Sinopse:Mais um verão chegou
na cidade de Aranjuez, na Espanha. Um escritor começa a usar sua máquina de
escrever para contar uma história passada num terraço. Um homem e uma mulher
conversam. Eles revelam intimidades e discutem conflitos morais, familiares e
sexuais.
O alemão Wim Wenders
(Paris, Texas e Asas do desejo) oferece em seu mais novo filme para cinéfilo,
não uma história, mas sim experiência da
qual nem todos irão até o final da sessão. Os belos dias de Aranjuez talvez exagere
na sua pretensão ao criar inúmeras interpretações através de uma simples
história, mas que não deixa de ser incomum e pouco vista no cinema. Aqui, o
cinéfilo se torna o observador, onde prestigia em pouco mais de uma hora e meia,
um vasto dialogo entre duas pessoas, do qual não há nenhuma ação, mas sim os cenários
e as reações dos personagens principais é o que falam por si.
Assim como mestres do
passado como Alfred Hitchcock, o cineasta Wim Wenders usa a sua câmera para nos
apresentar a ambientação onde ocorrerá a trama: uma canção (Perfect Day de Lou
Reed) toca ao fundo, enquanto grandes planos gerais se sobrepõem com um
movimento de câmera tão lento que ela parece estático. Com o avanço da música,
os planos vão fechando, focando então os interiores de uma casa de campo e
culminando a visão de um jardim e que é aonde a trama principal irá se
concentrar.
Porém, presenciamos a presença de um escritor,
que está então escrevendo um livro em sua maquina de escrever, sendo justamente
o dialogo do casal central da trama que estamos vendo no jardim. Portanto, presenciamos
duas tramas conectadas, das quais uma não vive sem a outra, ao ponto do próprio
escritor por alguns momentos balbuciar alguns diálogos do casal e que irá colocá-los
no papel. Embora lembre alguns títulos já vistos no cinema como Mais Estranho
do que a ficção, Wenders não procura aqui se explicar do por que estar apresentando
a trama dessa forma, mas para que tiremos as nossas próprias conclusões após termos
presenciado ela.
Curiosamente, o
cineasta também insere momentos subliminares sobre quem controla quem na trama.
Há momentos, por exemplo, que o escritor para de escrever, mas o casal continua
conversando. Porém, se percebe uma dependência entre o trio, principalmente
quando o casal sai de seu local de conforto e tentam enxergar o escritor em sua
sala, quando na realidade esse último se encontra em outra peça da casa e
pensando em qual será o próximo dialogo que será escrito para os personagens.
Quanto à conversa
principal, da qual cobre toda a trama, ela envolve inúmeros temas, desde a
natureza, amor, sexualidade e desejos reprimidos. O ambiente ensolarado do qual
o casal se encontra, faz com que eles não tenham noção, aparentemente, da interferência
fora do quadro em que eles se encontram. Isso gera então para o cinéfilo uma sensação
de que eles se encontram fora do espaço tempo, como se o tempo parasse para
eles, enquanto o mundo a fora seguisse em frente.
Se isso pode soar um tanto
que surreal, essa sensação aumenta ainda mais quando o escritor troca um dos
seus discos da sua vitrola, para então dar lugar à música Into My Arms, sendo
ela cantada e tocada pelo próprio cantor Nick Cave em cena. Por mais absurdo
que possa parecer aquele momento, ele é muito bem vindo, não só pelo fato de
ser uma bela música, mas porque naquela altura do campeonato o cinéfilo já
comprou a proposta do cineasta. Isso aumenta o estado de suspensão, onde o
espaço tempo se divide então entre a realidade, casal, escritor, cantor, além
da aparição rápida de um enigmático personagem segurando uma escada, mas que
pode ser interpretado como símbolo representativo com relação a uma determinada
parte da conversa entre o casal.
Talvez alguns achem que
Wenders tenha ido longe demais, o que não foge muito da verdade, já que ele exige
atenção ao máximo e um pouco de paciência do que for assistir. Não que isso
seja arrogância por parte do cineasta, pois acredito que ele tenha o interesse de
criar uma proposta incomum, principalmente sendo moldada com um belo 3D e que
difere e muito de superproduções americanas, das quais não valem o ingresso
mais caro para ser visto neste recurso. Se em Pina Wenders começou com uma verdadeira
aula de como se deve ser usado essa ferramenta, aqui ele encerra o ensino com
louvor.
Os Belos Dias de
Aranjuez é um filme para poucos, mas quem for desfrutá-lo, irá participar de
uma pequena e rara experiência cinematográfica.
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