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sexta-feira, 29 de outubro de 2021

Cine Especial: 'Um Lobisomem Americano em Londres - 40 Anos Depois'

Sinopse: David Kessler e Jack Goodman viajam dos Estados Unidos para conhecer a Inglaterra. Lá, os seus destinos são traçados no momento em que são atacados por uma criatura da noite. 

O cruzamento entre gêneros cinematográficos culmina em filmes que soem, em alguns casos, estranhos, ou algo no mínimo incomodo e atrativo. Jordan Peele talvez seja o melhor cineasta atual que soube cruzar esses dois universos e obter algo no mínimo bem criativo. Tanto "Corra" (2017) como "Nós" (2019) são filmes que possuem altas doses de horror, mas entrelaçados por momentos de um humor ácido que nos faz soltar uma risada involuntária e fazendo da sessão ainda muito mais estranha. Essa sensação, porém, não é coisa nova.

O início dos anos 80 a sociedade estava se transformando, ao ponto que os problemas políticos eram tantos que o ocorreram durante a década de 70 que nada mais estava surpreendendo. Em plena Inglaterra, por exemplo, tínhamos ministra chamada Margaret Thatcher que comandou o seu posto com punho de ferro e corroendo o povo através de novas leis nenhum pouco populares. Por conta disso, os monstros clássicos que o cinema havia criado no passado já não mais assustavam, pois o mundo real já tinha monstros o suficiente para nos dar medo até certo ponto.

Por essas e outras era preciso que houvesse uma reformulação dentro do gênero de horror, onde se pudesse mesclar as velhas fórmulas do passado, mas que pudesse inova-la em tempos em que a sociedade já enfrentava os seus próprios demônios. Coube então o diretor de filmes de comédia como John Landis, realizador de títulos como "Clube dos Cafajestes" (1978) e "Irmãos Cara de Pau" (1981) de lançar algo que desse um novo folego ao gênero de horror, mas com toques de humor até então inéditos dentro desse universo. Eis que então nasceu "Um Lobisomem Americano em Londres" (1981), filme que causou diversas sensações para o público na época e nos surpreendendo até os hoje de dia.

O filme conta a história de David Kessler (David Naughton) e Jack Goodman (Griffin Dunne), colegas de colégio, que vieram dos Estados Unidos para conhecer a Inglaterra. Pedindo carona nas estradas, eles chegam a uma pequena cidade. Lá vão ao bar, sendo friamente recepcionados pelos moradores locais. A situação piora ainda mais quando Jack pergunta o porquê do local ter velas e um pentágono na parede. Ao deixar o local, eles caminham por uma estrada deserta e enevoada. Logo percebem que um animal está cercando-os. Jack é então atacado por um enorme lobisomem, tendo seu corpo dilacerado. David foge, mas é também atacado. Ele fica apenas com cortes no rosto e nos ombros, o suficiente para que se transforme em um lobisomem.

A princípio a história não aparenta nenhuma novidade, já que o início dela apresenta as velhas fórmulas do gênero de horror que estavam sendo usadas até ali, principalmente para aqueles que acompanhavam os filmes de horror da Hammer. Porém, a situação muda após os dois jovens protagonistas serem atacados pela criatura, principalmente para David, que acorda no hospital e começa a ter sonhos perturbadores. Em um deles, por exemplo, ele e sua família são atacados por soldados nazistas com rostos demoníacos e fazendo uma referência com relação ao medo que os judeus ainda tinham de tempos terríveis do holocausto.

Mas a situação se torna surpreendente mesmo no momento que Jack surge na frente de David, completamente desfigurado, sendo uma alma penada e dizendo a David para ele se matar, ou então ele se transformará em um Lobisomem na próxima lua cheia. É neste ponto que se encontra o primeiro grande acerto do filme, mais precisamente na maquiagem em que o ator  Griffin Dunne se submeteu, com direito a uma garganta rasgada cheia de sangue enquanto o ator atua de uma forma sarcástica e surpreendente. Ponto para Rick Baker, criador da maquiagem e que foi convidado pelos produtores por já ter chamado atenção dentro do ramo graças ao cinema independente.

Porém, o trabalho de maquiagem desse filme entraria para a história mais adiante. Logo após David se despedir da enfermeira Alex (Jenny Agutter) ele fica no apartamento dela sem fazer nada, andando de um lado para o outro e com a música Bad Moon Rising de Creedence Clearwater Revival tocando ao fundo. No momento em que a lua cheia surge na noite é aí que o filme entra para a história do cinema.

David começa a sentir o corpo queimando, rasgando e começa tirar a roupa que está mergulhada em suor. De uma hora pra outra sua mão estica, ao ponto de virar uma pata, seu corpo começa a encher de pelos, seus dentes e unhas começam a crescer e seu rosto se estica ao ponto de virar uma face de um lobo. Tudo isso embalado com a música  Blu Moon cantada por Sam Cooke ao fundo.

Diferente do clássico "Lobisomem" (1941), onde viamos Lon Chaney Jr se transformar em homem fera em cenas quadro a quadro, aqui é a maquiagem pesada que dá o verdadeiro tom do espetáculo. Rick Baker usou bastante borracha, partes animatrônicas que substituíram as partes de David Naughton e alinhado com uma edição que nos passava uma sensação mórbida de que o ator realmente estava se transformando em um monstro bem diante dos nossos olhos. Não deu outra e os membros da academia do Oscar tiveram que dar um prêmio para o maquiador e inaugurando assim a categoria de melhor maquiagem dentro da premiação.

Do resto, o filme se sustenta graças ao fato de John Landis não mostrar por completo a criatura em um primeiro momento. Em uma cena que ocorre nos tuneis de um trem, por exemplo, vemos somente uma vítima correndo, mas a gente quase nunca obtendo uma dimensão da figura da criatura por completo.  É uma fórmula que já havia funcionado no clássico "Tubarão" (1975), pois tudo se torna ainda mais assustador quando não temos uma exata certeza de como é a face da morte chegando.

No ato final a comédia acida volta ainda mais forte, ao vermos o protagonista conversar com Jack dentro de um cinema pornô e acompanhado com as últimas vítimas do Lobisomem durante a noite passada. O inferno toma conta das ruas de Londres quando a criatura sai do cinema e começa atacar as pessoas e gerando um verdadeiro caos total. Curiosamente, John Landis faz um ponta ao cair em cima de uma senhora e estilhaçando uma vidraça.

O final, por sua vez, divide a opinião de muitas pessoas até hoje, principalmente por ele terminar abruptamente e sem nenhuma explicação do que aconteceu posteriormente. Isso não tira o brilho desse grande clássico de horror, que alinhado com a comédia se criou um símbolo de uma geração que já não levava mais a sério os monstros de antigamente, pois os horrores do mundo real já estavam batendo na nossa porta naquele tempo e era preciso criar algo novo."Um Lobisomem Americano em Londres" é horror e comédia na medida certa e uma curiosa representação de uma geração que não levava mais a sério, tanto os monstros da ficção, como também dos monstros nosso mundo real. 


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