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Sapucaia do Sul/Porto Alegre, RS, Brazil
Sócio e Diretor de Comunicação e Informática do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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terça-feira, 18 de abril de 2023

Cine Dica: Em Cartaz - 'Babilônia'

Sinopse: Decadência, depravação e excessos escandalosos levam à ascensão e queda de vários sonhadores ambiciosos na Hollywood dos anos 1920. 

Damien Chazelle se tornou em pouco tempo um dos cineastas autorais mais promissores da Hollywood atual. Nunca me esquecerei da grande energia que eu senti quando testemunhei "Whiplash - Em Busca da Perfeição" (2015), ou da bela homenagem que o realizador faz com relação ao universo do cinema em "La La Land" (2017). Portanto, assistir "Babilônia" (2022) é novamente uma grande experiência, da qual o realizador presta uma bela homenagem a essa arte, mas desta vez de uma forma mais crua, mas não menos do que fantástica.

O filme conta história sobre grandes atores do cinema mudo no final da década de 1920, justamente quando o cinema passa a ser falado. Em 1926, o imigrante mexicano Manny (Diego Calva), ajuda a transportar um elefante para a festa do executivo da Kinoscope Studios. Lá, conhece a atriz Nellie LaRoy (Margot Robbie) e também a atriz Jane Thornton. Durante a festa, Manny passa a ver outros atores em suas versões menos glamorosas. Nellie acaba sendo recrutada para substituir Thornton na Kinoscope e rapidamente começa a ser a nova "it girl" de Hollywood, aparecendo em inúmeros filmes e sendo a mais amada. Porém, tanto ela como também o astro Jack Conrad (Brad Pitt), sentem na pele os ventos da mudança com a chegada do cinema falado.

Com o título inspirado em "Apocalipse 18:2-3", o filme é uma verdadeira subida ao paraíso para logo depois descer ao verdadeiro inferno na terra. É preciso avisar que para assistir ao filme deve estar consciente que não estará assistindo algo qualquer, mas sim uma obra autoral de um realizador que usa e abusa da edição de uma forma vertiginosa e cuja sua câmera é quase que frenética do começo ao final dela. Imagine "Whiplash" em doses cavalares e terá uma verdadeira montanha russa em sua frente e da qual sintetiza toda a luxuria, festas, drogas e riquezas em abundância da época do cinema mudo.

Abertura, aliás, acontece de tudo um pouco, desde o surgimento de um elefante dentro de uma festa bestial, como também a mesma estar ocorrendo muito sexo, dança, luzes, bebida e como se não houvesse amanhã para aqueles seres inquietantes. Em meio a isso, acompanhamos os primeiros passos do sucesso da protagonista Nellie, interpretada de forma estupenda por Margot Robbie e cuja mesma está à vontade em colocar para fora toda a sua loucura que havia construído para sua versão como Arlequina. Quanto ao personagem Brad Pitt nada mais é do que a representação de muitos astros daqueles tempos, mas que já estava sentindo os tempos mudando.

Damien Chazelle não poupa esforços em retratar como se fazia um filme naquela época, já que eram tempos em que se fazia tudo com a mão na massa e sendo de uma forma esplendorosa. Em um determinado momento, por exemplo, vemos uma guerra campal sendo filmada, mas ao mesmo tempo a trilha sonora está sendo tocada ao vivo e muitos figurantes sendo feridos o tempo todo. Em meio a esse redemoinho, Nellie LaRoy dá os seus primeiros passos como atriz, onde Damien Chazelle consegue obter o melhor desempenho da carreira Margot Robbie e ao mesmo tempo sendo uma bela representação do cinema autoral perfeccionista daqueles tempos.

Ao menos durante duas horas o filme é basicamente isso, uma edição frenética onde acontece algo a todo momento e fazendo de o tempo correr de uma forma tão rápida que eu somente havia testemunhado algo parecido no filme "Cassino" (1995) de Martin Scorsese. Além disso, os planos-sequências que o realizador elabora é a cereja do bolo da parte técnica, já que ela possui inúmeros detalhes escondidos enquanto os personagens são acompanhados pela câmera e fazendo com que a gente exige de si mesmo uma atenção redobrada. Edição de arte e fotografia muito bem alinhadas, além de um figurino que faz jus aos anos mais libertadores daqueles artistas.

Contudo, o filme também é uma verdadeira crítica ácida com relação a própria Hollywood, da qual a mesma constrói os seus grandes astros, porém, basta qualquer deslise vinda dos mesmos para que sejam descartados pela toda poderosa fábrica dos sonhos. Isso é ainda mais acentuado quando é retratado a transição do cinema mudo para o falado e do qual arruinou a carreira de vários astros. Se isso já havia sido revisitado no clássico "Cantando na Chuva" (1952), ou mais recentemente em "O Artista" (2011), aqui é retratado de uma forma ainda mais dura, mas não poupando um humor acalorado, principalmente na cena em que a protagonista tenta se reajustar com o novo mundo.

Infelizmente o realizador tira o pé do acelerador perto da uma hora final, mas isso é justificável principalmente da forma em que os protagonistas se encontram, onde cada um está naquele momento enfrentando os seus próprios demônios. É interessante observar que, embora seja um retrato da transição do cinema mudo para o falado, não deixa de ser um filme que fala sobre as metamorfoses que o cinema vive enfrentando ao longo da história para continuar existindo, mas tendo diversas baixas ao longo do percurso. Portanto, ao vermos o personagem de Brad Pitt se dar conta que o seu tempo passou nós não estamos diante somente de uma atuação, mas sim do próprio astro falando sobre si próprio perante a Hollywood do século vinte um e da qual a mesma se encontra em uma metamorfose ainda indefinida, mas da qual irá traçar o próprio futuro do cinema.

Portanto, Damien Chazelle cria um paralelo do cinema de ontem e hoje, do qual sobrevive em meio a tantas mudanças, onde astros vivem e morrem devido a sua arte, mas ficando eternizados na tela grande. O tempo é o maior Juiz com relação a isso e os minutos finais talvez sejam um dos mais sublimes do cinema recente, onde o realizador presta uma homenagem a essa arte tão fantástica, mas da qual sofre em meio a ganância de produtores gananciosos enquanto a massa que vai ao escurinho do cinema curtir um belo filme e mal tendo consciência sobre isso. Um final corajoso para dizer o mínimo, mas que ganhou o meu total respeito.

"Babilônia" é uma lúcida carta de amor que Damien Chazelle faz ao cinema, cuja arte vem de altos e baixos ao longo de mais de cem anos, mas resistindo perante as mudanças inevitáveis que vão acontecendo. 

Onde Assistir: Apple TV, Google Play Filmes e Youtube.  


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