Sinopse: Macbeth, um general vitorioso, recebe uma profecia de três bruxas que eventualmente se tornará rei.
William Shakespeare foi um dos maiores poetas e dramaturgos da história e cuja as suas obras foram levadas para o cinema inúmeras vezes e nas mais diversas formas. O clássico "Júlio César" (1953), por exemplo, talvez seja a adaptação mais próxima da essência em que Shakespeare queria passar através de sua obra e cuja a linguagem teatral colaborou ainda mais para esse feito. "A Tragédia de Macbeth" (2022) talvez seja uma das melhores adaptações da obra do escritor para o cinema recente, pois Joel Coen nitidamente bebeu da fonte do clássico de Joseph L. Mankiewicz.
A nova adaptação de "A Tragédia de Macbeth" segue a história do lorde Macbeth ao voltar de uma guerra. No meio do caminho, três bruxas o abordam e falam sobre sua visão de que ele será o próximo rei da Escócia. Ao contar a notícia para sua esposa, eles planejam o assassinato do rei atual do país e assim garantir o reinado de Macbeth. Porém, como o próprio nome diz, Macbeth é uma tragédia, em uma adaptação feroz e que, além de ser uma história de assassinato, envolve loucura, ambição e astúcia furiosa.
Dirigindo pela primeira vez sem o seu irmão, Joel Coen surpreende pelo caminho que decidiu trilhar nesta nova adaptação da peça de Shakespeare. Embora seja uma adaptação cinematográfica Joel Coen manteve a linguagem teatral, ao ponto em que algumas frases se tornam até mesmo complexas para marinheiro de primeira viagem, porém, respeitando as suas raízes dramaturgas. Ao mesmo tempo o filme possui um dos mais belos visuais deste início de ano e cuja a sua fotografia em preto e branco elaborada pelo francês Bruno Delbonnel remete aos melhores momentos do expressionismo alemão e principalmente dos primeiros clássicos criados pelo mestre Fritz Lang.
Além disso, há uma carga visual nítida de Ingmar Bergman nas entrelinhas, já que o visual das três bruxas remete diretamente ao clássico "O Sétimo Selo" (1957). Curiosamente, ambos os filmes discutem a questão de os personagens principais fugirem de algo que é praticamente impossível de ser evitável. Se no clássico de Berman o protagonista fugia da morte de forma inútil, Macbeth tenta fugir de sua própria culpa por ter cometido um crime tão terrível, mas cuja as consequências irão alcançá-lo.
Denzel Washington nos brinda aqui com uma incrível atuação, cujo o seu desempenho acaba sendo até mesmo superior ao trabalho que Michael Fassbender havia feito para o mesmo personagem em "Macbeth: Ambição e Guerra" (2015). Ao ser fiel ao texto de Shakespeare, Washington se sente ao mesmo tempo à vontade para criar o seu Macbeth para si, ao ponto que ele consegue passar através do seu olhar todo o conflito interno que o personagem sente principalmente em momentos em que a verdade lhe assombra a todo o instante. Uma atuação digna de Oscar e espero que esteja entre os indicados da próxima festa.
Já Frances McDormand, a eterna musa dos irmãos Coen, surpreende ao construir uma Lady Macbeth ambiciosa pelo poder, mas não conseguindo esconder o medo da possibilidade do seu crime vir à tona em algum momento. Não deixa de ser impressionante, por exemplo, nas cenas em que a sua personagem aparece sonambula e revelando o sentimento de culpa que carrega em suas próprias mãos. Tanto ela como Denzel Washington juntos em cenas se tornam o sangue shakespeariano que essa adaptação precisava.
Deixando a ação em segundo plano, o filme se entrega aos jogos políticos que se encontram encravados nas obras de Shakespeare. O que não deixa de ser curioso, já que atualmente estamos imundados por filmes e séries em que vemos democracias e reinos sendo golpeados ou destruídos pelas ambições vindas do homem como um todo e que sintetiza o desiquilíbrio dos governos atuais do mundo real cada vez mais preocupados em obter poder do que ajudar o povo. Pelo visto os tempos de William Shakespeare não eram muito diferentes dos nossos hoje em dia e fazendo com que as suas obras se tornassem imortais e sempre revisitadas até nos dias de hoje.
"A Tragédia de Macbeth" já aponto como um dos melhores filmes do ano, ao se afastar do convencional que tanto envenena o cinema atual e nos brindando com o melhor do universo shakespeariano e que tanto estamos precisando.
Onde Assistir: Apple TV+
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