Sinopse: Na década de 1960
milhares de esperançosos jovens norte-americanos vieram para o país, mais
especificamente para cidades nordestinas, através do programa de voluntariado
Corpos da Paz. Com a missão de ajudar, mas sem funções específicas, incentivo
financeiro ou amplo acolhimento da população, eles na verdade eram peças da
agressiva política de influência de John F. Kennedy na América do Sul, e
através de depoimentos e materiais de arquivo o documentário revela as
contradições entre a motivação dos jovens e o que de fato faziam.
A lente de uma câmera
cinematográfica, principalmente aquela sendo utilizada em um documentário, tem
a capacidade de desconstruir a pessoa que é entrevistada e revelando, por
vezes, uma faceta da qual ela tenta esconder. No clássico Edifício Masters de
Eduardo Coutinho, por exemplo, testemunhamos uma jovem que fala para câmera do
cineasta, mas que não tem a capacidade de olhar para ela, pois sentimos ali um
peso interno em que ela sente devido o efeito que o aparelho provoca às vezes
nas pessoas. No documentário Em Nome da América, o efeito disso é ainda mais sentido,
principalmente em momentos onde se percebe que há uma cortina de fumaça que
encobre verdadeiros fatos de um passado distante e que, aos poucos, vai revelando
uma possível trágica verdade.
Dirigido pelo
estreante Fernando Weller, o documentário investiga eventos da década de 60
ocorridos no nordeste do país. Com a propaganda de boa vizinhança, o até então
presidente John F. Kennedy dos EUA decide recrutar e enviar para os países da América do sul um grupo de pacifistas para ajudar os mais necessitados daquela
época. Porém, no decorrer do documentário, é revelado que essa missão altruísta
possuía algo por detrás das cortinas americanas.
Usando cenas de
arquivos liberadas pelo próprio governo americano, Fernando Weller tenta
desvendar de uma forma gradual o verdadeiro papel daqueles jovens da época que,
decididos a fugir de guerras como do Vietnã, vieram para cá para ajudar os
necessitados. Contudo, existia um temor do governo dos EUA, de que a revolução
Cubana se alastraria para os demais países da América latina e criando assim um
grande risco para o capitalismo americano. Porém, o documentário não nos dá provas
concretas sobre isso, mas sim colocando na mesa somente fatos registrados e
depoimentos de recrutas daquele tempo.
A partir desses inúmeros
depoimentos, tempos a chance de conhecermos cada um deles, sobre as suas motivações
da época e suas opiniões sobre o verdadeiro papel que cada um tinha naquele
período. Há, logicamente, uma propaganda social de ajuda ao próximo na época,
mas isso não significa que, na pratica, isso foi feita de uma forma correta. Há,
por exemplo, (extraído do curta The Troubled Land) a chocante cena onde vemos
um latifundiário dando tiros para cima, para o chão, ameaçando os trabalhadores
que se posicionassem contra ele e dos quais queriam reivindicar melhores condições
de trabalho.
Aos poucos, o documentário
ainda desvenda certas alianças entre o governo brasileiro e o americano, para
que houvesse ajuda sempre para os necessitados, mas que, ao mesmo tempo, observasse
os movimentos dos trabalhadores que protestavam por melhorias de vida e da
possibilidade de um crescimento dos movimentos mais socialistas. Há ainda a
participação da igreja católica onde, aparentemente, exerce o papel de
samaritanos, mas tendo sempre ordens superiores vindo de poderosos. Com esse
mosaico de eventos, nasceu até mesmo cedo à teoria de que, a revolução de 1964,
não seria algo contra o movimento comunista, mas sim um golpe de estado
arquitetado, tanto pelos militares do Brasil, como também da política norte
americana.
Embora a maioria dos
voluntariados norte americanos daquele tempo demonstre total idealismo, ao
mesmo tempo, eles não escondem atualmente certa vergonha de que, lá no fundo, talvez
tivessem sido usados pelo seu próprio governo para outros fins. Não demorou
muito para que surgisse, então, um livro intitulado "A Revolução que Nunca
Houve", de Joseph Page, do qual fortaleceu ainda mais a teoria de conspiração e
que hoje se comprova o quão estava certo. Em seu livro, Page cita algumas pessoas
daqueles movimentos que poderiam ser na realidade espiões infiltrados, como no caso
do voluntariado da época Tim Hogen.
É aí que o cineasta Fernando
Weller demonstra talento com a sua câmera, principalmente no terceiro ato da
obra. Quando finalmente ele se encontra com Tim Hogen para entrevista-lo, Weller
faz questão de deixá-lo à vontade para falar, mas não deixando ele em prontidão
para escapar de certas perguntas. Quando ele fala que o nome Tim Hogen é citado
no livro "A Revolução que Nunca Houve", o mesmo dá sinais de desentendido, mas
não escondendo em seu olhar certo aborrecimento da teoria de ter sido um espião
ter lhe perseguido ao longo do tempo.
O documentário em si não
nos dá provas concretas de que tais teorias conspiratórias eram realmente genuínas.
Porém, fica nas entrelinhas, o poderio americano por detrás de tudo e que, através
da já citada propaganda da boa vizinhança, conseguiu frear os movimentos
socialistas daquele período e prevalecendo a força do capitalismo descontrolado
que perdura até hoje. Os minutos finais, onde vemos um familiar símbolo norte
americano, em meio a uma favela do nordeste brasileiro, sintetiza a proposta
principal do documentário como um todo.
Em Nome da América é
um pequeno documentário investigativo, onde somente desvenda a superfície dos
fatos, mas com a possibilidade de ter escancarado a hipocrisia do poderio norte
americano.
Onde Assistir:
Cinebancários: Rua General da Câmara nº424, centro de Porto Alegre. De terça a
domingo, as 19horas.
Me sigam no Facebook, twitter, Google+ e instagram