Sinopse: A família Creed se muda para uma nova casa no interior, localizada nos arredores de um antigo cemitério amaldiçoado usado para enterrar animais de estimação - mas que já foi usado para sepultamento de indígenas. Algumas coisas estranhas começam a acontecer, transformando a vida cotidiana dos moradores em um pesadelo.
“Cemitério” Maldito” é uma incógnita para mim, já que a primeira versão cinematográfica da obra de Stephen King, lançada no ano de 1989, pouco eu me lembro dela e não li o livro para fazer alguma comparação a respeito. Dito isso, assistir ao cenário dos acontecimentos da trama, nessa nova verão cinematográfica, me faz com que eu adentrasse em um território desconhecido e não tendo ideia do que aconteceria. Contudo, embora tenha os seus pontos positivos, é perceptível que obra poderia ter ido muito mais além do que ela havia alcançado, mas falaremos disso mais adiante.
Dirigido pelos desconhecidos Kevin Kölsch e Dennis Widmyer, o filme conta a vida da família Creed, que se muda para o interior e decidem viver em um território localizado próximo a um cemitério de animais. Dias após a mudança, a família do gato morre e Louis (Jason Clarke) do recente “A Maldição da Casa Wichester” (2018), decide enterrar o animal em uma parte especial que vai além do cemitério e que foi indicado pelo vizinho Jud (John Lithgow), visto recentemente na série “The Crown” (2017). O gato acaba ganhando vida e desencadeando eventos irreversíveis para toda aquela família.
O filme já começa com uma certa carga de suspense, já que a câmera perambula o território dos acontecimentos e onde testemunhamos algo que poderia ter sido um massacre. Com isso, o filme se torna um grande flashback, onde assistimos o verdadeiro começo da história antes da tempestade de eventos que irá afligir aquela família. Isso faz com que o cinéfilo já fique a frente dos personagens principais e já se preparando pelo que está por vir.
Embora eu não me lembre muito da adaptação original, ouvi dizer que o filme possuía muito gore e fazendo com isso tenha se tornado um dos principais destaques da obra. Nessa nova adaptação a situação é diferente, pois ela vai mais para um caminho de terror psicológico, mesmo com o teor sobrenatural aparecendo a todo momento. A opção é bem satisfatória, pois torna os personagens mais humanos e fazendo com que simpatizemos com eles de um modo bem mais fácil.
Aliás, assuntos como a possibilidade da vida pós morte se tornam a força matriz da obra. A mãe da família, Rachel (Amy Seimetz), de “Alien Covenant” (2018), possui um trauma de infância e o que fez ela acreditar em algo que vai muito mais além dessa vida na terra. Já Jud, por ser um médico que já viu todos os horrores em uma clínica, é muito mais cético sobre o assunto. Com isso, há um pequeno atrito de como tratar desse assunto tão delicado para uma criança, especialmente para a filha Ellie e que não aceitará a morte do seu gato facilmente.
Mesmo sendo histórias diferentes, os dilemas em que os personagens enfrentam faz com que o filme nos remeta ao clássico “Frankenstein”, já que em ambos os casos a possiblidade de trazer alguém para vida após a morte sempre trará consequências. Mesmo antes do surgimento do gato com vida, por exemplo, os realizadores foram habilidosos ao criar um cenário um tanto que claustrofóbico, seja no misterioso cemitério, como até mesmo nos cenários das duas casas em que se passam a história. Em alguns momentos, inclusive, o filme fez me lembrar dos filmes de horror da virada dos anos 80 e 90, mas que, logicamente, isso é proposital, já que estamos falando de uma nova versão de um clássico que havia sido lançado na virada dessas duas décadas.
Contudo, mesmo eu não ter lido o livro, ou de não me lembrar muito de sua primeira adaptação, é notório que o filme possua alguns furos mais ou menos curiosos. Há no início, por exemplo, uma cerimônia fúnebre de um animal, onde as crianças tocam música e usam máscaras misteriosas, mas cujas as figuras não surgem mais ao longo da história. O mesmo pode ser dito de um misterioso personagem, do qual morre e se tornando uma alma penada (qualquer semelhança com o clássico “Um Lobisomem Americano em Londres” é mera coincidência), mas que pouco é utilizado ao longo da trama.
Porém, o filme ganha o seu gás em seu derradeiro ato final, principalmente com a presença desconcertante de Ellie após a sua morte. A pequena Jeté Laurece já surpreendia com a sua presença desde o início do filme, mas essa reviravolta para a sua personagem faz com que tenhamos medo dela a todo momento que surge em cena. Jason Clarke e Amy Seimetz estão bem em seus respectivos papeis, mas é sempre ótimo rever o veterano John Lithgow, pois o seu personagem possui camadas ambíguas, mesmo a gente conhecendo desde o princípio a sua real natureza.
O final, logicamente, não irá agradar a todos, mas sim irá fazer com que pensemos muito sobre as várias questões lançadas durante a trama. Stephen King sempre gostou de nos colocarmos em território nenhum pouco confortável, para assim questionarmos, tanto as suas obras, como também as suas adaptações que conseguiram, ao menos, serem próximos a sua real proposta. Embora com alguns deslizes, “Cemitério Maldito” é um bom filme de terror que não busca o lado óbvio do gênero, mas sim que nos faça pensar em alguns momentos sobre assuntos delicados e que nós sempre omitimos.
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