Sinopse: "Ema" apresenta uma conversa intoxicante sobre sexo, poder e caos, que se passa no Chile contemporâneo.
Pablo Larraín fez o mundo começar a enxergar o cinema Chileno antes quase nunca visto. Seja na direção, como no caso do polêmico "O Clube" (2015), como produtor, como no caso do maravilhoso "Mulher Fantástica" (2017), Larrín atraiu atenção de todos e fazendo com que tivesse a chance de desembarcar em solo americano. Mesmo em território desconhecido, o cineasta surpreendeu ao obter carta branca e moldurar o filme "Jackie" (2016) em toda sua forma.
Porém, é notório Pablo Larraín não é o tipo de artista que se esquece de suas raízes facilmente. Em tempos em que a ultradireita se alastra pelo mundo, coube o cineasta retornar ao seu país para fazer um filme que nos passasse uma crítica com relação ao mundo conservador e hipócrita que existe em sua volta. "Ema" é uma resposta que o cineasta dá ao voltar para casa e onde nos diz que cada um somos uma entidade pronta para estourar e pronta para agir.
O filme conta a história de um coreógrafo (Gael García Bernal), que está trabalhando em sua nova instalação, que reúne projeções e dança, ao mesmo tempo em que enfrenta problemas no relacionamento com a esposa, Ema (Mariana Di Girolamo), uma bailarina que integra sua equipe. Há pouco tempo ambos devolveram à adoção o jovem Paco, após ele ter causado um incêndio em casa que queimou boa parte do rosto da irmã de Ema. A situação criou entre eles uma imensa lacuna e, sem conseguirem se entender, resolvem que o melhor é se separar.
Pablo Larraín nos coloca na ação quase sem nenhuma explicação, mas que gradualmente vai dando informações sobre o passado dos personagens principais. Movidos pela arte da dança, Ema e seu marido coreografo tentam obter a liberdade em meio ao conservadorismo Chinelo, mas não obtendo os seus mais profundos desejos. Ao perderem o filho adotivo se veem perdidos em um redemoinho de incertezas e que fazem se jogarem em escolhas, por vezes, errôneas.
O cineasta usa Ema, por exemplo, como uma espécie de entidade da natureza contra as regras impostas que são, não somente contra ela, como também perante uma parte do povo Chileno que anseia pelo desejo de ser o que bem entender. Ao vermos ela incendiando carros e sinaleiras no início do filme, nos damos conta que Pablo Larraín procura nos passar mensagens subliminares em sua obra, mas das quais são facilmente entendidas pelos fãs do cineasta. Claro que muito desse efeito se deve pela atuação brilhante de Mariana Di Girolamo que coloca o filme todo no seu bolso.
Independente com quem ela contracena, Mariana Di Girolamo tem domínio de cena, ao fazer de Ema uma controladora, mesmo em situações em que ela não aparenta essa real intenção. Porém, na medida em que o filme avança, notamos que ela arquiteta algo, como se tivesse interesse de chegar em um objetivo mesmo quando parece que não há nenhum rumo. É então que na reta final somos brindados com desdobramentos imprevisíveis na trama, um tanto que forçados, mas que logo são esclarecidos.
Aliás, em seu ato final, Pablo Larraín procura nos passar uma mensagem simples para sociedade atual, da qual é sempre movida por regras, mas que das quais podem ser facilmente descartadas. O amor, por exemplo, pode ser desfrutado de diversas formas, sem nenhum preconceito, mas basta ter a mente aberta para obter isso. Em tempos de conservadorismo hipócrita que se alastra pelo mundo, uma mensagem como essa nunca é demais para ser degustada.
"Ema" é um filme sobre uma rebeldia necessária para uma sociedade acordar e se libertar desse conservadorismo atual tão hipócrita.
NOTA: Exibido online no último dia 1º de Maio pela plataforma Mubi e pela distribuidora Imovision durante 24 horas.
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