Sinopse: Benedita traça o retrato de uma freira católica que tem visões eróticas e religiosas perturbadoras, a irmã Benedetta Carlini (Virginie Efira). Desde muito nova, Benedetta possui o dom de fazer milagres, e quando se muda para um convento em Pescia (Toscana).
Paul Verhoeven gosta de colocar em seus filmes mulheres ousadas, das quais fazem os homens se tornarem menores e impotentes a sua presença. Se nos anos noventa Sharon Stone escandalizou com a sua cruzada de pernas no clássico "Instinto Selvagem" (1992), "Elle"(2016) é um retrato forte de uma mulher independente que não se intimida perante a possiblidade de ser violentada durante a história. "Bebedetta" é o filme mais ousado da sua filmografia, cujo o longa irá incomodar muitos, mesmo para aqueles menos conservadores para dizer o mínimo.
"Benedetta" é uma biografia dramática que se passa no século XVII e uma interpretação solta do livro Atos Imodestos, de Judith C. Brown. Benedetta Carlini (Virginie Efira) é uma freira italiana que faz parte de um convento na Toscana desde sua infância, quando foi dada por sua rica família ao convento. Desde então ela sofre de um distúrbio e tem perturbações e visões religiosas sobre a Virgem Maria, além de clamar que consegue se comunicar com ela, e visões eróticas com Jesus Cristo. Assistida por uma companheira, Carlini se verá ameaçada quando sua relação com sua rebelde ajudante se transformar em um conturbado romance amoroso. Ela foi considerada mística e venerada por sua comitiva religiosa por conta de sua fé, mas foi presa e condenada por ser sáfica.
É fato que em tempos mais conservadores do catolicismo as mulheres sempre foram alvo do mesmo, ao ponto de inúmeras terem sido jogadas na fogueira unicamente por morarem sozinhas, ou por terem pensamentos muito a frente daqueles tempos. Por conta disso, a figura de Benedetta pode ser interpretada de diversas formas, como alguém que desde sempre soube jogar para sobreviver perante a esse autoritarismo, ou simplesmente crê em seus desígnios a tal ponto que suas manifestações quase soem verossímeis em alguns momentos. Virginie Efira se sai muito bem no papel título, ao ponto que o seu ar de ambiguidade que a mesma constrói para sua personagem faz com que duvidemos de suas reais intenções a todo momento.
Paul Verhoeven, por sua vez, faz o seu melhor na direção, onde se arrisca ao tocar em diversos temas que são grandes tabus até nos dias de hoje e com certeza irá incomodar muita gente. A figura de Jesus Cristo, por exemplo, se torna uma obsessão para a protagonista, ao ponto de que algumas cenas irão fazer com que muitos se encolham na cadeira. Se em 1988 "A Última Tentação de Cristo" de Martin Scorsese foi recebida a paus e pedras resta saber se essa geração de hoje irá aceitar esse filme com a mente mais aberta.
Além disso o filme escancara a relação feminina dentro do convento, sendo que Benedetta se relaciona com uma jovem recém chegada (Daphne Patakia). Embora explicito em alguns momentos, as cenas de sexo entre as duas nunca soa gratuito, sendo que elas acontecem em momentos-chaves e desencadeando consequências mais a frente. No meu entendimento, Paul Verhoeven tenta deixar claro que isso sempre ocorreu nos mais distantes conventos pelo mundo, mas quando tudo vinha a tona era incinerado pelo fogo.
Dividido entre a crença, lógica e fanatismo, o filme fala sobre o papel da mulher de ontem e hoje, das quais figuras históricas como Joana d'Arc foram perseguidas pelo poder dos homens, mas sendo reconhecidas como santas ao longo da história. Benedetta talvez tenha sido uma de muitas que sobreviveram através de sua fé, ou por simplesmente abraçar tais crenças para encontrar um meio de sobreviver perante a loucura de tempos sombrios e violentos criado pelo próprio catolicismo. O ato final irá gerar debates acalorados, mas cujo esses mesmos debates perduram durante séculos.
"Benedetta" é um retrato ousado da mulher dentro dos setores conservadores e cujo os mesmos fazem de tudo para colocar pessoas como ela para debaixo dos panos.
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