Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte.
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No sábado, 9 de agosto, às 23h59, a Cinemateca Capitólio apresenta a Madrugada do Desejo, uma noite embalada pela exibição de obras-primas intensas e arrebatadoras. Concebida por integrantes do Clube do Filme, a programação destaca Crash – Estranhos Prazeres, um dos longas mais ousados de David Cronenberg, A Ilha dos Prazeres Proibidos, o maior sucesso popular de Carlos Reichenbach, um filme surpresa cultuado por diversas gerações, e curtas experimentais que serão exibidos até o raiar do sol, capitaneados por Possibly in Michigan, de Cecelia Condit.
INGRESSOS
– Valor: R$ 20,00
– Pagamento via PIX.
– À venda a partir de sábado, 2 de agosto, na bilheteria da Cinemateca Capitólio.
– A bilheteria abre 30 minutos antes de cada sessão.
– Confira os horários das sessões no site da Cinemateca Capitólio.
– Limite de dois ingressos por pessoa.
Criado pelo Programa de Alfabetização Audiovisual, com apoio da Associação de Amigas e Amigos da Cinemateca Capitólio, o Clube do Filme é um projeto formativo iniciado em 2024 que reúne jovens apaixonados por cinema. Os encontros semanais são pautados pelo debate em torno da programação da Cinemateca Capitólio, incluindo a exibição de filmes de curta e longa-metragem, além de conversas com a presença de profissionais e convidados.
A Madrugada do Desejo contará com comes e bebes, doces e salgados, quitutes e delícias da Doces Temporadas.
Aproximar, comparar e estudar as linguagens do cinema e da literatura é a proposta do ciclo “Filmes e Livros”, que estreia na Sala Redenção no dia 4 de agosto, segunda-feira, e segue em setembro e outubro. As sessões são conduzidas por Fatimarlei Lunardelli – jornalista, escritora, professora e crítica de cinema brasileira – e acontecem sempre na primeira segunda-feira de cada mês, com palestra às 15h, seguida da exibição de filme e bate-papo com o público.
Já em sua origem, quando o cinema passou do registro documental dos acontecimentos para a fabulação, a tradição literária forneceu as bases para seu desenvolvimento. Por meio de estratégias de posicionamento de câmera e montagem das imagens, correlatas aos ganchos literários do folhetim, os primeiros cineastas aprenderam a envolver e manter a atenção dos espectadores. No ciclo “Filmes e Livros”, o público é convidado a ler as obras e a participar das conversas que irão relacionar a literatura e o cinema, discutindo suas diversas aproximações.
A programação tem início em 4 de agosto com “As Horas”, de Michael Cunningham, vencedor do Prêmio Pulitzer em 1999. A narrativa acompanha três mulheres de distintas gerações cujas vidas são entrelaçadas pelo romance “Mrs. Dalloway”, de Virginia Woolf, que celebra seu centenário de publicação este ano. O segundo encontro, em 1º de setembro, debate a obra “A Vida Invisível de Eurídice Gusmão”, livro escrito pela pernambucana Martha Batalha, e sua adaptação para o cinema. O ciclo encerra em 6 de outubro com a discussão sobre “Anna Karenina”, clássica obra de Liev Tolstói, e sua adaptação cinematográfica de 2013.
A entrada é gratuita e aberta à comunidade em geral. A Sala Redenção está localizada no campus centro da UFRGS, com acesso mais próximo pela Rua Eng. Luiz Englert, 333.
Confira a programação completa no site oficial da sala clicandoaqui.
O tempo é o verdadeiro juiz com relação a arte, pois se ela não é reconhecida em sua época talvez ela seja na medida em que o tempo passa. No caso do cinema isso não é diferente, sendo que os anos passam, filmes se tornam sucessos de bilheteria enquanto outros fracassam, ou são mal interpretados pela crítica especializada. Um dos meus filmes preferidos "Blade Runner" (1982) fracassou em seu ano de lançamento, mas rapidamente se tornou cultuado graças as sessões da Cinematecas, VHS e tv a cabo.
Na luta pelo lucro muitos filmes acabam ficando pelo caminho, sendo que o verão do cinema norte americano do ano de 1982 é um belo exemplo disso. Entre os diversos lançamentos da época o maior sucesso de bilheteria acabou sendo "ET" de Steven Spielberg, sendo que o filme ficou por meses em cartaz, fazendo com que o público fosse ir aos cinemas diversas vezes e fazendo com que os outros lançamentos ficassem em segundo plano. Dentre os fracassos, além do já citado "Blade Runner" temos a obra prima do diretor John Carpenter, "O Enigma do Outro Mundo", sendo apedrejado na época do seu lançamento, mas se tornando um dos mais interessantes exemplos de filmes que ganharam o reconhecimento ao longo dos anos.
O filme é uma refilmagem do clássico "O Monstro do Ártico" (1951) de Christian Nyby, porém, o diretor John Carpenter decidiu em seguir a fonte, ou mais precisamente se inspirar mais no conto escrito por John W. Campbell. Na obra literária, a criatura mata e copia as suas vítimas e fazendo se criar uma verdadeira paranoia sobre quem é o ser no decorrer da trama. Pode-se dizer que a obra serviu de inspiração até mesmo para outros clássicos dos tempos de paranoia da Guerra Fria, como no caso de "Vampiros de Almas"(1956).
Para John Carpenter, a premissa da trama também poderia ser facilmente inserida nos tempos de paranoia que acontecia no início dos anos oitenta. Era os tempos da AIDS, onde as pessoas ainda não sabiam ao certo como pegava a doença e gerando assim uma verdadeira paranoia na época e causando até mesmo um grande conflito de desconfiança entre as pessoas. Visto hoje, o filme de Carpenter pode ser interpretado como uma parábola desse período de incerteza sobre um inimigo invisível para boa parte da sociedade.
Como filme em si o longa é uma verdadeira aula de filmes de horror gore e com diversas pinceladas de suspense que envelheceram muito bem diga-se de passagem. Não há como negar que o longa causa uma sensação claustrofóbica, principalmente pelo fato da trama se passar em uma base isolada na Antártida e cujo inferno acontece quando um cachorro é perseguido por um helicóptero da base Norueguesa e fazendo com que a equipe comandada por Kurt Russell não compreenda a situação. A resposta acontece quando o cão é preso no canil, onde ele começa a sugar os demais no local e se transformando em um ser tenebroso.
Vale salientar que falamos de um filme lançado em uma época em que não havia em abundância o uso dos efeitos digitais. Para que a criatura impressionasse nas telas foi chamado o maquiador e de recursos visuais Rob Bottin, que já havia trabalhado com Carpenter em "A Bruma Assassina" (1980). O resultado foi um grande uso de animatrônicos, maquiagem pesada, o uso de gelatina falsa e sangue em abundância. Por conta disso sentimos um peso quando a criatura surge em cena, seja na forma de um cão deformado, ou de uma aranha, ou até mesmo surgindo como uma enorme boca cheia de dentes na barriga de um dos protagonistas.
Tudo culmina em cenas de horror inesquecíveis, que fazem o espectador não as esquecer tão cedo. Pode-se dizer que o filme era algo até mesmo a frente do seu tempo, pois até então não havia tamanha cenas de mutilação, metamorfoses em cena e tudo moldado a mão e com bastante criatividade na medida certa. Ao mesmo tempo, Carpenter capricha em cenas com momentos tensos, principalmente quando o personagem de Kurt Russell faz testes de sangue em seus amigos para saber qual deles é o invasor alienígena. A cena é por si só um dos momentos em que faz todo mundo pular da cadeira, pois ninguém esperava a reação da criatura daquela maneira e gerando um verdadeiro pandemônio na história.
Como eu disse acima, o filme fala sobre paranoia, desconfiança e sobre quem acreditar em tempos de incerteza. A criatura invasora se torna, portanto, um mero artificio para fazer os personagens aflorarem os seus piores medos e paranoias e fazendo com que o filme se torne ainda mais atual do que nunca nos dias de hoje. Só a cena final fortalece ainda mais essa visão pessimista e da qual John Carpenter a manteve mesmo no contragosto dos engravatados da Universal da época.
O filme estreou no meio da avalanche de "ET", que era um filme mais positivo para uma plateia que fugia de filmes mais pessimistas na época. Ao mesmo tempo o longa foi injustamente massacrado pela crítica daquele ano, alegando ser uma obra cruel, desumana e violentamente explicita. Atualmente, quase não há nenhum crítico que fale de forma negativa sobre esse filme, sendo até mesmo fazendo parte da lista dos melhores filmes de ficção de todos os tempos.
Recentemente o selo Obras Primas do Cinema lançou o clássico em um blu-ray caprichado, com luva metálica, dois DVDs com vários extras, além de posters, um livrinho explicativo e diversas fotos. Um item obrigatório para aqueles que ainda apreciam a mídia física e que desejam sentir nas suas mãos o seu filme preferido e tê-lo em sua prateleira. "O Enigma do Outro Mundo" é um filme a frente do seu tempo, sendo hoje cultuado e colecionando diversos fãs ao redor do mundo.
Neste final de semana o Clube de Cinema de Porto Alegre convida você para duas sessões curiosamente... leitosas! No sábado, temos A Via Láctea, de Luis Buñuel, uma provocação surrealista com sabor celestial; e no domingo, Hot Milk, um drama moderno que ferve sob o sol da costa espanhola. Uma dobradinha que vai do leite das estrelas ao leite escaldante do amor. Duas oportunidades únicas de assistir a grandes filmes na companhia de quem ama cinema!
Vem com a gente, seguem as informações das sessões do final de semana:
SÁBADO | 02 de agosto | 10h15 da manhã
📍 Cinemateca Capitólio (Rua Demétrio Ribeiro, 1085 – Centro Histórico, Porto Alegre)
Atores: Paul Frankeur, Laurent Terzieff, Delphine Seyrig
Sinopse: Dois andarilhos fazem uma peregrinação até Santiago de Compostela. Ao longo do caminho, contudo, são transportados por diferentes épocas e situações, encontrando figuras históricas e personagens alegóricos que representam heresias e dogmas cristãos. Satírico, irreverente e repleto de simbolismos, o filme é uma das obras-primas do Buñuel maduro, fazendo rir e pensar sobre religião, fé e absurdo.
DOMINGO | 03 de agosto | 10h15 da manhã
📍 Cinemateca Paulo Amorim (CCMQ, Rua dos Andradas, 736 – Centro Histórico, Porto Alegre)
Hot Milk
(Reino Unido, 2025, 93 min, 14 anos)
Direção: Rebecca Lenkiewicz
Atores: Emma Mackey, Fiona Shaw, Vicky Krieps, Patsy Ferran
Sinopse: Sofia acompanha a mãe, Rose, até a costa espanhola em busca de um tratamento experimental para sua doença misteriosa. Entre praias ensolaradas e rituais estranhos, surge Ingrid, uma mulher envolvente que transforma a vida de Sofia. Um filme que trata de vínculos maternos, sexualidade, desejo e emancipação, em uma atmosfera densa, sensível e carregada de ambiguidade.
Sinopse: Lucy é uma casamenteira de Nova York que se vê dividida entre Harry, um empresário romântico e misterioso e John, um ex-namorado que ainda está tentando equilibrar sua vida, mas desperta uma antiga paixão na mulher.
Atena
Sinopse: Atena, uma mulher que sofreu abusos por parte de seu pai na infância, transforma sua dor em determinação para combater a violência contra mulheres.
A Morte de um Unicórnio
Sinopse: mostra a vida de Elliot (Paul Rudd) e sua filha Ridley (Jenna Ortega) toma um rumo inesperado e bizarro durante uma viagem para uma cúpula de gerenciamento de crise. Ao dirigir com pressa, eles atropelam um unicórnio mágico e, sem saber o que fazer, decidem levar o cadáver com eles para o retiro selvagem onde se encontra o chefe de Elliot, Dell Leopold, um CEO da indústria farmacêutica com a fortuna de um outro rico. A surpresa se transforma em caos quando Dell e sua família descobrem o unicórnio morto e, aproveitando-se da situação, começam a conduzir experimentos científicos no corpo do animal.
Monsieur Aznavour
Sinopse: De uma infância pobre à sua ascensão e fama, de seus triunfos a seus fracassos, de Paris a Nova Iorque, descubra a jornada excepcional de um artista. Íntimo, intenso, frágil e indestrutível, dedicado à sua arte até o fim, aqui está um dos cantores mais imortais de todos os tempos: MONSIEUR AZNAVOUR.
Sinopse: Duas jovens missionárias tentam converter um homem, mas a situação se revela muito mais perigosa do que poderiam imaginar.
Scott Beck e Bryan Woods são dois cineastas parceiros que começaram a despontar no cinema independente a partir do ótimo "A Casa do Terror" (2019). Agora, imagine esta dupla participando de um filme do estúdio A24, sendo apontado pela maioria da crítica e do público como a melhor casa de filmes de baixo orçamento, mas de muita qualidade para dizer o mínimo. O resultado é "Herege" (2024), filme de horror psicológico que deu o que falar por onde passou e ingredientes para esse feito é o que não faltavam.
Na trama, Paxton (Chloe East) e Barnes (Sophie Thatcher) são duas jovens missionárias que dedicam seus dias a tentar atrair novos fiéis. Certo dia elas visitam o Sr. Reed (Hugh Grant), um homem aparentemente receptivo e até mesmo inclinado a converter-se. Contudo, a recepção amistosa logo se revela um engano, transformando a missão das jovens em um verdadeiro inferno.
Bom, para começar é preciso já de imediato destacar a assustadora atuação de Hugh Grant como Sr. Reed, que vai aos poucos se revelando, de um simples cidadão do bem, para um implacável psicopata que levanta as mais diversas teorias sobre as origens da religião. Conhecido pela maioria do público por sua atuação em clássicos da comédia romântica como "Quatro Casamentos e um Funeral" (1994) Grant praticamente desaparece em uma figura assustadora, cuja suas motivações ficam somente na superfície, mas as suas ações já falam um pouco de sua pessoa. Sem sombra de dúvida uma das grandes surpresas do cinema de horror dos últimos tempos.
Porém, o filme destaca principalmente a direção perfeccionista dos diretores Scott Beck e Bryan Woods, que faz da casa do Sr. Reed em uma verdadeira grande armadilha e onde cada passo em que as duas jovens passam a trilhar pode acabar levando ambas para um novo cenário peculiar. Com um ótimo enquadramento, cuja fotografia e edição de arte se alinham com perfeição, a casa poderia ser facilmente usada em franquias como "Jogos Mortais", mas aqui ela é aproveitada principalmente como metáfora com relação a religião, capitalismo e ideias roubadas ao longo do tempo. Por mais devoto que a pessoa seja com relação a determinada religião é preciso reconhecer que certas ideias levantadas pelo Sr. Reed façam algum sentido e que com certeza gerou diversos debates após a sessão no cinema.
Claro que o filme possui aqueles típicos ingredientes de sucessos dos filmes de horror, mas sendo usados aqui como uma interessante cortina de fumaça para ocultar os verdadeiros fatos ocultos daquela casa. Tudo gira em torno da questão da fé e descrença e alinhá-las em um único cenário e do qual chocam de um modo inesperado. As atrizes Chloe East e Sophie Thatcher estão ótimas como as mocinhas em apuros, sendo que a última tem se destacado em filmes de terror como esse, além de ter atuado recentemente em "Acompanhante Perfeita" (2025).
E quando a gente acha que o filme irá se enveredar por soluções fáceis, eis que o roteiro nos surpreende em seu ato final e dos quais os desdobramentos nos fazem pensar sobre o que aconteceu ali. Alinhado com simbolismos e diversas teorias como um todo, o filme se encerra de uma forma mais do que satisfatória e mantendo o brilho de sua premissa. Novamente o estúdio A24 nos prova que o lado criativo é o coração pulsante de qualquer gênero que se preze.
"Herege" é mais uma grata surpresa do subgênero horror psicológico e nos surpreende pela presença de um Hugh Grant maquiavélico e distante daquela imagem de bom moço que estávamos acostumados.
A cinemasemana que abre o mês de agosto destaca as estreias de dois filmes elogiados pela crítica e que têm o suspense alimentado por sentimentos de vingança. Um dos filmes é CLOUD, do diretor japonês Kiyoshi Kurosawa, sobre um jovem vendedor que engana seus compradores; o segundo é FILHOS, do sueco Gustav Möller, em que uma agente penitenciária encara alguém do seu passado.
A programação segue com os longas franceses MONSIEUR AZNAVOUR, que recupera a trajetória do cantor e compositor Charles Aznavour, e a comédia dramática APENAS ALGUNS DIAS, um romance que tem como pano de fundo a imigração.
Seguem em cartaz, entre os preferidos do público, UMA BELA VIDA, do diretor Costa-Gavras, que aos 92 anos nos oferece uma reflexão comovente sobre a finitude da vida, além do longa italiano VERMIGLIO – A NOIVA DA MONTANHA, que entra na quarta semana de exibição. CAZUZA: BOAS NOVAS, documentário dedicado aos últimos anos de uma das grandes estrelas do rock brasileiro da década de 1980, segue em cartaz junto com o longa nacional UM LOBO ENTRE OS CISNES, baseado na trajetória do bailarino brasileiro Thiago Soares.
Entre as exibições especiais teremos CLUBE DOS CINCO, de John Hughes, apresentada pelo crítico Rodrigo de Oliveira, da revista Almanaque 21. Confira a programação completa no site oficial da Cinemateca clicando aqui.