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Sócio e Diretor de Comunicação e Informática do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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terça-feira, 9 de julho de 2019

Cine Especial: 'Possuídas Pelo Pecado' – Da Boca para a História

Sinopse: Leme, um empresário rico, divorciado e infeliz por não ter herdeiros, vive em casa isolada com duas namoradas, governanta, a filha dela e o motorista, que planeja roubá-lo por quaisquer meios, ainda que tenha que matar o patrão. 

Quando eu era mais jovem sempre ouvia falar que o cinema nacional tinha muita sem-vergonhice e que eram produções pífias. Muitas dessas observações limitadas se direcionavam aos filmes da Boca do Lixo, cuja as obras se tornaram conhecidas como "Pornochanchadas". Redescobertas pelo Canal Brasil, esses filmes passaram a ser reavaliados e hoje pertencem a uma parte importante da história do nosso cinema nacional como um todo.
Embora pertençam aos tempos da Ditadura, muitos se perguntam porque muitas dessas obras não eram perseguidas pelos censores da época. Ao meu ver, os filmes serviam mais como escapismo para a maioria do público, ao invés de serem obras que nos desse altas doses de questionamentos. Nessa última questão, aliás, era o que os censores se preocupavam, já que não queriam que o povo em geral pensasse em seus direitos de liberdade naqueles de chumbo.
Porém, recentemente havia sido lançado o documentário "Histórias Que Nosso Cinema (Não) Contava" (2017), da cineasta Fernanda Pessoa. A obra, não só presta uma homenagem aquele período, como também comprovou que muitos daqueles filmes possuíam uma crítica ácida contra o governo nas entrelinhas. Enquanto as inocentes cenas de sexo animavam os desavisados, os que tinham olhos mais apurados, por sua vez, enxergavam ali algum conteúdo crítico e que passava desapercebido.
Seguindo essa linha de raciocínio, chegamos, enfim, ao clássico "Possuídas pelo Pecado" (1976), do cineasta Jean Garrett. O filme conta a história do empresário Leme (Benjamin Cattan),  que ao chegar na terceira idade e perceber que não poderá mais ter os filhos que sempre quis, decide abandonar seu casamento com Raquel (Meiry Vieira) para entregar-se a amores passageiros com suas secretárias e ao vício em álcool. Raquel então se envolve com seu motorista (David Cardoso) e, logo, todos os membros da família acabam presos em uma grande teia de mentiras.
Embora com as suas limitações, os realizadores da Boca do Lixo possuíam criatividade e das quais foram reconhecidas no seu devido tempo. Abertura de "Possuídas pelo Pecado", por exemplo, se tornou um dos pontos altos do filme, já que Jean Garrett elabora um criativo plano sequência, que na realidade é uma câmera objetiva, ou seja, estamos enxergando o ponto de vista de um personagem, mais precisamente de Leme e que surge em cena em uma de suas festas de bebida, sexo e drogas. Curiosamente, eu fui conhecer esse filme justamente por causa dessa cena de abertura, já que ela foi analisada em um dos cursos "Cinema Popular" aqui de Porto Alegre.
Se por um lado a parte técnica impressiona até mesmo nos dias atuais, o mesmo não se pode dizer muito de sua história, que oscila entre o ingênuo e o politicamente incorreto. Contudo, é preciso destacar que eram outros tempos, onde determinadas situações eram vistas como normais naqueles tempos longínquos. Se hoje fosse feito algo parecido, dificilmente não escaparia de críticas pesadas, principalmente vinda das mulheres atuais e que jamais se enxergariam daquela forma.
Porém, mesmo em tempos mais selvagens como aqueles, há também uma pequena resistência vinda das personagens femininas, mesmo quando elas agem de uma forma questionável. Vale lembrar que o filme marca a estreia da atriz Nicole Puzzi, que na época tinha apenas 17 anos e se tornaria uma das musas daquele período. Sua personagem, aliás, oscila entre ingenuidade e segundas intenções e das quais se casa com a proposta principal da obra.
Benjamin Cattan, por sua vez, interpreta aqui o personagem mais complexo da obra, do qual nos provoca repulsa e ao mesmo tempo pena. É curioso observar que Leme seria uma figura caricata do homem bem-sucedido brasileiro daquele tempo, mas cujo o poder lhe desconstrói e o transformando em apenas uma imagem pálida do que já foi um dia. Não é à toa, portanto, que a obra começa e termina com ele em cena e selando assim uma espécie de tragédia grega.
"Possuídas pelo Pecado" sintetiza os tempos de um cinema brasileiro criticado, mas que revisto hoje se comprova o quanto o brasileiro usa e abusa de discursos moralmente hipócritas e sem brilho. 

NOTA: O filme teve exibição especial nesse último sábado (06/07/19) na Cinemateca Capitólio Petrobras e com a presença ilustre da atriz Nicole Puzzi.  


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