Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte.
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De 22 de maio a 6 de junho, a Cinemateca Capitólio apresenta a mostra O cinema vai ao cinema, com obras que retratam as salas de cinema como receptáculos de memórias afetivas onde a vida de seus espectadores se confunde com as tramas projetadas na tela, e mostram diferentes perspectivas do ato de criação de imagens cinematográficas. A programação destaca filmes de realizadores como Ettore Scola, Tim Burton, Bigas Luna, Joe Dante e Woody Allen.
Na sexta-feira, 23 de maio, às 19h30, o Projeto Raros apresenta a estreia latino-americana da cópia restaurada de Hollywood 90028 (1973), único longa dirigido por Christina Hornisher. Após a projeção, ocorre um debate conduzido pelo Cineclube Academia das Musas, coletivo que pesquisa filmes dirigidos por mulheres. A sessão faz parte da mostra O cinema vai ao cinema. Entrada franca.
A partir de quinta-feira, 22 de maio, a Cinemateca Capitólio exibe Os Dragões, filme de Gustavo Spolidoro. Memórias de um Esclerosado e Inventário de Imagens Perdidas seguem em exibição durante a semana. O valor do ingresso é R$ 16,00.
Sinopse: Dois faxineiros surpreendem um ao outro durante o almoço: um diz que fez sexo com um homem, enquanto o outro se preocupa com um sonho vívido no qual David Bowie o vê como uma mulher.
Em tempos atuais certos tabus da sociedade têm sido quebrados, principalmente quando o tema é o sexo e sendo discutido de forma mais aberta nos últimos tempos. Porém, a questão ainda é difícil de ser dialogada, principalmente entre casais que ainda mantêm certos valores do passado intactos, mas que nem sempre corresponde com os seus verdadeiros sentimentos. "Sex" (2024) fala sobre intimidades, segredos e até que ponto é preciso ser sincero com relação a esse assunto.
Dirigido por Dag Johan Haugerud, acompanhamos a história de dois colegas de trabalho na meia-idade, ambos em casamentos heterossexuais, que, após duas experiências recentes e inusitadas, passam a questionar suas sexualidades e identidades de gênero. Enquanto um revela que teve a sua primeira experiência homossexual, o outro revela que anda tendo sonhos estranhos com o cantor David Bowie. Uma vez que ambas as versões de suas histórias são ouvidas pelos seus familiares é então que cada um deverá lidar com as suas sinceridades.
Dag Johan Haugerud já pode facilmente ser observado mais de perto pelos críticos e cinéfilos de plantão, principalmente para aqueles que apreciam um cinema mais autoral. O Filme é o primeiro capítulo de uma trilogia que o realizador desenvolveu, sendo que o papel do sexo é usado como motor pulsante nas tramas, mas que, curiosamente, são através dos diálogos que o assunto se torna mais interessante do que qualquer ato carnal visto em cena. O trunfo está na naturalidade dos personagens em falar sobre o assunto, ao ponto dos dois amigos se surpreenderam com a revelação um do outro, mas jamais recuarem com relação ao que haviam sentido em suas experiências distintas uma da outra.
Nota-se, por exemplo, que há uma preocupação da parte do cineasta em fazer um enquadramento cada vez mais fechado a partir da conversa da dupla principal da trama. É como se o cineasta procura se focar na ação e reação dos personagens, sendo que boa parte dessa passagem quase não há corte e fazendo com que a conversa se torne ainda mais interessante. Isso se intensifica ainda mais quando um deles volta para casa e é revelado que ele havia confessado a sua esposa que havia feito sexo com outro homem.
Por vários minutos Dag Johan Haugerud não opta em mostrar a expressão da esposa, sendo que somente isso ocorre quando há corte brusco e revelando uma expressão cansada da mulher uma vez que passou o dia inteiro pensando no assunto. Enquanto o marido procura explicar que isso foi uma forma natural de isso acontecer, por outro lado, a esposa representa aquele lado mais conservador que não aceita facilmente a questão, mas que não esconde certa dor e uma paixão ainda pulsante pelo marido. É através dos dois que o filme nos leva há bastante questionamentos sobre até que ponto é realmente necessário ser aberto sobre determinados assuntos, pois por mais que quebremos certos tabus, sempre haverá aqueles que nunca aceitam de modo tão fácil.
Embora delicado em alguns momentos, Dag Johan Haugerud procura construir uma narrativa que transite entre momentos dramáticos, para um humor mais refinado, principalmente quando o outro protagonista começa a ser cada vez mais assombrado pelos sonhos onde se encontra o cantor David Bowie. Vale destacar a divertida química entre ele e o seu filho, sendo que o último está à frente do seu pai com relação a certos assuntos e fazendo com que ambos protagonizem os momentos mais divertidos do filme como um todo. Atenção para passagem em que eles visitam uma médica, sendo que ela conta uma história que sintetiza todos os dilemas que os personagens convivem dentro da trama.
Os intérpretes Jan Gunnar Røise e Thorbjørn Harr se saem muito bem em seus respectivos papéis, sendo que a primeira rodada de conversa de ambos juntos em cena é o que faz o filme nos conquistar de forma imediata. Siri Forberg, porém, não fica muito atrás, ao interpretar a esposa do primeiro e carregando o peso de não saber como processar essa informação vinda do marido. Ambos em cena fazem com que o filme gere até mesmo certa tensão, já que eles se defrontam com o posicionamento distinto de cada um.
Ainda não assisti aos demais títulos que formam essa trilogia, mas essa desperta já a nossa curiosidade e isso graças aos diálogos afiados e uma incrível direção que faz a gente desejar observá-la mais de perto. O sexo, portanto, não precisa necessariamente ser discutido com cenas da ação, mas sim através de diálogos bem construtivos e que nos levam as mais diversas reflexões durante a sessão. Nada mal para um cineasta que ainda tem muito a nos oferecer nos próximos anos.
"Sex" é mais do que aparenta ser, ao colocar em pauta um assunto de forma aberta, mesmo sendo um tabu para aqueles que ainda não sabem como encará-la.
Do dia 19 ao dia 23 de maio, com sessões às 16h e às 19h, a Sala Redenção apresenta a mostra “Territórios em Transformação: Cinema e Meio Ambiente”. A programação reúne filmes que exploram os efeitos da crise ambiental sobre os corpos, as paisagens e as formas de imaginar o mundo. De dramas íntimos a thrillers políticos, as obras selecionadas traçam um panorama das disputas simbólicas e concretas que moldam os territórios contemporâneos.
A programação contempla sessões de cinco longa-metragens e uma sessão de curtas. As exibições de abertura, de “Enquanto o sol bate” e “Planeta Feminino” são seguidas de conversas com especialistas. Dentre os filmes em cartaz também estão “Salgueiros Cegos, Mulher Adormecida” (2022), animação baseada em contos de Haruki Murakami, e “Rouge” (2020), drama político que acompanha duas personagens em uma jornada contra o despejo irregular de resíduos industriais.
Algumas das sessões têm previstas conversas com especialistas na área ambiental e a sessão de encerramento exibe cinco curtas-metragens, indicados pelas entidades realizadoras da 10ª FestA dA BioDiverSidadE – evento organizado por mais de 25 organizações sociais. Os filmes compõem o calendário de atividades do evento, junto com diversas outras ações ao longo da semana. Mais detalhes na página da 10ª FestA dA BioDiverSidadE.
A entrada é franca e aberta à comunidade em geral. A Sala Redenção está localizada no campus centro da UFRGS, com acesso mais próximo pela Rua Eng. Luiz Englert, 333.
Confira a programação completa no site oficial da sala clicando aqui.
Mais uma exibição no âmbito da programação continuada do Cineclube na Sala Audiovisual Gilda e Leonardo, junto da UP Idiomas.
Mais conhecido pelas suas joviais comédias musicais, o diretor Chistophe Honoré propõe uma comédia dramática, cheia de alegorias, mantendo seus atores fetiches: os filhos d'arte Chiara Mastroianni, filha de Marcello e de Caterine Deneuve, e Louis Garrel, filho do cineasta Philippe Garrel e da atriz Brigitte Sy. Lena (Chiara Mastroianni) recém está separada e vai com seus dois filhos passar um tempo na casa dos pais no interior da França. Mas a esperança de relaxar e refletir junto dos filhos é ameaçada não só pela pressão de uma mãe controladora, como pela inesperada presença de antigos e novos pretendentes.
"Com o filme, Honoré confirma de vez posição estratégica no país da nouvelle vague. Se, inicialmente, foi rotulado como herdeiro direto de Truffaut e seus temas de amor romântico, agora se mostra cronista de uma geração."(Bruno Yutaka Saito, A Folha de S.P.). A sessão, com entrada franca, integra o ciclo "Maternidade" na programação continuada realizada na Sala Audiovisual Gilda e Leonardo, pelo Cineclube Torres, associação sem fins lucrativos com 13 anos de história, em atividade desde 2011, Ponto de Cultura certificado pela Lei Cultura Viva federal e estadual, Ponto de Memória pelo IBRAM, Sala de Espetáculos e Equipamento de Animação Turística certificada pelo Ministério do Turismo (Cadastur), contando para isso com a parceria e o patrocínio da Up Idiomas Torres.
Serviço:
O que: Exibição do filme "Não, Minha Filha, Você Não Irá Dançar", de Chistophe Honoré (França - 2009) - 1h45m
Onde: Sala Audiovisual Gilda e Leonardo, junto à escola Up Idiomas, Rua Cincinato Borges 420, Torres
Quando: Segunda-feira, 19/5, às 20:00
Ingressos: Entrada Franca, até lotação do local (aprox. 22 pessoas).
Cineclube Torres
Associação sem fins lucrativos
Ponto de Cultura – Lei Federal e Estadual Cultura Viva
Ponto de Memória – Instituto Brasileiro de Museus
Sala de Espetáculos e Equipamento de Animação Turística - Cadastur
Sobre o Filme: Existe o antes e o depois da Revolução Iraniana, sendo que a maioria de nós ocidentais conhecemos mais os “pós” através de filmes como do mestre Abbas Kiarostami. Porém, nos últimos tempos, temos assistido a um outro tipo de Irã através de coproduções vinda de outros países como foi no caso de "A Semente do Fruto Sagrado" (2024). Em "Meu Bolo Favorito" (2024) é tratado sobre o antes e depois da Revolução Iraniana e através da perspectiva de duas pessoas solitárias que buscam saborear um pouco a vida.
Dirigido por Maryam Moghadam e Behtash Sanaeeha, o filme conta a história de uma senhora de 70 anos chamada Mahin (Lili Farhadpour), que vive sozinha em Teerã após a morte do marido e a ida da filha para a Europa. Seguindo sua rotina, regando as plantas, lavando as louças, vendo televisão à noite, Mahin é uma mulher solitária. Porém, certo dia em uma cafeteria, ela conhece um senhor taxista chamado Faramarz (Esmaeel Mehrabi) e decide lhe convidar para ir à sua casa.
Confira a minha crítica já publicada clicando aquie participe do próximo Cine Debate.
Neste sábado, nosso encontro será às 10h15 na Cinemateca Capitólio para assistirmos Decameron, primeiro filme integrante da Trilogia da Vida do cineasta Pier Paolo Pasolini. Baseado em episódios extraídos do clássico Decamerão (1348-1353), do italiano Giovanni Boccaccio, Pasolini tece, com muita poesia e erotismo, um divertido, sensual e popular mosaico da Idade Média, abordando também as desigualdades sociais e a corrupção religiosa do período. Vencedor do Urso de Prata no Festival de Cinema de Berlim.
Confira os detalhes da sessão:
SESSÃO SÁBADO CLUBE DE CINEMA
📅 Data: Sábado, 17/05/2025, às 10h15 da manhã
📍 Local: Cinemateca Capitólio (Rua Demétrio Ribeiro, 1085 – Centro Histórico, Porto Alegre)
Elenco: Franco Citti, Ninetto Davoli, Jovan Jovanovic, Pier Paolo Pasolini
Sinopse: Coletânea de nove contos do Decamerão de Giovanni Boccaccio: um jovem rico é duplamente enganado; um rapaz finge ser surdo-mudo para conseguir emprego como jardineiro num convento; uma mulher tenta esconder seu amante quando o marido chega mais cedo em casa; um malandro engana um padre em seu leito de morte; irmãos que querem se vingar do amante da sua irmã; um padre astuto tenta seduzir a mulher de seu amigo; dois pilotos com medo do inferno; uma jovem dorme no telhado para encontrar o namorado à noite e um pintor em busca de inspiração para criar uma obra de arte.
Sobre o Filme: "Decameron" é um filme italiano de Pier Paolo Pasolini que estreou em 1971. Uma adaptação de nove histórias do Decameron de Giovanni Boccaccio, coleção de cem novelas escritas entre 1348 e 1353, que é considerada marco literário na ruptura entre a moral medieval e o realismo, substituindo o divino pela natureza como móvel da conduta humana. Lançando mão de doses de humor satírico, o filme é dividido em nove histórias, que compõem um painel da vida social na Itália medieval. "Decameron" acaba sendo uma adaptação para o cinema bem divertida, exibido sem pudores visuais, interpretado por uma série de pessoas comuns sem formação interpretativa entre os atores – em nome da expressão da realidade – e apresentando um contexto peculiar cronologicamente tão distante mas, ao mesmo, ideologicamente tão próximo da vida atual.
Sinopse: Uma garota de 16 anos vivencia sua transição para a vida adulta e descobre o amor e o desejo em um internato em uma cidade nas colinas do Himalaia. Mas sua mãe, que nunca teve a oportunidade de aproveitar a própria juventude, frustra seus planos.
Embora conhecido mundialmente, o cinema Indiano nunca foi bem distribuído para o restante do mundo. Verdade seja dita, somente temos uma visão parcial através de coproduções como "Quem Quer Ser um Milionário?" (2008) e mais recentemente "Tigre Branco" (2021), mas tendo uma visão mais pé no chão com o ótimo e premiado "Tudo que Imaginamos como Luz" (2024), de Payal Kapadia. Já "Sempre Garotas" (2024) é uma curiosa análise sobre gerações distintas uma da outra, mas interligadas pelo sangue e desejos quase nunca alcançáveis.
Dirigido pela estreante Shuchi Talati, o filme conta a história de Mira (Preeti Panigrahi), uma adolescente de 16 anos em processo de descoberta do desejo e da sexualidade. Ganhando status na escola, ela começa ao mesmo tempo a se interessar por um rapaz recém-chegado e fazendo com que ela desperta diversos sentimentos. Porém, ela enfrenta a sua mãe, uma mulher conservadora e que diferente da filha não teve a chance de obter certa liberdade e prazeres do seu passado.
Aqui não há uma visão plástica sobre a Índia, ou da exploração exagerada da extrema pobreza quase sempre vista nas co produções estrangeiras, mas sim um retrato realista da vida comum de uma família de classe média baixa e ao mesmo tempo mostrando a transição da inocência para a fase adulta. Toda a trama é voltada de acordo pela perspectiva da protagonista com relação a realidade em sua volta, da qual procura abraçar com unhas e dentes as suas responsabilidades dentro da escola, mas ao mesmo tempo tendo que enfrentar o nascer do desejo que, por vezes, é bastante reprimido. Preeti Panigrahi dá um show de interpretação, ao saber nos transmitir diversos sentimentos em conflito dentro da sua personagem, mas dos quais temos uma vaga dimensão através do seu olhar que tem mais a dizer do que meras palavras ditas.
A sua relação com o rapaz Siri, interpretado pelo ator Kesav Binoy Kiron, se torna o catalisador para diversas situações em que ela anseia obter, desde em satisfazer os seus desejos, mas ao mesmo tempo tentando obter um certo equilíbrio com os estudos. Uma vez que a sua mãe Anila, interpretada pela atriz Kani Kusruti, começa a ter conhecimento da relação, é então que o filme entra em um novo cenário, onde ela procura colocar certo limite entre os dois, mas não escondendo uma certa curiosidade com relação ao próprio Siri. É interessante observar que a diretora Shuchi Talati jamais deixa de maneira explícita essa última questão, mas de uma maneira subliminar e fazendo com que aumente a nossa curiosidade deste ponto em diante.
Há, portanto, um conflito entre as duas gerações vistas na tela, sendo que a mãe representa uma Índia de tempos mais conservadores, enquanto a filha pertence a um país em que as velhas tradições vão dando espaço ao que antes ficava dentro do armário. Porém, o conservadorismo ainda existe, assim como também o machismo e o abuso contra as mulheres, sendo que qualquer passo em falso visto na tela feito pela protagonista dentro da escola ou fora dela pode gerar uma grande bola de neve. Portanto, o lado hipócrita desta situação transborda em um ato final digno de nota, o que faz com que até mesmo tememos pelo destino da jovem protagonista.
Como se isso não bastasse, a diretora Shuchi Talati nos surpreende ainda mais com ação e reação do trio central nos minutos finais da trama, mas ao mesmo tempo mantendo o lado subliminar que fez com que o longa se tornasse ainda mais rico em sua proposta. É uma trama envolvente que se passa em um microcosmo daquele país, mas cujo tema é universal e que facilmente todos iremos nos identificar. Já está mais do que na hora da Índia mostrar a sua verdadeira face para o mundo e não precisando necessariamente de outros país para ajudá-la nisso.
"Sempre Garotas" é sobre a transição da adolescência para uma fase mais adulta, mas através dos costumes indianos e o tornando ainda muito mais rico para dizer o mínimo.