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Sócio e Diretor de Comunicação e Informática do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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terça-feira, 3 de dezembro de 2019

Cine Dica: Em Blu-Ray - DVD – VOD: 'O Irlandês' - Obrigado Martin Scorsese

Sinopse: Frank Sheeran, braço direito da família Bufalino, relembra os segredos que guardou por lealdade à máfia. 

Sendo considerado um dos principais pilares do melhor período do cinema norte americano intitulado "a nova Hollywood" (1967 - 1980), Martin Scorsese permanece na ativa, mesmo quando ocorre diversas mudanças significativas dentro do universo do cinema. Amante da sétima arte como ninguém, o diretor permanece com o desejo sempre de filmar, mesmo quando os chefes dos estúdios de hoje acreditam que os seus filmes autorais podem não dar mais lucro através dessa geração amante de filmes de super-heróis. "O Irlandês" é aquele tipo de filme que deveria ser obrigatoriamente ser visto na tela grande, mas que nenhum estúdio de ponta abraçou o projeto do cineasta devido a sua longa duração de quase quatro horas.
A solução veio justamente com o inesperado sucesso de "Roma" (2018) de Alfonso Cuarón e financiado pela Netflix. Com o objetivo de concorrer aos prêmios como o Oscar, o filme teve estreia simultânea, tanto via streaming como também em algumas salas de cinema. O resultado foi um casamento perfeito entre as duas mídias e que fez com que o público conhecesse uma grande obra prima.
 Apresentando o projeto para os engravatados da netflix, Scorsese ganhou carta branca para fazer o que bem entendesse com a sua obra. O resultado é um épico sobre a máfia que não se via desde "Era Uma Vez na América" (1984) de Sergio Leone, mas obtendo os melhores recursos de ponta para, não só reconstituir determinados períodos, como também rejuvenescer os seus grandes astros. Um caso raro de um bom casamento entre o lado técnico e autoral para realização de uma grande obra com conteúdo.
Baseado no livro I Heard You Paint Houses, de Charles Brandt, escrito a partir de relatos do próprio Frank Sheeran, o filme conta a história do próprio que é interpretado por Robert De Niro. Ele é um veterano de guerra cheio de condecorações que concilia a vida de caminhoneiro com a de assassino de aluguel número um da máfia e apadrinhado pelo seu melhor amigo Russell Bufalino (Joe Pesci). Promovido a líder sindical, ele torna-se o principal suspeito quando Jimmy Hoffa (Al Pacino) o mais famoso ex-presidente da associação desaparece misteriosamente.
Com uma trama que transita entre o passado e o presente, o filme não somente apresenta de que maneira esses personagens foram se conhecendo, como também fala um pouco sobre o próprio governo dos EUA e sobre quem dá as cartas nos bastidores de um poder corrompido. Em uma nação formada por estrangeiros, dos quais abandonaram as suas terras em busca do sonho americano, o filme escancara o fato que, para sobreviver na terra das oportunidades, é preciso entender as suas reais engrenagens. Frank aprende da melhor e pior maneira possível e sucumbindo a promessas que possuem um alto preço.
Para os cinéfilos de plantão, o filme é um verdadeiro prato cheio, tanto para os amantes de Scorsese, como também daqueles velhos conhecidos que o mesmo sempre fez questão de leva-los para atuar em seus projetos. Com "O Irlandês", Robert De Niro e Joe Pesci fecham uma bela espécie de trilogia da máfia, que começou em "Os Bons Companheiros" (1990), prosseguiu em "Cassino" (1995) e se encerra aqui com dignidade e respeito mútuo. Mas o grande deleite desse épico é testemunharmos De Niro e Al Pacino estarem lado a lado em cenas que qualquer cinéfilo irá adorar velas e revê-las ao longo do tempo.
Embora não tenham contracenado juntos em "O Poderoso Chefão - Parte 2" (1974), ambos os interpretes ficaram frente a frente, mesmo que em pouco tempo, no já clássico "Fogo contra Fogo" (1995). Aqui, finalmente, os interpretes atuam juntos em diversos momentos inesquecíveis e dos quais Al Pacino coloca o filme no seu bolso. Embora nunca tenham trabalhado juntos, até agora, é mais que notório que Al Pacino teria se saído muito bem em projetos anteriores de Martin Scorsese.
Tecnicamente o filme é também um colírio para os olhos, não somente com relação a reconstituição de época, como também até mesmo em termos de efeitos visuais. Ao vermos os atores rejuvenescidos em determinadas épocas da trama, constatamos que não há mais limite para esses recursos e se casando quase perfeitamente com o trabalho de atuação dos astros. Scorsese, portanto, não prova ser um ótimo cineasta autoral, como também usa os recursos de hoje para se criar, acima de tudo, uma bela história.
Embora o filme possa exigir certa paciência de alguns devido a sua longa duração, é preciso destacar o seu potencial em nos prender atenção, onde o cineasta usa e abusa no que faz de melhor com a sua câmera. Em planos-sequências, por exemplo, o realizador já nos diz para nos preparar pelo pior que irá acontecer, em cenas cuja a violência é jamais gratuita, mas sim com o intuito de revelar a gradual queda dos seus principais protagonistas. Aliás, o filme não tem pressa ao vermos aqueles personagens, que antes tão cheios de vida, começam a colher o que plantaram ao longo da vida.
Não tenho menor dúvida que todos do elenco, principalmente Robert De Niro, se entregam em papeis que sintetizam a reta final de uma geração que ajudou a construir a sociedade norte americana, mas tendo uma conta alta demais a ser paga. Ao mesmo tempo, o ato final fala de uma geração de interpretes que colaborou para que o cinema de uma época sobrevivesse, mas cujo os seus desempenhos são raramente reconhecidos nesta época atual em que os estúdios somente prezam pelo novo. Mesmo parecendo causa perdida, Martin Scorsese lutou contra isso e fez questão de reunir velhos amigos para realizar o seu grande sonho.
"O Irlandês" é uma obra nascida da persistência de um grande cineasta e nós cinéfilos só temos que agradecer por não ter desistido dela. 

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terça-feira, 1 de outubro de 2019

Cine Dica: Em Cartaz: 'Coringa' - Revitalizando o Gênero

Sinopse: Comediante falido é ignorado pela própria sociedade que o havia criado. Na medida em que começa a perder o controle de sua vida ele se encaminha por um caminho sem volta. 

Gosto de comparar as adaptações das HQ para o cinema com o gênero faroeste, pois em ambos os casos tem mais em comum do que nós imaginamos. O faroeste, por exemplo, foi tão executado no cinema americano por décadas que ele chegou ao ponto de se esgotar e se tornar apenas uma pequena lembrança do que já foi um dia. Foi somente com filmes como "Dança Com Lobos" (1990) e, principalmente, "Os Imperdoáveis" (1992) que o gênero conseguiu uma revitalização, mas tendo que assumir caminhos mais verossímeis, falhos e humanos.
No caso das adaptações das HQ, a fábrica hollywoodiana usou e abusou nestes últimos dez anos dessa fórmula para se gerar franquias milionárias, mas sempre caminhando na corda bamba devido ao possível desgaste e da falta de boas ideias. Mas, assim como aconteceu com o faroeste, esses filmes ganham a todo momento uma sobreviva, onde determinados realizadores cruzam a linha do convencional e nos brindando com filmes que nos trazem algum frescor. Foi assim que aconteceu na trilogia "Cavaleiro das Trevas" (2005 - 2012), ou até mesmo no filme "Logan" (2017), sendo que neste último vemos um herói cansado de uma realidade em que foi lhe tirado tudo e que só luta para continuar sobrevivendo.
Há de se levar em conta que os gêneros cinematográficos, independente de qual assunto, nascem para entreter os cinéfilos que buscam esquecer um pouco do mundo real que todos nós convivemos. Porém, os filmes precisam também acompanhar as mudanças vertiginosas que acontecem a todo momento, pois se distanciar por demais acaba por ficarem no meio do caminho e sem obter algum diálogo conosco. É aí que chegamos, finalmente, ao filme do "Coringa", obra que nos traz uma nova luz sobre a origem do vilão, mas que também fala sobre o nosso complexo mundo atual.
Dirigido por Todd Phillips, da trilogia "Se Beber, Não Case" (2009 - 2013), o filme conta a história de Arthur Fleck (Joaquin Phoenix) que trabalha como palhaço para uma agência de talentos e, toda semana, precisa comparecer a uma agente social, devido aos seus problemas mentais. Após ser demitido, Fleck reage mal à uma agressão de três homens em pleno metrô. Isso serve como ponto de ignição para Arthur começar a trilhar um caminho sem volta. 

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Estamos no início da década de oitenta, onde Gotham City mais parece a Nova York decadente daqueles tempos e representando muito bem as nossas cidades atuais devido à falta de recursos que deveriam ser vindas pelo governo. Aliás, o início do filme deixa bem claro que, tanto Arthur, como os demais cidadãos daquela cidade, estão sendo desidratados pelo desdém dos poderosos e tendo somente que sobreviver com o que tem em meio aos tempos escassos. A figura frágil e magra de Arthur é uma representação de uma pessoa largada à própria sorte e cujo o seu apelo jamais é ouvido pelos que se dizem representantes do povo.
No primeiro ato da trama há toda uma construção dramática para nós simpatizarmos com o personagem e cuja as situações que ele enfrenta acabam se tornando extremamente familiares. Porém, gradualmente, a simpatia que sentíamos por ele logo é substituída pelo medo, pois uma vez que ele ultrapassa a linha do bom senso não podemos fazer mais nada, a não ser testemunharmos a sua queda pelo precipício da loucura. Quando ele ultrapassa pela primeira vez essa linha, testemunhamos um Arthur lutando contra ele próprio, mas ao mesmo tempo abraçando algo que ele havia guardado por dentro há muito tempo.
Desde "Gladiador" (2000) Joaquin Phoenix tem nos brindado com atuações intensas, cuja a construção mental e física dos seus personagens nos impressiona. Se no recente "Você Nunca Esteve Realmente Aqui" (2017) ele já havia dado um passo além do que ele já havia feito, em "Coringa" ele dá mais um novo salto e nos apresentando aqui um ser  frágil por fora, mas cuja a dor e raiva vinda de dentro lhe desconstrói e formando então um novo ser. Embora estejamos mais do que acostumados a testemunhar inúmeras versões do personagem, Joaquin Phoenix construiu aqui algo fresco, poderoso e que dificilmente será superado ao longo dos anos.
O filme é noventa e nove porcento de Phoenix em cena, ao ponto dos demais do elenco quase se tornarem figuras decorativas. Eu digo quase, pois alguns personagens acabam se tornando essenciais, mesmo que não intencionalmente, nas escolhas que o protagonista irá trilhar. Se por um lado a mãe de Arthur (Frances Conroy), da série "American Horror Story", guarda segredos irreversíveis do passado do protagonista, do outro, os personagens Sophie (Zazie Beetz) de "Deadpool 2" (2018) e o apresentador  Murray Franklin (Robert De Niro) são personagens que farão o protagonista tentar buscar a sua redenção, mesmo quando ela se torna uma causa perdida e em vão.
Como o protagonista se encontra em todas as cenas, Todd Phillips fez questão de que o lado técnico do filme se casasse com a figura do personagem com perfeição. Tanto a edição de arte, como também sua primorosa fotografia, sintetizam por vezes o estado mental dele, ao ponto das cores quentes daqueles tempos longínquo dos anos oitenta adentrarem para o lado das trevas na medida em que Arthur vai caindo em desgraça. Mas é em sua trilha sonora, composta pela talentosa Hildur Gudnadottir, que há o mais perfeito casamento entre o lado técnico e interprete e fazendo da cena em que ele fica dançando na frente de um espelho ao som da trilha se tornar um dos momentos mais poderosos  do filme naquele momento.
Mas se Arthur é o coração do filme, por outro lado, o debate sobre o sistema e a política corrupta que molda a sociedade contemporânea é o sangue que bombeia a obra. Ao vermos a população de Gotham chegar ao ponto de idolatrar um palhaço assassino, concluímos que estamos diante de pessoas em desespero por mudanças e cuja a tentação de cair na radicalização nada mais é do que o caos criado pelo próprio sistema já a muito tempo contaminado por pessoas poderosas. Em tempos de hoje em que a mídia tradicional se encontra parcial e sensacionalista, além de haver falsos líderes políticos que se alimentam através dos discursos de ódio, o filme chega justamente em um momento em que a população do mundo real busca tentar entender aonde errou.
E se hoje há uma Hollywood que se encontra cada vez mais presa em suas franquias milionárias para distrair a massa, Todd Phillips, por sua vez, vai contra a essa tendência. Principalmente ao usar um personagem tão popular como esse, mas colocá-lo em um filme em que gera em nós inúmeros pensamentos, questionamentos e possivelmente debates acalorados. Se o gênero das adaptações de HQ para o cinema irá sobreviver ou não por mais alguns anos, ao menos, esse filme veio para nos dizer que é preciso sim dar sempre um novo passo.
Com momentos que remetem aos bons tempos do melhor do cinema dos anos setenta, "Coringa" é a obra mais corajosa de 2019, ao conseguir nos tirar da nossa zona de conforto e fazendo a gente refletir sobre os tempos complexos em que todos nós vivemos.    

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