Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte.
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"O Exorcista" (1973) é apontado pela maioria como um dos melhores filmes de terror de todos os tempos. A obra prima de William Friedkin arrastou multidões, chocou o mundo e gerando diversas imitações e das quais nenhuma deu certo. Com começo, meio e fim bem amarrados, o filme não precisava de uma continuação, mas diga isso para Warner que na época se encantou com os milhões que o clássico gerou nas bilheterias.
É bom lembrar que a obra é baseada no livro escrito por William Peter Blatty, do qual o mesmo jamais havia dado continuidade a sua obra, mas isso não impediu para que o estúdio quisesse uma sequência. O próprio William Friedkin não embarcou no projeto achando ridículo a ideia da continuidade e o mesmo vale para a atriz Ellen Burstyn que não via com bons olhos a possibilidade. Os únicos que toparam o retorno foram a própria Linda Blair e um relutante Max von Sydow.
Coube ao diretor John Boorman, do ótimo "Excalibur" (1981), e ao roteirista Rospo Pallenberg a tarefa, mas da qual sofreu diversos percalços durante as filmagens. Há quem diga que o roteiro foi reescrito diversas vezes, locações em que os realizadores queriam filmar não foram liberadas e fazendo com que eles criassem, por exemplo, o apartamento original em estúdio. Além disso, as cenas com diversos gafanhotos provocaram a morte dos mesmos, já que os insetos não suportavam a mudança brusca de temperatura de uma região para outra.
A trama se passa anos depois de Regan (Linda Blair) ter sido salva pelos padres durante o exorcismo. Porém, a igreja chama o padre Father (Richard Burton) para investigar o que levou o padre Merrin (Max Von Sydow) ter morrido durante o procedimento. Comandado pela Dra. Gne Tuskin (Louise Fletcher) Regan passa por uma hipnose para ver o que realmente aconteceu naquela terrível noite.
John Boorman sempre deixou claro que achava perverso o filme original, principalmente pelo fato de expor as dores que a personagem central passou durante a trama. Por conta disso, aqui não temos uma Regan sendo possuída, mas sim alguém especial e que até mesmo enfrentou o Demônio Pazuzu em outras vidas. É aí que talvez se encontre o principal erro do filme, ao dar uma explicação mais plausível sobre o porquê de ela ter sido possuída no passado, sendo que o mistério fazia muito mais sentido.
Aliás, se percebe que, ao ter que explicar demais, o roteiro acaba nos confundindo ao tentarmos compreender a trama como um todo, principalmente nas cenas em que se passam na África, cuja a montagem com certeza gerou uma grande dor de cabeça para os montadores na época. Para piorar, a ideia do leitor de mentes que a protagonista usa para se lembrar do exorcismo é uma das piores ideias que inventaram para a trama, sendo que ela reconstitui a cena de como Merrin morreu nas mãos de uma Regan possuída, mas sendo interpretada por uma outra atriz e fazendo da situação se tornar completamente ridícula. Vale destacar que Linda Bair exigiu não usar novamente a pesada maquiagem do filme original, mas cujo resultado acaba sendo ainda mais desastroso com uma dublê em cena e tornando tudo constrangedor.
Fico me perguntando o que levou Richard Burton e Louise Fletcher a embarcarem neste projeto, sendo que a última já havia ganho um Oscar pelo clássico "Um Estranho no Ninho" (1975). O próprio James Earl Jones faz uma ponta interessante como aquele que enfrentou o Demônio no passado, mas sendo desperdiçado em uma passagem da trama em que com certeza os montadores da edição passaram a tesoura para tentar ser melhor compreendida pelo público, mas que fez com que somente piorasse tudo. E o que dizer do ato final em que se passa novamente no quarto de Regan, com o direito de ela enfrentar o seu lado sombrio possuído, mas tornando toda situação bastante vergonhosa para a atriz em cena.
Fracasso de público e crítica na época, o filme é bastante esquecido para os fãs do longa original, sendo que até hoje muitos não ousam embarcar neste barco furado. A Warner, por sua vez, teve ainda a coragem de lançar "O Exorcista III" (1990) que há quem diga é até razoável, mas facilmente também esquecido. Ou seja, podem fazer todas as continuações que puderem, mas jamais conseguiram a perfeição que o clássico de William Friedkin obteve.
"Exorcista II - O Herege" é uma das piores continuações que eu testemunhei na vida e que com certeza merece ser esquecida.
Celebrando o aniversário de 40 anos de A Hora do Pesadelo, marco do horror oitentista dirigido por Wes Craven, a mostra A Vigília do Delírio apresenta a partir do dia 29 de outubro narrativas no limiar do sonho e da realidade, com filmes de grandes nomes de diferentes períodos do cinema, como Jacques Tourneur, John Cassavetes, Alain Resnais, Apichatpong Weerasethakul e Hong Sangsoo. O valor do ingresso é R$ 10,00.
No sábado, 02 de novembro, às 23h59, a Madrugada do Delírio levará o público da Capitólio às profundezas oníricas do terror com sessões de cinema até o raiar do sol. A maratona de quatro filmes começa com o cultuado A Hora do Pesadelo 3: Os Guerreiros dos Sonhos, de Chuck Russell, e segue com dois longas inspirados na figura de Freddy Krueger: Massacre 2, de Deborah Brock, e Brainscan: Jogo Mortal, de John Flynn. No fim da noite, um filme surpresa – um dos grandes pesadelos filmados dos anos 1950 – encerra a programação.
MADRUGADA DO DELÍRIO – VENDA DE INGRESSOS
Um lote de 80 ingressos será vendido a partir de terça-feira, 29 de outubro, nos horários de abertura da bilheteria (30 minutos antes de cada sessão). O segundo lote de 80 ingressos será vendido no dia da sessão, a partir das 14h30. Cada pessoa pode comprar um total de 3 ingressos.
O valor do ingresso para a Madrugada do Delírio é R$ 20,00.
Nota: Filme exibido para os associados no dia 26/10/24
Sinopse: O dono de restaurante Zinos parece nunca ter sossego. A garota que ele ama se muda para a China e Zinos decide deixar seu precioso restaurante nas mãos de seu irmão, Ilias, que rapidamente perde o controle do local.
Em alguns casos, certos filmes quando estreiam em Porto Alegre acabam ficando tão pouco tempo em cartaz que mais pareciam que eles nem haviam estreados. Porém, há casos de certos títulos receberem o seu reconhecimento no seu devido tempo e se transformarem em um verdadeiro filme cult. "Soul Kitchen" (2010) é um desses casos que eu nem sabia que era um filme cultuado, mas que tive o privilégio de conhecê-lo pela primeira vez pelo Clube de Cinema do qual eu sou associado.
Dirigido por Fatih Akin, realizador de títulos como "Bar Luva Dourada" (2019), o filme conta a história de Zinos Kazantsakis (Adam Bousdoukos), proprietário do restaurante Soul Kitchen. Porém, a situação não anda muito bem, pois em um primeiro momento a clientela não está gostando da comida do novo chef. Para complicar, Nadine (Pheline Roggan), sua namorada, resolveu se mudar para Xangai e uma terrível dor nas costas o atormenta. Zinos precisa da ajuda do irmão (Moritz Bleibtreu) para revitalizar o restaurante e para assim pagar as dívidas e evitar novos problemas.
É gostoso quando você vai assistir ao filme sem muita informação e fazendo com que a sessão se torne ainda mais reveladora. Embora já tenha feito filmes pesados ao longo de sua carreira, Fatih Akin opta aqui por um tom mais bem humorado, onde as adversidades que o protagonista enfrenta acontecem a todo momento, mas também ocorrendo boas ideias para que o restaurante comece a voltar aos trilhos. Tudo moldado com edição agiu de cenas, da qual se casa com uma trilha sonora contagiante e que, segundo o que me disseram, se tornou rotineira ao ouvi-la nas baladas nos anos que se seguiram em Porto Alegre.
O filme é um retrato bem interessante sobre como a cultura da imigração influenciou a cultura alemã nos primeiros anos do século vinte e um. Porém, o que mais chama atenção é a culinária vista na tela, da qual é feita de forma poética pelo chef de cozinha e interpretado de uma forma intensa pelo ator Birol Ünel. Para o personagem, a culinária é algo a ser comparado à arte e da qual exerce o papel de persuadir o indivíduo a sentir outros prazeres que a vida lhe oferece. Se isso pode parecer um tanto exagerado, aguarde a cena em que eles exageram do afrodisíaco e gerando uma verdadeira orgia no ápice do filme.
Porém, o real protagonista da trama é mesmo o personagem Zinos e interpretado de uma forma divertida, porém intensa, pelo ator Adam Bousdoukos. Nota-se, por exemplo, que ele leva o seu trabalho a sério, mas não esconde uma certa inocência com relação aos fatos da vida, principalmente quando se entrega a sua namorada de um modo que não consegue enxergar os novos horizontes a partir do momento quando ela se muda para Xangai. Como um todo, o filme é moldado por personagens com poucas expectativas, mas que uma vez unidos fazem a diferença no restaurante e que ao longo da trama se torna o cenário das principais situações que beiram ao inusitado.
É particularmente interessante como o filme vem e volta com as soluções para os problemas, mas que acabam dando de encontro com novos erros cometidos pelos personagens e principalmente aqueles protagonizados pelo irmão do protagonista que é interpretado pelo ator Moritz Bleibtreu e do qual eu havia conhecido no cultuado "Corra Lola, Corra" (1998). Quando achamos que o mesmo irá se acertar na vida, principalmente quando começa a se apaixonar pela personagem vivida intensamente pela atriz Anna Bederke, é então que ele joga tudo a perder e coloca os personagens em um beco sem saída. O filme tem tudo para se encaminhar para momentos até mesmo trágicos, principalmente com o protagonista cada vez mais sofrendo com as dores nas costas.
É então que Fatih Akin parece querer tirar o pé do acelerador e jogar soluções para os personagens que beiram o surreal, para não dizer quase cartunesco, mas que amenizam a tensão que estávamos sentido até aquele momento. A cena do botão, por exemplo, poderá até mesmo soar ridículo, mas que acaba se tornando um pequeno detalhe que faz a diferença para o restante da história como um todo. No geral, é um filme sobre pessoas comuns que batalham para sobreviver em uma realidade onde há sempre mudanças constantes e cujo sistema capitalista segue fazendo as suas vítimas.
Com tantas coisas sérias para se enfrentar, talvez o filme nos diga que, por mais complexo que a vida seja, tudo se resolve no seu tempo e basta seguir em frente para, enfim, abraçá-lo. Talvez a Alemanha de hoje não seja a mesma que foi vista no filme, mas nunca demais olharmos para trás para ver o que havia de melhor e que pode um dia retornar. "Soul Kitchen" é um filme que se tornou cult instantâneo e os ingredientes é o que não faltam para ter adquirido esse merecido feito.
Vencedor da Palma de Ouro do Festival de Cannes em 1978, o filme de Ermanno Olmi foi realizado inteiramente falado no dialeto da província de Bergamo. Curiosamente, todos os personagens vistos na tela não são atores, mas sim compostos por reais camponeses. Um feito mais do que surpreendente, principalmente se a pessoa assistir a esse filme sem essa informação e começando ter a sensação de estar assistindo a um projeto quase documental.
Nesta curiosa reconstituição sobre as vidas dos camponeses da Lombardia, o cineasta Ermanno Olmi proporciona uma síntese perante a angústia dos seus retratos passados da Itália contemporânea. Várias histórias vão surgindo do trabalho dos camponeses e da vida comunitária que vão de: ao relacionamento e bodas de um casal; um pai cortando a árvore do proprietário rural para fazer uns sapatos para o filho e ir à escola; um homem de idade avançada adubando tomates com estrume de galinha para eles amadurecerem mais cedo.
A iluminação é serena, sendo na maioria das vezes realizada com fontes naturais do ambiente. Sua trilha sonora é discreta, como se fosse o desejo do realizador em aproximar o público ao mais próximo do realismo e evitando assim qualquer interferência da parte técnica. Os planos breves de cena são o modo autoral do realizador, não permitindo que nos envolva plenamente, pois a nossa visão precisará se acostumar ao que virá a seguir.
Há momentos que desejamos recuar, pois o lado cru, por vezes, invade a tela, como no caso do abate de um grande porco e do qual se torna angustiante de ser visto e ouvido. Porém, em sequência digna de nota, uma mulher ora enquanto caminha, enche uma garrafa de vinho num regato para, enfim, vê-la nas portas de uma igreja. É aqui que, talvez os mais céticos, acusem o realizador de embelezar por demais os momentos da fé vistos na tela.
Mas tal afirmação poderia perder o seu ponto de vista, pois Ermanno Olmi opta em fazer uma transição entre o verossímil e os mistérios da fé no dia a dia de camponeses que possui poucos recursos, mas que se sentem fortes através da fé em Cristo. Embora em proporções discretas, ouso dizer que é o filme mais singelo sobre a questão da religião na vida dos homens e mulheres de antigamente.
O filme faz um paralelo com outra obra anterior sua que foi "I Fidanzati", (1963), mas cujo os personagens se veem envolvidos na realidade do mundo industrial, alienado e que vivia das mudanças no começo dos anos sessenta. Em ambos os casos se destaca o "humanismo" perante as adversidades impostas nos dois longas e o que fazem se direcionarem em finais, por vezes, bastante pessimistas. Comovedor em vários momentos, "A Árvore dos Tamancos" pode ser facilmente apontado como um verdadeiro herdeiro do cinema neorrealismo italiano.
O Dia Internacional da Animação (DIA) será celebrado na próxima sessão do Cineclube Torres, na segunda-feira, dia 28, às 20h.
Uma seleção de curtas de animação brasileiras e internacional será exibida na Sala Audiovisual Gilda e Leonardo, localizada na UP Idiomas Torres. O Dia Internacional da Animação (DIA) é uma Mostra de curtas-metragens de animação com exibições que acontecem em várias cidades de norte a sul do Brasil. O Cineclube Torres, que é sede da manifestação já há vários anos, vai novamente trazer à cidade a Mostra Oficial deste extraordinário evento audiovisual.
A Mostra Oficial é composta por um programa de curtas brasileiros (Mostra Nacional) e um de curtas estrangeiros (Mostra Internacional), exibida simultaneamente em todas as cidades participantes do circuito, no dia 28 de outubro, com entrada franca, como é sempre tradição no espaço cineclubista de Torres. Será mais uma oportunidade de assistir e debater uma ampla seleção de obras que utilizam as mais variadas técnicas de animação.
A data foi escolhida porque no dia 28 de outubro de 1892, Charles-Émile Reynaud realizou a primeira projeção pública de imagens animadas do mundo, exibindo o filme Pauvre Pierrot, no Museu Grévin, em Paris. Inspirada nesse fato, em 2002 a ASIFA (Associação Internacional do Filme de Animação) lançou a comemoração do Dia Internacional da Animação.
A sessão integra a programação continuada realizada nas segundas feiras, na Sala Audiovisual Gilda e Leonardo, pelo Cineclube Torres, associação sem fins lucrativos com 13 anos de história, em atividade desde 2011, Ponto de Cultura certificado pela Lei Cultura Viva federal e estadual, Ponto de Memória pelo IBRAM, Sala de Espetáculos e Equipamento de Animação Turística certificada pelo Ministério do Turismo (Cadastur), contando para isso com a parceria e o patrocínio da Up Idiomas Torres.
Onde: Sala Audiovisual Gilda e Leonardo, na escola Up Idiomas, Rua Cincinato Borges 420, Torres
Quando: Segunda-feira, dia 28/10, às 20h.
Ingressos: Entrada Franca, até lotação do local (aprox. 22 pessoas).
Cineclube Torres
Associação sem fins lucrativos
Ponto de Cultura – Lei Federal e Estadual Cultura Viva
"O Massacre da Serra Elétrica" (1974) foi o pontapé inicial para o nascimento do subgênero "Slasher", onde assassinos mascarados assombravam e atacavam jovens que buscavam somente azaração em suas vidas, mas davam de encontro com algo assustador e mortal. Dito isso surgiram as franquias iniciadas a partir de "Halloween - A Noite do Terror" (1978) e "Sexta-Feira 13" (1980) que geraram litros de sangue sendo derramados nas telas além de grande lucro para os estúdios. Porém, "A Hora do Pesadelo" (1984) se diferenciava e muito de suas contrapartes.
Wes Craven já era um diretor que estava chamando atenção através de filmes de horror intitulados "Aniversário Macabro" (1972) e "Quadrilha de Sádicos" (1977). Curiosamente, ele havia dirigido um filme de baixo orçamento que era baseado nas HQ do "Monstro do Pântano" (1982), mas que viria a ser cultuado mesmo com todas as suas limitações. Com esse currículo já era o suficiente para a New Line Cinema dar carta branca para o realizador fazer o que bem entender com o projeto "A Hora do Pesadelo", mas ninguém imaginava que ele conseguiria chegar tão longe.
Na trama, acompanhamos um grupo de adolescentes que passa a ter pesadelos horríveis, onde são atacados por um homem deformado com garras de aço. Os crimes vão ocorrendo seguidamente, até que se descobre que o ser misterioso é na verdade Freddy Krueger (Robert Englund), um homem que molestou crianças na rua Elm e que foi queimado vivo pela vizinhança. Agora Krueger pode retornar para se vingar daqueles que o mataram, através do sono.
Com efeitos práticos na época, Wes Craven cria um filme claustrofóbico quando os jovens protagonistas começam a ter pesadelos com o grande vilão da trama e fazendo com que cair no sono se torne o pior erro de suas vidas. O trunfo do longa está na presença assustadora de Robert Englund caracterizado como Freddy Krueger, cujo seu rosto deformado, figurino peculiar e suas garras sinistras aterrorizaram uma geração inteira. Eu me lembro como essa figura virou febre entre os jovens que curtiam filmes de terror durante a década de oitenta e chegando a ser até mesmo atração de programas do SBT.
O filme também marca a estreia do até então jovem ator Johnny Depp, que aqui interpreta o namorado da personagem Nancy, interpretada pela atriz Heather Langenkamp. Além de ser a sua primeira grande oportunidade no cinema, Depp protagoniza aqui a morte mais horripilante do filme como um todo, onde o seu corpo é sugado para dentro da cama e para logo em seguida o sangue esguicha para o teto do quarto. Qualquer semelhança dessa cena com a do elevador vista no clássico "O Iluminado" (1980) não é mera coincidência.
O filme foi um verdadeiro sucesso de público e crítica e fazendo com que o estúdio logo corresse para fazer outros capítulos para o cinema. É claro que isso acontece principalmente pela maneira que a trama termina, sendo algo não planejado pelo próprio Wes Craven, já que ele não estava interessado em voltar a dirigir a sua própria criatura novamente. Porém, o dinheiro fala mais alto em Hollywood.
‘A Hora do Pesadelo 2 - A Vingança de Freddy’
No último curso do Cine Um, intitulado "Monstros do Armário" e ministrado pelo crítico de cinema Conrado Oliveira, era analisado filmes clássicos do horror, onde a diversidade sexual era uma temática velada, porém poderosa. Graças a essa atividade eu pude enxergar alguns filmes com um novo olhar e constatando que a questão da Homossexualidade sempre estava lá nas entrelinhas e passando quase desapercebido pelos sensores da época. Porém, o que mais me surpreendeu foi uma análise de um clássico dos anos oitenta, mas que nunca havia percebido devido a minha inocência.
Para mim não existe melhor época que os anos oitenta, não somente pelo fato de eu ter nascido no início desta década, como também onde nós encontramos os filmes e as músicas que moldaram uma geração. Porém, sempre houve o lado negativo da situação, como fato de os conflitos pelo mundo ainda existirem, assim como também certas doenças que aterrorizavam uma geração inteira como foi no caso da AIDS. Infelizmente, principalmente devido ao preconceito, esta epidemia foi muito associada aos Homossexuais, sendo essa teoria gerada pelo fato de os cientistas ainda não terem uma noção exata do que estava acontecendo, como também através da mídia sensacionalista que pregava o seu ódio.
O cinema, por sua vez, retratou essa realidade por vezes de uma forma até mesmo negativa, como foi no caso de "Parceiros da noite" (1980) de William Friedkin. Por outro lado, houve também filmes que tocavam no assunto de uma forma bem subliminar, onde os personagens se tornariam uma manifestação, não somente sobre o caso da AIDS, como também sobre aceitar ou não em ser diferente. É então que chegamos em " Hora do Pesadelo 2 - A Vingança de Freddy" (1985), continuação do clássico de Wes Craven e que sobreviveu ao teste do tempo, ao possuir uma análise sobre a dificuldade de uma parcela daquela geração em ter medo de sair do armário e como a sociedade preconceituosa enxergava sobre isso.
Na trama, dirigida agora por Jack Sholder, conhecemos a família Walsh, que se mudou para a antiga casa onde ocorreram os principais eventos do filme anterior. Logo Jesse (Mark Patton) passa a ter horríveis pesadelos com o assassino. Lisa (Kim Myers), sua namorada, investiga e descobre o passado da casa. Entretanto, Freddy já está de posse do corpo de Jesse e o obriga a cometer assassinatos contra sua família e amigos.
Diferente do filme anterior, aqui Freddy não procura somente cometer os seus crimes através dos pesadelos dos jovens, como também possuir o corpo de Jesse e para assim assassinar até mesmo no mundo real. É então que vemos a mensagem subliminar da coisa, já que Jesse parece um jovem com sentimentos reprimidos, isolado e dando a entender que sofria bullying no colégio. Na medida em que tenta não ser possuído por Freddy, ao mesmo tempo poderíamos interpretar o fato como ele não aceitar ser gay, pois isso na visão dos realizadores seria algo ruim, com o direito do seu corpo começar a ter diversas manifestações e fazendo uma alusão sobre a própria AIDS.
Além disso, há passagens que esse subtexto acaba se destacando ainda mais, como o fato de Jesse se encontrar com o seu professor de ginástica em uma boate gay e da sua ida imediata para a casa de um amigo depois de tentar uma relação sexual com a namorada na festa da piscina. Mark Patton que interpreta Jesse disse que os produtores sabiam que ele era gay na vida real e usaram essa informação para elaborar a trama de acordo com a visão que eles tinham com relação aos Homossexuais naqueles tempos. Por conta disso, o ator disse que no decorrer do tempo houve pessoas que chegavam nele e diziam que o seu personagem precisava ser hetero para não ser possuído pelo vilão.
Em 2015, Patton compareceu à San Diego Comic-Con para participar de um debate sobre essa controvérsia. Na ocasião, o ator disse que o filme o "agrediu por muito tempo" e que ele tem o longa-metragem como "um exemplo de bullying". Em suas palavras: "Apenas nos últimos cinco anos que a opinião do público sobre o filme mudou e eu voltei a trabalhar como ator. Continuaram me oferecendo trabalho, contanto que eu continuasse no armário.
Ao assistir a esse filme percebo que ele é sim é um retrato sobre o pensamento de uma sociedade desinformada, homofônica e que fazia com que várias pessoas se mantivessem dentro do armário. Ao mesmo tempo, tanto o diretor, como também o roteirista David Chaskin,alegaram no decorrer dos anos que nunca pensaram em elaborar o longa dessa forma, mas que construíram dessa maneira de acordo com a realidade que eles conviviam em sua volta. Logo após a estreia do filme Mark Patton largou a carreira como ator, alegando que a sua experiência dentro da produção foi algo traumático
Apesar de todas essas polêmicas, é interessante observar que o filme sobrevive ao teste do tempo devido a todo esse subtexto inserido no filme. Ao meu ver, é um retrato sobre alienação preconceituosa que estava encravada naqueles tempos. Curiosamente, esse subtexto, principalmente sobre o que pensavam sobre a AIDS, continuaria em outros longas que viriam se tornar clássicos, como no caso de "A Mosca" (1986).
"A Hora do Pesadelo 2 - A Vingança de Freddy" é um filme complexo ao usar o subtexto para sintetizar os pensamentos de uma sociedade que não sabia lidar com a questão do homossexualismo.
'A Hora do Pesadelo 3 - Os Guerreiros dos Sonhos'
É engraçado que ao olharmos para trás constatamos que o segundo filme se tornou bem mais lembrado mesmo com todo o seu subtexto polêmico que foi inserido na trama. Por conta disso, é interessante observar que o terceiro filme lançado em 1987 acabou sendo o menos lembrado, porém, muito melhor em termos de história e pirotecnia. Esse resultado se deve muito pelo fato de os realizadores terem ouvidos às críticas, dando maior espaço para o vilão e explorando cada vez mais as possibilidades do universo dos sonhos.
Na trama, agora dirigida por Chuck Russell, o mesmo de "O Máskara" (1994), vemos aqui Nancy Thompson (Heather Langenkamp) de volta entre os sobreviventes dos ataques de Freddy Krueger (Robert Englund) e agora sendo uma psicóloga especializada em sonhos. Ela trata de alguns adolescentes em um sanatório, que são atacados por Krueger em seus pesadelos. Para combatê-lo, Nancy ensina as crianças a usarem suas habilidades especiais no universo dos sonhos e pesadelos e para que assim possam enfrentar Krueger em seu próprio território.
O filme possui uma trama muito mais amarrada e sabendo muito bem para onde ir. Ao explorar as mais diversas possibilidades com relação aos sonhos, o filme se torna um verdadeiro show de efeitos visuais da época, sendo na maioria práticos e muito bem criativos. Destaco a cena em que vemos Krueger na forma de esqueleto, sendo elaborado em stop motion e que não me admira que tenha servido de inspiração para Sam Raimi no seu "Uma Noite Alucinante 3" (1992).
Além disso, o filme possui alguns rostos que posteriormente seriam bastante conhecidos ao longo dos anos. Esse foi o segundo filme da atriz Patricia Arquette na carreira e que posteriormente se tornaria mais conhecida em filmes como "Amor à Queima Roupa" (1995) e ganhando um Oscar por "Boyhood - Da Infância À Juventude" (2014). Já Laurence Fishburne como um enfermeiro do hospital já era conhecido por alguns papéis como coadjuvante em grandes filmes como no caso de "Apocalypse Now" (1979).
Diferente do segundo filme, aqui Krueger ganha maior participação de cena, principalmente em um ato final em que atuação e efeitos visuais da época sabiam andar de mãos dadas. Robert Englund bem que tentou, mas jamais conseguiu se desvencilhar do papel que marcaria a sua carreira para sempre e, portanto, se entrega de corpo e alma neste monstro que assombrou uma geração inteira e que entraria para a história do cinema. Além disso, diferente do segundo filme, aqui o final termina de forma bem redondinha, mas deixando aquele pequeno gancho para uma eventual sequência e que viria acontecer logo em seguida.
'A Hora do Pesadelo 4 - O Mestre dos Sonhos'
Se o terceiro filme deu um passo à frente com relação a construção do universo de sonhos e pesadelos, neste quarto capítulo ele não avança em termos de originalidade, mas mantém o que havia dado certo neste quesito. Porém, por alguma razão que eu desconheça, Patricia Arquette não retornou ao papel de e Kristen, sendo que aqui a personagem é agora interpretada pela atriz Tuesday Knight. Ao meu ver, talvez ela não tenha tido interesse de voltar ao projeto já que a personagem não dura muito na trama e dando maior espaço a personagem Alice, interpretada pela atriz Lisa Wilcox.
Curiosamente, o filme começa a dar maior espaço ao humor sombrio, principalmente vindo de Freddy Krueger, onde o ator Robert Englund cada vez mais se diverte em cena. Isso seria prenúncio do que a franquia se tornaria nos capítulos cinco e seis, sendo apontados como os piores ao dar maior espaço para o humor, mas gerando situações bizarras e dando a entender que a franquia chegou ao seu esgotamento. O vilão somente retornaria em "O Novo Pesadelo: O Retorno de Freddy Krueger" (1994), cuja proposta de um filme dentro de um filme se tornou até mesmo interessante, mas não atraindo a grande massa de volta para as salas.
Eu gosto de pensar que "A Hora do Pesadelo 4 - O Mestre dos Sonhos" seria o ponto final para o personagem como um todo, mas nunca há algo definitivo quando Hollywood somente pensa em arrecadar dinheiro.
Sinopse: Documentário sobre a vida do ator americano Christopher Reeve depois que um acidente de cavalo o deixou paralisado e seu trabalho subsequente como ativista pelos direitos dos deficientes.
"Superman – O Filme" (1978) é uma obra prima do gênero de super heróis para o cinema, mas tendo esse status não somente pelo ótimo desempenho na direção de Richard Donner, como também pela assombrosa atuação de Christopher Reeve como protagonista. Portanto, foi de muita tristeza que os fãs receberam a notícia quando ele sofreu um grave acidente a cavalo e que o deixou tetraplégico. Porém, o documentário "Super/Man: A história de Christopher Reeve" (2024) nos mostra um homem que revelou o seu verdadeiro poder após o acidente e mudando curso da história para aqueles que sofriam desse mesmo mal.
Dirigido por Ian Bonhôte, Peter Ettedgui, o documentário explora o sucesso que Christopher Reeve ao interpretar Superman e de como a sua vida se transformou após um acidente que o deixou tetraplégico. A partir de imagens de arquivo e registros inéditos, o longa revela a trajetória do ator, desde seu papel definitivo como Clark Kent/Superman, que redefiniu os super-heróis no cinema, até seu envolvimento em diversos projetos cinematográficos. O documentário inclui entrevistas exclusivas com amigos próximos, como as atrizes Susan Sarandon, Glenn Close e Robin Williams.
É interessante como o documentário consegue saber entrelaçar a imagem do ícone das HQ com a figura humana que foi Christopher Reeve e ao saber explorar a sua real força em querer continuar vivendo após o acidente. Claro que o filme dá um belo espaço para o filme que o fez se tornar um astro, mas ao mesmo tempo destacando os tempos em que ele vivia uma vida mais simples e quando estava buscando projetos que o desafiassem. A imagem de Superman pode ter provocado a chance dele ter sido um ator mais diversificado, mas não o impediu de atuar em filmes inesquecíveis como "Em Algum Lugar do Passado" (1980).
De forma bastante pessoal, o documentário possui diversas entrevistas de amigos, colegas, mas acima de tudo, dos familiares que sempre estiveram ao lado em sua fase mais difícil. Pode-se dizer que foi através da força e atenção de sua família que o ator procurou forças para se recuperar, não somente fisicamente, como também emocionalmente e tendo o desejo de continuar viver. Talvez o ápice desse triunfo foi quando Reeve surgiu no palco do Oscar de 1996, sendo aplaudido por quatro minutos e revitalizando o seu espírito como um todo.
Curiosamente, é interessante observar como o documentário dá também um maior destaque ao ator Robin Williams que havia falecido em 2014 devido a depressão e tinha uma longa data de amizade com Reeves na vida real. Ambos trabalharam juntos na broadway, mas seguindo carreiras diferentes quando começaram a se destacarem no cinema. Porém, amizade sempre esteve lá, mesmo nos momentos mais difíceis e sendo algo raro de se ver em uma realidade que a maioria somente busca pela sua fama.
Christopher Reeve não buscou somente uma cura pela sua paralisia, como também uma forma de ajudar uma boa parcela do público que passava pela mesma situação, mas que eram invisíveis pelo olhar do resto da população. A "Fundação Christopher & Dana Reeve" colaborou não somente para ajudar essas pessoas, como também em avançar em novas pesquisas como as da célula tronco e dando de encontro com o conservadorismo daqueles que eram contra isso. Isso, porém, não o impediu de seguir adiante e o documentário sintetiza muito bem isso com momentos emocionantes, humanos e, acima de tudo, como um grande exemplo a ser seguido.
Christopher Reeve nos deixou em 10 de outubro de 2004, sendo quase dez anos de luta após o acidente, mas cujo exemplo de fé e determinação continuaram adiante. Curiosamente, Dana Reeve, segunda esposa do interprete e que se manteve ao seu lado do início ao fim, também veio a falecer logo em seguida devido a um câncer. O documentário, por sua vez, registra todo o amor e união que ambos tiveram ao longo dos anos e nos emocionando a cada cena quando juntos apareciam.
O documentário vem em um momento que interpretes de hoje estão cada vez mais presos em suas franquias e não tendo a chance de obter uma carreira mais diversificada. Em início de carreira, Christopher Reeve já tinha notado esse lado vicioso dos estúdios norte americanos e que, embora sendo sempre lembrado como Superman, ele decidiu seguir por novos caminhos, mesmo quando o destino lhe pregou uma peça que ninguém estava prevendo. Contudo, foi a partir disso que ele revelou o seu real poder e provando que um ser humano comum pode fazer maior diferença do que qualquer Superman da ficção.
"Super/Man: A história de Christopher Reeve" é sobre a cruzada de um homem que ficou impossibilitado fisicamente, mas foi graças a sua força de vontade que o fez se tornar um verdadeiro herói perante olhar da humanidade.