COM A TECNOLOGIA ATUAL DE PONTA, SCORSESES PRESTA HOMENAGEM AOS PRIMODIOS DO CINEMA
Sinopse: Paris anos 30. Hugo Cabret é um órfão que vive escondido nas paredes da estação de trem. Ele guarda consigo um robô quebrado deixado por seu pai. Um dia ao fugir do inspetor ele conhece Isabelle uma jovem com quem faz amizade. Logo Hugo descobre que ela tem uma chave com o fecho em forma de coração exatamente do mesmo tamanho da fechadura existente no robô. O robô volta então a funcionar levando a dupla a tentar resolver um mistério mágico.
Em 28 de dezembro de 1895, os irmãos Lumière exibiram no grand café em Paris, aquele que seria a primeira exibição de um filme na historia. Conhecido no inicio como o "cinematografo", os irmãos exibiram uma cena curta de um trem parando na estação, mas eficaz, pois a primeira reação das pessoas que estavam assistindo foi saltar das cadeiras, acreditando que seriam atropeladas. Na mesma sessão, um talentoso mágico chamado Georges Mélliès, teria ficado fascinado com o que estava assistindo, pois via ali a chance de criar algo de novo jamais visto, diferente do que os Lumiêre pensavam, achando que sua cria seria apenas uma curiosidade passageira, e que mais tarde, seria esquecida. Com a ferramenta em mãos, Mélliès foi o primeiro cineasta a colocar historias na tela, tendo se tornado um grande pioneiro da sétima arte.
Essa pequena historia verídica, mesmo tendo se passado no final do século 19, é um reflexo do que se vê hoje em dia com relação ao uso do 3D nos filmes, pois existe um lado que acredita que esse formato, se usado de uma forma errada, será gradualmente esquecido, embora haja cineastas que querem provar, que se usado de uma forma correta, pode sim ser uma maravilhosa ferramenta na hora certa. Martin Scorsese é o mais novo integrante desse segundo grupo, ao fazer A Invenção de Hugo Cabret, baseado não só num famoso livro juvenil, como também justamente na historia verídica contada acima. A primeira vista, é de se estranhar Scorsese trabalhar num filme como esse, principalmente se comparado aos clássicos com um teor mais adulto que ele criou no passado (como o clássico Taxi Drive), mas essa estranheza logo é deixada de lado, quando a tela é invadida por uma Paris nunca antes vista na historia do cinema. Com o 3D, Scorsese não o usa para jogar a cada minuto uma coisa no expectador, e sim ele usa a ferramenta para colocar mais profundidade nas cenas que surgem, seja numa cena da rua, ou até mesmo uma panorâmica da capital francesa, e o resultado é plasticamente perfeito, auxiliado com uma perfeita edição de arte e fotografia, o que torna cada cena um quadro vivo em movimento.
Ainda que a historia fosse ruim, o filme valeria pelo visual, mas a trama não só é ótima, como é um verdadeiro prato cheio, para aqueles que amam o cinema como um todo. Os jovens protagonistas (vividos por Asa Butterfield e Chloe Grace Moretz), ao tentar descobrir respostas sobre a herança que o pai de Hugo deixou, embarcam numa jornada em busca de resposta, e em meio a elas, surgem cenas sobre os primórdios do cinema, capaz de provocar uma pequena lagrima no olho do mais fanático cinéfilo (como eu). Neste momento, é difícil dizer qual o melhor momento do filme, mas talvez seja aquela, onde a jovem dupla, finalmente convence o velho mago e cineasta Mélliès (Ben Kingsley, otimo como sempre) a encarar o seu glorioso passado, É nessa parte, em que Scorsese faz um trabalho de gênio, ao unir as verdadeiras cenas dos clássicos de Mélliès (como Viagem a Lua) com uma reconstituição sobre bastidores da criação dos filmes do diretor de uma forma perfeita, auxiliada com um 3D que surge num momento certo (como a cena do aquário).
É bem da verdade, que o filme talvez venha a emocionar mais aqueles que abraçam o cinema com amor, do que aqueles que buscam algo somente para se divertir, mas o filme funciona para os dois lados, e nunca é tarde para o publico em geral, descobrir os alicerces que criaram o cinema, que se não fosse por elas, não estaríamos hoje em dia curtindo inúmeras historias na tela grande, sejam elas boas ou ruins.
Com elenco que inclui coadjuvantes de luxo como Sacha Baron Cohen (em seu melhor momento desde Borat) e Sr Christopher Lee, A Invenção de Hugo Cabret (assim como o genial O Artista), venha num momento oportuno, para mostrar ao publico atual, que o cinema não nasceu somente para o entretenimento, mas sim para fazer com o que o publico sinta varias emoções, não importando o tipo de tecnologia, desde que ela assista acima de tudo uma boa historia. Pelo visto, irmãos Lumière eram gênios, mas ao mesmo tempo, pensavam pequeno!
Um comentário:
Muito belo visualmente. Merece o Oscar de Melhor Fotografia.
O Falcão Maltês
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