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Sapucaia do Sul/Porto Alegre, RS, Brazil
Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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terça-feira, 26 de janeiro de 2021

Cine Dica: Streaming: 'On The Rocks'

Sinopse: Laura (Rashida Jones) começa a suspeitar quando o seu marido Dean (Marlon Wayans) começa a trabalhar tarde no escritório. Ela começa a temer o pior e começa a ouvir os conselhos do seu pai (Bill Murray). 

Por ser filha de Francis Ford Coppola parece que há um desejo entre os cinéfilos para que Sofia Coppola seja tão boa quanto o seu pai. Ao meu ver ela não tem que provar nada, mas sim fazer somente bons filmes, sendo que desde "As Virgens Suicidas" (1999) e "Encontros e Desencontros" (2001) ela, pessoalmente, não me decepcionou. Com "On The Rocks" talvez alguns venham acusa-la de ter feito um filme menor de sua filmografia, mas defendo que ela fez um filme gostoso de se assistir em uma tarde chuvosa.   

Afastada de seu pai playboy (Bill Murray) há anos, Laura (Rashida Jones) uma jovem mãe, resolve se aproximar dele. O reencontro entre os dois se torna tão intenso, principalmente em um momento que Laura acredita que o seu marido esteja lhe traindo. Ambos então decidem unir forças para descobrir se a suspeita de Laura seja realmente verossímil. 

A possibilidade de Laura estar sendo traída pelo marido se torna em alguns momentos uma mera desculpa para que a mesma aceite a proposta do seu pai e assim possam se aproximar. O grande charme do filme está na relação entre os dois, de como ambos precisavam de uma reaproximação e para assim conhecerem mais um ao outro. Acima de tudo, é um filme sobre laços familiares, mesmo quando os mesmos se arrebentam em meio aos atritos ao longo dos anos.  

Como sempre, Bill Murray dá um show de interpretação, cujo o seu papel parece um cruzamento do que já foi visto em "Encontros e Desencontros" com o filme "Flores Partidas" (2005), do qual ainda é para mim a melhor atuação de sua carreira. Se por alguns momentos Rashida Jones deixa a desejar em sua atuação, por outro lado, ela melhora graças ao ator em cena e fazendo dos diálogos reflexivos de ambos os melhores momentos do filme. Sofia Coppola, por sua vez, consegue fazer um filme de humor refinado e do qual nos faz rir sem ser forçado.  

O filme só talvez decepcione para aqueles que esperam por algo de novo, pois a trama em si não traz nada disso. Além disso, quando a gente deseja que a jornada de pai e filha continue, o filme simplesmente acaba com soluções fáceis e desapontando aqueles que esperavam um fechamento mais coerente. Isso não fragiliza o filme como um todo, mas talvez Sofia deveria ter repensado em um melhor encerramento.  

"On The Rocks" é uma boa comédia refinada de Sofia Coppola, mas do qual a gente se diverte se não exigirmos muito dela. 

Onde Assistir: Apple TV+ 

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segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

Cine Dica: Streaming: 'Álguém Avisa?'

Sinopse: As namoradas Harper e Abby visitam a família de Harper para o jantar anual de Natal. No entanto, logo após chegar, Abby percebe que a moça tem mantido seu relacionamento em segredo de seus pais conservadores.

A comédia romântica é um gênero que existe desde quando o clássico "Aconteceu Naquela Noite" (1934) lançou a receita para o sucesso. Porém, os anos oitenta e noventa vieram e foram lançados tantos filmes com a mesma temática nestas duas décadas que ela ficou desgastada, ao ponto de virar piada algumas fórmulas apresentadas de tão repetitivas. O casal se conhece; o casal se apaixona; o casal briga e, por fim, o casal reata e assim por diante.

A entrada dos anos dois mil foi uma prova de como esse gênero foi revisitado a exaustão, já que é difícil eu puxar pela memória filmes com essa temática que tenham se tornado inesquecíveis nestes últimos tempos. Porém, nunca diga nunca para a indústria de Hollywood, que sempre tenta revitalizar algum gênero moribundo e para assim adquirir algum lucro. "Alguém Avisa?" (2020) é um sopro de vida para esse gênero, ao tocar em assunto pouco explorado, mas que merece a nossa atenção nos dias de hoje como um todo.

Dirigido por Clea DuVall, da série "The Handmaids Tale", o filme se passa em Happiest Season, onde Abby, interpretada pela atriz Kristem Stewart, está decidida a finalmente pedir sua namorada Harper, interpretada pela atriz Mackenzie Davis do filme "Blade Runner 2049" (2017), em casamento durante uma festa de família. No entanto, ao descobrir que ela ainda não se assumiu para os pais, seus planos são suspensos. Com isso se cria um cenário indefinido com relação ao futuro do casal central.

São poucos exemplos em que a comédia romântica tentou ousar ao tocar assuntos que para determinadas épocas poderiam gerar polémicas. O clássico "Adivinhe Quem Vem para Jantar" (1967), por exemplo, apresentou um dos primeiros casais inter raciais da história do cinema, mesmo quando o tempo fez da obra se tornar um tanto que datada, mas ao mesmo tempo corajosa para aqueles tempos em que preconceito norte-americano ainda era muito acentuado. Difícil dizer se "Alguém Avisa?" sobreviverá aos longos dos próximos anos, mas ao retratar um casal LGBT em situação similar é mais do que bem-vindo nos dias de hoje em que esse assunto precisa ser sempre debatido.

Curiosamente, o filme possui uma edição de arte e fotografia que remete aos clássicos natalinos, que vai desde "Felicidade Não Se Compra" (1946) como "Esqueceram de Mim" (1990). Esse visual, aliás é gostoso de ser apreciado, já que ele remete aos tempos mais dourados, dos quais a gente esperava sempre o final de ano para assistir aos clássicos natalinos. Portanto, ao mostrar nos primeiros minutos o nascimento amoroso do casal central a gente até se esquece que são duas garotas que se apaixonaram, pois é algo que sim precisa ser passado de forma naturalizada o quanto é tempo.

Uma vez começando a trama ficamos questionando até que ponto o segredo ficará sendo encoberto pela Harper e fazendo a gente até mesmo questionar as suas atitudes com relação ao seu relacionamento. Porém, o roteiro faz questão de nos mostrar o quanto esse passo é difícil em ser dado até mesmo nos dias de hoje, já que, querendo ou não, há famílias até hoje que vivem somente pelas aparências, mas sempre querendo guardar o esqueleto dentro do armário. Embora sendo uma comédia romântica, o filme não foge desse dilema.

Transitando entre comédia e com algumas pinceladas de drama, o filme nos diverte em vários momentos, principalmente ao retratar a excentricidade da família de Harper, sendo que suas duas irmãs roubam as cenas que nos fazem a gente se preparar com relação ao que virá em seguida. Com relação ao casal central, Mackenzie Davis se sai muito bem nos momentos em que se exige dela tanto o lado cômico como dramático e fazendo a gente torcer para que possamos vê-la em outros papéis que possam explorar as suas outras camadas de atuação. Kristem Stewart, por sua vez, trabalha em uma atuação econômica, mas não insípida, pois ela já provou a muito tempo que quer provar o seu lado versátil em diversos gêneros.

O ato final, logicamente, se encaminha para as velhas fórmulas desse gênero. Porém, em tempos em que a luta em defesa da comunidade LGBT está em alta, tudo está valendo, mesmo quando as adversidades mostradas dentro da história tenham sido resolvidas de um modo tão fácil. É um filme gostoso de ser assistido, mas se vai ser ou não lembrado somente a história nos dirá ao longo do tempo.

"Alguém Avisa?" é uma revitalização para o gênero da comédia romântica e nos convidando para uma sessão em que o preconceito fique do lado de fora da sala. 

Onde Assistir: Alugue pelo Youtube ou no Now. 


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sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

Cine Especial: Cine Debate: 'EU, DANIEL BLAKE'

NOTA: O filme será debatido na próxima live (26/01/21) do Cine Debate. Para participar entre em contato com Maria Emília Bottini clicando aqui. 

Embora eu não tenha muito conhecimento sobre a filmografia do cineasta Ken Loach, eu sei que ele se destacou pelo mundo em 1969 com o filme "Kes" e que a classe trabalhadora sempre se destaca em suas obras. "Eu, Daniel Blake" (2016) , novo filme do cineasta, acabou se tornando a sua segunda obra a ganhar a Palma de Ouro no Festival de Cannes, sendo que a primeira havia sido Ventos da Liberdade. Chegando agora em cartaz, há indícios aqui que, o seu mais novo filme, tenha ganhado o grande prêmio do festival por questões políticas, mas ao mesmo tempo, é uma obra que nos mexe do começo ao fim e faz com que nos identificamos facilmente.

"Eu, Daniel Blake" é um longa bastante humano, criado em situações familiares e que faz com compreendemos as motivações dos personagens de uma forma rápida. Tendo pontos em comum com o belga "Dois Dias, Uma Noite" (2014), o filme nos brinda com uma atmosfera mórbida, como se não houvesse saída para esses personagens, mesmo quando ocorram situações da qual nasce uma esperança. Não é um cinema autoral, onde você não encontrará truques de movimento de câmera ou até mesmo trilha da qual nós iremos nos lembrar, sendo que o trabalho do compositor Gerge Fenton aqui é bem contido e discreto.

Já o diretor de fotografia Robbie Ryan cria uma atmosfera fria e de pouca esperança naquele universo particular daquelas pessoas, que vivem em busca de um objetivo na vida e de um pouco de respeito que se havia perdido. O roteiro de Paul Laverty, embora simples, consegue extrair o melhor das atuações de cada um dos atores. Dave Johns, ao interpretar Daniel, criou-se então um dos personagens mais queridos do cinema recente e do qual faz a gente torcer por ele do começo ao fim, mesmo estando numa situação que é um verdadeiro precipício.

Contudo, é preciso reconhecer a grande interpretação da atriz Hayley Squires que, ao construir para si a personagem Katie, ela consegue passar todo o grande peso do mundo do qual a sua personagem passa: a cena da qual ela abre um pote de comida de um supermercado para matar a fome é marcante e desconcerta qualquer um que se preze quando assiste.

Diferente do que se acontece em determinados filmes, Ken Loach deu ao seu elenco um espaço do qual fez com que as suas interpretações soassem verossímeis, como se alguns momentos os interpretes saem de cena e dando lugar aos seus personagens como um todo. Dito isso, o filme nunca cai na armadilha de cair no melodrama, mas sim obtendo pontos dramáticos convincentes e transitando em alguns momentos de humor, principalmente em situações das quais é preciso rir para não chorar quando o protagonista sofre na sua cruzada em busca de seus direitos.

Embora torçamos pelo melhor, o filme se encaminha para um desfecho do qual até mesmo já prevíamos, embora torcêssemos para que determinada situação  não acontecesse. Quando ela ocorre, nos damos conta então de como somos frágeis perante um sistema hipócrita e cada vez mais preso em uma realidade capitalista, da qual somente enriquece os poderosos, mas se esquece das pessoas que moram num nível abaixo deles, mas que merecem todo o direito de serem tratados como semelhante. Um filme que, para o bem ou para o mau, ecoa em nossa realidade cada vez mais sendo invadida por um conservadorismo intolerante e ambicioso. 

"Eu, Daniel Blake" é um filme alerta com relação ao nosso tempo atual, do qual se encaminha por um futuro cada vez mais sombrio e indefinido para nós e para as próximas gerações.  

Onde Assistir: Netflix. 

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quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

Cine Dicas: Estreias do Final de Semana (21/01/21)

 Pinóquio

Sinopse: No live action de Pinóquio, somos apresentados à verdade sombria por trás de um clássico que marcou gerações. O solitário marceneiro Gepeto (Roberto Benigni) tem o grande desejo de ser pai, e deseja que Pinóquio (Federico Ielapi), o boneco de madeira que acabou de construir, ganhe vida.



Estranho Passageiro - Sputnik

Sinopse: O único sobrevivente de um incidente no espaço não retornou para casa sozinho – escondida dentro do seu corpo há uma criatura perigosa. Sua única esperança é uma médica determinada a fazer o que for preciso para salvar seu paciente.

Fale com as Abelhas

Sinopse: Depois da morte do pai, a médica Jean Markham (Anna Paquin) volta à sua cidade natal para assumir as funções dele. Quando ela conhece Charlie (Gregor Selkirk) e sua mãe Lydia (Holliday Grainger) a sua vida toma um rumo inesperado que coloca a sua carreira e reputação em risco.


Monos - Entre o Céu e o Inferno 

Sinopse: No topo de uma montanha, numa selva sul-americana, oito adolescentes têm a grande missão de cuidar de uma refém norte-americana, sequestrada por uma misteriosa organização. 

MINHA IRMÃ

Sinopse: Situado em Berlim e nos Alpes Suíços, o filme apresenta Nina Hoss como Lisa, esposa e mãe de dois filhos que chega à beira do esgotamento enquanto tenta equilibrar a família e o trabalho com o desafio físico e psicológico de cuidar do irmão. 



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quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

Cine Dica: Streaming: "Pacarrete"

Sinopse: Nascida e criada em Russas, Pacarrete alimenta desde criança o sonho de ser artista e viver a vida na ponta da sapatilha. Mas as mulheres nasceram para casar e ter filhos em sua conservadora cidade. Ela parte para Fortaleza, onde consegue se consolidar como bailarina clássica e se torna professora de dança. 

Enquanto o Brasil definha devido ao seu conservadorismo e crise política, por outro lado, ainda há artistas que procuram nos dar um pouco de cor nestes tempos acinzentado e sem futuro. Porém, a situação é tão grave que os velhos veteranos não conseguem mais obter a sua voz, pois o povo atual se encontra em total transe e vivendo com as migalhas dadas por essa realidade ingrata. "Pacarrete" (2020) conta a história de uma artista que não propõe parar, mesmo estando na aposentadoria e quando as pessoas em sua volta não conseguem mais dar atenção para ela.

Dirigido por Allan Deberton, do filme "Do Outro Lado do Atlântico" (2017), o filme conta a história de Pacarrete (Marcélia Cartaxo), uma professora de dança aposentada que vive com a irmã Chiquinha (Zezita Matos), no Russas, interior do Ceará. Rigorosa e ranzinza, ela vive limpando a calçada e brigando com quem passa por ela. Seu grande sonho é estrelar um balé para a população local durante a grande festa da cidade, que está prestes a acontecer. Para tanto, ela manda confeccionar uma nova roupa de bailarina ao mesmo tempo em que tenta convencer a prefeitura de seu show. Entretanto, a falta de interesse da população em geral por espetáculos do tipo, logo se torna um grande oponente.

Já na abertura percebemos que iremos ao longo do filme somente testemunhar a bolha em que a protagonista vive, onde o seu interesse é somente a sua arte e mantendo limpa a frente do seu lar. Curiosamente, o restante da cidade quase não aparece, como se não houvesse mais nada de interessante ali, a não ser a espera de algo que os faça acordar. Somente o personagem Miguel, interpretado pelo ator João Miguel, é que dá alguma atenção carinhosa para a protagonista, mesmo quando o próprio já se encontra preso em sua realidade definhando.

Vale destacar o interior da casa da protagonista, cheia de detalhes, onde cada objeto tem uma história para contar, mas dos quais os mesmos ainda existem graças a teimosia dela.  A protagonista, aliás, é uma entidade da natureza da área artística, da qual a idade lhe bate à porta, mas ela persiste em continuar mesmo quando o mundo tenta faze-la desaparecer. Colecionando papéis memoráveis, desde a sua estupenda atuação em "Madame Satã" (2002), Marcélia Cartaxo nos brinda aqui com um dos melhores papéis de sua carreira e cuja a sua personagem pode ser interpretada como uma forma da artista colocar para fora os seus demônios interiores em tempos em que ser artista no Brasil de hoje é uma tarefa cada vez mais ingrata.

Começando com cores quentes, o filme vai se enveredando por cores mais frias, principalmente quando a protagonista sente na pele quando a sua bolha é furada e se dando conta da real realidade que existe em sua volta. O ato final nos revela um grande talento sendo escondido para dentro de um Brasil caindo aos pedaços e tudo que lhe resta é manter o seu talento para si para então continuar vivendo. O que parece ser o fim, talvez, seja o recomeço com o pouco que tem.

"Pacarrete" é sobre a persistência de um grande talento em manter o seu maior dom em meio a um Brasil em frangalhos. 

Onde Assistir: Alugue pelo Youtube   

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terça-feira, 19 de janeiro de 2021

Cine Dica: Streaming: 'Vaga Carne'

Sinopse: Depois de já ter invadido substâncias líquidas, gasosas e sólidas, uma estranha voz toma posse do corpo de uma mulher e experimenta pela primeira vez o gosto de algo verdadeiramente humano. 

No média metragem "Sete de Maio" (2020), o diretor Affonso Uchoa, do filme "A Vizinhança do Tigre (2016), dá voz a um jovem negro da periferia. Por vários minutos vemos somente o protagonista contando o seu passado sofrido e do qual o preconceito racial lhe bateu na cara ao longo dos anos. Em "Vaga Carne" (2020) a voz novamente é o destaque, onde ela se expressa de uma forma que possa ser ouvida, mesmo quando há detratores que tentam silenciá-la.

Dirigido por Grace Passô e Ricardo Alves Junior, do filme "Elon Não Acredita na Morte" (2017), o filme conta a história de uma voz, que depois de já ter invadido substâncias líquidas, gasosas e sólidas, a voz toma posse do corpo de uma mulher e experimenta pela primeira vez o gosto de algo verdadeiramente humano. Juntos, a voz e o corpo procuram por pertencimento e por uma identidade própria enquanto questionam seus papéis dentro da sociedade.

Os primeiros cinco minutos nos deixam na dúvida sobre o que está acontecendo, já que somente ouvimos uma voz e da qual pertence a estupenda atriz Grace Passô. Com um tom imponente, a voz fala de sua trajetória, de suas experiências dentro de uma sociedade da qual muitas vozes são censuradas, amordaçadas e silenciadas. A voz seria, portanto, uma entidade querendo desbravar esse Brasil sempre encurralado pelo preconceito e do qual as mortes provocadas pelo ódio são jogadas para debaixo do pano.

Durante os quarenta e cinco minutos de projeção Grace Passô dá tudo de si em cima de um palco, onde as suas palavras não são ouvidas em um primeiro momento, mas que logo surgem pessoas no auditório e lhe correspondendo. Essas mesmas pessoas seriam representação daqueles que vivem nas periferias, das quais sofrem o preconceito do dia a dia e tendo essa situação piorado em tempos de um Brasil cada vez mais retrógrado. Aos poucos, essas pessoas reagem as palavras da voz em cima do palco e onde cada uma reage de uma forma imprevisível, porém, mais do que justificável.

Na reta final, constatamos que o corpo onde a voz se encontra está na realidade ferido, ou na pior das hipóteses morto. O corpo seria uma representação das inúmeras vozes que foram silenciadas nos últimos anos, sejam elas por um golpe político, ou tiros a mando de personagens que ainda hoje se escondem no escuro. Ao subir os créditos ouvimos vozes familiares, algumas vivas, outras mortas, mas cuja a força de todas elas jamais serão caladas.

"Vaga Carne" é sobre as vozes que não se calarão neste Brasil atual cheio de preconceito e do qual esse último atraso precisa ser derrotado. 

Onde Assistir: Alugue no Vimeo clicando aqui. 


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segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

Cine Especial: 'Dr. Fantástico - Quando o perigo é o lado imbecil do ser humano.

Sinopse: Um general insano que acredita que os comunistas planejam dominar o mundo dá ordens para bombardear a Rússia, iniciando processo de guerra nuclear. Ao mesmo tempo, o presidente e seus assessores do Pentágono tentam desesperadamente parar o processo. 

No auge da Guerra Fria (1947 – 1991) sempre havia o temor do fim do mundo vir a ocorrer devido as bombas nucleares que poderiam ser iniciadas graças a rivalidade entre os EUA e a antiga União Soviética. Verdade seja dita, essa rivalidade não passava de uma briga de egos para ver quem era a potência mais forte, ou como se fossem dois grandes machistas que ficam fazendo comparações com os seus pênis para ver quem se daria melhor na cama. O clássico "Dr. Fantástico ou Como Aprendi a Parar de Me Preocupar e Amar a Bomba" (1964) permanece mais atual do que nunca porque esse machismo imbecil ainda comanda diversos governos pelo globo e fazendo com que nós fiquemos sempre a beira do precipício.   

Dirigido pelo mestre Stanley Kubrick, o filme conta a história de um general americano que acredita que os soviéticos estão sabotando os reservatórios de água dos Estados Unidos e resolve fazer um ataque anticomunista, bombardeando a União Soviética para se livrar dos "vermelhos". Com as comunicações interrompidas, ele é o único que possui os códigos para parar as bombas e evitar o que provavelmente seria o início da Terceira Guerra Mundial.   

A origem do conflito dentro da trama é, por vezes, muito absurda, mas verossímil perante ao fato que hoje testemunhamos nas redes sociais diversos políticos incompetentes que mais preferem se aparecer lançando as suas ideias ideológicas do que ajudar o país. Stanley Kubrick tinha um grande temor pela possibilidade de o fim do mundo vir acontecer através das bombas nucleares, pois já naquela época ele possuía um olhar crítico com relação ao lado irracional do ser humano e do qual está sempre disposto a cometer atos imbecis devido ao seu ego. Baseado no livro "Alerta Vermelho", escrito pelo ex-tenente da Força Aérea Britânica Peter George, o diretor pegou esse material com teor sério para criar uma comédia de humor sombrio, mas como uma forma de combater o seu medo interior e lançar, enfim, um olhar crítico cheio de humor com relação aqueles tempos paranoicos.    

Rodado com uma belíssima fotografia em preto e branco, o filme tecnicamente possui uma beleza mórbida, como se aquela realidade não colorida, talvez, tenha perdido o lado da razão já a muito tempo. Se por um lado vemos soldados norte-americanos sendo jogados em uma missão da qual eles não têm a menor noção da gravidade da situação, do outro, temos os governantes de ambos os lados procurando dialogar na Sala de Guerra do Pentágono, mas se preocupando mais com os seus pensamentos pessoais do que buscar uma solução para a situação.  O resultado é piadas que nos fazem rir, mas que não esconde a gravidade da situação da qual os personagens se encontram ali.   

É incrível, por exemplo, como o discurso anticomunista daquela época não é muito diferente de hoje em dia, pois a paranoia e a estupidez não morreu, mas sim sobreviveu para manter viva a ideia capitalista que nos governa. Basta pegarmos como exemplo o personagem General Jack Ripper, interpretado pelo veterano Sterling Hayden, sendo que ele próprio é o responsável pelo conflito da trama e cujo os seus motivos pessoais são, por vezes, absurdos demais para serem imaginados. O seu discurso sobre o perigo comunista e de como surgiu esse temor dentro dele é irracional, mas absurdamente real, pois basta pegarmos em um único dia o twitter e constatarmos que ainda há vários Jack Tipper por aí.   

O filme também se destaca pela atuação assombrosa de Peter Selles, que não interpreta um, mas sim três personagens: Capitão Lionel Mandrake, o Presidente dos EUA e o ex nazista Dr. Folamour, que é o Dr. Fantástico que dá título ao filme. Curiosamente, esse último personagem tem somente poucos momentos, mas o suficiente para roubar a cena e cuja as suas falas e trejeitos que o próprio ator criou durante as filmagens são de uma imprevisibilidade estupenda.   

Peter Selles é a alma do filme, já que os seus improvisos durante as filmagens surgiam sempre do nada e surpreendendo até mesmo Stanley Kubrick. Na cena do telefone, por exemplo, do qual ele interpreta o Presidente, Selles improvisou em diversos momentos as suas falas e arrisco a dizer que os olhares dos outros intérpretes naquele momento são de tamanho espanto e não sabendo ao certo o que fazer naquele momento. O veterano George C. Scott também não fica muito atrás, ao interpretar um general também viciado pelo anticomunismo e que não esconde as suas necessidades com relação ao sexo justamente meio ao conflito.   

Voltando a Peter Selles, vale lembrar que ele interpretaria o Major King Kong, mas devido ao grande esforço físico que o papel lhe exigia e de ter quebrado o tornozelo, o personagem acabou caindo no colo do ator Slim Pckens. Aliás, a figura do personagem é uma forma satírica que Stanley Kubrick faz ao cidadão norte americano, do qual ele é jogado em uma guerra não declarada e tudo que ele faz é somente com relação ao que foi lhe ensinado no decorrer da vida. A cena dele cavalgando em cima de uma bomba nuclear sintetiza o lado irracional e irresponsável da potência norte americana perante o assunto e se tornando um momento de grande impacto e cheio de simbolismo.

Com um final dominado pela voz de Vera Lynn, cantando We’ll Meet Again, canção muito simbólica também para vários soldados da 2ª Guerra Mundial, constatamos que, quase sessenta anos depois do seu lançamento, "Dr. Fantástico ou Como Aprendi a Parar de Me Preocupar e Amar a Bomba" envelheceu muito bem, pois ainda hoje, infelizmente, somos governados por imbecis. 


Onde Assistir: Alugue pelo Youtube clicando aqui ou compre a edição especial do filme pela Versátil clicando aqui. 

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