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sexta-feira, 31 de outubro de 2025

Cine Especial: Halloween - 'Frankenstein de Mary Shelley'

Talvez nem a própria escritora Mary Shelley imaginava que o seu primeiro conto literário iria tão longe. Embora filha de um romancista a jovem testemunhou a miséria, fome e a arrogância do ser humano através dos anos e essas adversidades lhe serviram de inspiração naquilo que viria se tornar "Frankenstein" (1818), história sobre um cientista disposto em criar vida com as suas próprias mãos, mas não assumindo a responsabilidade com relação as suas consequências. Mais de dois séculos já se passaram, mas ainda é impressionante como ainda hoje esse conto é atual e como influenciou outras obras, assim como também diversas adaptações dela.

Para o cinema, sem sombra de dúvida adaptação mais conhecida se tornou a de 1931, dirigida por James Whale, onde a figura da criatura interpretada por Boris Karloff entrou no imaginário da cinefilia e se tornando até mesmo hoje insuperável. De lá para cá houve continuações, releituras e até mesmo sátira como o clássico "Jovem 'Frankenstein" (1974). Porém, de todas as adaptações até hoje, a minha preferida é sem sombra de dúvida "Frankenstein de Mary Shelley" (1994), dirigido por Kenneth Branagh.

O início dos anos 90 serviu para que o cinema norte americano decidisse revisitar alguns dos seus monstros clássicos e apresentar uma nova visão para um novo público. Quem se saiu melhor nessa brincadeira foi Francis Ford Coppola ao dirigir "Drácula de Bram Stoker" (1992), obra luxuosa, deslumbrante, vencedora de três Oscar e onde o realizador usou as velhas técnicas de cinema para criar o longa. Com um grande sucesso de público e crítica, o diretor decidiu então investir na produção de 'Frankenstein" e chamando Kenneth Branagh para a direção. Na época o cineasta britânico já era conhecido pelo seu primeiro longa-metragem intitulado "Henrique V" (1989) e que fez com que fosse notado pelos grandes estúdios.

Para "Frankenstein" Branagh não se poupou em assumir não somente a direção, como também ser o próprio cientista obcecado em trazer a vida de volta dos mortos. Até então esse longa foi sem sombra de dúvida adaptação mais fiel ao conto, pois já no início é apresentado o explorador do ártico, interpretado com intensidade por Aidan Quinn, que decide achar uma nova fronteira em meio ao gelo infinito. Lá ele encontra o enfraquecido Victor Frankenstein, que está sendo assombrado pela sua própria criatura e começa a contar a sua trágica história para o capitão.

Em um grande flashback iremos conhecer a vida do protagonista, desde a sua infância, assim como um evento trágico que o levará a querer desejar ter o poder de trazer os mortos a vida. Ao mesmo tempo conhecemos Elizabeth, interpretada por Helena Bonham Carter, uma jovem órfã que passa a ser adotada pela família de Victor. Crescendo juntos como irmãos ambos se apaixonam e se tornam o coração emocional do longa como um todo.

A partir deste momento que começamos a testemunhar a queda gradual do protagonista em busca do seu objetivo e é então que Kenneth Branagh surpreende não somente na direção, como também na atuação. Na tela podemos ter uma noção do trabalho árduo que o artista impôs com ele mesmo, pois vemos ele atuando, mas ao mesmo tempo notamos uma câmera em movimento constante, planos-sequência fantástico, além de giros de 360 graus entre os personagens que faz com que o filme nunca perca o seu ritmo. É como se estivéssemos testemunhando a mente de Victor sempre em movimento constante, como se entrássemos uma mente febril e pronta para abraçar os seus propósitos sombrios.

Visualmente o filme é um outro espetáculo do realizador, onde a edição de arte e fotografia andam de mãos dadas, assim como um figurino que inala o melhor e o pior da época em que a trama se passa. A sequência da criação da criatura em si sintetiza não somente ambição do protagonista, como também o lado perfeccionista do diretor que neste momento se encontra em sintonia máxima e culminando no surgimento imprevisível da criatura. É neste momento que existe um paralelo entre Deus e sua criação, sendo que o criador abandona a sua cria enquanto essa última é largada perante uma sociedade doente e cega devido ao preconceito e desinformação com relação ao próprio mundo.

A criatura em si é interpretada por ninguém menos do que Robert De Niro, que usa uma pesada maquiagem que se diferencia muito da versão conhecida apresentada por Boris Karloff. Uma vez abandonado pelo seu criador, o personagem conhece aos poucos o lado singelo da humanidade através de uma família da floresta que ele observa escondido e ao mesmo tempo começa aprender a ler através do diário de Victor que estava guardado na capa que ele acabou usando. Uma vez que a família da floresta sai de cena ele não somente perde a única chance de ser feliz, como também descobre a sua trágica origem através do diário e despertando em si uma ira contra o seu criador.

A partir daí o filme se torna uma descida ao inferno, onde vemos a criatura cometer crimes horríveis para afetar Victor. Tudo culmina na morte e ressurreição de Elizabeth e onde Helena Bonham Carter nos brinda com uma de suas melhores e mais trágicas atuações de sua carreira. Por mais que as outras adaptações tenham se tornado clássicos, essa cena faz com que o filme ganhasse o meu coração como um todo, pois sintetiza a obsessão cega de Victor, sua paixão por Elizabeth, mas nunca pensando nas consequências dos seus atos. O filme, portanto, termina com o criador obtendo, enfim, o seu descanso eterno enquanto a sua criatura finalmente o perdoa pelos seus atos mesmo depois de tudo que havia acontecido.

Diferente de "Drácula de Bram Stoker", o filme não se tornou um sucesso que os realizadores esperavam, sendo que um dos pontos que eu observo é que os críticos não aceitaram na época a direção autoral de Branagh, assim como a sua atuação em cena. O filme se distância do óbvio, ao nos brindar com uma crítica sobre a ganância do ser humano em acreditar que pode criar e controlar acima de tudo, quando na verdade deveriam se perguntar primeiro se deviam. Portanto, tanto o conto literário como as suas adaptações funcionam até hoje porque a sua temática é mais atual do que nunca e sendo que esses dilemas são debatidos até hoje em dia.

Mary Shelley, portanto, enxergou em sua época o lado sombrio do ser humano, sobre até que ponto ele acredita que pode alcançar o controle de tudo, quando na verdade mal sabe com relação ao que está se envolvendo. Na minha visão, Kenneth Branagh foi a escolha ideal para o projeto, onde não escondeu a sua ambição em realizar um filme perfeito e se casando com o lado obsessivo de Victor. O tempo passou e constatamos o quanto o filme envelheceu bem devido às obsessões do seu realizador que compreendeu os pensamentos conflituosos de uma escritora de tempos distantes.

Com uma bela trilha sonora monumental de Patrick Doyle, "Frankenstein de Mary Shelley" é uma das melhores adaptações da obra clássica e que sempre merece ser revisitada na medida em que o tempo passa.   

Onde Assistir: Amazom Prime, Apple Tv, Google Play Filmes.  

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