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Sapucaia do Sul/Porto Alegre, RS, Brazil
Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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quarta-feira, 16 de agosto de 2023

Cine Dica: Em Cartaz - 'Rheingold - O Roubo do Sucesso'

Sinopse: O longa acompanha a ascensão de Xatar do gueto ao topo das paradas musicais, passando pela história de sua vida cheia de turbulências, oportunidades e obstáculos, saindo de uma prisão iraquiana e mudando-se para a Alemanha com a família nos anos 80, quando ainda era garoto. 

Se você ouvir uma música sertaneja atual irá ouvir todas, pois não passam de uma mesma temática que vai desde a traição, sexo e motel. Porém, embora também haja sexo, o rapper tem muito mais conteúdo, já que os compositores criam as suas obras através do seu dia a dia nas periferias e fazendo que essas músicas tenham algo para nos dizer. Embora a trama se passe do outro lado do mundo "Rheingold - O Roubo do Sucesso" (2023) fala sobre a busca pelo sucesso em meio as adversidades, mas cujo resultado sintetiza uma jornada árdua para obter o seu principal objetivo.

Dirigido por Fatih Akın, do filme " Bar Luva Dourada"(2019), o filme é uma obra biográfica sobre o rapper, produtor e empreendedor alemão Giwar Hajabi, mais conhecido como Xatar. O longa acompanha a ascensão de Xatar do gueto ao topo das paradas musicais, passando pela história de sua vida cheia de turbulências, oportunidades e obstáculos, saindo de uma prisão iraquiana e mudando-se para a Alemanha com a família nos anos 80, quando ainda era garoto. De um pequeno criminoso, não demorou até que ele se tornasse um grande traficante - até que uma carga de cocaína desapareceu e Xatar precisou bolar um plano lendário para pagar suas dívidas com os traficantes: um histórico roubo de ouro.

A violência se encontra em todas as partes do mundo, sendo que a principal delas é a queda de determinados governos e fazendo gerar êxodo de pessoas que fogem do conflito. Xatar e sua família foi um de muitos que fugiram durante as mudanças até hoje irreversíveis do governo iraniano e fazendo com que os seus pais passassem por um verdadeiro inferno até obter uma chance de normalidade em território alemão. Porém, a vida de imigrante não é nada facil e protagonista sente isso na pele, mesmo quando ainda insiste em realizar o seu sonho em ser cantor.

Até lá, testemunhamos a sua metamorfose, que vai desde o pai lhe abandonar, como também se entregar ao mundo das drogas e da violência. Vemos a realidade crua moldar o protagonista, mesmo quando aparece uma oportunidade para que ele possa sair da lama. Conhecido pela sua mão pesada na direção, Fatih Akın opta aqui em não dosar os momentos de violência ao extremo, pois ao que tudo indica ele deseja que nós tenhamos esperança em ver o protagonista dando a volta por cima.

Até lá, o filme gira em torno do universo da música, da qual a mesma transita pelo mundo das drogas, guerra de gangues e uma realidade paralela que se cansou das promessas de melhoras vindas do governo. Xatar, portanto, não espera ajuda de poderosos do lado da lei, mas sim daqueles do submundo que mexem os pauzinhos por detrás das cortinas, mesmo tendo em alguns momentos um alto preço para ser pago. Neste último caso, por exemplo, acontece alguns momentos inusitados, com direito ao protagonista se meter em uma enrascada através de um descuido, mas gerando um obstáculo interminável.

O filme vem e volta no tempo, já que o protagonista nos é apresentado sendo como um preso político e somente aos poucos conhecemos as suas raízes que o levaram para aquele cenário. Vale destacar a ótima atuação de Emilio Sakraya como Xatar, já que através do seu rosto sentimos o amadurecimento e as cicatrizes físicas e emocionais que aos poucos ele vai carregando e do qual esse fardo ele carrega desde cedo. Testemunhamos alguém que usa a força para sobreviver, mas que ao mesmo tempo tenta se desvencilhar dessa realidade que irá lhe sugar.

Embora um tanto extenso do segundo ao terceiro ato, o filme obtém a nossa atenção graças ao fato de ser um tema universal e não muito diferente do que se vê no Brasil ou em outras partes do mundo. Ao mesmo tempo possui uma edição dinâmica, principalmente nas cenas em que o protagonista e seus parceiros decidem roubar uma grande carga de ouro e gerando assim situações inusitadas. Neste último caso, por exemplo, é um momento em que ficamos aflitos, mesmo a gente já sabendo com relação ao destino do protagonista, mas ficamos vidrados na tela do começo ao final dela.

Embora com um final um tanto que piegas e forçadamente esperançoso, "Rheingold - O Roubo do Sucesso" é sobre o jogo da vida na tentativa de realizar o seu maior desejo, mas tendo que se vender e enfrentar a violência do submundo. 


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Cine Dica: CINEMATECA CAPITÓLIO PROGRAMAÇÃO 17 a 23 de agosto de 2023

 Parceiros da Noite 

NOVA YORK UNDERGROUND

De 18 a 27 de agosto, a Cinemateca Capitólio apresenta a mostra Nova York Underground, com obras que refletem o barulho e a sujeira da metrópole dos Estados Unidos entre os anos 1970 e 1980, como O Estrangeiro, de Amos Poe, Parceiros da Noite, de William Friedkin, e Street Trash: O Lixo das Ruas, de James Muro. Com curadoria de Flavio Barboza, Cristian Verardi e da Cinemateca Capitólio, a mostra tem apoio das distribuidoras Obras-Primas do Cinema e Troma Entertainment. Entrada franca.


Mais informações: http://www.capitolio.org.br/novidades/6538/nova-york-underground/


TERCEIRA SEMANA DE DESPEDIDA

O longa gaúcho Despedida, de Luciana Mazeto e Vinicius Lopes, segue em exibição na Cinemateca Capitólio até o dia 23 de agosto. O valor do ingresso é R$ 16,00.


Mais informações: http://www.capitolio.org.br/eventos/6505/despedida/


GRADE DE HORÁRIOS

17 a 23 de agosto de 2023


17 de agosto (quinta-feira)

15h – Despedida

17h – O Sul

19h – O Espírito da Colmeia


18 de agosto (sexta-feira)

15h – Despedida

17h – O Sequestro do Metrô

19h30 – O Estrangeiro


19 de agosto (sábado)

15h – Despedida

17h – Estranhos no Paraíso

19h – Parceiros da Noite 


20 de agosto (domingo)

15h – Despedida

17h – O Sequestro do Metrô

19h – O Lixo das Ruas


22 de agosto (terça-feira)

15h – Despedida

17h – O Lixo das Ruas

19h – História de um Viciado


23 de agosto (quarta-feira)

15h – Despedida

17h – O Estrangeiro

19h30 – Retratos Fantasmas 

terça-feira, 15 de agosto de 2023

Cine Dica: Em Cartaz - 'Asteroid City'

Sinopse: ASTEROID CITY decorre numa cidade ficcional em pleno deserto americano, por volta de 1955.  

Wes Anderson é um dos poucos cineastas autorais do cinema norte americano atual que mantém 100% de sua visão e não permitindo que ninguém mexa com relação ao que ele construiu. Portanto, em tempos em que estamos afogados em somente franquias cinematográficas intermináveis, é através de sua filmografia que fugimos do convencional e embarcamos em sua realidade cartunesca, colorida e fora do comum. "Asteroid City" (2023) é Wes Anderson na veia, cuja os fãs irão amá-lo enquanto o público em geral poderá muito bem não compreender a proposta principal de um gênio.

"Asteroid City" se passa na década de 1950 em uma cidade fictícia do deserto norte-americano. Encenada como uma peça, a história segue uma convenção organizada para unir alunos e pais em uma competição acadêmica, até que o caos repentinamente se instala. Acontecimentos em escala global ameaçam perturbar espetacularmente o itinerário da convenção Junior Stargazer/Space Cadet na pacata cidade, à medida que se desenrolam os eventos capazes de mudar o mundo para sempre.

Wes Anderson fala sobre um povo norte americano sem identidade própria, sendo mais especificamente durante os tempos dos anos cinquenta, dos quais eu chamo de uma geração que vivia em uma realidade falsamente plástica e que seguiam as ordens de um governo que os persuadiam em acreditar que viviam no melhor país do mundo. Porém, eu acredito que entre o final dos anos cinquenta e início dos anos sessenta esse mesmo povo começou gradualmente acordar, seja através de um tiro na cabeça contra John F. Kennedy, ou através da ida do homem à lua. Neste último caso, por exemplo, o astronauta norte americano não encontrou nenhum ET por lá, mas sim somente pedras e poeira cósmica para analisar.

A missão, portanto, era somente para saber sobre qual seria a nação que colocaria a sua bandeira naquela imensidão vazia. Sendo assim, o filme fala sobre uma sociedade perdida, da qual procura sempre questionar a sua própria realidade, mesmo quando governantes tentam vender que os mesmos vivem na sua total normalidade. A cidade de Asteroid City seria uma representação de toda qualquer cidade daqueles tempos falsamente plásticos, mas sendo formado por um grupo de pessoas prontas para gritar a qualquer momento. Sendo falsamente plástica não é à toa, portanto, que Wes Anderson cria uma peça teatral dentro do longa para apresentar a principal trama.

Claro que todo o filme que se preze é meramente uma ficção, só que aqui o realizador já nos deixa bastante claro e para fazermos com que não levemos a sério todos os absurdos que ocorrem na trama, muito embora o nosso próprio mundo real sempre nos apresentou algumas situações pouco lucidas. Com um grande elenco, incluindo pessoas de quilates como Tom Hanks, cada um ali se sente mais do que a vontade ao se entregar aos seus respectivos personagens excêntricos, mas que não escondem de nós um lado humano do qual nos identificamos, mesmo quando achamos ao contrário. A personagem de Scarlett Johansson, por exemplo, é uma estrela que procura fugir de sua própria realidade, mas testemunhando com aquelas demais pessoas daquele local esquecido pelo mundo uma situação que os fazem se tornar diminutivos e fazendo questionar o que há por detrás da porta desta infinita terra.

A situação que ocorre, aliás, se torna surpreendente principalmente quando nós adentramos ao filme sem obter quase nenhuma informação antes disso. Portanto, a situação me fez lembrar de um momento inusitado de uma das temporadas de "Fargo", produzida pelos Irmãos Coen e que, curiosamente, percebo agora certa familiaridade das visões de ambos os cineastas. São realizadores que nos puxam para fora do convencional, mesmo quando estamos mais do que adormecidos devido a tanta previsibilidade do cinema norte americano.

Falando nisso, é curioso observar que o realizador nos diz que: “Não dá pra acordar se a gente não adormecer!”

Em tempos em que diversos blockbuster do cinemão norte americano nós dá sono talvez esse seja o ponto que nos alerta para fugirmos dos efeitos especiais artificiais, além de histórias vazias, para então embarcarmos em uma trama fora dos padrões e que faça com que os nossos olhos desfrutem de momentos mais frescos e de conteúdo reflexivo. Ou você acorda ou continuará dormindo sem sonhar.

"Asteroid City" é um filme puramente Wes Anderson, onde os "não fãs" tentaram fugir enquanto os demais poderão desfrutar de sua visão cartunesca e muito saborosa para ser degustada. 


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Cine Dica: Próxima Sessão do CLube de Cinema - 'Oppenheimer'

Segue a programação do Clube de Cinema no próximo final de semana. Será uma apresentação especial do filme "Oppenheimer" e devido à longa duração nossa sessão começará um pouco mais cedo.


SESSÃO CLUBE DE CINEMA 

Local: Espaço de Cinema, Sala 3, Bourbon Shopping Country

Data: 19/08/2023, sábado, às 10:00 da manhã


"Oppenheimer"

EUA, 2023, 181 min, 16 anos 

Direção: Christopher Nolan 

Elenco: Emily Blunt, Matt Damon, Cillian Murphy 

Sinopse: Oppenheimer é um filme histórico de drama dirigido por Christopher Nolan e baseado no livro biográfico vencedor do Prêmio Pulitzer, Prometeu Americano: O Triunfo e a Tragédia de J. Robert Oppenheimer, escrito por Kai Bird e Martin J. Sherwin. Ambientado na Segunda Guerra Mundial, o longa acompanha a vida de J. Robert Oppenheimer (Cillian Murphy), físico teórico da Universidade da Califórnia e diretor do Laboratório de Los Alamos durante o Projeto Manhattan - que tinha a missão de projetar e construir as primeiras bombas atômicas. A trama acompanha o físico e um grupo formado por outros cientistas ao longo do processo de desenvolvimento da arma nuclear que foi responsável pelas tragédias nas cidades de Hiroshima e Nagasaki, no Japão, em 1945. Além de Cillian, o elenco também traz nomes como Emily Blunt, Matt Damon, Robert Downey Jr., Florence Pugh, Gary Oldman, Jack Quaid, Gustaf Skarsgård, Rami Malek e Kenneth Branagh.

Sobre o Filme: Christopher Nolan se tornou o tema do meu primeiro curso que eu ministrei pelo Cine Um não somente pela sua curiosa filmografia, como também pela sua obsessão pela verossimilhança. Pelo fato de elaborar tramas que podem muito bem acontecer no mundo real isso faz com que cada ação testemunhada na tela tenha as suas consequências e por vezes irreversíveis. "Oppenheimer" (2023) é sobre atos e consequências orquestradas por um homem, que tinha a intenção de evitar uma guerra, mas deu início ao que pode provocar a extinção humana.

Baseado no livro biográfico vencedor do Prêmio Pulitzer, Prometeu Americano: O Triunfo e a Tragédia de J. Robert Oppenheimer, a trama é ambientada na Segunda Guerra Mundial, onde acompanhamos a vida de J. Robert Oppenheimer (Cillian Murphy), físico teórico da Universidade da Califórnia e diretor do Laboratório de Los Alamos durante o Projeto Manhattan - que tinha a missão de projetar e construir as primeiras bombas atômicas. A trama acompanha o físico e um grupo formado por outros cientistas ao longo do processo de desenvolvimento da arma nuclear que foi responsável pelas tragédias nas cidades de Hiroshima e Nagasaki, no Japão, em 1945.

Confira a minha crítica completa já publicada clicando aqui. 

Atenciosamente,

Carlos Eduardo Lersch

Diretor de Programação CCPA.

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segunda-feira, 14 de agosto de 2023

Cine Dica: Em Cartaz - 'Tempos de Barbárie - Ato I: Terapia da Vingança'

Sinopse: Com a dificuldade de aceitar o terrível destino da filha e a falta de justiça por parte da polícia, a mente de Carla começa a alimentar o desejo de vingança. Tomada pelo instinto, ela rompe todos os seus limites, sai em busca dos culpados e vivencia uma espiral insana de violência.  

No já clássico "O Senhor das Armas" (2005) vemos na abertura o nascimento de uma bala, da qual passa por diversas fases, desde a sua construção, venda e para, enfim, ser usada na execução de uma pessoa. Quando isso acontece os familiares das vítimas exigem vingança, mas quando se investiga se percebe que o verdadeiro autor do atentado pode estar muito mais embaixo do que que se imagina. "Tempos de Barbárie - Ato I: Terapia da Vingança" (2023) faz uma análise das motivações que levam as pessoas ao desejarem a morte de bandido, mas cujo problema se encontra abaixo ou no topo de uma grande Torre de Babel infinita.

Dirigido por Marcos Bernstein, acompanhamos a história da mãe, a advogada Carla (Cláudia Abreu), que vê a filha ser baleada durante uma tentativa de assalto. A menina fica em estado grave. Carla, sem conseguir aceitar o destino da filha e a falta de soluções por parte da polícia, transforma a busca por justiça em uma procura por vingança. No balanço entre a vida e a morte a qualquer minuto, ela decide fazer a justiça com as próprias mãos e testar os seus próprios limites.

Embora ainda eu ache que seja um novato na área é preciso reconhecer que Marcos Bernstein faz um trabalho como ninguém neste suspense policial, do qual transita entre momentos dramáticos para a mais pura tensão. Isso se deve ao fato principalmente no seu jogo de edição, onde as cenas são quase que frenéticas em alguns momentos, principalmente quando o passado e presente se cruzam a todo momento. Vale destacar a fotografia, por vezes, acinzentada e que se distancia do mundo real e se enveredando quase por um ambiente do mais puro pesadelo.

Talvez essa elaboração de edição e fotografia seja uma espécie de representação do estado de espírito e mental da protagonista, da qual se vê em uma encruzilhada cuja tentação em apertar o gatilho para matar é gritante, mas procurando por coragem e sem amarras para cometer tal ato. O filme nos joga na questão sobre até que ponto é preciso ser usado o bom senso e onde começa os motivos que nos leva a desejar eliminar aqueles que um dia mataram os nossos entes queridos. Porém, não espere aquele discurso de "bandido bom é bandido morto", pois a proposta aqui não é essa, mas sim em mostrar o verdadeiro autor do crime pode não se encontrar em uma simples periferia, mas sim bem próximo de nós do que se imagina.

Claudia Abreu nos brinda com uma atuação poderosa, da qual a mesma consegue construir para a sua personagem alguém que se encontra em pedaços por dentro, mas buscando quase sempre motivações que a leve a não querer desistir. A busca pela vingança se torna a sua principal motivação, mas a levando para uma situação inusitada, com o direito de fazer com que a sua própria arma se torne a sua pior inimiga. Já a personagem de Júlia Lemmertz seria uma espécie de outro lado da mesma moeda, onde a mesma busca despertar uma razão racional dentro da protagonista, mas que acaba experimentando os mesmos sentimento de perda que sua colega teve um dia.

O filme chega em um momento em que porte ou não de armas sempre está em pauta na mídia, principalmente após termos sentido na pele um governo que apoiava que tudo e a todos usassem uma arma. A meu ver, o nascimento de uma bala talvez não comece nem sequer em uma fábrica, mas a partir do momento em que poderosos se dão no direito de lhe dizer que atirar para matar é a solução, quando na verdade só nos leva cada vez mais em um beco sem saída. "Tempos de Barbárie - Ato I: Terapia da Vingança" é sobre um Brasil exigindo justiça, mas não sabendo mais ao certo por onde procurar para dar o seu derradeiro disparo. 

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Cine Dica: A Vanguarda no Cinema na Sala Redenção

Outubro

De 25 de julho a 12 de setembro, a Sala Redenção apresenta uma programação de obras cinematográficas que representam diferentes vanguardas artísticas. O ciclo “A Vanguarda no Cinema” apresenta oito sessões comentadas, realizadas às terças-feiras, às 19h, com entrada franca e aberta à comunidade em geral.

Em diálogo com as ideias de vanguarda da historiadora francesa Nicole Brenez e do belga Thierry de Duve, a programação se dedica àquelas obras que se expõem ao risco de não serem percebidas como arte, e que rompem com os limites do previsível. São filmes que trazem inovações na linguagem e no formato cinematográficos.

“A Vanguarda no Cinema” reúne representantes do movimento surrealista (“A Concha e o Clérigo”), do expressionismo (“M, O vampiro de Düsseldorf” e “Paula Modersohn-Becker – Retrato”) e da montagem russa (“Um homem com uma câmera” e “Outubro”). Além disso, a programação apresenta obras de dois diretores que inovaram na produção de documentários: o alemão Harun Farocki (“Videogramas de uma revolução” e “Imagens do mundo e inscrições da guerra”) e o francês Chris Marker (“Sem Sol”).

O ciclo está vinculado à disciplina “Seminários de Tópicos Especiais: Cinema de Vanguarda e Vanguardas Artísticas”, do bacharelado em Artes Visuais da UFRGS, ministrada pelo professor Luís Edegar de Oliveira Costa. Os alunos da disciplina, juntamente com Luís Edegar, são os responsáveis pela curadoria do ciclo e participam dos debates após cada sessão. Algumas exibições contam ainda com a correalização do Instituto Goethe Porto Alegre e da Aliança Francesa Porto Alegre.

O cinema da UFRGS está localizado no campus central da universidade, com acesso mais próximo pela Rua Eng. Luiz Englert, 333.

Confira a programação completa no site oficial clicando aqui. 

sexta-feira, 11 de agosto de 2023

Cine Especial: Revisitando 'A Conversação'

Francis Ford Coppola sempre sonhou em realizar filmes de sua total autoria, ou seja, tramas originais que jamais foram vistas em outras mídias. Porém, para alcançar esse objetivo, ele precisou dirigir a sua obra prima "O Poderoso Chefão" (1972), que era baseado na obra de Mario Puzo e cuja produção fez com que o realizador quase desistisse da carreira como diretor, pois teve ao longo do percurso diversos atritos com os produtores da Paramount. O sacrifício, porém, valeu muito a pena e fez com que ele tivesse total liberdade para realizar o que talvez seja a sua obra mais pessoal que é "A Conversação" (1974).

O cineasta havia feito o roteiro dez anos antes, mas do qual havia engavetado, pois tinha total consciência que não tinha poder suficiente para rodar uma obra original e de sua autoria. Porém, a "Nova Hollywood" veio, sendo um período em que diretores autorais se tornaram tão mais importantes quanto os produtores e dando a palavra final em determinados projetos. Com o sucesso de "O Poderoso Chefão", Francis Ford Coppola obteve carta branca do estúdio Paramount para realizar "A Conversação" e sendo não somente diretor do projeto, como também produtor executivo. Com o poder em mãos o realizador faria o filme da sua maneira, mas mal imaginando o quanto o filme estava em sintonia naquele momento com o mundo real.

Eram tempos de Guerra Fria, onde os EUA e União Soviética sempre estavam assombrando o mundo com a possibilidade de alguém apertar o botão vermelho e desencadear uma guerra nuclear. Ao mesmo tempo explodiu verdadeiras teorias de conspiração, onde sempre havia a possibilidade de espiões estarem grampeando pessoas do alto escalão e podendo assim até mesmo ruir determinados governos e alimentando ainda mais a teoria de Comunistas infiltrados. Curiosamente, "A Conversação" foi rodado justamente no momento em que se explodiu o "Caso Watergate" e qualquer semelhança não é somente mera coincidência.

Na trama, Harry Caul (Gene Hackman) é um expert em vigilância e conhecido nacionalmente por seu grande profissionalismo, é contratado pelo diretor de uma grande empresa para vigiar e gravar a conversa de um casal de amantes. Mas no passado um trabalho dele provocou a morte de três pessoas e agora ele teme que algo parecido aconteça. Porém, quanto mais ele procura investigar as verdadeiras raízes do seu último trabalho mais ele acredita que ele pode estar fazendo parte de algo muito errado.

O trabalho em si é de o protagonista estar ouvindo um casal conversando em um parque através de escutas escondidas. Curiosamente, boa parte do filme se desenvolve através dessa conversa, que ocorre durante na abertura do filme, mas cuja mesma retorna através das mais diversas perspectivas. Com uma edição surpreendente, é curioso como Coppola abre a sua trama, onde ela é vista pela primeira vez de forma panorâmica e fazendo a gente se perguntar quem é realmente o protagonista.

Quando Gene Hackman surge em cena o público já tem certeza de que ele é o mocinho da trama e fazendo com que nos sintamos ao lado dele para investigar a conversa do casal no parque. É interessante observar que, embora o filme tenha envelhecido muito bem, é curioso testemunharmos os mais diversos equipamentos que se usava para escutar alguém, sendo que para alguns hoje não passam de peças de museu, mas para aqueles tempos era algo avançado, feito de maneira analógica e fazendo a gente acreditar que aquilo era o ápice da tecnologia. Hoje olhamos para trás e percebemos o quanto a tecnologia avançou, mas cujos dilemas continuam os mesmos, já que a nossa privacidade continua cada vez mais sendo invadida hoje em dia e podendo a gente fazer um paralelo com o que é apresentado no filme de forma plena.

Curiosamente, a cena de abertura sempre retorna no decorrer da trama, seja através das lembranças do protagonista ou nos momentos em que ele escuta as gravações e fazendo com que a gente ouça e vê o momento por outra perspectiva. Um jogo de cena notável realizado por Coppola, pois ele nos faz a gente querer retornar para a cena, mas que faça com que a gente fisgue junto com o protagonista um detalhe que antes a gente não havia captado na hora. Mas se a nossa curiosidade aumenta, por outro lado, a paranoia do protagonista aumenta ainda mais, ao ponto de ficar desconfiado de tudo e a todos e fazendo acreditar de que possa estar sendo espionado.

Gene Hackman entrega aqui um dos seus grandes desempenhos de sua carreira, mas cujo trabalho não foi realizado de forma harmoniosa com o cineasta. Conhecido pelo seu perfeccionismo, Coppola não poupou o ator em nenhum momento, ao ponto que a verossimilhança era a palavra-chave para a construção do personagem, ao ponto de o realizador exigir que Hackamn aprendesse a tocar saxofone nas cenas em que o personagem se separa do seu habitat natural da espionagem. Hoje aposentado, o próprio intérprete diz que esse é o seu personagem preferido e que agradece ter sofrido nas mãos do cineasta como um todo.

Vale destacar que Coppola traria ainda para esse projeto talentos dos quais ele já havia trabalho em "O Poderoso Chefão" que foi no caso John Cazale e Robert Duvall. Se o primeiro teria uma participação curta, porém, primordial dentro da trama, por outro lado, sempre quando John Cazale surge em cena nos faz somente lamentar que o mesmo tenha partido tão cedo e fazendo a gente imaginar quais outros desempenhos a gente poderia ter testemunhado. Curiosamente, um certo jovem Harrison Ford possui uma participação curiosa dentro da trama, sendo que o seu personagem é um tanto que secundário, mas é graças a sua atuação peculiar que faz até mesmo ofuscar Gene Hackman quando ambos contracenam em cena.

O filme também faz parte de uma era em que diversos cineastas norte-americanos buscaram inspiração no cinema europeu. No caso de Coppola, mesmo realizando um filme de sua autoria, ele buscou inspiração em "Blow-Up" (1966) de Michelangelo Antonioni e cuja trama possuem certa similaridade, principalmente com relação a questão sobre os limites éticos com relação ao voyerismo. Neste último caso, é preciso sempre nos lembrarmos no mestre Alfred Hitchcock, do qual era especialista no assunto e sendo que Coppola faz questão de homenageá-lo através de uma enigmática cena em que ocorre dentro de um banheiro e que todos irão se lembrar do clássico "Psicose" (1960).

O ato final, por sua vez, sintetiza tempos paranoicos em que uma parcela da sociedade norte americana acreditava que estava sendo vigiada o tempo todo. Mal eles imaginavam que um dia todas as pessoas do mundo estariam sendo vigiadas através de seus celulares, mas pouco se importando com isso, pois o voyeurismo se tornou uma rotina e cuja sociedade mal se importa. Francis Ford Coppola, por sua vez, não poupou os alertas através de sua obra.

"A Conversação" é um dos melhores e mais pessoais filmes da carreira de Francis Ford Coppola, sendo atemporal e incomodo ao mesmo tempo. 

Nota: Relançado em uma edição em especial em DVD pela distribuidora Obras Primas.  

 

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