Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte.
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A cinemasemana que abre o mês de agosto destaca as estreias de dois filmes elogiados pela crítica e que têm o suspense alimentado por sentimentos de vingança. Um dos filmes é CLOUD, do diretor japonês Kiyoshi Kurosawa, sobre um jovem vendedor que engana seus compradores; o segundo é FILHOS, do sueco Gustav Möller, em que uma agente penitenciária encara alguém do seu passado.
A programação segue com os longas franceses MONSIEUR AZNAVOUR, que recupera a trajetória do cantor e compositor Charles Aznavour, e a comédia dramática APENAS ALGUNS DIAS, um romance que tem como pano de fundo a imigração.
Seguem em cartaz, entre os preferidos do público, UMA BELA VIDA, do diretor Costa-Gavras, que aos 92 anos nos oferece uma reflexão comovente sobre a finitude da vida, além do longa italiano VERMIGLIO – A NOIVA DA MONTANHA, que entra na quarta semana de exibição. CAZUZA: BOAS NOVAS, documentário dedicado aos últimos anos de uma das grandes estrelas do rock brasileiro da década de 1980, segue em cartaz junto com o longa nacional UM LOBO ENTRE OS CISNES, baseado na trajetória do bailarino brasileiro Thiago Soares.
Entre as exibições especiais teremos CLUBE DOS CINCO, de John Hughes, apresentada pelo crítico Rodrigo de Oliveira, da revista Almanaque 21. Confira a programação completa no site oficial da Cinemateca clicando aqui.
Sinopse: Um grupo de astronautas passa por uma tempestade cósmica durante seu voo experimental. Ao retornar à Terra, os tripulantes descobrem que possuem novas e bizarras habilidades.
Sem sombra de dúvida o primeiro grupo de super-heróis das HQ da Marvel sofreu uma espécie de maldição quando eram adaptados para o cinema. Se por um lado a produção de Roger Corman nem sequer havia sido lançada em 1994, do outro, os dois filmes de Tim Story lançados em 2005 e 2007 se nota a falta de carinho ao adaptar a história original para o cinema, mas que de forma surpreendente se torna superior perante a problemática versão lançada em 2015. Felizmente "Quarteto Fantástico: Primeiros Passos" (2025) é o filme que os fãs estavam esperando já há muito tempo, sendo uma aventura redonda, divertida e que possui a sua alma própria.
Dirigido por Matt Shakman, A história acompanha um grupo de astronautas que passa por uma tempestade de raios cósmicos durante seu voo experimental. Ao retornar à Terra, os tripulantes descobrem que possuem novas e bizarras habilidades. No decorrer do tempo se tornam celebridades, defensores do planeta terra, mas tendo que lidar com uma terrível ameaça que vem de outro mundo.
Embora o filme pertença ao estúdio Marvel e tenha a sua ligação ao universo do MCU, o filme funciona de forma independente, sem ter que se preocupar na obrigação em ter que ligar ao longa aos demais eventos que ocorrem em outros filmes. Além disso, a trama se passa em outro universo, onde basicamente aventura ocorre nos anos sessenta de um universo alternativo e cujo visual futurista retrô possui um interessante charme para se dizer o mínimo. Em tempos de altos e baixos do multiverso imposto pelo estúdio, a ideia de colocar a equipe em uma realidade paralela, ao menos, acabou tendo um saldo mais do que positivo.
A aventura por si só é contida, sendo que o filme foca mais na relação daquela da família com poderes fantásticos e fazendo com que a gente possa se identificar melhor com eles. Quem se sai melhor nesta questão é a personagem Sue Storm/Mulher Invisível, vivida pela ótima atriz Vanessa Kirby e que protagoniza os momentos mais emocionantes da trama, desde o nascimento do seu filho Richard, como também o embate final contra o vilão Galactus e que deseja devorar o planeta terra. Falando nisso, os efeitos visuais para a construção do super vilão são realmente impressionantes e faz jus a sua primeira aparição nas HQ dos anos sessenta criadas por Stan Lee e Jack Kirby.
Claro que nem tudo são flores, principalmente para aqueles que esperam uma fidelidade 100% com relação a personalidade dos personagens. Pedro Pascal, por exemplo, é realmente um ótimo ator, mas ao interpretar o Senhor Fantástico me deu a sensação de que ele não permitiu que o personagem se sobressaísse em cena. Já o Tocha Humana sentia falta daquele lado mais brincalhão das HQ e fazendo da atuação de Joseph Quinn ser somente ok. Já todo o lado complexo e amargurado do Coisa desapareceu, sendo que o personagem somente se salva em cena graças a boa atuação de Ebon Moss-Bachrach mesmo todo envolvido com efeitos visuais que modelam o visual do personagem e que por sinal é muito bem-feito.
Contudo, acho que o personagem que fica mais devendo mesmo em cena foi a Surfista Prateada vivida pela ótima e jovem atriz Julia Garner. O problema primordial nesta questão é que, tanto a sua versão masculina, como a feminina nas HQ, possui uma carga dramática em grande escala por ser um ser condenado a procurar outros planetas para serem devorados pelo vilão Galactus. A meu ver sempre imaginei esse personagem sendo mais bem explorado em um filme solo, ao invés de somente surgir como um coadjuvante de luxo.
Esses poréns ao menos não desconstroem o lado positivo da produção, ao possuir uma história com começo, meio e fim e possuindo acima de tudo personagens que conseguem obter a nossa simpatia e fazendo a gente até mesmo se preocupar com o destino deles. Claro que me deu a sensação de que o roteiro nos prega algumas soluções, por vezes, rápidas e sendo que algumas ideias que são jogadas na história são facilmente descartadas. Ao menos o longa não se preocupa em ter que explicar toda a sua interligação com o universo tradicional Marvel no cinema, sendo que isso somente ocorre na cena extra durante os créditos de encerramento.
A meu ver, o filme pode sim servir de modelo para os futuros projetos Marvel, ao procurarem se preocupar mais em criar uma boa história ao invés de montar uma grande saga que perdurará por anos a fio. O público, por sua vez, não se sente cansado com relação ao gênero de super-heróis, mas sim espera que os filmes tragam algo mais fresco e com personalidade própria. A meu ver o filme da família fantástica deu o recado e espero que seja correspondido para os futuros projetos.
"Quarteto Fantástico: Primeiros Passos" é a melhor adaptação para o cinema da família de super seres da Marvel e que merece ser conferida por aqueles descrentes que pensavam ao contrário.
Estreia dia 31 de julho, no CineBancários, o filme “O Deserto de Akin”. Inspirado nos profissionais que participaram do ‘Mais Médicos’, programa interrompido após as eleições de 2018, o filme acompanha um médico cubano que atua em serviço de uma comunidade indígena. Ao mesmo tempo que Akin (Reynier Morales) lida com os dilemas de seu futuro, diante do novo contexto político do país, também desenvolve uma relação afetiva com os dois brasileiros que o acolhem durante sua trajetória no Brasil, Érica (Ana Flavia Cavalcanti) e Sérgio (Guga Patriota).
O longa-metragem dirigido por Bernard Lessa tem como protagonista o vencedor do Festival do Rio 2024, o cubano Reynier Morales. “O Deserto de Akin” foi rodado em locações de quatro municípios do Espírito Santo: Nova Almeida, Aracruz, Vitória e Vila Velha.
A produção marca o terceiro longa-metragem do capixaba Bernard Lessa, depois de “A mulher e o rio” (2019) e “A Matéria Noturna” (2021), vencedor de melhor filme na Mostra Futuro Brasil, do 52o Festival de Brasília. O diretor já tem sua linguagem bem estabelecida no audiovisual: “Meu cinema é humanitário e poético”, afirma. “Um cinema que versa sobre amor, amizade, dor e ética – sobre dedicar a vida a algo maior do que você mesmo, sobre a alegria que vem de se sentir como realmente é em um mundo que é construído na tentativa de nos negar esse sentimento, de nos fazer sentir pequenos e impotentes.”, completa o cineasta. “O Deserto de Akin” reafirma sua proposta como cineasta.
Depois da primeira exibição no Festival do Rio, o filme passou pelo Festival de Havana e pelo Panorama Internacional Coisa de Cinema, em Salvador, onde venceu o prêmio de Melhor Roteiro, também assinado pelo diretor.
Sinopse: Akin é um dedicado médico cubano em exercício no Brasil, pelo programa Mais Médicos, em meados de 2018. Entre sua rotina de trabalho na comunidade indígena e seus momentos de intimidade com Érica e Sérgio, sua relação com o Brasil se aprofunda e fortalece. Com o resultado presidencial de Jair Bolsonaro e o fim abrupto da cooperação entre os dois países, ele se vê impelido a tomar uma decisão: voltar a Cuba e abandonar as relações que vinha construindo ou permanecer e se reinventar mesmo sem poder medicar.
Elenco: Reynier Morales, Ana Flavia Cavalcanti, Welket Bungué
EM CARTAZ:
UM LOBO ENTRE OS CISNES
Brasil/ Documentário/ 2022/
Direção: Marcos Schechtman, Helena Varvaki
Sinopse: Baseado na vida do bailarino Thiago Soares, um garoto pobre criado no subúrbio do Rio de Janeiro, que na adolescência descobre o Hip Hop, entra para o Ballet aos quinze anos e se torna uma estrela internacional. Ele foi o primeiro bailarino do Royal Ballet de Londres.
Elenco: Matheus Abreu, Dario Grandinetti, Maria Paula Marini
CAZUZA, BOAS NOVAS
Brasil/ Documentário/ 202 / 90 min.
Direção: Roberto Moret, Nilo Romer
Sinopse: Cazuza: Boas Novas revisita o período mais criativo e intenso da vida de um dos maiores artistas do Brasil. Entre os anos de 1987 e 1989, Cazuza produziu três álbuns, ganhou diversos prêmios e subiu no palco para mais de 40 apresentações do espetáculo O Tempo Não Para. Tudo isso lidava com o diagnóstico de AIDS e vivia sob o risco de morte e o agravamento contínuo de
sua saúde. O documentário conta com imagens exclusivas e depoimentos inéditos de figuras que conviveram com o grande compositor, como Ney Matogrosso, Gilberto Gil, Frejat, sua mãe Lucinha Araújo e o próprio diretor do longa, Nilo Romero, quem dirigiu o último show do cantor e com quem Cazuza foi amigo e parceiro de composições. Com uma riqueza de registros e vídeos de arquivo, Cazuza: Boas Novas revela o legado de um vanguardista e o impacto de uma mente criativa que mudou a trajetória da música brasileira como poucos.
HORÁRIOS DE 31 DE JULHO A 06 DE AGOSTO
15h: UM LOBO ENTRE OS CISNES
17h: CAZUZA, BOAS NOVAS
19h: O DESERTO DE AKIN
Não há sessões nas segundas-feiras
Ingressos: Os ingressos podem ser adquiridos a R$ 14 na bilheteria do CineBancários. Idosos (as), estudantes, bancários (as), jornalistas sindicalizados (as), portadores de ID Jovem e pessoas com deficiência pagam R$ 7. São aceitos cartões nas bandeiras Banricompras, Visa, MasterCard e Elo.
Na quinta-feira, a meia-entrada (R$ 7) é para todos e todas.
Sobre o Filme: Por eu ter nascido no início dos anos oitenta cresci ouvindo muita música na rádio e que posteriormente se tornaram grandes clássicos. Além de Tim Maia eu gostava bastante das músicas de Ney Matogrosso, mas eu sempre achava que ele fosse uma mulher devido a sua voz e por conta disso eu fiquei espantado quando o vi pela primeira vez em um clipe exibido no Fantástico no início dos anos noventa. "Homem com H" (2025) sintetiza esse meu sentimento de espanto, pois Ney é aquele tipo de ser andrógino de grande talento que surge para desequilibrar o nosso universo do politicamente correto.
Dirigido por Esmir Filho, do filme "Alguma Coisa Assim" (2017), o filme conta a história sobre a vida e a obra de Ney Matogrosso e do qual viria a se tornar uma das maiores figuras da música e cultura brasileiras. O filme acompanha a sua origem e os constantes embates familiares em razão dos preconceitos de seu pai. Ao sair de casa e se mudar para São Paulo, Ney dá início à sua carreira artística, mas ao mesmo tempo enfrentando o preconceito e a censura da época.
Confira a minha crítica completa já publicada clicandoaquie participe do próximo Cine Debate.
De 1 a 10 de agosto, a Cinemateca Capitólio apresenta a mostra 50/50: Clássicos Coreanos Restaurados, com sete filmes produzidos durante a década de 1950 na Coreia do Sul. A programação celebra o 50° aniversário do Korean Film Archive (KOFA), uma das mais importantes instituições de preservação audiovisual do continente asiático, e destaca obras produzidas à sombra da Guerra da Coreia (1950-1953).
A partir de quinta-feira, 31 de julho, entra em cartaz na Cinemateca Capitólio Cloud – Nuvem da Vingança, o mais novo suspense do mestre japonês Kiyoshi Kurosawa. O valor do ingresso é R$ 16,00.
No domingo, 03 de agosto, às 18h, a Sessão da Vingança apresenta uma exibição de A Outra Face da Violência, de John Flynn, seguida de debate com Cristian Verardi, produtor da mostra A Vingança dos Filmes B, e o crítico Sérgio Alpendre, autor do livro Rocky – O Lutador e Os Embalos de Sábado à Noite, o mal-estar da sociedade americana e sua representação no cinema. Entrada franca.
O filme encerra o ciclo de julho focado em pessoas em situação de rua, na Sala Audiovisual Gilda e Leonardo, junto da UP Idiomas.
A falta de moradia é um fator muitas vezes determinante na questão da população em situação de rua, especialmente em metrópoles como São Paulo.No limite entre o documentário e a ficção, o filme "Era o Hotel Cambridge" narra a trajetória de refugiados recém-chegados ao Brasil que, junto com trabalhadores sem-teto, ocupam um velho hotel abandonado no centro da cidade de São Paulo. Em meio à tensão diária da ameaça do despejo, revelam-se dramas, situações cômicas e diferentes visões de mundo.
Eliane Caffé articula assim mais um jogo de cena entre atores e pessoas comuns interpretando a si mesmas, como em "Narradores de Javé" (2006) e mais recentemente em "Filhos do mangue" (2024), seguindo seu estilo cinematográfico inconfundível.A preparação do projeto levou dois anos e foi gerido por um coletivo formado por estudantes de arquitetura, equipe de produção, lideranças da FLM (Frente de Luta pela Moradia) e grupo dos refugiados, que permitiu transformar todo o edifício (que é zona de conflito real) no set da filmagem.
Em 2016 "Era o Hotel Cambridge" foi reconhecido no Festival do Rio como melhor filme tanto pelo público e que pela Federação Internacional de Críticos de Cinema (Fipresci), além de ter sido premiado no Festival de Cinema de San Sebastián, na Espanha.A sessão, com entrada franca, integra a programação continuada realizada na Sala Audiovisual Gilda e Leonardo, pelo Cineclube Torres, associação sem fins lucrativos com 13 anos de história, em atividade desde 2011, Ponto de Cultura certificado pela Lei Cultura Viva federal e estadual, Ponto de Memória pelo IBRAM, Sala de Espetáculos e Equipamento de Animação Turística certificada pelo Ministério do Turismo (Cadastur), contando para isso com a parceria e o patrocínio da Up Idiomas Torres.
Serviço:
O que: Exibição do filme "Era o Hotel Cambridge", de Eliane Caffé Brasil- 2016) - 1h39m
Onde: Sala Audiovisual Gilda e Leonardo, junto à escola Up Idiomas, Rua Cincinato Borges 420, Torres
Quando: Segunda-feira, 28/7, às 20:00
Ingressos: Entrada Franca, até lotação do local (aprox. 22 pessoas).
Cineclube Torres
Associação sem fins lucrativos
Ponto de Cultura – Lei Federal e Estadual Cultura Viva
Ponto de Memória – Instituto Brasileiro de Museus
Sala de Espetáculos e Equipamento de Animação Turística - Cadastur
No decorrer dos primeiros anos do século vinte e um mil Woody Allen optou em seguir novos rumos e dirigir tramas que se passavam em outros países, mas jamais largando de mão a sua identidade autoral cinematográfica. "Ponto Final - Match Point" (2005), por exemplo, foi a mudança de curso de sua carreira, onde a trama não somente se passava em outro país, como também o teor se diferenciava se compararmos as suas obras anteriores. Porém, essa mudança pode ser sentida a partir de "Melinda e Melinda" (2004), longa que transitava no que o realizador fazia de melhor, como também em sua tentativa de experimentar novos tons.
Na trama, Quatro realizadores de cinema nova-iorquinos se encontram para jantar. Uma história contada durante o jantar dá início a uma conversa entre Max (Larry Pine) e Sy (Wallace Shaw), dois escritores, que passam a discutir a dualidade do drama humano através das máscaras da tragédia e da comédia. Os dois escritores passam então a desenvolver duas histórias, uma cômica e outra trágica, protagonizadas por uma mulher chamada Melinda (Radha Mitchell).
Woody Allen nunca escondeu a sua admiração pelo diretor sueco Ingmar Bergman, tanto é que "Interiores" (1978) foi uma tentativa curiosa do realizador em homenagear o seu ídolo. Porém, o filme não possui personalidade, o que fez o diretor largar da ideia por algum tempo em não somente prestar homenagem ao Bergman, como também explorar histórias com o teor mais dramático. Foi somente em 1989 em que ele obteve o tom certo em "Crimes e Pecados".
Contudo, a sua homenagem certeira com relação a Bergman veio mesmo em "Poderosa Afrodite" (1995), mas cujo tributo era moldado com o seu humor refinado e mantendo o seu estilo já tão conhecido. Mas antes de viajar para outros países para realizar as suas tramas, Allen novamente fez uma curiosa história em sua cidade favorita que é Nova York, ao explorar uma mesma trama, mas com perspectivas diferentes, ou seja, de um lado dramático e do outro o seu humor refinado corriqueiro. O resultado é uma curiosa análise de como as pessoas podem tirar conclusões de uma mesma história, mas tendo opiniões distintas.
A personagem Melinda, por exemplo, protagoniza as duas tramas semelhantes, mas cujo teor distinto uma da outra fazem com que ambas se tornem quase completamente diferentes. Em ambos os casos vemos os personagens mergulhados em seus conflitos amorosos, frustrações de carreira e sem muitas perspectivas com relação ao futuro. Tudo moldado por duas visões distintas, mas que Allen soube conduzi-las com perfeição diga-se de passagem.
Destaque para atriz Radha Mitchell que faz as duas versões da personagem Melinda, sendo que a sua versão da parte dramática ela simplesmente nos brinda com uma grande atuação e sem sombra de dúvida se tornando uma das personagens mais trágicas da filmografia do cineasta. Portanto, as passagens que vemos da outra Melinda se tornam até mesmo refresco perante o lado paranóico, trágico e obsessivo de sua contraparte. Curiosamente, o seu desempenho remete ao que Kate Blanchet havia construído para "Blue Jasmine" (2013) e sendo autoria também de Woody Allen.
Curiosamente, mesmo estando por detrás das câmeras, é incrível como Allen faz com que os seus respectivos atores se tornem o seus Alter egos e fazendo a gente identificar neles características habituais do diretor. Do elenco, o que mais sintetiza o que é um personagem de Allen é Will Ferrell, que dá um verdadeiro show de humor ao interpretar um ator fracassado e apaixonado por Melinda, mas tendo que lidar também com os dilemas da própria amada. Eu só acho uma pena que Will Ferrell nunca ganhou o seu merecido reconhecimento por aqui no Brasil, pois ele tem carisma de sobra toda vez quando surge em cena.
Ao final, constatamos que ambas as histórias terminam de forma distintas, mas de acordo com cada ponto de vista que as pessoas contam sobre elas. Woody Allen nos diz, portanto, que as nossas vidas devem ser lidas da melhor maneira possível, independente de como as pessoas irão enxergá-las posteriormente em algum ponto específico do tempo. A vida pode transitar, tanto da forma trágica, como a mais pura comédia para assim não chorar no final da vida.
"Melinda e Melinda" é uma prova que Woody Allen soube ousar em entrelaçar humor com teor trágico, já que as nossas próprias vidas quase sempre se encontram entre altos e baixos.