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Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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segunda-feira, 24 de abril de 2017

Cine Dica: Em Cartaz: Os Belos Dias de Aranjuez

Sinopse:Mais um verão chegou na cidade de Aranjuez, na Espanha. Um escritor começa a usar sua máquina de escrever para contar uma história passada num terraço. Um homem e uma mulher conversam. Eles revelam intimidades e discutem conflitos morais, familiares e sexuais.


O alemão Wim Wenders (Paris, Texas e Asas do desejo) oferece em seu mais novo filme para cinéfilo, não uma história, mas sim  experiência da qual nem todos irão até o final da sessão. Os belos dias de Aranjuez talvez exagere na sua pretensão ao criar inúmeras interpretações através de uma simples história, mas que não deixa de ser incomum e pouco vista no cinema. Aqui, o cinéfilo se torna o observador, onde prestigia em pouco mais de uma hora e meia, um vasto dialogo entre duas pessoas, do qual não há nenhuma ação, mas sim os cenários e as reações dos personagens principais é o que falam por si.
Assim como mestres do passado como Alfred Hitchcock, o cineasta Wim Wenders usa a sua câmera para nos apresentar a ambientação onde ocorrerá a trama: uma canção (Perfect Day de Lou Reed) toca ao fundo, enquanto grandes planos gerais se sobrepõem com um movimento de câmera tão lento que ela parece estático. Com o avanço da música, os planos vão fechando, focando então os interiores de uma casa de campo e culminando a visão de um jardim e que é aonde a trama principal irá se concentrar.
Porém, presenciamos a presença de um escritor, que está então escrevendo um livro em sua maquina de escrever, sendo justamente o dialogo do casal central da trama que estamos vendo no jardim. Portanto, presenciamos duas tramas conectadas, das quais uma não vive sem a outra, ao ponto do próprio escritor por alguns momentos balbuciar alguns diálogos do casal e que irá colocá-los no papel. Embora lembre alguns títulos já vistos no cinema como Mais Estranho do que a ficção, Wenders não procura aqui se explicar do por que estar apresentando a trama dessa forma, mas para que tiremos as nossas próprias conclusões após termos presenciado ela.
Curiosamente, o cineasta também insere momentos subliminares sobre quem controla quem na trama. Há momentos, por exemplo, que o escritor para de escrever, mas o casal continua conversando. Porém, se percebe uma dependência entre o trio, principalmente quando o casal sai de seu local de conforto e tentam enxergar o escritor em sua sala, quando na realidade esse último se encontra em outra peça da casa e pensando em qual será o próximo dialogo que será escrito para os personagens.
Quanto à conversa principal, da qual cobre toda a trama, ela envolve inúmeros temas, desde a natureza, amor, sexualidade e desejos reprimidos. O ambiente ensolarado do qual o casal se encontra, faz com que eles não tenham noção, aparentemente, da interferência fora do quadro em que eles se encontram. Isso gera então para o cinéfilo uma sensação de que eles se encontram fora do espaço tempo, como se o tempo parasse para eles, enquanto o mundo a fora seguisse em frente.
Se isso pode soar um tanto que surreal, essa sensação aumenta ainda mais quando o escritor troca um dos seus discos da sua vitrola, para então dar lugar à música Into My Arms, sendo ela cantada e tocada pelo próprio cantor Nick Cave em cena. Por mais absurdo que possa parecer aquele momento, ele é muito bem vindo, não só pelo fato de ser uma bela música, mas porque naquela altura do campeonato o cinéfilo já comprou a proposta do cineasta. Isso aumenta o estado de suspensão, onde o espaço tempo se divide então entre a realidade, casal, escritor, cantor, além da aparição rápida de um enigmático personagem segurando uma escada, mas que pode ser interpretado como símbolo representativo com relação a uma determinada parte da conversa entre o casal. 
Talvez alguns achem que Wenders tenha ido longe demais, o que não foge muito da verdade, já que ele exige atenção ao máximo e um pouco de paciência do que for assistir. Não que isso seja arrogância por parte do cineasta, pois acredito que ele tenha o interesse de criar uma proposta incomum, principalmente sendo moldada com um belo 3D e que difere e muito de superproduções americanas, das quais não valem o ingresso mais caro para ser visto neste recurso. Se em Pina Wenders começou com uma verdadeira aula de como se deve ser usado essa ferramenta, aqui ele encerra o ensino com louvor. 
Os Belos Dias de Aranjuez é um filme para poucos, mas quem for desfrutá-lo, irá participar de uma pequena e rara experiência cinematográfica.  





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