentes correntes fluindo independentemente uma da outra, acima e abaixo da superfície. Na medida em que a trama avança vamos conhecendo mais de sua pessoa.

Assim como em seus filmes anteriores, Sang-Soo Hong cria a sua trama através da sua simplicidade, onde o encontro de amigas se torna o coração do filme e cujo os seus diálogos fazem disparar a nossa imaginação como um todo. É exatamente isso que o diretor quer que a gente faça, que comecemos a imaginar as subtramas a partir dos diálogos das personagens, desde o marido da protagonista que nunca surge em cena, como também de determinados vizinhos que são descritos, mas nunca surgem a frente dos nossos olhos. Isso cria um criativo jogo mental, para que possamos juntar as peças e ver se há algum significado para tantas informações que são disparadas por meio dos diálogos.

Além disso,  Sang-Soo Hong presta uma homenagem ao cinema em diversas formas, como no caso da protagonista assistir determinada situação em uma câmera de segurança. A personagem, aliás, reage de acordo com o que acontece na telinha em que ela testemunha e cuja a sua reação não é muito diferente da nossa. Qualquer semelhança com o clássico "Janela Indiscreta"(1954) do mestre Alfred Hitchcock não é mera coincidência, já que ambos os casos as duas tramas se passam em um condômino e os cineastas prestam uma homenagem ao cinema como todo.

Mas, se por um lado o mestre do suspense viajava entre as janelas dos vizinhos com a sua câmera, para que cada uma delas constasse uma história, do outro, Sang-Soo Hong usa quase o mesmo esquema, mas mantendo-se fiel a sua visão autoral e na sua proposta. Reparem, por exemplo, na cena em que a câmera atravessa a janela, foca três personagens visitando um galinheiro, para logo depois a câmera recuar a adentrar em um novo apartamento e para sim começar uma nova história. A personagem de  Gamhee (Min-hee Kim), por sua vez, sempre se encontra presente, como se fosse uma espécie de nossa guia para conhecermos novos personagens.

Curiosamente, se percebe que alguns diálogos da protagonista vão se repetindo, mas que se diferente se formos comparar com cada situação. Se na primeira visita que ela faz a uma amiga dá a entender que o seu casamento de cinco anos é um mar de rosas, na outra conversa em outro apartamento ela transmite que não é bem assim e fazendo a gente ficar na dúvida sobre a sua real situação amorosa. Esse mesmo artifício o diretor já havia usado "Certo Agora, Errado Antes" (2015), mas em proporções muito maiores.

Além disso, novamente, o diretor aproveita para falar não somente sobre cinema, como também de sua pessoa com relação a relações amorosas. Não é novidade para ninguém, por exemplo, que a sua relação com atriz Min-hee Kim fora das telas tem ganhado força e suas histórias contadas em seus filmes seriam uma espécie de metáfora sobre a transformação gradual desse relacionamento que ele vai construindo no lado de cá da tela. Isso também serve como uma leve desculpa para ele criar uma espécie de filme dentro do filme e o ato final sintetiza muito bem isso, pois estamos diante de sua arte e do seu próprio conflito interno se chocando a todo momento.

"A Mulher Que Fugiu" é tudo aquilo que se espera do cineasta Sang-Soo Hong, desde os diálogos na cozinha, no bar ou na cafeteria e a gente só agradece pela sua forma de contar boas histórias. 



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quinta-feira, 20 de maio de 2021

Cine Dica: Streaming: 'Amor e Monstros'

 Sinopse:  Sete anos após ter sobrevivido ao apocalipse dos monstros, o infeliz e adorável Joel deixa seu bunker subterrâneo aconchegante em uma jornada para encontrar sua ex-namorada. 

Com tantos filmes apocalípticos sérios lançados nos últimos anos nunca é demais ser lançado um que transita entre humor e uma boa aventura. "Zumbilandia" (2009), por exemplo, é criativo ao cruzar humor com o horror e alinha-lo com uma boa dose de cultura pop. "Amor e Monstros" (2021) é divertido por nos soar familiar, divertido e até mesmo reflexivo em alguns momentos.

Dirigido por Michael Matthews, o filme conta a história de criaturas gigantes que assumem o controle da terra, fazendo com que o resto da humanidade busque por refúgio no subsolo. Após sete anos do apocalipse dos monstros, Joel Dawson (Dylan O’Brien) consegue se reconectar via rádio com Aimee (Jessica Henwick), sua namorada da época de escola, e a paixão ressurge. Mesmo com ela vivendo a quase 130 km de distância, Joel percebe que não há nada que o prenda ao subterrâneo e resolve ir em busca de Aimee, apesar de todos os perigos que possam aparecer em sua jornada.

Com um prólogo magistral, o filme começa em narração off, onde o protagonista nos conta passo a passo como aconteceu o nascimento dos monstros e sem muitas delongas, já que a proposta principal é já nos colocar no meio da aventura. Aventura, aliás, começa quando o protagonista decide sair do buraco e partir em busca do seu amor perdido. O motivo da missão se torna uma mera desculpa, já que o verdadeiro charme dessa aventura é vermos o protagonista amadurecer, fazer amigos e enfrentar os seus piores pesadelos.

Para o cinéfilo com olhar atento com certeza irá fisgar velhas fórmulas de sucesso desse tipo de filme, desde o protagonista se encontrando com andarilhos que irão lhe dar lições de sobrevivência, como também a aparição de um cachorro que irá se tornar o seu parceiro. Aliás, fazia tempo que eu não via um cachorro tão expressivo como esse, que aqui é chamado de "garoto" e sendo protagonista dos momentos de maior puro suspense. Atenção para a cena em que o mesmo é encurralado por um monstro da terra e fazendo da situação bastante angustiante.

Tecnicamente o filme possui um visual claro e bastante limpo, mesmo para um filme cheio de efeitos visuais, mas cujo os mesmos estão ali não de forma gratuita, mas sim para se casar com a proposta principal da história. Os monstros, por sua vez, são bastante interessantes, expressivos e nos passando até mesmo uma sensação de peso em determinadas cenas. Não é à toa que o filme ganhou até mesmo uma indicação ao Oscar de efeitos visuais neste ano.

No final das contas, é um filme que reflete sobre os dilemas do mundo que estamos vivendo, principalmente em tempos de pandemia e que muitos se encontram isolados. O medo é uma ferramenta importante para nos lembrarmos dos perigos do mundo, mas é preciso também ter coragem e nos levantarmos contra os obstáculos que nos freiam em nossa jornada. O protagonista aprende da melhor e pior maneira possível e conseguindo, enfim, dar um grande passo para o seu amadurecimento.

"Amor e Monstros" é diversão pura, reflexivo na medida certa e nostálgico do começo ao fim de sua jornada. 

Onde Assistir: Netflix. 

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terça-feira, 18 de maio de 2021

Cine Dica: Streaming: 'Upgrade'

Sinopse: Gray tem a mulher assassinada e fica com o corpo paralisado. Porém, com uma tecnologia avança, consegue a chance de se locomover e buscar vingança.  

Leigh Whannell vem construindo uma carreira solida como um cineasta autoral e com ideias criativas dentro do gênero de horror e ficção. Trabalhando desde cedo pelo estúdio Blumhouse Productions, através como produtor e roteirista de franquias como "Jogos Mortais" e Sobrenatural", Whannell obteve o seu primeiro grande sucesso como diretor no bem sucedido sucesso de público e crítica "O Homem Invisível" (2020). Em "Upgrade" (2018) ele consegue demonstrar ainda mais seus dotes como cineasta autoral e não decepciona.

A trama se passa em um futuro próximo, onde a tecnologia controla quase todos os aspectos da vida. Mas quando Gray (Logan Marshall-Green), um tecnofóbico, tem seu mundo virado de cabeça para baixo, sua única esperança de vingança é um implante experimental de chips de computador chamado Stem. O que ele não sabe é que ele e a inteligência artificial se tornaram um só.

Visualmente se percebe que o cineasta bebeu muita da fonte da série cultuada "Black Mirror", da qual nos apresenta tramas em que a tecnologia vista ali não é muito diferente da nossa atual. Em ambos casos, são obras que falam sobre o poder cada vez maior dessas tecnologias, fazendo do ser humano cada vez mais dependentes a elas e fazendo com que, enfim, a gente perca a nossa própria identidade. Ao mesmo tempo, é uma trama em que mostra a tecnologia cada vez mais evoluindo, mas ao mesmo tempo fazendo com que muitos de nós percam o seu emprego e se tornando miseráveis e caindo no esquecimento.

Embora com essa forte carga de crítica contra o sistema capitalista, o filme também é entretenimento de primeira, mas que jamais se esquece da proposta principal da trama. Tecnicamente o filme é um show com o uso da câmera, já que Leigh Whannell a usa para registrar cada movimento do protagonista quando o mesmo usa a sua tecnologia interna. Com isso se tem momentos em que a câmera faz um giro de 360º graus, ou momentos de plano-sequências mirabolantes e cuja essa maneira de se filmar seria vista também em "O Homem Invisível".

Mas embora a trama seja criativa ela não é muito diferente do que já foi visto em filmes, literatura ou HQ em que se explora o subgênero cyberpunk. Porém, ela se torna corajosa quando se envereda por terrenos que raramente os realizadores se arriscam, mas fazendo com que se faça a diferença e ganhando assim até mesmo atenção de uma crítica mais exigente. Logan Marshall-Green pode até não ser um grande ator, mas se sai muito bem em determinadas cenas dramáticas e se virando bem em momentos em que se exige um bom preparo físico.

Com um final que daria espaço para uma eventual continuação, até mesmo para um série de tv,"Upgrade" é corajoso em sua proposta, ao retratar um futuro não muito diferente do nosso presente e fazendo a gente até mesmo temer pela perda de nossa própria realidade.  

Onde Assistir: Netflix.

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segunda-feira, 3 de maio de 2021

Cine Dica: Streaming: 'Se a Rua Beale Falasse’

Sinopse: Tish está esperando um filho enquanto luta para livrar seu marido de uma acusação criminal injusta e de subtextos racistas, a tempo de tê-lo em casa para o nascimento de seu bebê.

Embora tenha todos os ingredientes para se tornar o mais novo clássico do cinema, “La La Land” (2016) havia estreado num momento de mudanças, infelizmente, retrógradas, tanto nos EUA, como também no resto do mundo. Portanto, premiar o filme com o prêmio máximo da indústria do Oscar, não seria somente um erro, como também esconder o sol com a peneira com os prelúdios momentos em que a sociedade estava passando e, que ainda vive, nesse momento. Portanto, a vitória de “Moonlight: Sob a Luz do Luar” (2016), não foi somente um trunfo contra o ultra conservadorismo, como também uma dica que o cinema como um todo não se curvasse perante óbvio.

Dirigido por Barry Jenkins, o filme não falava somente sobre a luta árdua do homem negro diante de uma sociedade preconceituosa, como também explorava questões importantes sobre a luta da comunidade LGBT e que jamais deve deixar de ser debatida. O sucesso do filme foi o suficiente para o cineasta abraçar novas ideias para serem exploradas, mas que houvesse a mesma simetria de questões para ainda serem revistas. Em “Se a Rua Beale Falasse” o cineasta chega a um novo patamar sobre assuntos vistos e revistos por nós, mas que nunca podem deixar de ser extintos.

Aliás, o filme começa como se fosse uma alfinetada contra “La La Land”. Com cores quentes e alegres, o Barry Jenkins brinca com a expectativa do cinéfilo que assiste, achando que irá assistir uma bela história de amor, mas com o tempo vai se mostrando o oposto disso. Com a trama se passando nos anos 70, o filme retrata a luta da comunidade negra, seja ela focada no casal central que busca o seu lugar ao sol, como também não se esquecendo das mazelas do mundo real.

É nessa questão que o filme se eleva, ao transitar entre a ficção (baseado no livro de James Baldwin) e realidade. Além do filme ir e voltar no tempo, ao mostrar a construção do relacionamento principal, ele mostra atos e consequências reais de uma justiça racista, de tempos aos quais não deveria retornar. Infelizmente, em tempos de Trump e Bolsonaro, é preciso que se coloque o dedo na ferida novamente e nos mostre que as sementes do mal sempre estão por lá.

Contudo, a história de amor formada pelo casal central é realmente cativante, porém, trágica. Tish Rivers (KiKi Layne) e Fonny Hunt (Stephan James), dois amigos de infância que começam a namorar no início da vida adulta, mas que veem seu futuro abalado quando o rapaz é acusado de um crime injustamente. O filme conta ainda com as presenças de Regina King, Colman Domingo, Michael Beach, Diego Luna, Pedro Pascal e Dave Franco. Vale mencionar o ótimo desempenho de Regina King e que sempre dá um show de interpretação em cena sempre quando ela aparece.

Embora fiquemos na expectativa com relação ao destino de Fonny na prisão, Barry Jenkins nos deixa claro que essa não é a questão principal do filme, mas sim explorar as questões sociais de tempos longínquos, porém, mais atualizados do que nunca. Embora não tenha o mesmo potencial de Moonlight, é um filme que tem muita a dizer sobre si, especialmente sobre a injustiças e preconceitos que teimam em não morrer. “Se a Rua Beale Falasse” é um exercício bem executado sobre tempos injustos.

Onde Assistir: Amazon Prime. 

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quinta-feira, 29 de abril de 2021

Cine Especial: Cine Debate: 'O Coro'

Sinopse:  Garoto problemático tem segunda chance na vida através de uma escola de Coro.  

O cinema possui inúmeros filmes em que se explora a música em sua total magnitude e que, por vezes, desafia os seus protagonistas a se superarem na vida através dessa arte. "Whiplash: Em Busca da Perfeição" (2014) talvez seja o melhor exemplo com relação a esse meu pensamento e sendo facilmente apontado como um dos melhores filmes desses últimos dez anos. Embora não chegue ao nível de perfeição, "Coro" (2015) é delicioso ao assisti-lo, ao nos identificarmos com os protagonistas que buscam o seu talento no mais profundo do seu ser.

Dirigido por François Girard, do filme "Violino Vermelho" (1998), o filme conta a história de Stet (Garrett Wareing), um confuso garoto-problema de 11 anos de idade, que sofre com a recente morte de sua mãe solteira em um acidente de carro. Ele acaba em um internato, onde ele se sente um peixe fora d'água. Logo, ele bate de frente com o maestro do coral do colégio, Carvelle (Dustin Hoffman), que reconhece algo especial na voz de Stet. O professor vai influenciá-lo a descobrir seu dom criativo na música e o jovem rebelde vai provar que consegue atingir os padrões exigidos para participar do coral, orgulho da famosa escola.

O primeiro ato já nos pega um pouco desprevenido, não só pelo fato da morte repentina da mãe do protagonista, como também pelo fato do mesmo nos surpreender em possuir o dom pela música mesmo aparentando ser um rebelde sem causa. Na medida em que a trama avança, o jovem acaba aos poucos abaixando a guarda e deixando a magia da música molda-lo para uma realidade que antes ele desconhecia, mas da qual ele sempre tinha a chave para abrir a porta. Logicamente ele recebe ajuda daqueles que enxergam nele algo muito além de um simples jovem, mesmo quando alguns ainda ficam na dúvida sobre ele.

Tecnicamente o filme é aquela típica obra que poderia ser facilmente exibida nos finais de ano, já que a trama sempre tem como pano de fundo momentos festivos como o natal e a músicas do coral sintetizam muito bem essa minha visão. Com uma fotografia de cores que transita entre o frio e o colorido, isso acaba por ser uma espécie de representação das mudanças que o jovem protagonista vai passando, desde ao se tornar um dos principais do coral, como também o fato dele ir amadurecendo e conseguindo obter assim o seu caminho. Por conta disso, o personagem de Dustin Hoffman nada mais é do que uma espécie de mentor que, embora não tenha o mesmo patamar de outros grandes mentores do cinema, o veterano ator consegue fazer o dever de casa ao construir um personagem que transita entre o seu lado pretensioso e a humildade na medida certa.

Como não poderia deixar de ser, o filme se encaminha para um ato final em que a maioria já irá adivinhar o que irá acontecer. Porém, isso não tira o brilho do filme como um todo, principalmente quando temos o privilégio de ouvir o clássico "O Messias" através do coral cantado por esses jovens. Vale destacar que o filme é inspirado no American Boychoir School, um dos corais mais respeitados do mundo, com sede em Nova Jersey.

Com pouco mais de uma hora e meia, "O Coro" é um filme sobre o indivíduo comum que busca pelo seu "eu" verdadeiro através da arte da música e para que assim consiga encontrar o seu real caminho para trilhar na vida.  


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domingo, 25 de abril de 2021

Cine Especial: Oscar 2021: 'Nomadland' e 'Bela Vingança'

Enfim, estamos na reta final para o Oscar 2021 e deixo aqui a minha última postagem especial sobre os favoritos "Nomadland" e "Bela Vingança". 

'Nomadland' 

Sinopse: Após o colapso econômico de uma cidade na zona rural de Nevada, nos Estados Unidos, Fern, uma mulher de 60 anos, entra em sua van e parte para a estrada, vivendo uma vida fora da sociedade convencional como uma nômade moderna. 

Nos próximos anos especialistas farão uma análise mais profunda sobre os tempos de hoje em que vivemos e dos quais o cinema nos revelou como um todo.  Se por um lado "Parasita" (2019) fala sobre os problemas que o mundo capitalista faz com que tudo transborde, do outro, "Coringa" (2019) fala sobre o indício comum abandonado por esse mesmo sistema e que não excita mais em estourar a bolha. "Nomadland" vem para complementar ainda mais esse quadro, do qual retrata um lado dos EUA sem nenhuma glória e que se sustenta somente com a força de vontade que lhe resta.

Dirigido pelo cineasta Chloé Zhao, o filme se passa logo após o colapso econômico de uma cidade na zona rural de Nevada, nos Estados Unidos.  Fern (Frances McDormand), uma mulher de 60 anos, entra em sua van e parte para a estrada, vivendo uma vida fora da sociedade convencional como uma nômade moderna. Durante o percurso, trabalha em diversos empregos, além de conhecer pessoas comuns e com o mesmo destino.

A crise econômica de 2008 serviu como pano de fundo para a realização de diversos filmes que revelaram um olhar mais sujo e sofrido do povo americano, pois basta pegar o filme "Inverno da Alma" (2010) como um bom exemplo. Porém, "Nomadland" se encaixa mais com os dois filmes citados acima, ao retratar uma protagonista presa as regras capitalistas, mas obtendo a chance de sair dessa bolha e dando de encontro com uma realidade até então desconhecida. Com a sua Van, Fern dá de encontro com pessoas iguais a ela e das quais cada história são maiores do que a vida.

Ao procurar nos passar maior realismo possível, a cineasta Chloé Zhao procurou pessoas reais para que as mesmas atuassem e revelassem as suas vidas reais de Nômades na frente da tela. O resultado é uma bela transição entre ficção e realidade, onde Frances McDormand para por uns instantes de atuar para então ouvir as palavras dessas pessoas sofridas, mas que não se abalam nem mesmo quando o estado lhe dá as costas. Pessoas que foram engolidas pelas consequências do capitalismo desenfreado, mas que se viram livres ao sair dessa realidade cheia de regras e que sempre cobram um alto preço.

Como não poderia deixar de ser, Frances McDormand dá novamente um show de interpretação, ao colocar para fora as suas raízes humildes de sua vida pessoal e revelando uma faceta de sua pessoa até então inédita nas telas. Sua personagem nunca se dá por vencida, ao escolher continuar trabalhando em empregos sem nenhum futuro, mas cujo os mesmos a fazem esquecer um pouco do seu passado dolorido. Passado, aliás que se encontra nos mais pequenos detalhes dentro de sua Van, desde a pratos raros, como também fotos preciosas e que valem muito para ela.

Na reta final, a protagonista tem a chance de se encaixar novamente no mundo em que ela havia deixado para atrás. Porém, as cicatrizes vindas do passado falam mais alto e constatamos que, mesmo com um sistema cada vez mais no controlando, há ainda lugares intocáveis e dos quais vale a pena testemunharmos e senti-los. Talvez seja a hora de começarmos a enxergarmos o que há além dos muros desse sistema doentio.

"Nomadland" é um filme universal sobre o nosso tempo atual, onde a sociedade não tem mais para onde se esconder desse sistema capitalista, a não ser estourar a bolha e colocar o pé na estrada. 


Nota: Em Cartaz nos cinemas. 

'Bela Vignça’  

Sinopse: Cassie (Carey Mulligan) é uma jovem que sempre sonhou em ser médica. No entanto, um acontecimento traumático fez ela largar a faculdade e voltar para a casa dos pais. Agora perto dos 30 anos, ela decide se vingar dos predadores sexuais que se aproveitam das mulheres bêbadas. 

Quando os escândalos de abuso sexual cometidos por Harvey Weinstein explodiram e caíram no colo da grande imprensa, vários outros escândalos foram noticiados, pois as vítimas perceberam que, enfim, poderiam sair do armário e sem medo. A cultura do estupro é algo que, infelizmente, se encontra ainda muito incrustado na nossa sociedade, pois a maioria dos homens que cometem jamais irão admitir tais atos, ao ponto de usar todos os meios para persuadir a justiça a qualquer custo. Neste caso, "Bela Vingança" (2020) vem para nos dizer que a situação transbordou, não há mais volta e que as mulheres não podem mais recuar perante tais violências físicas e psicológicas.
Dirigido por Emerald Fennell, o filme conta a história de Cassie (Carey Mulligan), uma mulher com muitos traumas do passado que frequenta bares todas as noites e finge estar bêbada. Quando homens mal intencionados se aproximam dela com a desculpa de que vão ajudá-la, Cassie entra em ação e se vinga dos predadores que tiveram o azar de conhecê-la e o mau caráter de tentar abusá-la. Aos poucos é revelado os motivos de suas ações ao longo do percurso.
Diferente do que se imagina, principalmente se levar muito em consideração o título, o filme não se enverada para os típicos filmes de vingança, onde há muita violência e sangue, mas sim tudo de uma forma mais sugestiva e deixando a nossa imaginação trabalhar após cada importante cena apresentada. Embalado com uma sedutora trilha sonora, da qual é moldada com vários sucessos, Emerald Fennerll procura ser bastante perfeccionista, pois se percebe que cada cena filmada foi criada de uma forma muito bem pensada e para assim ficarmos prestando atenção em cada ação de sua protagonista, desde aos gestos com as mãos, como também pelo seu olhar que tem muito a dizer. O prólogo, por exemplo, é um belo exemplo do que veremos no decorrer do filme e fazendo da obra algo bem diferente do que estamos acostumados em assistir dentro do gênero.
Mais do que uma obra com um teor de humor sombrio, o filme também é uma crítica ácida contra uma sociedade machista, onde filhinhos de papai ricos acham que podem fazer o que bem entenderem, quando na verdade não passam de homens fracos perante ao momento que terão que sofrer as consequências dos seus atos monstruosos. Além disso, o filme destrincha como certas bases importantes da sociedade tentam acobertar esses atos, sendo que acabam se tornando tão culpados quanto os que praticam o ato e provocando assim uma bola de neve que vai aumentando conforme o tempo vai passando. As justificativas são quase sempre as mesmas e fazendo a gente ter menos pena das partes que se acharam um dia intocáveis.
Carey Mulligan, vista em filmes como "As Sufragistas" (2015) obtém aqui o melhor papel de sua carreira, onde interpreta uma Cassie marcada pelos horrores do passado e não conseguindo seguir em frente na vida como um todo. Reparem que a fotografia, assim como determinadas cores de certos objetos vistos na tela, sintetizam elementos inocentes que ela ainda mantém em seu dia a dia, mesmo tendo consciência da real realidade nua e crua em sua volta. E quando se achava que ela se encaminhava para a chance de obter  a sua redenção, eis que situações a fazem se dar conta que o único jeito de obter justiça é do seu jeito, pois o estado acaba se tornando ineficaz para praticar tal ato.
Chegando neste ponto, adentramos em um ato final muito bem dirigido, onde Emerald Fennell não tem medo de nos colocar frente a frente a uma situação inusitada e criando um plano sequência que faz a gente se afundar na cadeira. Os minutos finais a gente pode até adivinhar o que acontece, mas não prejudica o resultado final, mas sim somente fortifica a ideia de que algo precisa ser feito em nosso mundo real. O abuso e a violência precisam acabar, ou então terá várias Cassies que irão aparecer por aí.
"Bela Vingança" e uma síntese de nossa época atual, onde as mulheres não podem somente esperar por justiça, mas sim agir contra os lobos fantasiados de cordeiros.  

Nota: O filme tem previsão de estrear nos cinemas brasileiros em Maio. 

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sexta-feira, 23 de abril de 2021

Cine Especial: Oscar 2021: 'Quo Vadis, Aida?' e ‘Better Days’

Sinopse: história de Aida (Jasna Djuricic), uma mulher que trabalha como tradutora para uma equipe de manutenção da paz. Ela está em um acampamento onde seu marido e seus dois filhos estão detidos juntos de milhares de cidadãos bósnios. 

Em tempos atuais em que vivemos, dos quais o fascismo fica cada vez mais explícito em nosso dia a dia, ficamos nos perguntando onde começou tudo isso. Talvez, ele não tenha começado recentemente, mas ele sempre esteve lá, porém, adormecido e nos pegando atualmente desprevenidos. Enquanto não resolvemos o que fazer contra esses tempos nebulosos atuais, "Quo Vadis, Aida?" (2021) nos soca no estômago ao nos dizer que esse mal já estava vivendo entre nós há muito tempo, seja ele aqui ou do outro lado do mundo.

Dirigido pela cineasta Jasmila Zbanic, o filme conta a história de Aida (Jasna Djuricic), uma mulher que trabalha como tradutora para uma equipe de manutenção da paz. Ela está em um acampamento onde seu marido e seus dois filhos estão detidos juntos de milhares de cidadãos bósnios. Porém, pode ser muito tarde para conter o inevitável.

No prólogo, observamos uma espécie de reunião de negócios, entre um político local e um representante da ONU. Ambos são ineficazes no diálogo para se obter um acordo, sendo que a única consciente da situação e que deseja ali obter uma solução é Aida, mas sem conseguir uma chance de abraça-la. Pela sua expressão e olhar, constatamos uma pessoa desesperada, mas que se mantém firme para não cair na no desespero e desgraça.

Jasna Djuricic nos brinda com uma ótima atuação em cena, sendo que ela carrega o filme nas costas e nos guia para o inferno iminente que irá acontecer na tela. Porém, o filme possui um perfeccionismo esplêndido, onde há um cuidado para nos passar a dimensão da situação e nos dando a sensação de nos colocar no centro dos acontecimentos: a cena em que vemos um mar de bósnios muçulmanos aglomerados em frente à sede da ONU é, desde já, espetacular.

Curiosamente, a expressão dos rostos dos personagens diz mais do que meras palavras. Em um flashback, por exemplo, testemunhamos Aida e mais um grupo de amigos se divertindo em uma festa, mas que em determinado momento todos ali começam a encarar a câmera de  forma séria e pouco esperançosa. Uma espécie de prelúdio do que aconteceria com aquele povo e cuja as marcas até hoje não cicatrizaram.

Para aqueles que estudam a história recente da humanidade não é preciso ser gênio para adivinhar o que acontecerá no ato final. Em uma cena simbólica, por exemplo, vemos bósnios sendo encurralados em uma sala de projeção abandonada e onde os seus opressores gritam dizendo que isso não é cinema. A cena não é sangrenta, porém, não deve nada aos filmes de guerra realistas como o chocante filme russo "Vá e Veja" (1985).

Ao chegarmos ao epílogo estamos por demais esgotados, querendo desejar se afastar daquela triste realidade, mas não deixamos de acompanhar Aida para que possamos descobrir o que restou dessa guerra para ela. Ao testemunharmos isso, constatamos uma mulher forte, mas que também cede perante o horror, pois a sua humanidade jamais se perdeu. Indicado ao Oscar de Melhor Filme Internacional de 2021, "Quo Vadis, Aida?" é sobre a selvageria humana nascida das indiferenças, do fascismo e da desumanidade vinda daqueles que se dizem poderosos.  


Onde Assistir: Compre ou alugue pelo Youtube. 

 ‘Better Days’ 

Sinopse: Em pleno vestibular, jovem passa a sofrer Bullying dos seus colegas. Porém, um jovem surge em sua vida e desencadeando situações imprevisíveis.  

Eu me lembro que sofria bullying na escola. Já faz vários anos, mas as ofensas e as piadas de mal gosto ficam nas lembranças. Me lembro de um aluno que me incomodou tanto durante a aula que eu simplesmente o peguei como se fosse um boneco de pano e dei ponta pé diversas vezes contra ele devido a raiva que nasceu dentro de mim naquele momento.
A situação só não ficou pior porque eu bati a minha perna numa mesa ao lado e quando aconteceu isso me dei conta sobre o que estava acontecendo. Os alunos me olhavam com medo e não entendendo como de uma hora pra outra eu quase virei um monstro. Desde então as piadas haviam parado, mas a sombra do que eu poderia ter me tornado ficou me assombrando por algum tempo.
O bullyng nada mais é do que uma prática orquestrada por jovens inconsequentes e que, infelizmente, não tem noção o quanto isso pode despertar em suas vítimas. Por conta disso, há diversas histórias pelo mundo sobre esse assunto e uma mais imprevisível do que a outra como um todo. “Better Days" (2019) toca neste assunto espinhoso de uma forma dura, reflexiva e bastante humana.
Dirigido por  Kwok Cheung Tsang, o filme conta a história Nian, que estava se preparando arduamente nos estudos para conseguir passar no vestibular. Porém, sua amiga se suicida por motivos misteriosos, mas aos poucos se descobre que a jovem sofria bullying. Não demora muito para Nian seja a próxima vítima, mas ela consegue consolo pelo jovem Trickser e desse encontro se inicia uma surpreendente relação de amizade e carinho.
Com uma edição fragmentada, onde o passado e o presente vêm e volta, o filme vai aos poucos nos apresentando aquela realidade aparentemente simples do colégio, mas não escondendo o seu lado opressor que gosta de machucar os fracos. Há uma aura de competição no ar com relação ao vestibular, ao ponto de alguns não medirem esforços para conquistar os seus objetivos, nem que para isso machuque e muito o seu próximo. Nian quer somente passar e conseguir embarcar na vida adulta, mas mal sabendo o alto preço a ser pago durante essa jornada.
O filme debate a difícil passagem da inocência para a fase adulta, sendo que a escola em si não dá aulas de como se faz na prática essa transição e com isso deixa os jovens alunos na própria sorte e tendo que sobreviver com as suas próprias mãos. A obra também faz parte dessa nova onda de filmes em que mostra o quanto o sistema é falho na construção do indivíduo para ser inserido na sociedade, sendo que não há ninguém que possa dar uma solução mais prática nesta etapa da vida. O resultado é testemunharmos jovens tendo que enfrentar uma selva de pedra e sendo assombrado por outros jovens que são puramente rebeldes, sendo que alguns são o próprio reflexo de terem pais inconsequentes.
O meu relato acima no início do texto é a reflexão que eu tive partir dos desdobramentos da trama que eu testemunhei, sendo que eles nasceram no momento em que o cordão bom senso se arrebentou para o casal central. Curiosamente, me identifiquei e muito com os personagens, pois a sensação que me deu foi uma espécie de déjà-vu, muito embora tive melhor sorte no meu mundo real. Contudo, a redenção acontece para o casal, muito embora o passado cheio de ferimentos sempre ficará registrado no passado de cada.
Indicado para o Oscar de Melhor Filme Internacional de 2021, "Better Days" é sobre jovens tentando obter uma passagem para a vida adulta, mas mal sabendo dos obstáculos que irão enfrentar e sacrificar para se chegar lá. 

NOTA: Ainda sem previsão de estreia.  

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quinta-feira, 22 de abril de 2021

Cine Especial: Oscar 2021: 'Collective'

Sinopse: Uma equipe de jornalistas investigativos entra em ação, descobrindo a corrupção em massa do sistema de saúde e das instituições do Estado. 

Durante um show em uma boate ocorre um incêndio de grandes proporções e causando a morte de diversas pessoas. Um Ministério da Saúde que demonstra sinais ineficazes no combate da crise sanitária de hospitais e colocando em risco as vidas das pessoas. Parece familiar?

Quando se fala destas situações acima se lembra, logicamente, da situação sanitária, social e política que o Brasil do passado e do nosso presente se encontra. Tivemos o incêndio da boate Kiss a quase dez anos e dos quais os verdadeiros culpados pela tragédia continuam impunes. Atualmente convivemos com uma pandemia, onde inúmeras pessoas estão morrendo nos hospitais, enquanto o Ministério da Saúde tem os seus ministros trocados diversas vezes devido as suas incompetências e sendo comandado por um Presidente ainda mais incompetente e um dos piores de nossa história.

Mas, engana-se quem acha que esse cenário seja algo exclusivamente no Brasil, pois a incompetência, corrupção e falta de sensibilidade pelo próximo são problemas atuais de todo o mundo e que precisam serem investigados e debatidos bem de perto. Porém, foi-se o tempo que tínhamos um jornalismo mais investigativo e imparcial, pois atualmente há muitos profissionais ligados a partidos e que são bem pagos para falarem bem dos mesmos. Porém, ainda há esperança no horizonte e o documentário vindo da Romênia "Collective" (2020) prova que essa batalha só termina quando a gente desiste no meio da estrada.

Dirigido por Alexander Nanau, o documentário relata as consequências de um trágico incêndio em um clube romeno, onde as vítimas de queimaduras começam a morrer em hospitais devido a ferimentos que não são fatais. Uma equipe de jornalistas investigativos entra em ação, descobrindo a corrupção em massa do sistema de saúde e das instituições do Estado, abordando questões sobre propaganda e manipulação que até hoje afetam não apenas a Romênia, mas também sociedades em todo o mundo.

Diferente dos documentários convencionais, os realizadores procuram não interferir nos fatos que vão ocorrendo em cena, mas sim somente registrando os eventos e os diálogos dos principais personagens dessa teia de eventos. Por conta disso, se tem um legítimo registro verossímil do lado emocional das pessoas que perderam seus entes queridos no incêndio do clube, assim como também os familiares de pessoas que morreram misteriosamente nos hospitais posteriormente. O resultado é surpreendente, principalmente quando o documentário vai avançando e registrando os olhares cansados e cheios de temor dos jornalistas que decidiram bater de frente neste sistema viciado e corrompido.

Com uma edição ágil, o documentário nos apresenta uma verdadeira teia de revelações, onde se comprova que a corrupção e o desleixo dos hospitais ligados com partidos políticos daquele país aconteciam muito antes do incêndio do clube. Por conta disso, há uma corrida contra o tempo para que os mesmos que haviam viciado e contaminado esse cenário sejam impedidos de voltarem ao poder, ou tentar evitar que saiam impunes dos crimes que cometeram. Curiosamente, o documentário procura destacar o novo Ministro da Saúde, do qual reconhece muito bem o sistema corrupto que assolou no próprio Ministério, mas que opta por lutar no lado certo da história que acabou se envolvendo.

No final das contas, há sempre uma luz no fim do túnel, porém, o documentário não esconde o fato de que uma nação, há tanto tempo movida pela corrupção por detrás das cortinas, demorará muito para recuperar a sua autoestima. Fatos, infelizmente, reais ocorridos na Roménia, mas não muito diferentes do que ocorre em outros países como no caso do Brasil. Indicado ao Oscar de Melhor Longa Documentário e de Melhor Filme Internacional de 2021, "Collective" é um retrato sobre a banalidade e a falta de investigação sobre crimes contra humanidade e que poderiam ter sido evitados.   

Onde Assistir: Em Locação ou venda pela Amazon

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terça-feira, 20 de abril de 2021

Cine Especial: Oscar 2021: 'Professor Polvo' e 'Time'

Sinopse: Em uma floresta subaquática na África do Sul, um cineasta desenvolve uma amizade improvável com um polvo e descobre mais sobre os mistérios do mundo submarino. 

Em tempos em que o ser humano convive com diversos atritos com relação a própria humanidade, por outro lado, algumas pessoas decidem procurar por respostas na natureza que, por vezes, é esquecida. Uma vez que há este contato se cria um elo entre o ser humano com as raízes de tempos em que o céu e a terra já bastavam para o mesmo. "Professor Polvo" (2020) mostra a jornada de um cidadão comum que encontra algumas respostas para si ao observar o círculo da vida de um pequeno ser.

Dirigido por Pippa Ehrlich e James Reed, o documentário fala sobre Craig Foster, um documentarista exausto, conhece um professor improvável, um jovem polvo que mostra uma curiosidade notável. Visitando sua toca e rastreando seus movimentos por meses a fio, ele eventualmente ganha a confiança do animal e eles desenvolvem um vínculo nunca antes visto entre o humano e o animal selvagem. A expedição ocorre em uma floresta de algas na costa da África do Sul. 

A obra não perde muito tempo com relação ao que estava se passando na vida de Graig Foster, mas seja o que for, era mais do que o suficiente para ele procurar respostas por meio da natureza. Com uma parede de mar bem na frente da sua casa, ele decide criar uma experiência pessoal com relação ao círculo da vida de um ser vivo e do qual ninguém imaginava o quanto é complexo se ele for bem observado. Uma vez acontecendo isso, se há um estudo detalhado sobre a cruzada de um polvo e cujo os desdobramentos irão revelar algo raramente visto.

Os realizadores procuram sempre em criar uma edição de cenas que cause suspense na pessoa que assiste e gerando momentos até mesmo surpreendentes. É incrível, por exemplo, a primeira aparição do polvo, já que ele está coberto com diversos objetos do fundo do mar enquanto o documentarista e até mesmo os peixes observam com bastante curiosidade. Uma vez acontecendo o primeiro vislumbre do protagonista se tem o primeiro contato entre o homem e a natureza deste cenário cheio de vida e que tende a nos surpreender ainda mais.

A partir daí, Craig Foster procura obter contato com o polvo de forma gradual, mas jamais intervindo com relação ao que acontecerá em seu cenário natural. A confiança entre ambos acontece de forma verossímil, mesmo quando se parecia impossível que isso fosse acontecer ao longo do tempo. Uma vez obtendo a confiança do polvo, Graig Foster começa a mergulhar por quase um ano para observar o seu pequeno amigo, desde descobrir como ele se alimenta, como também saber como ele se defende dos predadores.

É neste ponto, por exemplo, que o documentário ganha até ares de filme de suspense, já que surgem pequenos tubarões que começam a caçar o polvo sem trégua. Em uma dessas perseguições, tanto Graig Foster como nós ficamos aflitos quando o polvo perde um tentáculo durante o embate com o tubarão. Porém, a sua recuperação é surpreendente e revelando um lado até mesmo inteligente deste curioso ser.

Inteligência, aliás, é a palavra chave que faz desse curioso animal sobreviver e viver a qualquer custo no fundo do mar. Curiosamente, sentimos aos poucos a Via Crúcis do protagonista, mas para somente constatarmos que o círculo da vida prossegue aja o que houver e sem a interferência de ninguém. Entre o perigo e a riqueza da natureza, o documentarista, enfim, compreende que a vida deve ser aproveitada ao máximo, mesmo quando a mesma possui uma passagem curta neste plano.

Indicado ao Oscar de melhor Longa Documentário para esse ano, "Professor Polvo" é uma lição de vida vinda de uma natureza não asfixiada pelo homem, mas cujo o próprio acaba aprendendo como se deve dar valor com relação a sua realidade ao redor.  

Onde Assistir: Netflix. 

'Time' 

Sinopse: Fox Rich, matriarca indomável e abolicionista moderna, esforça-se para manter sua família unida enquanto luta pela libertação de seu marido encarcerado. 

O grande atrativo de "Boyhood" (2014) era ver os mesmos atores em seus respectivos personagens, mas realmente envelhecendo diante dos nossos olhos, já que o filme foi rodado em pedaços por diversos anos. Por conta disso, sentimos o tempo na vida daqueles personagens, onde constatamos que eles não só mudaram fisicamente, como também amadureceram com relação aos pensamentos que se diferenciam se fosse olhar para o passado. "Time" (2020) segue para uma linha similar, mas em formato de documentário e onde testemunhamos pessoas reais que enfrentam uma situação a ser vencida a todo custo.

Dirigido por Garrett Bradley, o filme fala sobre Fox Rich, matriarca indomável e abolicionista moderna, esforça-se para manter sua família unida enquanto luta pela libertação de seu marido encarcerado. No passado, quando os negócios de sua loja estavam em crise, eles decidiram assaltar um banco e sendo pegos por causa disso. O documentário traz uma história de amor íntima, épica e não convencional.

A obra começa de forma curiosa, de forma analógica e retangular, já que são arquivos caseiros de vários anos e onde Fox conta sobre a sua situação atual naquele momento. O grande atrativo do documentário é vermos a mesma mudando conforme o tempo vai passando, onde enxergamos no início um olhar inocente dela e gerando um contraste quando fazemos uma comparação com imagens recentes da mesma. A Fox atual possui um olhar que diz tudo, onde carrega experiência de uma vida que teve que recomeçar do zero e tendo que sozinha sustentar os seus filhos.

Essa sensação sentimos também com relação as crianças, onde vemos jovens inocentes brincando na sala, para logo em seguida vermos eles adultos e lutando para se virar na vida para obter os seus sonhos. Tecnicamente o filme chama atenção pela sua fotografia em preto e branco, cuja a mesma sintetiza uma vida nada colorida daquela família, mas que encontra na fé a força para lutar pela vida. Fox, por exemplo, nunca escondeu pelos erros do passado, tão pouco culpou alguém por causa disso, mas culpando posteriormente o lado burocrático da justiça que não liberam nunca o seu marido.

A obra em si faz uma dura crítica com relação a Justiça norte americana, pois se percebe que a mesma somente é aplicada duramente contra o povo negro, como se houvesse sempre um desejo de vingança vinda dos poderosos. Isso é constatado ainda mais nas cenas em que Fox fica ligando diariamente para advogados e juiz para obter uma solução, mas quase sempre em vão. Pelo seu olhar, percebemos um olhar de decepção, mas não de rendição.

Embora curto, o documentário tem um peso maior principalmente quando fazemos um paralelo com o mundo atual, do qual cada vez mais vive de retrocessos e cujo os seus líderes radicais se alimentam disso. Fox Rich, ao menos, é um exemplo de esperança nesse cenário nebuloso, onde enxergamos nela a persistência e determinação para adquirir os seus objetivos, mesmo quando o sistema lhe diz ao contrário. Indicado ao Oscar de Melhor Longa Documentário, "Time" fala sobre o tempo, do qual adquire feridas, mas cuja as mesmas podem serem cicatrizadas. 

Onde Assistir: Amazon Prime.  


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segunda-feira, 19 de abril de 2021

Cine Especial: Oscar 2021: 'Feeling Through'

Sinopse: o encontro noturno de um jovem e um homem surdo-cego que precisa de ajuda para pegar o ônibus e ir pra casa.

Em tempos atuais, em que se há um individualismo e egoísmo cada vez maior entre as pessoas, quando surge uma boa ação acaba sempre soando surpreendente, quando na verdade deveria ser uma prática comum no dia a dia. Talvez em tempos em que estamos cada vez mais presos em redes sociais pela internet, parece que o toque humano vem sendo esquecido cada vez mais no decorrer do tempo. "Feeling Through" (2021) fala sobre o nascimento de uma curta amizade, porém, preciosa nos dias de hoje.

Dirigido por Steven Prescod e  Robert Tarango, o curta acompanha a história de um jovem chamado Tareek enquanto ele caminha pelas ruas de Nova Iorque depois de uma festa. No caminho, o rapaz encontra um homem cego e surdo com uma placa pedindo ajuda para atravessar a rua. Os dois acabam passando parte da noite juntos e criando uma inesperada amizade.

Os primeiros minutos registram sobre o que é os relacionamentos atuais, onde cada vez mais são predestinados a serem presos por mensagens pelo whatsapp e fazendo da relação algo muito artificial. O contato, por exemplo, em que surge entre os dois protagonistas começa por pura curiosidade, já que Tereek está sem saber o que fazer naquele momento e cuja a noite não lhe daria nenhum rumo. Com o homem cego e surdo ele descobre, mesmo que em pouco tempo, uma ação vinda dele que até mesmo o próprio desconhecia.

Tudo gira em torno do toque, seja pelo afeto, ou pela forma de guiar um dos protagonistas para o seu destino. Ambos são almas perdidas no percurso da vida, mas que conseguem juntos sentir um pouco do raro calor humano que tanto faz falta hoje em dia. Ao final cada um se encaminha para o seu rumo, mas guardando consigo uma lição de como somos prestigiados a ter a prática do bem, mas que raramente praticamos.

Indicado ao prêmio de melhor Curta Metragem no Oscar deste ano, “Feeling Through" é uma lição sobre como despertar o que há de bom em nós e que se encontra atualmente adormecido. 

Onde Assistir: Pelo Youtube  

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quarta-feira, 14 de abril de 2021

Cine Especial: Oscar 2021: 'Wolfwalkers'

Sinopse: Robyn, uma jovem caçadora, vai à Irlanda com seu pai para tentar acabar com o último bando de lobos. Os animais são vistos como demoníacos, verdadeiras encarnações do mal. Logo, os algozes terão outra perspectiva das alcateias.  

Em tempos em que a Pixar/Disney dominam o mercado de animação há sempre aqueles pequenos estúdios que surpreendem pela sua criatividade e pelo bom uso do desenho tradicional. O estúdio Irlandês de animação Cartoon Saloon, por exemplo, tem surpreendido o público e a crítica através de obras como "Uma Viagem ao Mundo das Fábulas" (2009) e A Canção do Oceano (2014). Pois então, a mesma retorna agora com "Wolfwalkers" (2020) uma animação de encher os olhos e com altas doses de lição de moral e companheirismo.

Dirigido por Tomm Moore e Ross Stewart, o filme se passa em uma época de superstição e magia, quando os lobos são vistos como demoníacos e a natureza um mal a ser domado.  Robyn, uma jovem caçadora aprendiz, vai para a Irlanda com seu pai na tentativa de eliminar um último bando. Quando a jovem salva uma garota nativa selvagem, sua amizade a leva a descobrir o mundo dos Wolfwalkers, transformando-a na mesma coisa que seu pai tem a tarefa de destruir.

Antes de tudo, é preciso destacar o primor que é essa animação. Feita de forma tradicional, os desenhos parecem que foram criados para pertencerem as paredes de tempos remotos e cuja as mesmas contam diversas histórias. Com imagens sobrepostas uma na outra, cria-se algo quase tridimensional, ou melhor dizendo, uma sensação de que os desenhos estão saindo da tela, onde cada forma se alinha uma com a outra e criando assim uma simetria fantástica.

Essa perfeição também se casa de forma perfeita com o seu elenco de personagens, onde cada um possui uma personalidade distinta e que servem como peças importantes para trama. Robyn é a verdadeira pequena heroína da trama, da qual transita entre os deveres de obedecer ao seu pai, como também de alimentar com a curiosidade com relação ao mundo lá fora. Dessa curiosidade ela conhece Mebh, menina selvagem que irá fazer com que Robyn conheça o lado que os Supersticiosos tentam destruir a todo custo.

Neste último caso, isso é muito bem representado pelo vilão Lorde Protetor Oliver Cromwell, cuja as suas atitudes lembram e muito o vilão de "O Corcunda de Notre Dame" (1996) da Disney. Na trama, a fé cega em nome de Deus contra o folclore visto na tela são temas que repercutem até os dias de hoje e que somente fazem com que os povos cada vez mais se separem. É a partir do amor e da amizade das duas pequenas protagonistas é que haverá um caminho de paz, mas até lá haverá diversos sacrifícios a serem tomados.

Assim como o recente "Soul" (2020), "Wolfwalkers" consegue tocar em assuntos espinhosos, que vai desde a vida e a morte, mas tudo de uma forma fluida e que não assusta os jovens que forem assisti-la. Acima de tudo, é um filme de aventura com coração, com vários bons ensinamentos e que se tornam valiosos nestes tempos nebulosos. Indicado ao Oscar de melhor Longa de Animação, "Wolfwalkers" é uma das mais belas animações do ano, feita com carinho e para aqueles que apreciam bons ensinamentos sobre coragem e ajuda ao próximo.  

Onde Assistir: Apple TV+

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