Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte.
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O filme apresenta analogias com um projeto realizado recentemente pelo ponto de cultura sobre o resgate de um acervo fotográfico particular.
Finding Vivian Maier ("À procura de V.M." ou "A Fotografia Oculta de V. M.) é um documentário estadunidense de 2013 dirigido por John Maloof e Charlie Siskel. Na obra se reconstroem os fortuitos acontecimentos que levaram à descoberta, póstuma, da vida e da obra da fotógrafa Vivian Maier, hoje considerada a maior fotógrafa de rua estadunidense. O filme foi indicado em 2015 ao Oscar de melhor documentário de longa-metragem.
O longa foi escolhido para integrar o ciclo de novembro, sobre a fotografia, exatamente por alguma semelhança com a realização de um projeto do cineclube de digitalização e catalogação do acervo do fotógrafo Jacob Prudêncio Herrmann. O projeto, realizado com recursos advindos da Lei Paulo Gustavo do Governo Federal através de um edital da Secretaria de Estado da Cultura do RS e coordenado pelo artista Jorge Herrmann, será apresentado em Torres em uma exposição cuja inauguração está marcada para dia 22, às 18h, na Galeria Ten Caten.
O Cineclube Torres, associação sem fins lucrativos devidamente formalizada e regularizada, não só é cineclube inscrito na Agência Nacional do Cinema e no Conselho Nacional de Cineclubes, mas é Ponto de Cultura certificado pela Lei Cultura Viva federal e estadual, Ponto de Memória pelo Instituto Brasileiro de Museus, Equipamento de Animação Turística certificado pelo Ministério do Turismo (Cadastur) e Biblioteca Comunitária.
Serviço:
O que: Exibição do filme "À procura de Vivian Maier", de John Maloof e Charlie Siskel (EUA) - 1h24m
Onde: Sala Audiovisual Gilda e Leonardo, junto à escola Up Idiomas, Rua Cincinato Borges 420, Torres
Quando: Segunda-feira, 17/11, às 20h
Ingressos: Entrada Franca, até lotação do local (aprox. 22 pessoas).
Cineclube Torres
Associação sem fins lucrativos
Ponto de Cultura – Lei Federal e Estadual Cultura Viva
Ponto de Memória – Instituto Brasileiro de Museus
Sala de Espetáculos e Equipamento de Animação Turística - Cadastur
A Sala Redenção – Cinema Universitário apresenta, entre os dias 17 e 19 de novembro, a mostra “Consciência Negra”. Com sessões gratuitas e abertas ao público em geral, a programação reflete sobre a presença negra no cinema e apresenta um modo de pensar e criar o mundo que rompe com as hierarquias coloniais da imagem, afirmando o audiovisual como território de liberdade.
A mostra estreia nesta segunda-feira, dia 17, às 16h, com o documentário “Dorival Caymmi – um homem de afetos” (2019), que revela o universo sensível do compositor que trouxe para a música brasileira sua identidade de raízes africanas. À noite, a exibição do filme “O poeta da consciência negra – Oliveira Silveira” (2022), que retrata a trajetória do intelectual gaúcho, é seguida de roda de conversa com Bira Toledo e Ronald Augusto.
A programação de terça-feira, dia 18, inicia com o aclamado “Branco sai, preto fica” (2015), de Adirley Queirós, e segue com uma sessão dos curtas-metragens “O tempo” (2023), “Filhas de lavadeiras” (2019), “Cinzas” (2015) e “Jeguatá Xirê” (2024), seguida de bate-papo com as equipes realizadoras.
Na quarta-feira, último dia da mostra, o Sala Redenção apresenta, às 16h, “A pequena vendedora de sol” (1999), drama senegalês do diretor Djibril Diop Mambéty (2019). Às 19h, a exibição de “Marte Um” (2022), representante brasileiro no Oscar 2023, encerra a programação. “Consciência Negra” é uma realização da Sala Redenção em parceria com a Casa de Cultura Mario Quintana, Descoloniza Filmes, Embaúba Filmes, Sesc, SescTV e Vitrine Filmes.
Confira a programação completa no site oficial da sala clicandoaqui.
Quando Philip K. Dick escreveu o seu livro "Androides Sonham com Ovelhas Elétricas?" talvez o mesmo nem imaginava que a sua obra chegaria tão longe. O livro deu origem a "Blade Runner" (1982), um dos filmes mais cultuados de todos os tempos e que levantou diversas questões sobre o que nos faz realmente humanos perante a possibilidade da própria inteligência artificial questionar e desejar em querer viver. Curiosamente, no mesmo ano em que o filme de Ridley Scott foi lançado, no Japão o roteirista e desenhista Katsuhiro Otomo lançou o seu mangá "Akira", obra que posteriormente renderia uma incrível adaptação para o cinema em 1988 e que possuía os mesmos questionamentos existencialistas vistos a partir do conceito levantado inicialmente por Philip K. Dick.
Tudo isso gira em torno do conceito Cyberpunk, palavra originada a partir da cibernética, traz uma visão de universo underground da sociedade, ou seja, visão de contracultura, pois foge dos padrões impostos na intenção de obter novos espaços para expressão. Simplificando, uma realidade em que humanos e a inteligência artificial se separam somente através de uma linha muito fina e fazendo a gente questionar em que ponto começa e termina o lado humano deste cenário pessimista. Juntando tudo isso chegamos então a "Ghost in the Shell - O Fantasma do Futuro" (1995), filme que está completando trinta anos e que até hoje nos levanta vários questionamentos.
Dirigido por Mamoru Oshii, e com roteiro de Masamune Shirow que é autor do mangá que deu origem ao projeto, o filme se passa no ano de 2029, onde o mundo se tornou um local altamente informatizado, a ponto de os seres humanos poderem acessar extensas redes de informações com seus ciber.-cérebros. A agente cibernética Major Motoko é a líder da unidade de serviço secreto Esquadrão Shell, combatente do crime. O governo informa ao grupo de que o famoso hacker conhecido "Mestre das Marionetes", especialista em invadir e controlar o ciber-cérebro das pessoas, está no Japão.
Ja na abertura o filme já nos diz que estamos diante de algo diferente, tanto para época do seu lançamento, como até mesmo para os dias de hoje. Alinhado com os melhores técnicos de animação do Japão, Mamoru Oshii criou um longa em que o desenho tradicional se alinhou com uso do CGI em animação que na época ainda era novidade para o grande público, mas que já havia dado sinais de que mudaria o mercado cinematográfico a partir de filmes como "Parque dos Dinossauros" (1993) e "Toy Story" (1995). O que se vê na tela é a união perfeita destes dois mundos, onde um não se sobressai sobre o outro, mas sim colaboram para nos brindar com um grande espetáculo.
Se percebe, por exemplo, como os realizadores buscaram cenários reais para a criação do universo futurístico, onde podemos reconhecer facilmente a cidade de Tóquio, como se ela tivesse transcendido para algo novo e poucas vezes visto no cinema. Assim como "Blade Runner, o longa de Mamoru Oshii é um daqueles tipos de filmes com tantos detalhes visuais que quando você revê a obra mais de uma vez parece que estamos diante de algo que não havia sido captado anteriormente. Se isso é sentido pelo lado visual, o mesmo pode ser dito na questão roteiro que é desde já fantástico.
Durante todo o filme a protagonista Major Motoko fica se questionando até onde ela é humana, se as suas lembranças são verdadeiras e se não existe a possibilidade de estar sendo manipulada por algo maior. Por conta disso, o antagonista o mestre dos Fantoches acaba sendo uma espécie de reflexo de suas dúvidas, já que ele é uma inteligência artificial que vaga livremente por todo o sistema, mas que enxerga limitações a partir do momento em que acredita que seja necessário fazer parte de um corpo humano. O encontro entre os dois personagens culmina em um final antológico e que se casa com a proposta principal da obra em apresentar algo novo a partir da fusão do modo tradicional e computadorizado na realização do longa e ser apresentado para o grande público.
Não posso deixar de mencionar a fantástica trilha sonora do longa composta por Kenji Kawai, que buscou usar elementos da música folclórica Búlgara misturadas com a tradicional japonesa e resultando em outro elemento técnico, porém, bastante orgânico e se tornando uma peça essencial para o longa como um todo. Curiosamente, a primeira vez que eu soube sobre o filme foi exatamente no ano de seu lançamento através de uma matéria da revista semanal Heróis, quando o longa foi exibido na Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. Posteriormente a distribuidora FlashStar cogitou exibir Ghost in the Shell nos cinemas antes de lançar direto em vídeo, em 1998, e DVD, em 2001.
Revendo o filme nos damos conta que ele não somente envelheceu muito bem, como também serviu de inspiração para a criação de novos longas metragens. As próprias irmãs Lana Wachowski e Lilly Wachowski disseram que eram grandes fãs do longa japonês e que buscaram inspiração nele para a realização de "Matrix" (1999), sendo que isso é comprovado principalmente nos famosos algoritmos do filme e que são muito semelhantes ao que é visto no longa de Mamoru Oshii. Claro que houve também outros longas metragens, e até mesmo uma versão norte-americana, na tentativa de repetir o mesmo feito, mas nada que supere essa grande obra como um todo.
Trinta anos já se passaram, mas "Ghost in the Shell - O Fantasma do Futuro" ainda é um marco da ficção científica e que mudou a forma de se fazer animes para o cinema.
Nosso encontro deste sábado será às 10h15 da manhã, na Cinemateca Capitólio, com a exibição de Todos Já Sabem (Todos lo saben, 2018), do premiado cineasta Asghar Farhadi, diretor de dois vencedores de Melhor Filme Estrangeiro (A Separação e O Apartamento) no Oscar. Filmado na Espanha e protagonizado por Penélope Cruz, Javier Bardem e Ricardo Darín, o longa conduz um suspense familiar de atmosfera intensa, em que o desaparecimento de uma jovem desencadeia segredos, culpas e ressentimentos de uma comunidade marcada por laços frágeis e verdades não ditas. Com seu olhar sensível e preciso, Farhadi transforma o drama em uma reflexão sobre confiança, amor e as fissuras invisíveis que unem e separam as pessoas.
Confira os detalhes da sessão:
SESSÃO DE SÁBADO NO CLUBE DE CINEMA
📅 Data: Sábado, 15/11/2025, às 10h15 da manhã
📍 Local: Cinemateca Capitólio
Rua Demétrio Ribeiro, 1085 – Centro Histórico, Porto Alegre
Sinopse: Laura retorna com os filhos da Argentina à aldeia onde nasceu, na Espanha, para o casamento da irmã. O reencontro familiar, porém, é abalado pelo súbito desaparecimento de sua filha adolescente. À medida que a investigação avança, emergem segredos e tensões que revelam as fragilidades de cada relação e o peso do que se tentou esconder.
Sobre o Filme: Ao lado do já falecido Abbas Kiarostami, o cineasta Asghar Farhadi tem nos brindado com a sua visão autoral com relação ao universo iraniano do qual ele vive e provando que, com uma ideia na cabeça e uma câmera na mão, todos os percalços impostos em seu país podem ser sim driblados para realização de um grande espetáculo. Em "Procurando Elly" (2010), por exemplo, Farhadi cria um suspense psicológico, onde segredos não revelados podem acarretar sérias consequências para os personagens que a muito tempo carregam determinadas feridas vindas do passado. Eis que no outro lado do mundo o cineasta nos brinda com o filme “Todos Já Sabem”, onde se revela que determinados segredos precisam sim vir à tona, antes que todos se corroem perante a dor de uma perda e da qual poderia ser evitada.
Na trama, Laura (Penélope Cruz) viaja para a sua cidade natal na Espanha para visitar a sua família e participar de um casamento. Lá, ela revê velhos amigos, como no caso de Paco (Javier Barden). Porém, durante as festividades, a filha de Laura desaparece e desencadeando uma corrida contra o tempo.
Confira a minha crítica já publicada clicandoaqui.
A cinesemana de 13 a 19 de novembro traz quatro estreias na nossa programação, representativas de várias nacionalidades e estilos cinematográficos. Um dos destaques é FRANKENSTEIN, adaptação do mexicano Guillermo del Toro para um dos maiores clássicos de terror da literatura mundial. Os dilemas da adolescência estão presentes em CORAÇÕES JOVENS, um drama intimista rodado entre Holanda e Bélgica, enquanto os problemas da terceira idade dão o tom de QUERIDO TRÓPICO, protagonizado pela grande atriz chilena Paulina García. A lista de estreias se completa com A QUEM EU PERTENÇO, uma coprodução entre Tunisia e França e que propõe uma reflexão sobre o papel da maternidade.
Sucesso absoluto de público, O AGENTE SECRETO, de Kleber Mendonça Filho, continua em cartaz com uma sessão noturna. A produção brasileira segue representada por outros três títulos: O ÚLTIMO AZUL, de Gabriel Mascaro; MALÊS, dirigido e protagonizado por Antonio Pitanga; e ENTERRE SEUS MORTOS, novo terror de Marco Dutra.
Entre as sessões especiais, o público terá a oportunidade de conferir os curtas TRAPO e GAMBÁ, vencedores do Festival de Gramado, e mais uma sessão do Clube de Leitura Jane Austen, com a exibição de AS PATRICINHAS DE BEVERLY HILLS.
Confira a programação completa no site oficial da cinemateca clicandoaqui.
Sinopse: Um impasse entre um xerife e um prefeito de uma pequena cidade gera um conflito entre vizinhos, em maio de 2020, em Eddington, Novo México.
TRUQUE DE MESTRE - O 3º ATO
Sinopse: Os Quatro Cavaleiros estão de volta com uma nova geração de ilusionistas e uma trama cheia de reviravoltas, mágicas e surpresas, em um truque que envolve a joia mais valiosa do mundo.
QUANDO O CÉU SE ENGANA
Sinopse: Após uma troca de vidas causada por um anjo desajeitado, dois amigos com rotinas opostas precisam enfrentar verdades inesperadas sobre si mesmos. Uma comédia sobrenatural cheia de surpresas!
O BAD BOY E EU
Sinopse: Dallas (Siena Agudong) sonha em entrar para a melhor escola de dança do país e honrar a memória de sua mãe. Tudo parecia sob controle… até Drayton Lahey (Noah Beck), o bad boy mais popular do colégio, cruzar seu caminho. Entre passos de dança, provocações e segredos que ninguém imagina, os dois vão descobrir que às vezes o amor chega justamente quando você menos espera, e que alguns encontros podem mudar tudo. Baseado no sucesso de Tay Marley.
SOMBRAS NO DESERTO
Sinopse: No Egito antigo, uma família vive escondida, tentando escapar de um passado que não pode ser revelado. O Carpinteiro (Nicolas Cage), sua esposa (FKA twigs) e o Menino (Noah Jupe) sobrevivem entre a fé e o medo de serem encontrados. Quando uma presença sombria cruza seu caminho, o Menino começa a questionar tudo o que acredita, despertando forças que nem ele é capaz de compreender. À medida que seu dom cresce, o confronto do sagrado com o desconhecido se inicia.
Sinopse: Um cientista brilhante, mas egoísta, traz uma criatura monstruosa à vida em um experimento ousado que, em última análise, leva à ruína tanto do criador quanto de sua trágica criação.
Guillermo del Toro construiu a sua carreira através do que leu e assistiu em sua vida. Através dos seus filmes testemunhamos seres que mais parece que saíram de um velho armário, mas todos moldados com coração e perfeccionismo. "'Frankenstein" (2025) é a realização de um sonho antigo do cineasta e que obtém aqui com certo êxito.
Na trama, acompanhamos o cientista Victor Frankenstein (Oscar Isaac) que decide criar vida através de corpos de falecidos durante a guerra. Da tragédia nasce a sua criatura (Jacob Elordi), mas da qual é abandonada pelo seu criador a partir do momento que ela não corresponde com as suas expectativas. O monstro, por sua vez, irá assombrá-lo por tê-lo abandonado no passado.
É notório que Guillermo del Toro é um grande fã dos filmes de horror clássicos, principalmente aqueles do início dos anos trinta lançados pelo estúdio Universal. Mesmo não sendo exatamente fiel a obra de Mary Shelley a versão de 1931, dirigida por James Whale e protagonizada por Boris Karloff, se tornou um dos maiores clássicos da história do cinema e que com certeza moldou a mente do cineasta e fazendo surgir dentro de si a ideia de realizar uma adaptação de sua autoria. O resultado é um filme que possui todos os ingredientes do que já tínhamos visto em seus longas anteriores, mas ao mesmo tempo sendo fiel a obra literária da escritora Mary Shelley.
Visualmente o filme é um verdadeiro espetáculo, onde a fotografia de cores vibrantes é algo que não via em sua filmografia desde "A Forma da Água" (2017) e cuja edição de arte remete, não somente o seu lado perfeccionista, como também o melhor do que se testemunhava nos filmes de horror de antigamente, seja eles feitos nos EUA, como também daqueles feitos na Itália e dirigidos por Mario Bava e Dario Argento. É impressionante testemunharmos uma história tão conhecida pelo público sendo adaptada por um outro ângulo, onde o visual e até mesmo objetos a gente reconhece que já tínhamos presenciado em seus outros projetos. Quem acompanhou a carreira do diretor desde o início irá reparar referência de seus outros longas, que vai desde "A Espinha do Diabo" (2001), como também o próprio "O Labirinto do Fauno" (2006).
Porém, o realizador também faz pequenas, porém significativas homenagens às outras adaptações do conto como um todo. Se a já citada versão de 1931 é homenageada em algumas passagens do longa, por outro lado, até mesmo a versão da Hammer, "A Maldição de Frankenstein" (1957) é homenageada em uma rápida, porém significativa cena. Em suma, é um prato cheio para cinéfilos atentos, mas ao mesmo tempo um convite para despertar a curiosidade daqueles que não assistiram as outras versões do clássico literário.
Moldado com grandes talentos, cada intérprete se entrega ao máximo em cena e se alinhando com o lado obsessivo do cineasta com relação à adaptação. Oscar Isaac cria para si um Frankenstein obsessivo em derrotar a morte, ao ponto de ser alguém animalesco, porém, não caricato e despertando em nós admiração e ódio. Já a criatura ganha vida através de uma ótima atuação de Jacob Elordi que, mesmo sob uma pesada maquiagem, consegue nos passar confusão, doçura e raiva em todas as medidas. É a versão do monstro mais humana que eu já assisti desde a adaptação de 1994 comandada por Kenneth Branagh e talvez a mais próxima da ideia primordial da versão literária de Mary Shelley.
Curiosamente, Mia Goth nos brinda com uma versão de Elizabeth que ressoa diferente de todas as outras adaptações. Visualmente se casando com perfeição com a visão autoral de Guillermo del Toro, a atriz se sobressai com uma Elizabeth complexa sobre as questões sobre a paixão, vida e morte e cujo encontro com a criatura se torna simbólico e posteriormente trágico. Não posso também deixar de mencionar como é ótimo rever Christoph Waltz em cena, cujo seu personagem desperta ainda mais a obsessão de Frankenstein e o levando por um caminho sem volta.
Embora seja uma versão nova de um conto tão conhecido, por outro lado, é curioso observar que Guillermo del Toro dá espaço para a visão dos fatos, tanto aquela feita por Frankenstein, como também dita pela própria criatura. A passagem do homem cego, por exemplo, ganha ainda maior relevância ao ser narrada pelo monstro e explorando ainda a possibilidade que Mary Shelley tenha se inspirado, tanto no mito Prometeu, como também até mesmo com relação às passagens do velho testamento. Ou seja, um conto que levanta o debate sobre até que ponto o homem pode brincar de Deus e cujo esse debate ainda funciona até nos dias de hoje, onde a humanidade cada vez mais se perde na tecnologia e perdendo aos poucos a sua real essência.
Eu só acho uma pena que Guillermo del Toro tenha se apressado por demais em seu ato final, cuja algumas passagens foram resumidas por demais e culminando no mesmo cenário em que a trama havia começado. Além disso, o perdão visto nos minutos finais da trama poderá talvez soar forçado por alguns, principalmente depois de tudo o que a criatura passou. Isso, porém, não diminui o impacto visual e emocional que a obra passa e que, para mim ao menos, foi um prato cheio do mais puro cinema.
"Frankenstein" é um dos maiores feitos da carreira de Guillermo del Toro e cujo feito tardou, mas não falhou em seu propósito principal.