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Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

Cine Dica: Em Cartaz: 'Jojo Rabbit' - Hilária tragédia

Sinopse: Jojo é um garoto alemão solitário que descobre que sua mãe está escondendo uma garota judia no sótão. Ajudado apenas por seu amigo imaginário, Adolf Hitler, Jojo deve enfrentar seu nacionalismo cego enquanto a Segunda Guerra Mundial prossegue.
 
Em 1940 o mestre Charlie Chaplin usou humor, alinhado com momentos dramáticos, para realizar uma de suas obras primas que foi "O Grande Ditador". Só alguém como ele seria capaz de criar uma obra que nos faz rir e chorar ao mesmo tempo. O seu discurso final, por exemplo, é sem sombra de dúvida um dos mais poderosos da história e que não envelheceu de forma alguma.
Claro que ele não foi o único em tratar um assunto tão delicado como a Segunda Guerra Mundial com humor. Em "A Vida É Bela" ('998) Roberto Benigni tenta de todas as formas esconder os horrores daquele tempo para que o seu filho não venha testemunhar uma realidade nua e crua. É aí que chagamos ao "Jojo Rabbit", filme que satiriza a idolatria nazista, mas não escondendo as dores que a própria criou para época.
Dirigido por  Taika Waititi, que revitalizou o personagem Thor em " Thor: Ragnarok" (2017), o filme se passa na Alemanha, durante a Segunda Guerra Mundial. Jojo (Roman Griffin Davis) é um jovem nazista de 10 anos, que trata Adolf Hitler (Taika Waititi) como um amigo próximo, em sua imaginação. Seu maior sonho é participar da Juventude Hitlerista, um grupo pró-nazista composto por outras pessoas que concordam com os seus ideais. Um dia, Jojo descobre que sua mãe (Scarlett Johansson) está escondendo uma judia (Thomasin McKenzie) no sótão de casa. Depois de várias tentativas frustradas para expulsá-la, o jovem rebelde começa a desenvolver empatia pela nova hóspede.
Os primeiros minutos da obra já começam promissores, onde vemos a ficção transitar por cenas verídicas e onde testemunhamos a idolatria cega por Adolf Hitler. Ao testemunhar isso, constatamos o quanto o povo alemão estava descontente desde a derrota na Primeira Guerra Mundial, pois só assim para compreendermos a fé cega por alguém tão fascista. A partir daí, testemunhamos essa fé cega através do pequeno protagonista Jojo e sendo que o próprio irá transitar entre a sua fantasia que os nazistas lhe ensinaram para a verdadeira situação que o seu país está vivendo.
Entre piadas e reflexões, o filme é moldurado por um tom cartunesco, onde há uma Alemanha colorida e cheia de vida vinda pelo olhar do pequeno protagonista, mas que aos poucos ganha pinceladas mais sombrias. A realidade muda para Jojo quando conhece a Judia Elsa e fazendo a interação de ambos os jovens quebrar certos estigmas. Tanto Roman Griffin Davis como  Thomasin McKenzie são verdadeiros achados e vale a pena prestarmos atenção  sobre  quais serão os seus próprimos papeis futuros.
Na ala dos adultos, é preciso tirar o chapéu para o próprio cineasta Taika Waititi, que aqui interpreta Hitler sempre quando Jojo se encontra sozinho em cena. E se por um lado Sam Rockwell, do filme "Três Anúncios de Um crime" (2017) está ótimo como um nazista de atitude ambígua, do outro, Scarlett Johansson nos brinda com uma de suas melhores atuações da carreira ao interpretar a mãe de Jojo. Atenção para a cena entre ela e o pequeno protagonista na mesa, que é desde já uma das melhores sequências do filme.
Embora nos faça rir em vários momentos, o filme também nos pega desprevenidos quando o próprio Jojo começa aos poucos descobrir o que nunca lhe ensinaram. Uma vez que isso acontece para o protagonista somos pegos desprevenidos e ficamos emocionalmente abalados pela situação trágica que testemunhamos. Ponto para  Taika Waititi, pela sua coragem em nos fazer rir, mas para logo em seguida nos fazer chorar e refletir.
Logicamente que o filme, desde a sua estreia, gerou bastante debates e polêmicas ao tratar de um assunto como esse tão delicado de uma maneira pouco convencional. Ao meu ver a Segunda Guerra Mundial foi tão trágica que é preciso rir para não chorar e viver para enfrentar os absurdos como o nazismo que tornam acontecer nos dias de hoje. Em tempos em que a extrema direita tenta nos controlar das formas mais absurdas, quem somos nós para julgarmos uma obra que nos faz rir e refletir de uma época ainda mais trágica e absurda?
Vencedor do Oscar de melhor Roteiro Adaptado neste ano, "Jojo Rabbit" é humor pastelão, mas com altas doses de reflexão. 

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quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

Cine Dica: Em Cartaz: 'O Caso Richard Jewell' - Herói ou vilão?

Sinopse: Nas olimpíadas de 1996, Richard trabalha como voluntário no evento. Ele encontra uma mochila abandonada embaixo de um banco. Após alertar a polícia local, descobre-se que nela está uma bomba. Ele consegue salvar as pessoas, mas acaba se tornando o principal suspeito.  

Mesmo sendo uma pessoa da direita norte americana, Clint Eastwood procurou nestes últimos anos retratar figuras verídicas que foram mastigadas pelo próprio poderio norte americano. Se por lado "Sully - O Herói do Rio Hudson" (2016) retratava um herói sendo acusado injustamente, do outro, "Sniper Americano" (2015) mostrava as consequências de um país em moldar os seus soldados, mas não se dando conta de como a guerra pode afeta-los. Eis que chegamos em "O Caso Richard Jewell", um filme menor de sua filmografia, mas que tem algo haver com esses dois polos citados.
O filme retrata a história real de Richard Jewell, interpretado pelo ator Paul Walter Hauser, visto recentemente em filmes como "Infiltrado na Klan" (2018). Ele é um segurança que se tornou um dos principais suspeitos de bombardear as Olimpíadas de Atlanta, no ano de 1996. Na realidade, ele foi o responsável por ajudar inocentes a fugirem do local e avisar da existência de um dos explosivos.
Ao sabermos já de ante mão de que se trata de um caso real, o primeiro ato da trama é de puro suspense, já que ficamos na expectativa sobre quando irá acontecer o ápice da explosão da bomba. Com a câmera sempre em movimento, Clint Eastwood procura criar um cenário de tensão na medida em que ele vai revelando cenas em que nos deixa a frente dos protagonistas com relação ao que acontece na tela. Uma sequência eficiente, que nos prende atenção e conseguindo obter o nosso interesse até o final da sessão.
Após isso, Eastwood procura transitar por elementos já vistos em sua própria filmografia, mas também procurando inspiração em outros clássicos do cinema. Ao mostrar o lado negativo da imprensa sensacionalista, o filme remete em algo já visto no indispensável "Rede de Intrigas" (1976) e de como essa fonte de informação pode se tornar venenosa na vida das pessoas. Só achei uma forçação de barra em terem moldado a personagem Kathy, interpretada pela atriz Olivia Wilde, para nos lembrar a todo momento a personagem de Faye Dunaway no clássico de Sidney Lumet.
Comparações a parte, o filme somente ganha melhor relevância quando a trama se concentra na figura de Richard e no seu advogado, interpretado sempre com competência pelo ator Sam Rockwell. Aliás, o personagem de Sam se torna uma representação do nosso olhar com relação a Richard, já que tentamos compreender as motivações internas dessa pessoa, que transita entre a calmaria para momentos em que parece que está prestes a explodir. Embora longe de ser um galã, Paul Walter Hauser possui um talento ainda guardado e pode ainda nos surpreender a qualquer momento no futuro.
Mas por ser um filme baseado em fatos verídicos, Eastwood peca ao não incrementar maior ousadia nos momentos finais da obra, mas sim somente conduzir a trama para o que realmente aconteceu do outro lado da tela. Se isso foi um pouco sentido em "Sully - O Herói do Rio Hudson" aqui o caso se torna ainda mais explícito e fazendo a gente se perguntar se era realmente necessário conduzir a história para vala comum das tramas baseadas em fatos verídicos. Não desmereço o talento do diretor, mas também não adianta dirigir diversos filmes em pouco tempo e cujo o resultado de alguns fica aquém do esperado.
Com a participação e ótima atuação de Kathy Bates "O Caso Richard Jewell" talvez sirva como sinal de alerta para que o próprio Clint Eastwood repense em abraçar determinados projetos futuros.     


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