Sim, o gênero de horror
existe no Brasil e ele será tema do próximo curso de cinema, criado pelo Cine
Um e ministrado pelo Jornalista, crítico, historiador e pesquisador dedicado a
tudo que se refere ao cinema de horror mundial Carlos Primati. O curso ocorre
nos dias 29 e 30 de Agosto no Cine Capitólio.
Enquanto os dias da atividade não chegam, irei postar por aqui sobre os
filmes de horror que eu tive o privilegio de assistir, seja em DVD ou no
cinema.
A Mulher do Desejo (1975)
Sinopse: Osmar (José Mayer)
, um velho rico e solitário, deixa em testamento sua mansão em Ouro Preto e
outros bens ao sobrinho Marcelo (José Mayer) e sua jovem esposa Sônia (Vera
Farjado), que conheceu apenas pela foto de casamento. O casal se muda para o
casarão e encontra um sombrio mordomo que o testamento proíbe dispensar. Fatos
estranhos começam a acontecer, a casa parece adquiri vida própria e Marcelo
começa a se assimilar com o tio morto.
O cineasta Carlos Hugo Christensen constrói com
sutileza e extrema habilidade um ambiente opressivo, aterrorizante, tornando a
casa viva, pulsante, com portas e paredes que rangem e estalam, um cenário
inquietante, repleto de sombras animadas que se movimentam e absorvem mobílias
e objetos. É um terror com atmosfera clássica –inclusive na trilha sonora, com
música de Richard Wagner–, na tradição dos filmes norte-americanos e europeus
da vertente gótica. As décadas de experiência de Christensen com filmes de
mistério, suspense e horror psicológico certamente lhe deram o suporte
necessário para manejar os clichês do gênero, realizando um dos mais elegantes
filmes brasileiros de horror. Sua origem argentina –e a conhecida mentalidade
europeia de seu povo– possivelmente influenciou na concepção da arquitetura
barroca como o equivalente latino dos castelos e mansões góticas do horror
internacional.
Snuff, Vítimas Do Prazer (1977)
Sinopse: Michael Tracey (Hugo Bidet) e Bob
Channung (Fernando Reski), inescrupulosos produtores de filmes pornográficos,
vêm ao Brasil para realizar um filme do gênero “snuff’, película clandestina
que alcançou enorme sucesso nos circuitos pornôs de Nova York, graças a cenas
reais, onde as atrizes eram estupradas e assassinadas em cena, sem nenhum
truque. Contratam dois técnicos brasileiros que, como quase todos os bons
técnicos do cinema nacional, estão às portas da ialência, Organizam a produção
e arregimentam o elenco: Taty Ibanez (Nadir Fernandes), atriz em decadência,
que fora a rainha dos filmes de cangaço; Glória Verdi (Lúcia Alvim), figurante
de teatro; Maria Rosa (Patricia Celere), candidata a Miss São Paulo; Lia de
Souza (Rossana Ghessa), stripper da Boca do Lixo de São Paulo; o ator Sérgio
Bandeira (Roberto Miranda), apanhado num sanatório. Daí a máquina da fatalidade
começa a rodar e as mortes reais vão acontecendo de forma surpreendente e
inesperada, causando pânico geral na equipe de produção.
Muitos são os filmes que
exploraram os snuffs com maestria durante a década de 70. Uma das mais
singulares dessas observações sobre o tema da morte real filmada é a produção
da Boca do Lixo dirigida por Claudio Cunha e co roteirizada por Carlos
Reichenbach. A trama mostra uma dupla de produtores falidos interpretados por
Carlos Vereza e Canarinho, que recebem a proposta de uma dupla de
diretores/produtores norte-americanos que desejam fazer um filme pornográfico
no Brasil, mas na verdade querem rodar um Snuff, sob o pretexto de que para os
espectadores a Pornografia já não basta e somente a morte filmada poderia
surpreender. A Pornografia em si tinha um tratamento quase criminal naquela
época, 1977, de uma quase ilegalidade e no Brasil ainda vivíamos sob Censura do
Regime Militar. Muito corajoso e original em termos formais e de metalinguagem.
O ator principal enlouquecido e em
estado de delírio, o desejo de registrar a morte com uma câmera, antecipa muito
do que viria depois não só no Cinema mas no voyerismo que se tornaria um hábito instaurado em nossa cultura nesses
tempos de difusão das imagens via internet, onde todos observam todos, on line,
o tempo todo. As sequências das filmagens em uma locação no interior são muito
interessantes. O roteiro tem grandes momentos e marca a parceria de Reichenbach
e Cunha que se repetiria do excelente: Amor-Palavra Prostituta.
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