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Sapucaia do Sul/Porto Alegre, RS, Brazil
Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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terça-feira, 27 de abril de 2021

Cine Dica: Curso Mulheres Diretoras No Cinema Brasileiro.


 APRESENTAÇÃO

O cinema feito por mulheres é um fenômeno vigoroso e de longa data no Brasil. Entretanto, muitas vezes a trajetória das nossas cineastas acaba minimizada ou esquecida nos livros de história do cinema. Nas últimas duas décadas, a insurgência dos movimentos sociais em prol da equidade de gênero impulsionou pesquisadoras e pesquisadores a resgatarem a presença artística das mulheres no audiovisual.

OBJETIVOS

O Curso online MULHERES DIRETORAS NO CINEMA BRASILEIRO, ministrado por Daniela Strack, deseja lançar luz à trajetória das cineastas mulheres no contexto brasileiro. A partir da análise da vida e obra de algumas de suas principais cineastas, o curso propõe um novo olhar para a história do cinema brasileiro.

CONTEÚDOS

Aula1

Percursos invisíveis: as primeiras cineastas 

1) Breve panorama dos estudos sobre mulheres no cinema brasileiro; 

2) De personagem à cineasta: as pioneiras do cinema brasileiro (Cléo de Verberena, Carmen Santos, Gilda de Abreu);

3) Mulheres diretoras nas décadas de 60 e 70 (Helena Solberg, Tereza Trautman, Vera de Figueiredo);

4) Amor Maldito e as cineastas pós ditadura militar (Adélia Sampaio, Suzana Amaral, Lúcia Murat).

Aula 2

Feminino e plural: mulheres no cinema brasileiro contemporâneo

1) A geração pós-retomada (Tata Amaral, Anna Muylaert, Ana Luiza Azevedo, Laís Bodanzky); 

2) Helena Ignez e Paula Gaitán: longos percursos, novos cinemas; 

3) Mulheres no cinema brasileiro contemporâneo.


Curso online 

MULHERES DIRETORAS NO CINEMA BRASILEIRO

de Daniela Strack

Datas

01 e 02 / Maio

(sábado e domingo) 

Horário

14h às 16h 


Duração

2 encontros online 

(carga horária: 4 horas / aula) 


Investimento

R$ 80,00 (parcelado em até 12x) 


PROMOÇÃO

Valor Especial para as primeiras 10 inscrições: R$ 60,00 

* Antecipe sua inscrição e garanta o desconto! *


Informações

cineum@cineum.com.br / Fone: (51) 99320-2714

INSCRIÇÕES AQUI

http://cinemacineum.blogspot.com/2021/04/mulheres-diretoras.html


segunda-feira, 26 de abril de 2021

Cine Curiosidade: Vencedores do Oscar 2021

Chloé Zhao – Nomadland  - Vencedora

Mesmo com as restrições devido a pandemia ocorreu, enfim, o Oscar 2021 e coroando a diversidade que já havia sido sentida no ano passado com a vitória do filme Coreano "Parasita". Chloé Zhao, por exemplo, se torna a segunda mulher a ganhar o Oscar de Melhor Direção pelo filme "Nomadland" e sendo a primeira mulher Chinesa a ganhar o tão sonhado prêmio. O filme, aliás, levou os prêmios também de Melhor Filme e, novamente, Oscar de Melhor Atriz para Frances McDormand e tornando uma das atrizes mais premiadas da academia.

A expectativa maior da noite ficou por conta da categoria de melhor ator, já que a maioria estava apostando em uma vitória póstuma para o falecido ator Chadwick Boseman pelo filme "A Voz Suprema do Blues". Porém, os membros da academia precisaram reconhecer a fantástica atuação de Anthony Hopkins pelo filme "Meu Pai" e recebendo, enfim, o seu segundo Oscar na carreira. Por outro lado, não foi dessa vez Glenn Close ganhou o seu tão sonhado primeiro Oscar pelo seu desempenho pelo filme "Era Uma Vez um Sonho", mas sim a veterana atriz coreana Yuh-Jung Youn pelo filme  "Minari".

Com diversos filmes com teor bastante político, muitos dos indicados e que saíram vencedores são uma representação do discurso contra o fascismo de hoje, principalmente em um EUA pós Donald Trump. "Judas e o Messias Negro", por exemplo, foi coroado com dois Oscar, dentre eles para Daniel Kaluuya ao interpretar um famoso líder do partido Panteras Negras e que foi brutalmente assassinado por agentes do governo dos EUA. Em tempos em que o país sofre novamente com atentados e mortes provados pelas armas, o curta "Se Algo Acontecer...Te amo" saiu triunfante com o Oscar de Melhor Curta de Animação e cuja sua mensagem emocional contra as armas encantou o público e a crítica.  


Confira todos os vencedores:


Melhor Filme

Bela Vingança

Judas e o Messias Negro

Mank

Meu Pai

Minari

Nomadland - Vencedor

Os 7 de Chicago

O Som do Silêncio


Melhor Direção

Lee Issac Chung – Minari

Emerald Fennel – Bela Vingança

David Fincher – Mank

Thomas Vinterberg – Druk: Mais Uma Rodada

Chloé Zhao – Nomadland  - Vencedora


Melhor Ator

Riz Ahmed – O Som do Silêncio

Chadwick Boseman – A Voz Suprema do Blues

Anthony Hopkins – Meu Pai  - Vencedor

Gary Oldman – Mank

Steven Yeun – Minari


Melhor Atriz

Viola Davis – A Voz Suprema do Blues

Andra Day – The United States vs. Billie Holiday

Vanessa Kirby – Pieces of a Woman

Frances McDormand – Nomadland  - Vencedora

Carey Mulligan – Bela Vingança


Melhor Ator Coadjuvante

Sacha Baron Cohen – Os 7 de Chicago

Daniel Kaluuya – Judas e o Messias Negro  - Vencedor

Leslie Odom Jr. – Uma Noite em Miami

Paul Raci – O Som do Silêncio

Lakeith Stanfield – Judas e o Messias Negro


Melhor Atriz Coadjuvante

Maria Bakalova – Borat 2

Glenn Close – Era uma Vez um Sonho

Olivia Colman – Meu Pai

Amanda Seyfried – Mank

Yuh-Jung Youn – Minari  - Vencedora


Melhor Roteiro Original

Judas e o Messias Negro

Minari

Bela Vingança  - Vencedor

O Som do Silêncio

Os 7 de Chicago


Melhor Roteiro Adaptado

Borat 2

Meu Pai  - Vencedor

Nomadland

Uma Noite em Miami

O Tigre Branco


Melhor Animação

Dois Irmãos

A Caminho da Lua

A Shaun the Sheep Movie: Farmaggedon

Soul - Vencedor

Wolfwalkers


Melhor Direção de Fotografia

Judas e o Messias Negro

Mank  - Vencedor

Relatos do Mundo

Nomadland

Os 7 de Chicago


Melhor Documentário

Collective

Crip Camp

The Mole Agent

Professor Polvo  - Vencedor

Time


Melhor Figurino

Emma

A Voz Suprema do Blues  - Vencedor

Mank 

Mulan

Pinocchio


Melhor Montagem

Meu Pai

Nomadland

Bela Vingança

O Som do Silêncio  - Vencedor

Os 7 de Chicago


Melhor Trilha Sonora Original

Terence Blanchard – Destacamento Blood

Trent Reznor e Atticus Ross – Mank

Emile Mosseri – Minari

James Newton Howard – Relatos do Mundo

Trent Reznor, Atticus Ross e Jon Batiste – Soul  - Vencedor


Melhor Canção Original

“Fight for You” – Judas e o Messias Negro  - Vencedor

“Hear my Voice” – Os 7 de Chicago

“Husavik” – Festival Eurovision da Canção

“Io Sí” – Rosa e Momo

“Speak Now” – Uma Noite em Miami


Melhor Filme Internacional

Druk: Mais uma Rodada (Dinamarca)  - Vencedor

Better Days (Hong Kong)

Collective (Romênia)

The Man Who Sold His Skin (Tunísia)

Quo Vadis, Aida? (Bósnia)


Melhor Curta Animado

Burrow

Genius Loci

Se Algo Acontecer… Te Amo  - Vencedor

Opera

Yes-People


Melhor Curta em Live-action

Feeling Through

The Letter Room

The Present

Dois Estranhos  - Vencedor

White Eye


Melhor Curta em Documentário

Collete  - Vencedor

A Concerto is a Conversation

Do Not Split

Hunger Ward

A Love Song for Latasha


Melhor Som

Greyound

Mank

Relatos do Mundo

Soul

O Som do Silêncio  - Vencedor


Melhor Maquiagem

Emma

Era uma Vez um Sonho

A Voz Suprema do Blues  - Vencedor

Mank

Pinóquio


Melhores Efeitos Visuais

Amor e Monstros

O Céu da Meia-Noite

Mulan

O Grande Ivan

Tenet  - Vencedor


Melhor Design de Produção

Meu Pai

A Voz Suprema do Blues

Mank  - Vencedor

Relatos do Mundo

Tenet

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domingo, 25 de abril de 2021

Cine Especial: Oscar 2021: 'Nomadland' e 'Bela Vingança'

Enfim, estamos na reta final para o Oscar 2021 e deixo aqui a minha última postagem especial sobre os favoritos "Nomadland" e "Bela Vingança". 

'Nomadland' 

Sinopse: Após o colapso econômico de uma cidade na zona rural de Nevada, nos Estados Unidos, Fern, uma mulher de 60 anos, entra em sua van e parte para a estrada, vivendo uma vida fora da sociedade convencional como uma nômade moderna. 

Nos próximos anos especialistas farão uma análise mais profunda sobre os tempos de hoje em que vivemos e dos quais o cinema nos revelou como um todo.  Se por um lado "Parasita" (2019) fala sobre os problemas que o mundo capitalista faz com que tudo transborde, do outro, "Coringa" (2019) fala sobre o indício comum abandonado por esse mesmo sistema e que não excita mais em estourar a bolha. "Nomadland" vem para complementar ainda mais esse quadro, do qual retrata um lado dos EUA sem nenhuma glória e que se sustenta somente com a força de vontade que lhe resta.

Dirigido pelo cineasta Chloé Zhao, o filme se passa logo após o colapso econômico de uma cidade na zona rural de Nevada, nos Estados Unidos.  Fern (Frances McDormand), uma mulher de 60 anos, entra em sua van e parte para a estrada, vivendo uma vida fora da sociedade convencional como uma nômade moderna. Durante o percurso, trabalha em diversos empregos, além de conhecer pessoas comuns e com o mesmo destino.

A crise econômica de 2008 serviu como pano de fundo para a realização de diversos filmes que revelaram um olhar mais sujo e sofrido do povo americano, pois basta pegar o filme "Inverno da Alma" (2010) como um bom exemplo. Porém, "Nomadland" se encaixa mais com os dois filmes citados acima, ao retratar uma protagonista presa as regras capitalistas, mas obtendo a chance de sair dessa bolha e dando de encontro com uma realidade até então desconhecida. Com a sua Van, Fern dá de encontro com pessoas iguais a ela e das quais cada história são maiores do que a vida.

Ao procurar nos passar maior realismo possível, a cineasta Chloé Zhao procurou pessoas reais para que as mesmas atuassem e revelassem as suas vidas reais de Nômades na frente da tela. O resultado é uma bela transição entre ficção e realidade, onde Frances McDormand para por uns instantes de atuar para então ouvir as palavras dessas pessoas sofridas, mas que não se abalam nem mesmo quando o estado lhe dá as costas. Pessoas que foram engolidas pelas consequências do capitalismo desenfreado, mas que se viram livres ao sair dessa realidade cheia de regras e que sempre cobram um alto preço.

Como não poderia deixar de ser, Frances McDormand dá novamente um show de interpretação, ao colocar para fora as suas raízes humildes de sua vida pessoal e revelando uma faceta de sua pessoa até então inédita nas telas. Sua personagem nunca se dá por vencida, ao escolher continuar trabalhando em empregos sem nenhum futuro, mas cujo os mesmos a fazem esquecer um pouco do seu passado dolorido. Passado, aliás que se encontra nos mais pequenos detalhes dentro de sua Van, desde a pratos raros, como também fotos preciosas e que valem muito para ela.

Na reta final, a protagonista tem a chance de se encaixar novamente no mundo em que ela havia deixado para atrás. Porém, as cicatrizes vindas do passado falam mais alto e constatamos que, mesmo com um sistema cada vez mais no controlando, há ainda lugares intocáveis e dos quais vale a pena testemunharmos e senti-los. Talvez seja a hora de começarmos a enxergarmos o que há além dos muros desse sistema doentio.

"Nomadland" é um filme universal sobre o nosso tempo atual, onde a sociedade não tem mais para onde se esconder desse sistema capitalista, a não ser estourar a bolha e colocar o pé na estrada. 


Nota: Em Cartaz nos cinemas. 

'Bela Vignça’  

Sinopse: Cassie (Carey Mulligan) é uma jovem que sempre sonhou em ser médica. No entanto, um acontecimento traumático fez ela largar a faculdade e voltar para a casa dos pais. Agora perto dos 30 anos, ela decide se vingar dos predadores sexuais que se aproveitam das mulheres bêbadas. 

Quando os escândalos de abuso sexual cometidos por Harvey Weinstein explodiram e caíram no colo da grande imprensa, vários outros escândalos foram noticiados, pois as vítimas perceberam que, enfim, poderiam sair do armário e sem medo. A cultura do estupro é algo que, infelizmente, se encontra ainda muito incrustado na nossa sociedade, pois a maioria dos homens que cometem jamais irão admitir tais atos, ao ponto de usar todos os meios para persuadir a justiça a qualquer custo. Neste caso, "Bela Vingança" (2020) vem para nos dizer que a situação transbordou, não há mais volta e que as mulheres não podem mais recuar perante tais violências físicas e psicológicas.
Dirigido por Emerald Fennell, o filme conta a história de Cassie (Carey Mulligan), uma mulher com muitos traumas do passado que frequenta bares todas as noites e finge estar bêbada. Quando homens mal intencionados se aproximam dela com a desculpa de que vão ajudá-la, Cassie entra em ação e se vinga dos predadores que tiveram o azar de conhecê-la e o mau caráter de tentar abusá-la. Aos poucos é revelado os motivos de suas ações ao longo do percurso.
Diferente do que se imagina, principalmente se levar muito em consideração o título, o filme não se enverada para os típicos filmes de vingança, onde há muita violência e sangue, mas sim tudo de uma forma mais sugestiva e deixando a nossa imaginação trabalhar após cada importante cena apresentada. Embalado com uma sedutora trilha sonora, da qual é moldada com vários sucessos, Emerald Fennerll procura ser bastante perfeccionista, pois se percebe que cada cena filmada foi criada de uma forma muito bem pensada e para assim ficarmos prestando atenção em cada ação de sua protagonista, desde aos gestos com as mãos, como também pelo seu olhar que tem muito a dizer. O prólogo, por exemplo, é um belo exemplo do que veremos no decorrer do filme e fazendo da obra algo bem diferente do que estamos acostumados em assistir dentro do gênero.
Mais do que uma obra com um teor de humor sombrio, o filme também é uma crítica ácida contra uma sociedade machista, onde filhinhos de papai ricos acham que podem fazer o que bem entenderem, quando na verdade não passam de homens fracos perante ao momento que terão que sofrer as consequências dos seus atos monstruosos. Além disso, o filme destrincha como certas bases importantes da sociedade tentam acobertar esses atos, sendo que acabam se tornando tão culpados quanto os que praticam o ato e provocando assim uma bola de neve que vai aumentando conforme o tempo vai passando. As justificativas são quase sempre as mesmas e fazendo a gente ter menos pena das partes que se acharam um dia intocáveis.
Carey Mulligan, vista em filmes como "As Sufragistas" (2015) obtém aqui o melhor papel de sua carreira, onde interpreta uma Cassie marcada pelos horrores do passado e não conseguindo seguir em frente na vida como um todo. Reparem que a fotografia, assim como determinadas cores de certos objetos vistos na tela, sintetizam elementos inocentes que ela ainda mantém em seu dia a dia, mesmo tendo consciência da real realidade nua e crua em sua volta. E quando se achava que ela se encaminhava para a chance de obter  a sua redenção, eis que situações a fazem se dar conta que o único jeito de obter justiça é do seu jeito, pois o estado acaba se tornando ineficaz para praticar tal ato.
Chegando neste ponto, adentramos em um ato final muito bem dirigido, onde Emerald Fennell não tem medo de nos colocar frente a frente a uma situação inusitada e criando um plano sequência que faz a gente se afundar na cadeira. Os minutos finais a gente pode até adivinhar o que acontece, mas não prejudica o resultado final, mas sim somente fortifica a ideia de que algo precisa ser feito em nosso mundo real. O abuso e a violência precisam acabar, ou então terá várias Cassies que irão aparecer por aí.
"Bela Vingança" e uma síntese de nossa época atual, onde as mulheres não podem somente esperar por justiça, mas sim agir contra os lobos fantasiados de cordeiros.  

Nota: O filme tem previsão de estrear nos cinemas brasileiros em Maio. 

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sábado, 24 de abril de 2021

Cine Especial: Oscar 2021: 'Meu Pai' e 'Minari'

Sinopse: Anthony tem 81 anos de idade. Ele mora sozinho em seu apartamento em Londres, e recusa todos os cuidadores que sua filha, Anne, tenta impor a ele. 

O subgênero suspense psicológico transita entre o horror e o drama, já que neste último caso o horror se encontra através de uma mente que, por vezes, se encontra fragmentada. Filmes como, por exemplo, o clássico "A Repulsa do Sexo" (1965), ou recentes como "Cisne Negro" (2009), são exemplos de filmes que sintetizam o fato de que o nosso pior horror vem de nossas próprias mentes que tentam enganar a nós todo momento. "Meu Pai" (2021) é um drama caprichado, mas que se envereda em alguns momentos para o suspense, pois quase nunca temos uma exata certeza do que realmente está acontecendo na tela.

Dirigido por Florian Zeller, o filme conta a história de um homem idoso que se recusa toda a ajuda de sua filha à medida que envelhece. Ela está se mudando para Paris e precisa garantir os cuidados dele enquanto estiver fora, buscando encontrar alguém para cuidar do pai. Ao tentar entender suas mudanças, ele começa a duvidar de seus entes queridos, de sua própria mente e até mesmo da estrutura da realidade.

Baseado em uma peça teatral, o filme se limita somente no cenário em que os protagonistas se encontram, ou seja, em um determinado apartamento em Londres. Porém, na medida em que o filme avança, nunca sabemos ao certo se é o mesmo apartamento, já que aos poucos percebemos que estamos enxergando os eventos através da perspectiva de Anthony e fazendo a gente ficar na dúvida sobre o que realmente está acontecendo. O protagonista sofre de mal de alzheimer e cuja sua doença se torna um verdadeiro pesadelo para o próprio a cada dia.

Florian Zeller capricha em uma edição quase frenética, já que a sua câmera vai passeando em vários cômodos do cenário na medida em que o protagonista vai andando no local e se deparando com situações que, por vezes, o abalam. Personagens entram e saem na medida em que o protagonista vai caminhando pelo local, mas fazendo com que nós jamais tenhamos certeza sobre as reais identidades deles, pois em alguns casos eles representam lembranças que ele tenta manter em sua mente em declínio. São situações em que sentimos tristeza e aflição ao mesmo tempo, pois é uma situação verossímil e que muitos de nós viveram ou viverão ao longo dos anos.

Anthony Hopkins, novamente, nos entrega um dos grandes trabalhos de sua carreira, pois seu Anthony é uma pessoa pretensiosa pelo que ele foi no passado, mas não conseguindo esconder o problema que carrega ao longo do percurso. No decorrer da trama, o seu personagem luta para tentar montar as peças de um quebra cabeça, mas cuja as peças quase sempre nunca se encaixam, já que a sua mente nunca permite isso. Um trabalho intenso e merecedor de todo o reconhecimento.

Porém, Olivia Colman, vencedora do Oscar de melhor atriz pelo filme "A Favorita" (2019), não fica muita atrás na questão de atuação, já que ela interpreta uma personagem que carrega um pesado fardo de cuidar de um pai que, aos poucos, vai se perdendo entre explosões e enfraquecimento mental. Em determinados momentos, por exemplo, nunca sabemos ao certo sobre suas reais escolhas sobre o destino que ela irá traçar para ele, já que somente testemunhamos os acontecimentos pela perspectiva dele. Por conta disso, quando achamos que iremos julgá-la mal pelos seus atos, eis que o filme revela uma pessoa que tenta fazer o melhor pelo seu ente querido, mesmo quando alguns próximos a ela lhe dizem para agir ao contrário.

Quando se chega no ato final, observamos as reais peças desse tabuleiro, ao ponto que testemunhamos um Anthony não somente encarando o fato de estar doente, como também de saber que negou para si uma triste realidade que o próprio achava insustentável. É preciso ter coração de pedra para não se derramar nenhuma lágrima, já que Anthony é uma representação de muitos pais que chegam em uma idade cujo os cuidados não são muito diferentes de cuidarmos de um bebê recém-nascido, mas que sintetiza o círculo da vida como um todo. Indicado a seis prêmios para o Oscar deste ano, "Meu Pai" é sobre laços familiares que lutam contra um mal invisível, mas que se torna um fardo ao percebemos que isso é algo inevitável.

Onde Assistir: Locação e venda pelo Youtube e Now. 


 ‘Minari’  

Sinopse: David é um menino coreano-americano de sete anos de idade, que se depara com um novo ambiente e um modo de vida diferente quando seu pai, Jacob, muda sua família da costa oeste para a zona rural do Arkansas. 

Se atualmente os EUA ainda vende a sua propaganda que se diz ser a terra das oportunidades, por outro lado, os últimos acontecimentos do mundo revelaram que o problema é mais embaixo e revelando um país que mais criminaliza os estrangeiros do que acolher eles como um todo. O cinema, por sua vez, tem revelado nas telas nos últimos anos cada vez mais uma terra norte americana conservadora, da qual ainda abre os braços para o estrangeiro, mas não prometendo futuros frutos. "Minari" (2020) fala de uma família tradicional coreana, que vai aos EUA em busca do sonho americano, mas para alcançá-lo é preciso passar por certos pesadelos.

Dirigido por Lee Isaac Chung, a trama se passa nos anos 80. David (Alan S. Kim), um menino coreano-americano de sete anos de idade, que se depara com um novo ambiente e um modo de vida diferente quando seu pai, Jacob (Steven Yeun), muda sua família da costa oeste para a zona rural do Arkansas. Entediado com a nova rotina, David só começa a se adaptar com a chegada de sua avó. Enquanto isso, Jacob, decidido a criar uma fazenda em solo inexplorado, arrisca suas finanças, seu casamento e a estabilidade da família.

Do primeiro ao segundo ato da trama há uma construção com relação ao cenário em que irá se passar toda a trama, onde os personagens buscam se encaixar naquela nova realidade, mesmo no contragosto de alguns deles. Uma vez estabelecido se começa então a luta pela busca do sonho norte americano, mas para isso é preciso de certo empenho e sacrifícios. Ao mesmo tempo parece que há uma preocupação na família de se interagir com os demais norte-americanos do local e aí que surge uma curiosa mistura entre as duas culturas, mas que há muito em comum entre ambas do que se imagina.

Há, por exemplo, a influência da igreja entre os dois lados sendo que o lado norte americano é mais representativo pelo curioso personagem Paul, interpretado pelo ator Will Pattom. Por ele, se observa uma sociedade norte americana alimentada pela fé, mesma que por vezes cega, mas que ao menos a mantem ainda vida. Ao vermos ele carregando uma cruz em determinado momento da trama, constatamos ali uma sociedade movida pelo que acredita, mesmo pagando um alto preço ao longo da vida.

Mas, ao meu ver, o coração do filme se concentra no desenvolvimento familiar, principalmente na relação entre o neto e sua avó, interpretada pela ótima atriz veterana Yuh Jung Youn e vista regularmente nas obras do cineasta Hong Sang-Soo. Ali se há uma relação que não se encaixa muito bem no princípio, mas que logo ganha contornos interessantes e revelando cada vez mais as suas personalidades complexas e a maneira como ambos enxergam as situações em que eles vivem em uma terra estranha. A relação entre os dois é tão boa que acabamos até mesmo se esquecendo do conflito entre o marido e a esposa, muito embora eles não deixam de serem importantes ao longo da trama.

O ato final se encaminha em situações em que fortes emoções enlaçam os protagonistas e os apertam de tal forma que não há mais escapatória. Ao mesmo tempo, o roteirista se preocupa em logo em seguida em solucionar tudo e deixando a estranha sensação de que algo ficou faltando para se ter chegado a esse ponto seguro. Talvez seja uma forma de nos passar uma harmonia entre ambos os povos, mas que acaba meio se tornando artificial no último minuto.

De qualquer forma, "Minari" é um ótimo filme sobre a questão dos imigrantes em território norte americano, onde se vê, não exatamente uma terra das oportunidades, mas talvez um novo e árduo começo de um novo ciclo.

NOTA: Em cartaz nos cinemas.  

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sexta-feira, 23 de abril de 2021

Cine Especial: Oscar 2021: 'Quo Vadis, Aida?' e ‘Better Days’

Sinopse: história de Aida (Jasna Djuricic), uma mulher que trabalha como tradutora para uma equipe de manutenção da paz. Ela está em um acampamento onde seu marido e seus dois filhos estão detidos juntos de milhares de cidadãos bósnios. 

Em tempos atuais em que vivemos, dos quais o fascismo fica cada vez mais explícito em nosso dia a dia, ficamos nos perguntando onde começou tudo isso. Talvez, ele não tenha começado recentemente, mas ele sempre esteve lá, porém, adormecido e nos pegando atualmente desprevenidos. Enquanto não resolvemos o que fazer contra esses tempos nebulosos atuais, "Quo Vadis, Aida?" (2021) nos soca no estômago ao nos dizer que esse mal já estava vivendo entre nós há muito tempo, seja ele aqui ou do outro lado do mundo.

Dirigido pela cineasta Jasmila Zbanic, o filme conta a história de Aida (Jasna Djuricic), uma mulher que trabalha como tradutora para uma equipe de manutenção da paz. Ela está em um acampamento onde seu marido e seus dois filhos estão detidos juntos de milhares de cidadãos bósnios. Porém, pode ser muito tarde para conter o inevitável.

No prólogo, observamos uma espécie de reunião de negócios, entre um político local e um representante da ONU. Ambos são ineficazes no diálogo para se obter um acordo, sendo que a única consciente da situação e que deseja ali obter uma solução é Aida, mas sem conseguir uma chance de abraça-la. Pela sua expressão e olhar, constatamos uma pessoa desesperada, mas que se mantém firme para não cair na no desespero e desgraça.

Jasna Djuricic nos brinda com uma ótima atuação em cena, sendo que ela carrega o filme nas costas e nos guia para o inferno iminente que irá acontecer na tela. Porém, o filme possui um perfeccionismo esplêndido, onde há um cuidado para nos passar a dimensão da situação e nos dando a sensação de nos colocar no centro dos acontecimentos: a cena em que vemos um mar de bósnios muçulmanos aglomerados em frente à sede da ONU é, desde já, espetacular.

Curiosamente, a expressão dos rostos dos personagens diz mais do que meras palavras. Em um flashback, por exemplo, testemunhamos Aida e mais um grupo de amigos se divertindo em uma festa, mas que em determinado momento todos ali começam a encarar a câmera de  forma séria e pouco esperançosa. Uma espécie de prelúdio do que aconteceria com aquele povo e cuja as marcas até hoje não cicatrizaram.

Para aqueles que estudam a história recente da humanidade não é preciso ser gênio para adivinhar o que acontecerá no ato final. Em uma cena simbólica, por exemplo, vemos bósnios sendo encurralados em uma sala de projeção abandonada e onde os seus opressores gritam dizendo que isso não é cinema. A cena não é sangrenta, porém, não deve nada aos filmes de guerra realistas como o chocante filme russo "Vá e Veja" (1985).

Ao chegarmos ao epílogo estamos por demais esgotados, querendo desejar se afastar daquela triste realidade, mas não deixamos de acompanhar Aida para que possamos descobrir o que restou dessa guerra para ela. Ao testemunharmos isso, constatamos uma mulher forte, mas que também cede perante o horror, pois a sua humanidade jamais se perdeu. Indicado ao Oscar de Melhor Filme Internacional de 2021, "Quo Vadis, Aida?" é sobre a selvageria humana nascida das indiferenças, do fascismo e da desumanidade vinda daqueles que se dizem poderosos.  


Onde Assistir: Compre ou alugue pelo Youtube. 

 ‘Better Days’ 

Sinopse: Em pleno vestibular, jovem passa a sofrer Bullying dos seus colegas. Porém, um jovem surge em sua vida e desencadeando situações imprevisíveis.  

Eu me lembro que sofria bullying na escola. Já faz vários anos, mas as ofensas e as piadas de mal gosto ficam nas lembranças. Me lembro de um aluno que me incomodou tanto durante a aula que eu simplesmente o peguei como se fosse um boneco de pano e dei ponta pé diversas vezes contra ele devido a raiva que nasceu dentro de mim naquele momento.
A situação só não ficou pior porque eu bati a minha perna numa mesa ao lado e quando aconteceu isso me dei conta sobre o que estava acontecendo. Os alunos me olhavam com medo e não entendendo como de uma hora pra outra eu quase virei um monstro. Desde então as piadas haviam parado, mas a sombra do que eu poderia ter me tornado ficou me assombrando por algum tempo.
O bullyng nada mais é do que uma prática orquestrada por jovens inconsequentes e que, infelizmente, não tem noção o quanto isso pode despertar em suas vítimas. Por conta disso, há diversas histórias pelo mundo sobre esse assunto e uma mais imprevisível do que a outra como um todo. “Better Days" (2019) toca neste assunto espinhoso de uma forma dura, reflexiva e bastante humana.
Dirigido por  Kwok Cheung Tsang, o filme conta a história Nian, que estava se preparando arduamente nos estudos para conseguir passar no vestibular. Porém, sua amiga se suicida por motivos misteriosos, mas aos poucos se descobre que a jovem sofria bullying. Não demora muito para Nian seja a próxima vítima, mas ela consegue consolo pelo jovem Trickser e desse encontro se inicia uma surpreendente relação de amizade e carinho.
Com uma edição fragmentada, onde o passado e o presente vêm e volta, o filme vai aos poucos nos apresentando aquela realidade aparentemente simples do colégio, mas não escondendo o seu lado opressor que gosta de machucar os fracos. Há uma aura de competição no ar com relação ao vestibular, ao ponto de alguns não medirem esforços para conquistar os seus objetivos, nem que para isso machuque e muito o seu próximo. Nian quer somente passar e conseguir embarcar na vida adulta, mas mal sabendo o alto preço a ser pago durante essa jornada.
O filme debate a difícil passagem da inocência para a fase adulta, sendo que a escola em si não dá aulas de como se faz na prática essa transição e com isso deixa os jovens alunos na própria sorte e tendo que sobreviver com as suas próprias mãos. A obra também faz parte dessa nova onda de filmes em que mostra o quanto o sistema é falho na construção do indivíduo para ser inserido na sociedade, sendo que não há ninguém que possa dar uma solução mais prática nesta etapa da vida. O resultado é testemunharmos jovens tendo que enfrentar uma selva de pedra e sendo assombrado por outros jovens que são puramente rebeldes, sendo que alguns são o próprio reflexo de terem pais inconsequentes.
O meu relato acima no início do texto é a reflexão que eu tive partir dos desdobramentos da trama que eu testemunhei, sendo que eles nasceram no momento em que o cordão bom senso se arrebentou para o casal central. Curiosamente, me identifiquei e muito com os personagens, pois a sensação que me deu foi uma espécie de déjà-vu, muito embora tive melhor sorte no meu mundo real. Contudo, a redenção acontece para o casal, muito embora o passado cheio de ferimentos sempre ficará registrado no passado de cada.
Indicado para o Oscar de Melhor Filme Internacional de 2021, "Better Days" é sobre jovens tentando obter uma passagem para a vida adulta, mas mal sabendo dos obstáculos que irão enfrentar e sacrificar para se chegar lá. 

NOTA: Ainda sem previsão de estreia.  

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quinta-feira, 22 de abril de 2021

Cine Especial: Oscar 2021: 'Collective'

Sinopse: Uma equipe de jornalistas investigativos entra em ação, descobrindo a corrupção em massa do sistema de saúde e das instituições do Estado. 

Durante um show em uma boate ocorre um incêndio de grandes proporções e causando a morte de diversas pessoas. Um Ministério da Saúde que demonstra sinais ineficazes no combate da crise sanitária de hospitais e colocando em risco as vidas das pessoas. Parece familiar?

Quando se fala destas situações acima se lembra, logicamente, da situação sanitária, social e política que o Brasil do passado e do nosso presente se encontra. Tivemos o incêndio da boate Kiss a quase dez anos e dos quais os verdadeiros culpados pela tragédia continuam impunes. Atualmente convivemos com uma pandemia, onde inúmeras pessoas estão morrendo nos hospitais, enquanto o Ministério da Saúde tem os seus ministros trocados diversas vezes devido as suas incompetências e sendo comandado por um Presidente ainda mais incompetente e um dos piores de nossa história.

Mas, engana-se quem acha que esse cenário seja algo exclusivamente no Brasil, pois a incompetência, corrupção e falta de sensibilidade pelo próximo são problemas atuais de todo o mundo e que precisam serem investigados e debatidos bem de perto. Porém, foi-se o tempo que tínhamos um jornalismo mais investigativo e imparcial, pois atualmente há muitos profissionais ligados a partidos e que são bem pagos para falarem bem dos mesmos. Porém, ainda há esperança no horizonte e o documentário vindo da Romênia "Collective" (2020) prova que essa batalha só termina quando a gente desiste no meio da estrada.

Dirigido por Alexander Nanau, o documentário relata as consequências de um trágico incêndio em um clube romeno, onde as vítimas de queimaduras começam a morrer em hospitais devido a ferimentos que não são fatais. Uma equipe de jornalistas investigativos entra em ação, descobrindo a corrupção em massa do sistema de saúde e das instituições do Estado, abordando questões sobre propaganda e manipulação que até hoje afetam não apenas a Romênia, mas também sociedades em todo o mundo.

Diferente dos documentários convencionais, os realizadores procuram não interferir nos fatos que vão ocorrendo em cena, mas sim somente registrando os eventos e os diálogos dos principais personagens dessa teia de eventos. Por conta disso, se tem um legítimo registro verossímil do lado emocional das pessoas que perderam seus entes queridos no incêndio do clube, assim como também os familiares de pessoas que morreram misteriosamente nos hospitais posteriormente. O resultado é surpreendente, principalmente quando o documentário vai avançando e registrando os olhares cansados e cheios de temor dos jornalistas que decidiram bater de frente neste sistema viciado e corrompido.

Com uma edição ágil, o documentário nos apresenta uma verdadeira teia de revelações, onde se comprova que a corrupção e o desleixo dos hospitais ligados com partidos políticos daquele país aconteciam muito antes do incêndio do clube. Por conta disso, há uma corrida contra o tempo para que os mesmos que haviam viciado e contaminado esse cenário sejam impedidos de voltarem ao poder, ou tentar evitar que saiam impunes dos crimes que cometeram. Curiosamente, o documentário procura destacar o novo Ministro da Saúde, do qual reconhece muito bem o sistema corrupto que assolou no próprio Ministério, mas que opta por lutar no lado certo da história que acabou se envolvendo.

No final das contas, há sempre uma luz no fim do túnel, porém, o documentário não esconde o fato de que uma nação, há tanto tempo movida pela corrupção por detrás das cortinas, demorará muito para recuperar a sua autoestima. Fatos, infelizmente, reais ocorridos na Roménia, mas não muito diferentes do que ocorre em outros países como no caso do Brasil. Indicado ao Oscar de Melhor Longa Documentário e de Melhor Filme Internacional de 2021, "Collective" é um retrato sobre a banalidade e a falta de investigação sobre crimes contra humanidade e que poderiam ter sido evitados.   

Onde Assistir: Em Locação ou venda pela Amazon

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quarta-feira, 21 de abril de 2021

Cine Especial: Oscar 2021: 'Estados Unidos Vs Billie Holiday' e 'Rosa e Momo'

Sinopse: Billie Holiday é investigada pela Agência Americana de Narcóticos no auge do seu sucesso. 

Está fácil adivinhar o começo, meio e fim de determinadas cinebiografias de cantores famosos, pois as fórmulas são quase sempre as mesmas. Conhecemos a origem do cantor(a), testemunhamos o seu auge, vícios decadência para então, enfim, a sua redenção. Por melhor que fosse, por exemplo, "Bohemian Rhapsody" (2018) eu já sabia como iria terminar, mas não pelo fato de conhecer a carreira do cantor ou da banda em si, mas sim por já conhecer as velhas fórmulas que os roteiristas usam para a elaboração desse tipo de produção.

Mas isso não significa que defeito, mas sim uma forma mágica do cinema de nos identificarmos com esses artistas, pois por mais que sejam talentosos, eles no final das contas não deixam de serem seres humanos. Por outro lado, se torna interessante quando embarcamos sobre a vida de um artista sem ao menos saber muito sobre ela. "Estados Unidos Vs Holiday" (2021) embarquei sem muito saber sobre a cantora Billie Holiday e me surpreendi.

Dirigido por Lee Daniels, do filme "O Mordomo da Casa Branca" (2013), o filme retrata sobre a famosa cantora de jazz Holiday, interpretada pela cantora e agora atriz  Andra Day durante o auge de sua carreira. No entanto, ela se torna alvo do Departamento Federal de Narcóticos com uma operação secreta liderada pelo Agente Federal Jimmy Fletcher (Trevante Rhodes), com quem ela teve um caso tumultuado no passado.

Como eu disse acima, pouco sabia sobre a cantora, muito embora tenha ouvido a música dela algumas vezes na vida. Ao embarcar na trama, testemunho uma entidade poderosa que foi esse talento, da qual usou a sua voz para fazer um forte protesto contra o racismo norte americano e do qual, infelizmente, ainda existe até hoje. Isso foi o suficiente para ser perseguida pelas autoridades, mas jamais abaixando a cabeça.

A minha surpresa principalmente fica por conta da interpretação assombrosa de  Andra Day ao dar corpo e alma para Billie Holiday, pois visualmente ela está idêntica a falecida cantora. Day transmite para nós toda a dor e fúria contida da cantora, pois já nos primeiros minutos constatamos que ela é uma de inúmeras pessoas negras vítimas de um racismo insano, mas que lutou para ser ouvida mesmo lhe custando um alto preço. Embora as chances sejam pequenas, não me surpreenderia se caso atriz ganhasse o Oscar pelo seu trabalho, pois é sem dúvida inesquecível.

tecnicamente o filme possui uma incrível reconstituição de época, onde a fotografia oscila em tons de cores de uma época mais dourada, mas que não esconde também cores pálidas que sintetiza a dura a realidade certas pessoas. Assim como o recente "Judas e o Messias Negro" (2021) o filme escancara a covarde perseguição do governo contra determinados talentos, seja pela sua mensagem, ou puramente por inveja e preconceito latente. Porém, em sua reta final, percebe que todas essas pessoas poderosas foram esquecidas pelo teste do tempo, enquanto talentos como Billie Holiday continuam vivos por anos a fio.

Indicado ao prêmio de melhor atriz no Oscar 2021, "Estados Unidos Vs Billie Holiday" é sobre a força de vontade de uma única pessoa, mas que se equivale perante à de muitas.  

Nota: Previsão de estreia nos cinemas brasileiros em Maio.   


 'Rosa e Momo'

Sinopse: Baseado no livro “A Vida Pela Frente” de Romain Gary, a trama acompanha Momo (Gueye), um adolescente órfão senegalês, que leva a vida fazendo pequenos furtos e traficando drogas. Em uma dessas situações, ele conhece Rosa (Loren), uma ex-prostituta que cuida dos filhos de suas ex-colegas de profissão.

Grandes guerras acabaram, mas a guerra particular de cada um permanece como um todo. Se por um lado há pessoas que sobrevivem mesmo carregando as cicatrizes vindas do passado, do outro, há também aquelas que enfrentam os obstáculos corriqueiros do dia a dia, mas que podem se tornar uma grande armadilha. "Rosa e Momo" (2019) é um filme que fala sobre duas pessoas distintas uma da outra, mas cuja as mesmas, com suas guerras particulares, as unem para sobrevirem ao longo do percurso.

Dirigido por Edoardo Ponti, o filme a história de uma sobrevivente do holocausto chamada Madame Rosa (Sophia Loren), que responsável por cuidar de uma creche, decide acolher uma criança de 12 anos chamado Momo (Ibrahima Gueye) que a assaltou recentemente. A partir dessa união se tem uma relação incomum.

Com um prólogo que nos faz a gente se perguntar o que está acontecendo, Edoardo Ponti procura antes de tudo em nos apresentar o cenário principal, uma cidade da Italiana bonita com cores quentes, mas não escondendo resquícios de um país que ainda carrega as suas feridas devido a Segunda Guerra. Em um determinado cenário, por exemplo, do qual se encontra escondido em um prédio, se vê ali uma pequena homenagem que o realizador faz aos tempos do Neorrealismo italiano e cujo movimento retratava uma Itália se reestruturando em meio aos escombros. Por conta disso, é mais do que natural a presença de Sophia Loren na tela.

Afastada há uma década do cinema, Sophia retorna com estilo e força na construção de uma personagem complexa, mas cuja as suas cicatrizes vistas em seu olhar, além de uma determinada tatuagem com números em seu braço, nos dá uma dimensão do que ela havia sofrido. Ao acolher crianças abandonadas de suas mães, a sua personagem Rosa procura fazer o mesmo o que haviam feito por ela no passado, mas não escondendo cansaço perante uma realidade de mudanças constantes.

Através de Momo ela enxerga uma forma de se sentir útil, mesmo quando o garoto não deseja ser acolhido. Aliás, Momo não é muito diferente da explosiva  Benni do filme alemão "Transtorno Explosivo" (2020), já que ambos são jovens abandonados pela sociedade e não conseguindo o espaço que realmente mereciam. Porém, Momo desce a guarda para os adultos que tentam ajuda-lo, mesmo quando o mesmo retribui com insultos, pois é a única forma dele expressar os seus sentimentos.

Curiosamente, Edoardo Ponti procura não julgar os seus personagens que surgem na tela, mas sim retratá-las como pessoas comuns que sobrevivem com o pouco que tem, mas felizes com o que pode compartilhar. Neste último caso temos Lola (Abril Zamora), personagem secundária, mas que rouba a cena toda vez que surge na tela. Não sabemos, por exemplo, no que ela trabalha para sobreviver, mas basta ela fazer companhia para Rosa para desejarmos que ela continue na história e se tornando peça fundamental para haver um equilíbrio entre a sua amiga e Momo.

Com um final previsível, mas do qual já estávamos esperando, "Rosa e Momo" fala sobre amizades de pessoas diferentes uma da outra, mas cuja essa distinção é o que as atraem e nascendo assim laços fortes perante as adversidades. 

Onde Assistir: Netflix.

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