Nos dias 17 e 18 de Setembro estarei participando do curso “POESIA E ENSAIO NA OBRA DE JEAN-LUC GODARD” no CineBancários (Rua Gen. Câmara, nº 424 – P. Alegre / RS). Enquanto os dois dias não vem, por aqui, estarei postando tudo o que eu sei sobre esse grande cineasta que liderou o movimento Nouvelle Vague.
Bando a Parte
Sinopse: Dois rapazes planejam um roubo e convencem uma estudante a ajudá-los.
Na época, alguns críticos falaram que esse filme de Godard era indicado para pessoas que não gostam de Godard. Talvez essa seja a melhor forma de definição a esse curioso filme da fase mais elogiada do diretor francês. Por ter sido filmado com poucos recursos, durante um período curto de 25 dias, Bando à Parte exala um lado mais despretensioso dos trabalhos assinados por Godard, sem abandonar o aspecto experimental. O resultado é um casamento perfeito entre ousadia e simplicidade narrativa, mas mantendo formulas que ele já havia usado em seus filmes anteriores.
Em “Acossado” (1960), por exemplo, o protagonista dirigia-se ao público varias vezes, falando diretamente para a câmera. Em Bando à Parte, Godard aprofunda a idéia de maneira mais bem-humorada, abandonando as brincadeiras com as imagens e rompendo o conceito de realismo através da edição de som – daí as experiências parecerem menos radicais e invasivas. Ele envia piscadelas ocasionais em direção ao público, lembrando-o (com um sorriso no canto da boca) sobre o caráter ficcional da narrativa. A cena mais recordada do filme é um exemplo. Ela ocorre quando há interrupções do som ambiente da cena em que o trio dança num bar, para a introdução de “pensamentos” dos três personagens. Sem falar da cena em que os amigos decidem cruzar o Museu do Louvre correndo pelas galerias, momento homenageado por Bertolucci em Os Sonhadores (2003) e lembrado com saudade por dúzias de cineastas.
Bando à Parte serviu de inspiração para muitos cineastas ao longo dos anos, como no caso de Quentin Tarantino que sendo fã do filme, exerceu influência fundamental no trabalho mais conhecido do norte-americano, Pulp Fiction (1994) – a cena em que Uma Thurman desenha um quadrado com os dedos e a forma geométrica é “riscada” na tela por uma caneta invisível poderia muito bem ter saído da longa-metragem de Godard, sem falar da lembrada seqüência de dança entre Uma e John Travolta, que remete diretamente à já citada seqüência da dança no bar em Bando à Parte. Observe, também, como Godard filma a atriz Anna Karina, então namorada dele, de forma apaixonada, assim como Tarantino fazia com Uma Thurman.
Não querendo dar braço a torcer, Godard certa vez disse (para criticar Quentin Tarantino, que se inspirou nesta obra para batizar sua produtora) que este era seu pior filme.
Além de tudo isso, a longa-metragem consegue capturar muito bem o universo vulgar das novelas policiais pulp baratas, onde Godard ia sempre buscar inspiração. O guarda-roupa (sobretudos cinzentos e chapéus), a ambientação cênica (bares cheios de fumo) e os personagens de moral duvidosa aproximam o trabalho aos amados filmes de gangsteres que o realizador francês tanto elogiou, quando era crítico da revista Cahiers du Cinèma. A narração em off, sempre irônica, ainda chega a prometer uma continuação que nunca veio. Afinal de contas, Godard nunca cedeu aos apelos da indústria cinematográfica. Não seria neste filme que ele cairia na tentação, diferente de muitos cineastas que atualmente fazem sequencias (na maioria das vezes) por ambição.
Curiosamente esse filme tem sido bastante comparado com o filme de Buñuel, O Discreto Charme da Burguesia. Ambos retratam a classe média como um inimigo da sociedade. A abordagem de Godard é, no entanto, muito mais política, como sempre foi na maioria dos seus filmes. Ele vê a burguesia não apenas como um objeto do ridículo, mas como algo perigoso para a sociedade, uma ferida que deve ser cicatrizada se a humanidade querer ter qualquer esperança de felicidade futura.
Weekend à Francesa
Sinopse: Um casal azarado que vive tentando matar um ao outro, viaja para o campo. Por causa do comportamento de todos com que encontram, a viagem acaba por se tornar um pesadelo de acidentes, terrorismo e guerra civil.
Mais um filme em que Jean-Luc Godard faz um ataque sobre a sociedade francesa contemporânea, só que desta vez de uma forma bem abstrata, onde tudo pode acontecer. Uma odisséia anárquica seria mais apropriado, porque o quadro que Godard pinta é uma imagem profundamente perturbadora de um mundo que está em processo de desintegração das forças do capitalismo. Atualmente, o filme é mais recordado pela longa seqüência de dez minutos de duração em que a câmara segue lentamente ao longo de uma aparentemente interminável fila de trânsito numa estrada do país, cuja paz é arruinada pela loucura das buzinadas revoltadas.
Curiosamente esse filme tem sido bastante comparado com o filme de Buñuel, O Discreto Charme da Burguesia. Ambos retratam a classe média como um inimigo da sociedade. A abordagem de Godard é, no entanto, muito mais política, como sempre foi na maioria dos seus filmes. Ele vê a burguesia não apenas como um objeto do ridículo, mas como algo perigoso para a sociedade, uma ferida que deve ser cicatrizada se a humanidade querer ter qualquer esperança de felicidade futura.
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