A minha relação com a franquia "Premonição" é bastante curiosa. Na época de lançamento do primeiro filme eu não tinha dado muito crédito, principalmente pelo fato que era uma fase que eu estava cansado de filmes de terror em que os protagonistas eram jovens e quase sempre interpretados por talentos esquecíveis. Outro fator determinante de não estar interessado é que havia acabado de assistir um filme com um título similar chamado "A Premonição" (1999) estrelado por Annette Bening e Robert Downey Jr e do qual havia gostado bastante.
Porém, após cinco filmes e com a chegada do sexto nos cinemas, eu decidi dar uma chance a essa franquia e reservar um dia das minhas férias para assistir a todos os capítulos. O resultado dessa empreitada vocês leem abaixo.
"Premonição" (2000)
Bem, apesar desse ser o primeiro filme da franquia é curioso observar que ele acabou sendo o menos lembrado após tantas continuações que foram lançadas ao longo dos anos. As mortes deste (comparada com os outros filmes) são as menos cruéis possíveis, como se os realizadores estivessem preocupados em não exagerar já no início, já que não sabiam ao certo se obteriam o resultado positivo que estavam esperando. O “vilão” não poderia ser mais original, sendo a própria Morte.
Em termos de efeitos visuais, você pode até se assustar ao compará-lo com os outros capítulos. Aqui se percebe que tudo é feito à mão, onde o CGI não era o lado dominante da indústria da época e fazendo com que até mesmo sintamos o peso das mortes no decorrer da história. Todo filme dessa franquia tem um acidente no início, que é a partir da visão do protagonista. Nesse não poderia ser diferente, e aqui temos um acidente em um avião que é, desde já, um dos melhores momentos da franquia como um todo.
Do elenco, destaque para o veterano Tony Todd, que aqui interpreta um misterioso homem que trabalha no necrotério e que começa a falar sobre os inúmeros significados com relação à morte. Embora atue em poucos minutos, ele simplesmente rouba a cena, ao ponto de ser convidado nas demais continuações. Infelizmente Tony Todd viria a falecer no ano passado, mas deixando a sua marca dentro da franquia como um todo.
"Premonição 2" (2003)
O segundo capítulo é um dos casos raros em que sequências acabam se tornando bem-sucedidas, mesmo quando a narrativa fica aquém do esperado. Mesmo não trazendo nada de novo na narrativa, o filme introduz os elementos que deram certo na produção anterior e fornece ao público doses generosas de adrenalina. Com roteiro assinado por J. Mackye Gruber e Eric Bress, o filme reforça as cenas de ação e introduz uma relação satisfatória com o anterior, explicitada mais adiante.
A escolhida da vez é Kimberly (A J Cook), uma jovem em viagem com alguns amigos. Durante o percurso de ida, a garota tem a tal premonição de abertura, padrão dos filmes da franquia. O cineasta David R. Ellis, ciente da sua condição de continuação, entrega ao público uma cena de acidente extremamente poderosa, que não deve nada comparado a abertura do primeiro filme. Após ver os seus amigos e uma fila de desconhecidos envolvidos num engavetamento na estrada, a jovem decidiu interromper a estrada e impedir que os carros continuassem o seu trajeto.
Como não poderia deixar de ser, os sobreviventes se tornam os novos alvos da morte que começa assassiná-los um por um. Destaque para o retorno de Clear River (Ali Larter), sendo que a própria havia se internado para fugir da morte, mas sendo obrigada a ter que ajudar os novos personagens. E assim como no filme anterior, o personagem misterioso dono do necrotério, interpretado pelo ótimo ator Tony Todd, novamente nos levanta a suspeita se ele não poderia ser a própria morte.
"Premonição 3" (2006)
Apesar de o segundo filme ter obtido um bom resultado, é um tanto inferior se compararmos ao primeiro, fato que motivou o estúdio, a New Line Cinema, a trazer de volta para o terceiro capítulo James Wong e Glen Morgan, dupla responsável pelo original. “Premonição 3” na verdade é um claro exemplo de que novas continuações dessa franquia são desnecessárias, mas sempre terão seu público e não fazem mal algum aos fãs do gênero. Inferior aos dois primeiros, com a história mais do que batida e sem mistério algum (algo ruim para um filme que tende a ser de suspense), o filme acaba servindo como uma boa diversão – diversão no sentido de fazer rir mesmo – para quem aprecia filmes de violência que vão contra qualquer lei do bom senso.
Na trama, Wendy (Mary Elizabeth Winstead), aluna do último ano do ensino médio, reúne-se com os amigos para a noite de comemoração da formatura num parque de diversões. Quando eles estão prestes a andar na montanha-russa, Wendy fica subitamente assustada. Assim que se vê presa ao assento do brinquedo, experimenta a vívida premonição de um acidente fatal no qual a montanha-russa se torna uma armadilha mortal para ela e seus amigos.
Não é preciso ser gênio para saber o que acontece depois. Curiosamente, Mary Elizabeth Winstead é atriz da franquia que mais teve carreira sólida, atuando em filmes posteriormente cultuados como "Scott Pilgrim contra o Mundo" (2010) e grandes sucessos como "Aves de Rapina: Arlequina" (2020).
"Premonição 4" (2009)
É fácil apontar essa quarta parte como a pior da franquia, pois a trama é basicamente a mesma de sempre e alinhado com um 3D desnecessário e cujo CGI piora tudo. Basicamente somente muda o tipo de acidente do início da trama, trazendo somente novos personagens e se tem, portanto, a mesma história de sempre. É até estranho a decisão dos produtores em trazer o diretor David R. Ellis, diretor do segundo filme, já que se ele havia falhado um pouco naquele longa para que então voltar?
Na trama, Nick O'Bannon (Bobby Campo) vai assistir uma corrida de carros. Porém, um acidente faz com que um dos carros, que estava a 300 km/h, derrape na pista. Isto faz com que exploda na platéia, causando a morte de dezenas de pessoas. Entretanto antes que isto ocorresse Nick teve uma premonição, que fez com que ele e seus amigos deixassem o local. De início eles acreditam que escaparam da morte, mas logo ela parte em seu encalço.
Ou seja, basicamente a mesma história só que alinhada em um período em que o 3D voltou com força graças ao sucesso de "Avatar" (2009), mas que não acrescenta em nada na trama e fazendo com as mortes se tornem as piores da franquia. O elenco também é apontado por muitos como o pior de todos os capítulos, sendo que o ator principal Bobby Campo é insosso e basicamente só segue o roteiro. Parecia, portanto, que a morte definitivamente havia alcançado a franquia, mas a própria havia enganado ela.
"Premonição 5"
Após os erros cometidos no capítulo anterior, os produtores decidiram dar uma renovada neste quinto filme, ao eliminar principalmente o que mais havia dado errado, que era o CGI e o 3D. Embora seja a mesma premissa de sempre, se nota um capricho maior na realização das cenas de morte, principalmente ao acidente inicial que ocorre no início da trama e que não deve nada a qualquer tipo de filme pertencente ao subgênero catástrofe. Além disso, os realizadores corrigiram em trazer de volta o misterioso personagem dono de funerária William Bludworth, interpretado brilhantemente por Tony Todd e que novamente faz levantar questionamentos sobre quem realmente ele é.
Dirigido agora por Steven Quale, na trama acompanhamos Sam (Nicholas D'Agosto) que sente um estranho pressentimento que as pessoas com quem trabalha e viaja com ele irão morrer num grave acidente em uma ponte. A sua visão acabou acontecendo, mas fazendo com que ele conseguisse salvar os seus amigos do desastre. Porém, não demora muito para que a morte volte a caçá-los impiedosamente.
É interessante que neste filme a transição entre humor e horror está mais equilibrada, dando mais enfoque ao suspense e cuja cenas de morte são muito mais bem elaboradas. Curiosamente, o papel do senhor William Bludworth se torna ainda mais relevante a partir do momento que ele joga uma pista para os protagonistas para tentar driblar a morte. Claro que nada dá muito certo, mas isso serve para que a narrativa não se torne repetitiva a todo momento.
O que faz deste quinto filme ser um dos melhores capítulos desde o primeiro está na forma como ocorre os desdobramentos dentro da trama, principalmente com relação ao seu ato final, do qual não somente é surpreendente como também fecha um círculo iniciado no primeiro filme. Graças a esse final a franquia poderia, enfim, ter o seu descanso eterno, mas estamos falando de filmes que sempre deram um bom lucro para o estúdio e é por conta disso que recentemente chega aos cinemas o sexto capítulo.
Pelo visto, a morte nunca tirou férias, seja na realidade ou na ficção.
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