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Sapucaia do Sul/Porto Alegre, RS, Brazil
Sócio e Diretor de Comunicação e Informática do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

Cine Dica: Em Cartaz: 'A Camareira' - A Recompensa que nunca chega

Sinopse: Eve (Gabriela Cartol) é uma jovem mãe solteira que trabalha longas horas como camareira em um hotel de luxo na Cidade do México. Sonhando com uma vida melhor, ela se inscreve no programa de educação para adultos do hotel. 

O filme "Roma" (2018) de Alfonso Cuaron serviu para mostrar o verdadeiro papel dos empregados servindo as elites e que, por vezes, esses últimos vivem em uma redoma de vidro e sem enxergar o verdadeiro mundo. Através do olhar humilde dos empregados, por exemplo, enxergamos uma realidade verdadeiramente realista, trabalhadora e que persiste em abraçar o que almeja. "A Camareira" é um retrato cru de pessoas gente como a gente e que se encontram despertas para abraçar os seus sonhos para assim seguir sempre em frente.
Dirigido por Lila Avilés, o filme conta a história Eve (Gabriela Cartol), uma jovem mãe solteira que trabalha longas horas como camareira em um hotel de luxo na Cidade do México. Sonhando com uma vida melhor, ela se inscreve no programa de educação para adultos do hotel. Porém, ela logo percebe que nem sempre quem faz o trabalho pesado é recompensado.
Ao retratar o dia a dia de uma pessoa que facilmente podemos nos identificar, Lila Avilés opta em fazer de sua câmera o nosso próprio olhar, como se em determinados momentos estivéssemos atrás da protagonista e acompanhando os seus afazeres no enorme prédio em que ela trabalha. Ao menos, isso é bastante sentido no primeiro ato da trama, principalmente onde ocorre as primeiras cenas no elevador e do qual sintetiza muito bem essa minha observação. Aliás, a cena do elevador é simbólica, onde vemos uma outra personagem sobrecarregada em seu dia a dia, mas se sustentando com o que pode através da distração de uma boa leitura.
É nesse ponto, por exemplo, que observamos também que a cultura e a educação surgem como papeis fundamentais para que a protagonista consiga abrir ainda mais a sua mente e o desejo de seguir em frente. Porém, infelizmente, estamos falando de alguém que trabalha para poderosos e dos quais somente pensam em dinheiro e nunca em conhecimento. Em tempos em atuais, dos quais o capitalismo desenfreado devora inúmeros povos de acordo com as suas necessidades, o filme chega em um momento em que muitos de nós se encontram em um beco sem saída.
Ao menos, o filme passa também certas fagulhas de esperança, principalmente quando elas acontecem nos dois lados da mesma moeda. Se por um lado Eve consegue uma mão amiga vinda da sua área em que trabalha, por outro lado, é interessante a comunicação em que uma hospede rica tem por ela, ao ponto de ela não esconder a vida vazia que possui, mesmo quando dá a entender que adquiri tudo o que quer. Independente de classes, o filme fala sobre solidão, desejos quase nunca alcançados e de como facilmente podemos cair no vazio se não aceitarmos um pouco de carinho vindo do próximo.
"A Camareira" é um filme universal e que fala um pouco dos tempos atuais em que poderosos insistem em nos transformar em engrenagens para servir aos seus propositos. 


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terça-feira, 3 de dezembro de 2019

Cine Dica: Em Blu-Ray - DVD – VOD: 'O Irlandês' - Obrigado Martin Scorsese

Sinopse: Frank Sheeran, braço direito da família Bufalino, relembra os segredos que guardou por lealdade à máfia. 

Sendo considerado um dos principais pilares do melhor período do cinema norte americano intitulado "a nova Hollywood" (1967 - 1980), Martin Scorsese permanece na ativa, mesmo quando ocorre diversas mudanças significativas dentro do universo do cinema. Amante da sétima arte como ninguém, o diretor permanece com o desejo sempre de filmar, mesmo quando os chefes dos estúdios de hoje acreditam que os seus filmes autorais podem não dar mais lucro através dessa geração amante de filmes de super-heróis. "O Irlandês" é aquele tipo de filme que deveria ser obrigatoriamente ser visto na tela grande, mas que nenhum estúdio de ponta abraçou o projeto do cineasta devido a sua longa duração de quase quatro horas.
A solução veio justamente com o inesperado sucesso de "Roma" (2018) de Alfonso Cuarón e financiado pela Netflix. Com o objetivo de concorrer aos prêmios como o Oscar, o filme teve estreia simultânea, tanto via streaming como também em algumas salas de cinema. O resultado foi um casamento perfeito entre as duas mídias e que fez com que o público conhecesse uma grande obra prima.
 Apresentando o projeto para os engravatados da netflix, Scorsese ganhou carta branca para fazer o que bem entendesse com a sua obra. O resultado é um épico sobre a máfia que não se via desde "Era Uma Vez na América" (1984) de Sergio Leone, mas obtendo os melhores recursos de ponta para, não só reconstituir determinados períodos, como também rejuvenescer os seus grandes astros. Um caso raro de um bom casamento entre o lado técnico e autoral para realização de uma grande obra com conteúdo.
Baseado no livro I Heard You Paint Houses, de Charles Brandt, escrito a partir de relatos do próprio Frank Sheeran, o filme conta a história do próprio que é interpretado por Robert De Niro. Ele é um veterano de guerra cheio de condecorações que concilia a vida de caminhoneiro com a de assassino de aluguel número um da máfia e apadrinhado pelo seu melhor amigo Russell Bufalino (Joe Pesci). Promovido a líder sindical, ele torna-se o principal suspeito quando Jimmy Hoffa (Al Pacino) o mais famoso ex-presidente da associação desaparece misteriosamente.
Com uma trama que transita entre o passado e o presente, o filme não somente apresenta de que maneira esses personagens foram se conhecendo, como também fala um pouco sobre o próprio governo dos EUA e sobre quem dá as cartas nos bastidores de um poder corrompido. Em uma nação formada por estrangeiros, dos quais abandonaram as suas terras em busca do sonho americano, o filme escancara o fato que, para sobreviver na terra das oportunidades, é preciso entender as suas reais engrenagens. Frank aprende da melhor e pior maneira possível e sucumbindo a promessas que possuem um alto preço.
Para os cinéfilos de plantão, o filme é um verdadeiro prato cheio, tanto para os amantes de Scorsese, como também daqueles velhos conhecidos que o mesmo sempre fez questão de leva-los para atuar em seus projetos. Com "O Irlandês", Robert De Niro e Joe Pesci fecham uma bela espécie de trilogia da máfia, que começou em "Os Bons Companheiros" (1990), prosseguiu em "Cassino" (1995) e se encerra aqui com dignidade e respeito mútuo. Mas o grande deleite desse épico é testemunharmos De Niro e Al Pacino estarem lado a lado em cenas que qualquer cinéfilo irá adorar velas e revê-las ao longo do tempo.
Embora não tenham contracenado juntos em "O Poderoso Chefão - Parte 2" (1974), ambos os interpretes ficaram frente a frente, mesmo que em pouco tempo, no já clássico "Fogo contra Fogo" (1995). Aqui, finalmente, os interpretes atuam juntos em diversos momentos inesquecíveis e dos quais Al Pacino coloca o filme no seu bolso. Embora nunca tenham trabalhado juntos, até agora, é mais que notório que Al Pacino teria se saído muito bem em projetos anteriores de Martin Scorsese.
Tecnicamente o filme é também um colírio para os olhos, não somente com relação a reconstituição de época, como também até mesmo em termos de efeitos visuais. Ao vermos os atores rejuvenescidos em determinadas épocas da trama, constatamos que não há mais limite para esses recursos e se casando quase perfeitamente com o trabalho de atuação dos astros. Scorsese, portanto, não prova ser um ótimo cineasta autoral, como também usa os recursos de hoje para se criar, acima de tudo, uma bela história.
Embora o filme possa exigir certa paciência de alguns devido a sua longa duração, é preciso destacar o seu potencial em nos prender atenção, onde o cineasta usa e abusa no que faz de melhor com a sua câmera. Em planos-sequências, por exemplo, o realizador já nos diz para nos preparar pelo pior que irá acontecer, em cenas cuja a violência é jamais gratuita, mas sim com o intuito de revelar a gradual queda dos seus principais protagonistas. Aliás, o filme não tem pressa ao vermos aqueles personagens, que antes tão cheios de vida, começam a colher o que plantaram ao longo da vida.
Não tenho menor dúvida que todos do elenco, principalmente Robert De Niro, se entregam em papeis que sintetizam a reta final de uma geração que ajudou a construir a sociedade norte americana, mas tendo uma conta alta demais a ser paga. Ao mesmo tempo, o ato final fala de uma geração de interpretes que colaborou para que o cinema de uma época sobrevivesse, mas cujo os seus desempenhos são raramente reconhecidos nesta época atual em que os estúdios somente prezam pelo novo. Mesmo parecendo causa perdida, Martin Scorsese lutou contra isso e fez questão de reunir velhos amigos para realizar o seu grande sonho.
"O Irlandês" é uma obra nascida da persistência de um grande cineasta e nós cinéfilos só temos que agradecer por não ter desistido dela. 

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